Eles detestam. Nós adoramos. E, entre um universo e outro, simplesmente não existe meio-termo. Pior: alguns relacionamentos podem terminar porque o cara acaba desistindo de dar tanta explicação e fazer tanta reflexão. Será que não estamos complicando o que é simples? Uma relação não deveria ser vivida mais do que discutida?
Não há nada que os homens odeiem tanto. E nada que as mulheres façam com tanta obstinação. O famoso DR, em tese uma tentativa de esclarecer pontos que estão 'pegando' na relação amorosa, na verdade pode ser uma pedra no caminho de muitos casais. Os homens costumam sentir arrepios quando a mulher começa com a série clássica de questionamentos: 'O que está havendo com você?'; 'Você está tão calado...'; 'Está me escondendo alguma coisa?'. Acuados por essa artilharia, eles fogem como podem: alguns atendem a celulares que não estão tocando, outros fingem que foram acometidos por um mal súbito, há os que se lembram de compromissos urgentíssimos e existem os que aceitam conversar, mas na verdade só fingem que ouvem, enquanto olham furtivamente para o relógio e rezam para que a tortura acabe logo.
'É uma tortura', diz Vinícius, que confessa não tolerar mulheres 'viciadas em DR'. 'Você está num churrasco com os amigos', explica. 'Aí sua namorada o puxa para o canto e diz que precisa conversar. Dá um desânimo...' Flávio diz que sente um sono instantâneo quando a namorada começa a discutir a relação: 'Meus olhos vão pesando. É incontrolável. Parece que estou vendo aqueles filmes de arte complicados...'. É um enredo que Eduardo conhece bem. Casado com Marta, que, segundo ele, tem necessidade de analisar tudo que acontece com os dois, o engenheiro brinca que tem pagado os pecados com as conversas intermináveis sobre o relacionamento: 'Acho a maior perda de tempo'.
Depois de cinco anos de casamento, Otávio surpreendeu a todos se separando da mulher que parecia amar loucamente e, para os amigos, apresentou o argumento: 'Ela é mais complicada do que letra do Djavan'. Submetido a sessões diárias de DR, segundo ele 'desenergizantes', o médico sucumbiu: 'Eu não entendia nada do que ela estava falando'.
A decisão de se separar aconteceu nos Alpes suíços. O casal estava no topo do pico Matterhorn quando a companheira de Otávio disse que precisavam conversar, porque estava achando o médico distante. 'Ali, diante daquela paisagem, ela preferiu olhar para as nossas neuras', ele desabafa. 'Naquela hora, vi que não tinha jeito. Discutir a relação no nosso apartamento, vá lá... Mas nos Alpes suíços era demais.'
Ex-viciada em DR, Virgínia conta que não escolhia hora nem cenário para seus questionamentos: 'Pus alguns parceiros para correr com essa mania. Até que me dei conta de que estava perdendo o maior tempo do mundo com conversas que nunca levaram a nada. Relação não é para discutir - é para viver. Eu era dependente química daqueles diálogos enrolados'. Que ainda é o caso de Neuza, mulher do mecânico Mauro. Acostumado com as sessões diárias de DR, uma noite o mecânico reagiu. Cansado e com aquele torpor causado pela cervejinha consumida na volta do trabalho, ouviu o sermão da mulher durante uns 15 minutos. Aí não aguentou. Entregou uma folha de caderno para ela e pediu: 'Neuza, escreve isso tudo que você está falando que amanhã eu leio'. E ela escreveu. Se a moda pega, vai faltar papel no mercado. As viciadas em DR que comecem, desde já, a plantar suas árvores...
Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro 'Mulheres - Por que Será que Elas...', da Editora Globo |
Foto: Ana Ottoni
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