'Impostor: Que ou aquele que tem ou pratica impostura; embusteiro'
Novo Dicionário Aurélio
Ao que tudo indica Zé Sarney, o Impostor, tal como Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e Renan Calheiros, vai ter de largar – mais cedo ou mais tarde - as delituosas delícias da presidência do Senado Federal, às quais se aferra como um cão faminto diante de um osso suculento.
É verdade que Lula da Silva, o Cínico, faz de tudo para mantê-lo no cargo, visto que dele precisa para traçar o baralho (sujo) da manutenção do poder, vale dizer: 1) Tornar viável a duvidosa candidatura de Dilma “Michael Jackson” Rousseff à presidência da República; 2) Sustentar a subserviência do PMDB e dominar as votações de interesse do governo no plenário do Senado; 3) Controlar com mão de ferro a explosiva CPI da Petrobras, o cofre-forte petista; 4) E, o mais importante, ampliar o deletério processo de “transição para o socialismo”, objetivo principal do PT desde janeiro de 2003, quando se assenhoreou do poder.
(Adendo 1: De todo modo, se Lula insistir em manter Zé Sarney na presidência do Senado, como vem fazendo, o desgaste será maior, não só para o seu partido - o famigerado PT, umbilicalmente ligado à corrupção - como para o próprio Zé Sarney, que correrá o risco de ser apedrejado publicamente, como já o foi, de resto, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, em junho de 1987, quando dividia o Executivo Nacional com o Dr. Ulysses - o homem que, com a Constituição Cidadã, tornou o país “ingovernável”, presa fácil da demagogia utópica da politicagem esquerdista. Só para lembrar: no levante do Paço Imperial, ao apedrejar o atual presidente do Senado, a massa enfurecida gritava em estribilho: “Sarney, salafrário! Está roubando o meu salário!”).
De fato, se o leitor examinar com o mínimo de objetividade a vida pregressa do País, há que reconhecer em Zé Sarney o pior e mais nocivo homem público brasileiro de todos os tempos, aí incluído o período do Brasil Colônia, do Império e das duas Repúblicas: a Velha e a Nova. De relance, lembro que alguns cronistas da nossa tumultuada história política costumam citar, como exemplos clássicos de maus homens públicos, Francisco Gomes da Silva, o “Chalaça”, vil secretário de Pedro I; Artur Bernardes, que governou (mal) a nação em permanente estado de sítio; e, no Brasil moderno, as figuras de Ademar de Barros, Paulo Maluf e Collor de Mello (com o PC Farias à tiracolo) - mas o fato concreto é que Zé Sarney suplantou a todos eles, em ambição, esperteza, pequenez e intrujice.
Com efeito, tudo na atribulada vida do político Sarney carrega o estigma da impostura, a começar pelo nome: de José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, passou à Zé de Sarney (prenome adotado pelo pai) e, afinal, a partir de 1965, se fez José Sarney de Araújo Costa, na certa para esconder a vulgaridade do Ribamar.
O atual presidente do Senado, pelo que se sabe, sem ter feito outra coisa na vida a não ser política, é um homem rico, aliás, riquíssimo. Ele tem propriedades, mansões, bens diversos, salários vultosos, bons dividendos, dólares no exterior, jornal, rádio e televisão, etc. Há quem conteste, todavia, que ele tenha acumulado fortuna de modo ilícito. De fato, morando há mais de 40 anos de graça em palácios, com serviçais, secretárias, comida, transporte aéreo, carro, chofer, gasolina, auxílio moradia, sofisticados plano de saúde, Net, internet, verba de representação e correios, barbeiro, diárias em viagens (para dentro e fora do país), sem falar nas mordomias de praxe - bem senhores, falando francamente, se o homem não tivesse ficado podre de rico poderia até ser mal interpretado.
(Adendo 2: Mas é no plano intelectual que o embuste Sarney atinge o patético. Para se exibir como um “homem público respeitável”, o político matreiro, que é incapaz de pronunciar uma frase com fluência e sem tropeços, se apresenta nos ambientes com o apuro de um amanuense formal (jaquetão e bigode pintado de acaju). Por outro lado, para vender a imagem do “escritor consagrado”, não sei se com a grana da Viúva, vez por outra viaja a Paris para lançar livros que ninguém lê, na ilusão subdesenvolvida de que, em assim fazendo, terá assegurado a condição de “personalidade literária” aqui. Por conta de tal engodo, mesmo escrevendo tolas anedotas em forma de má ficção, tornou-se “imortal” da Academia Brasileira de Letras, distinção com a qual procura camuflar, orgulhoso, a reconhecida mediocridade.
Detalhe: nos saraus literários, por sua vez, contraditoriamente, o impostor encena a pachorra do estadista circunspeto, sem desconfiar que, para a maioria dos presentes, longe de ser “uma personalidade literária”, passa por rematado “coronelão” da roça, senhor de práticas políticas ordinárias).
No Maranhão, onde já foi governador e se fez inúmeras vezes (por conta de métodos medievais) deputado e senador, tudo carrega o seu nome ou o nome dos seus familiares: escolas, hospitais, maternidades, praças, avenidas, mercados públicos, estradas, fórum, aeroporto e, segundo rumores, até mesmo a placa de modesto chafariz. Curiosamente, em que pese ter se apropriado do estado há mais de 40 anos, e feito da filha Roseana governadora (duas vezes), o Maranhão registra os piores indicadores econômicos e sociais do País, segundo dados do IPEA e do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
É fato que o Maranhão já era pobre antes do advento de Sarney e herdeiros. Com ele no poder, no entanto, as imagens de miséria registradas na reportagem “Maranhão 66” (feita de encomenda por Glauber Rocha, paga à LC Barreto com o mísero dinheiro público), multiplicaram-se aos borbotões.
Com efeito, a partir da dinastia Sarney, iniciada em janeiro de 1966, o estado nordestino virou uma calamidade nacional: ali se encontram, ainda hoje, os piores índices de renda per capita do país, o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a maior taxa de mortalidade infantil, a maior taxa de analfabetismo, a menor taxa de escolaridade, o maior número de habitações sem serviços de água, esgoto e energia elétrica – e por ai segue o barco das aflições. É ver (e ouvir) para crer: na terra do clã Sarney, a infelicidade chegou a tal ponto que o nativo graceja chamando-a de “Estado do Piorão” - a reunião dos fundos do Piauí com todo território do Maranhão.
No entanto pior, muito pior, se deu quando o político matreiro chegou à Presidência da República, cargo que assumiu inadvertidamente por conta da morte súbita de Tancredo Neves. Nele, Sarney ultrapassou todos os índices de incompetência e pusilanimidade, conduzindo um governo caótico que deixou como legado a hiperinflação anual de 1.751% – o que decerto fez como que o povo carioca, num ímpeto de desespero, o apedrejasse em praça pública - fenômeno único na vida política nacional.
No cargo de presidente, o “Estadista do Brejal dos Guajás” transformou a nossa vida pública numa extensão da privada (me refiro, tal como o Barão de Itararé, ao vaso sanitário). Permissivo, mais que permissivo, relapso, o velho “coronelão” fez de tudo para arruinar a vida do povo brasileiro que o malfadado destino, por obra do acaso, lhe colocou nas mãos. Tal qual um estróina febril, ele criou ministérios inúteis, desperdiçou bilhões (de cruzeiros e cruzados) em obras inacabadas; fomentou como ninguém (até então) o empreguismo, distribuindo concessões de rádios e televisões a mancheias em troca de votos e apoio político (objeto de rumorosa CPI); e, o mais daninho, prodigalizando subsídios e isenções fiscais em profusão, enriqueceu milhares de parasitas e levou o país à desagregação social e à corrupção desenfreada.
(Adendo 3: A permanência de Sarney na Presidência da República foi tão acentuadamente nefasta que o próprio Lula, cínico que nunca vê corrupção em parte alguma, em discurso público pronunciado em 1987, em Sergipe, tratou-o por “impostor e ladrão”; e por causa de sua permissiva gestão como presidente, Collor de Mello, até então obscuro governador das Alagoas, se fantasiou de “Caçador de Marajás” e candidatou-se à Presidência da República, prometendo prendê-lo caso chegasse ao Palácio do Planalto – promessa que, obviamente, nunca cumpriu, tornando-se hoje um seu aliado).
Depois de levar o País à ruína, Zé Sarney, longe de ser preso ou mergulhar em merecido ostracismo, arrumou um mandato de Senador da República pelo Amapá, estado que estrategicamente ajudou a criar. E a partir daí, prestando total vassalagem às figuras de Itamar Franco, Fernando Henrique (duas vezes) e Lula da Silva - como antes servira aos deletérios presidentes Jango e Jânio e, a partir de 1964, aos “ditadores militares” -, o virtuoso literato de “Brejal das Guajás” (tido por Millôr Fernandes como um “Bestialógico em estado puro”) se fez três vezes Presidente do Senado, cargo que atualmente ocupa, mal e porcamente. Neste posto, sua ligação com escândalos os mais cabeludos atingiu tal evidência, que o grosso da população brasileira quer vê-lo pelas costas. (Vide, s’il vous plait, na Internet e nas secções Cartas do Leitor dos principais jornais do País, a campanha “Fora Sarney”).
Mas, verdade seja dita, não há nada de novo front. Como presidente do Senado, Sarney não mudou milímetro na postura de político manhoso, esperto, leniente e pusilânime. Desde que ocupou o posto (pela primeira, em 1995), permitiu que ali se instalasse uma verdadeira quadrilha organizada, tendo à frente uma “cria” sua, Agaciel Maia, o ex-diretor-geral do Senado, funcionário que omitiu da declaração patrimonial uma mansão de R$ 5 milhões, além de manter sob injustificável sigilo mais de 660 “atos secretos”, abrangendo os mais diversificados tipos de fraudes e irregularidades que permeiam as páginas do vasto Código Civil.
(Adendo 4: No resumo da ópera, são atos vergonhosos que, em parte tornados públicos, prenunciam a total desmoralização do Senado Federal, e de seus representantes, para o escárnio da Nação. Estampados em manchetes de jornais, eles evidenciam os esquemas de nepotismo, apropriações indébitas, contratações ilícitas, desvios de verbas, malversação do dinheiro público, abusos orçamentários, mordomias de toda ordem – em suma, um variado repertório de fatos escandalosos que só fazem lembrar de perto o cardápio de desgraças que acabou por fulminar, entre 1985/1990, a “Nova República” presidida pelo atual senador Zé Sarney).
No que se refere, em particular, ao prontuário de denúncias contra o temerário senador do Amapá, a imprensa ressalta seu envolvimento com a nomeação sigilosa de parentes, neto e afilhados (mais de dez); posse indevida de auxílio-moradia (Sarney recebia R$ 3.800, mesmo dispondo de duas mansões em Brasília, um delas residência oficial do Presidente do Senado); soma ilegal de dólares no exterior; requisição de seguranças do Congresso (em Brasília) para vigiar sua residência em São Luís (em que pese ser senador pelo Amapá); criação, para o deleite de apaniguados, de 50 diretorias supérfluas no Senado Federal; uso de funcionária da Casa na assessoria de suas campanhas eleitorais; ocultação à Justiça Eleitoral de imóvel de sua propriedade, no valor de R$ 4 milhões (pecadilho que, em nota, o Estadista atribuiu a “erro do contador”); e, por último, mas não menos escabrosa, a denúncia de que a Fundação que traz o seu nome e da qual é presidente de honra, desviou verba de R$ 500 mil da Petrobras (“patrocínio cultural”, via lei Rouanet) para empresas fantasmas e da sua própria família.
Tal soma de arbitrariedades, no entanto, não significa grande coisa se comparada ao mal que o “legislador” Sarney vem causando ao País ao longo dos anos. É de sua lavra, ou pelo menos traz a sua assinatura, o encaminhamento ao Congresso Nacional de leis que, bem examinadas, em conjunto ou isoladamente, dividem a alma da Nação, criam privilégios, punem economicamente a população, aviltam as pessoas mais pobres, estimulam a malandragem, desestimulam o mérito, estabelecem a discórdia e, o mais nocivo – corrompem e minam a democracia formal.
Querem um exemplo? Pois bem: por trás da discriminatória Lei de Cotas que institui a obrigatoriedade do aproveitamento de negros e pardos nas universidades públicas, atendendo a grupos empenhados em acirrar o preconceito racial como forma de luta de classes está dedo de quem?
Quem é o mentor da lei de incentivos fiscais na área da cultura (hoje, lei Rouanet), responsável por elevado índice de malversação dos recursos oficiais; pela expansão de “castas culturais” parasitárias viciadas em mamar nos cofres públicos e pela substituição da obra de arte pela propaganda ideológica e a predominância do pensamento totalitário nas produções culturais, deflagradora da permanente crise de criatividade nacional?
E quem, subserviente às esquerdas de todos os matizes, esteve por trás do reatamento das relações diplomáticas do Brasil com a miserável Cuba de Fidel Castro, o mais empedernido e sanguinário ditador da América Latina em todos os tempos, responsável pela transformação da ilha numa vasta prisão e pela morte direta de 120 mil cubanos?
E quem, na certa para demonstrar independência em face dos militares de 64 (aos quais obedeceu como um vira-lata), rompeu relações diplomáticas com a China Nacionalista (Formosa) e as restabeleceu com a velha China Vermelha, ao lado de Cuba e da Coréia do Norte, a mais pétrea ditadura comunista em vigência?
E só para não ir mais adiante neste rol de iniqüidades: quem, para preservar os interesses espúrios de Lula no seu primeiro mandato, procurou dificultar por todos os meios à instalação da CPI do “Mensalão”, justamente o inquérito que cassou o mandato de Zé Dirceu, o segundo homem na hierarquia do governo petista?
Resposta: José Sarney, o impostor que se finge de ofendido diante das graves acusações que lhes são imputadas, figura magna que corre atrás de Lula, seu parceirinho, para salvaguardar míseras regalias e adiar uma queda que moralmente já se deu aos olhos da Nação.
(Adendo final: Figura de pantomima, mas, sobretudo, personagem nocivo à vida pública brasileira, Zé Sarney está a merecer de algum autor teatral entrecho de uma farsa trágica. Não precisa, naturalmente, para fazê-la, ser dramaturgo da estatura de um Gogol ou de Antonio José da Silva, o Judeu. Seria pedir demais, claro. Para a tarefa, um entremez circense de autor do porte de Gugu Olimecha já dava para quebrar o galho. E não deixaria de ser curioso ver um tipo ladino, capaz das mais incríveis estripulias, impostar a virtuosidade do Eremita Simão. Ou mesmo, de forma melancólica, ver o personagem burlesco levar adiante o trabalho sujo do poder (esquerdista) para, logo depois, por ele ser execrado.
Sim, poderia render bom caldo!
Mas, enquanto este momento não chega, o certo será o nativo mover ação pública contra este mau político que, na Presidência do Senado, afirmando servir à Nação, dela se serve há décadas, atingindo-a profundamente. Se possível, com urgência!).