Um estrangeiro que tivesse trazido para o Brasil US$ 1 milhão em meados de 2002 e aplicado em uma determinada cesta de ações poderia ver seu patrimônio multiplicado por quase 25 vezes de lá para cá. Se esse capital tivesse aportado por aqui em 1992, teria 68 vezes mais o que possuía e, em 20 anos, o seu milhão teria se transformado em mais de US$ 145 milhões. Esses números são um bom indício de que, nestes tempos de fortes sacolejadas no mercado de ações, a melhor resposta para o aplicador pode ser o longo prazo. Se tiver uma carteira composta por papéis de empresas com bons fundamentos, com perspectivas de expansão para o negócio e crescimento de resultados, não há por que a estratégia de investimento não sair a contento, neutralizando as intempéries vividas em intervalos mais curtos.
Foi sob essa perspectiva que a GAS Investimentos fez uma simulação com uma cesta de dez ações em diferentes janelas de tempo: 5,10, 15 e 20 anos, distribuindo uma aplicação hipotética de US$ 100 mil em cada uma das empresas eleitas. A seleção incluiu Petrobras, Banco do Brasil, Itaúsa, Bradesco, Vale do Rio Doce, Cemig, Unibanco, Randon e Gerdau Metalúrgica , papéis de longa data negociados no pregão e com liquidez razoável. Assim, pôde constatar que mesmo que a gestão não seja das mais ativas, se as escolhas estiverem afinadas, a paciência do aplicador costuma ser recompensada.
Nos últimos cinco anos, o aplicador teria obtido uma valorização, em dólares, de 2.342%, acima do Índice Bovespa (Ibovespa), de 913%, ou do Dow Jones Industrial, de 51%. É claro que nesse período, a conta acabou sendo inflada pela fantástica valorização do real em relação à moeda americana. Mas olhando no prazo mais longo, o investidor teria conseguido, em 20 anos, um retorno médio anual consistente, de 28,3%.
Essa é uma lição para os tempos de intensa volatilidade, afirma o sócio da GAS e autor do levantamento, Alexandre Abuleac. "O investidor, quando faz aplicação em bolsa, se ele está calçado em empresas com bons fundamentos, não pode ficar olhando para o que acontece no curto prazo." A gestora tem como política comprar fatias consideráveis de empresas - ocupando até assentos nos conselhos de administração -, que acredita ter potencial de gerar valor para os minoritários, sem mexer muito nas suas carteiras. "É preciso buscar o retorno no longo prazo, evitar ficar comprando e vendendo e isso vale tanto para a gestão profissional quanto para o pequeno investidor", defende.
Com a herança cultural e financeira do pai, Leivi Abuleac, um dos maiores acionistas individuais do sistema Telebrás no período que antecedeu a privatização, ele ensina que o aplicador de bolsa não deve esperar dobrar de patrimônio em um ano. Mas se conseguir, na média, retornos na casa dos 28% (em dólares), como o observado no intervalo de 20 anos do seu estudo, é uma rentabilidade pra lá de excelente.
Quem entende muito bem de longo prazo é Dório Ferman, o comandante à frente do Lógica II, da Opportunity Asset Management, um dos fundos de ações mais antigos do mercado brasileiro. Criado em março de 1986, no limiar do Plano Cruzado, a gestão atravessou toda sorte de crises e planos econômicos. É por isso que se acostumou a olhar o risco de uma forma diferente da convencional, conta Ferman. "A gente não se impressiona com a volatilidade do dia-a-dia e só avalia se há risco de ocorrer uma crise econômica mais à frente", diz.
Para ele, os riscos no mercado hoje são até menores do que há seis meses, quando a bolsa chinesa caiu 8,5% num único dia, chacoalhando os mercados mundiais e a turbulência foi seguida pelos primeiros indícios de que as hipotecas americanas de alto risco ("subprime") trariam problemas. "A diferença é que agora os riscos estão refletidos nos preços e é isso que nos dá oportunidade de usar o caixa livre para fazer compras em condições mais interessantes."
As aquisições para a carteira do Lógica nunca são para giro rápido, embora seja comum a gestão movimentar todo o portfólio em intervalos de um ano. A posição mais antiga, carregada por mais de 15 anos, conta Ferman, foi de ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras. "Compramos os papéis quando valiam metade do preço das preferenciais e vendemos quando passaram a custar 20% mais." Não há preconceitos na escolha do portfólio, composto por "blue chips" e ações de segunda linha. O mix atual é formado por bancos (34%), incluindo os de menor porte recém-chegados à bolsa; energia elétrica (23%); mineração e siderurgia (15%), o setor imobiliário (8%), também cheio de novatas, com Agra, Abyara, Even, MRV , Tecnisa e Rossi, além de ter uma pequena exposição em tecnologia, com Bematech e Positivo.
Sentar e esperar os resultados frutificarem com uma paciência de Jó é a cultura que vem sendo transmitida pela Geração Futuro aos investidores do seu fundo de ações, que acaba de completar dez anos. Na carteira, há papéis com igual longevidade, caso de Plascar ON, do setor de autopeças. Nesse período, a gestão se defrontou com episódios tão diversos como a mudança do controle da empresa ou a recente incursão no Novo Mercado. "O que temos reafirmado para o cotista é para ele não se desfazer do seu projeto de investimento e manter uma programação de aportes mesmo quando a bolsa cai", diz o diretor Wagner Salaverry. "Nos últimos anos, o aplicador se acostumou a um longo período de alta e ele acabou esquecendo que a volatilidade é inerente ao mercado."
Outras veteranas da carteira da Geração são as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Randon, também da cadeia do setor automobilístico, e a fabricante de armas Forjas Taurus. A baixa liquidez desses ativos é balanceada com papéis de primeiríssima linha como Petrobras, Usiminas, Gerdau e VCP. Nos momentos de baixa da bolsa, a gestão aproveita para aumentar a participação em certas empresas. O desinvestimento, em alguns casos, tem sido feito por meio de ofertas públicas secundárias, como foi em Guararapes e Randon.