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terça-feira, 5 de junho de 2012

Cala a boca, Xuxa!

Cala a boca, Xuxa!:

Cala a boca,
Xuxa!

Não vi a comentada entrevista da
tal Xuxa no Fantástico deste domingo, dia 20/05. Mas não pude ignorá-la por
muito tempo, pois a primeira notícia que recebi nesta manhã, logo cedo, foi: “Cê
viu que a Xuxa foi abusada na infância?”
Fora o surrealismo da revelação,
ocorreu-me que aquela, certamente, não era a notícia que desejava ouvir logo no
início da semana. Afinal, como uma mulher de 50 anos, aparentemente esclarecida,
só agora, passado todo esse tempo, resolve falar sobre algo tão grave? E por
que me irritou tanto esta informação? Parei para refletir sobre o motivo deste
sentimento e, confesso, não foi difícil descobrir.
Esta senhora, lá pelos seus
primórdios, vivia no mesmo condomínio do meu irmão, no Grajaú, Rio de Janeiro.
Lembro-me das minhas sobrinhas, ensandecidas, indo buscar as grotescas sandalinhas
cheias de brilhos no apartamento dela, na esperança de encontrar o Pelé
que, vira e mexe, dava as caras por lá.
Desde os seus 20 e poucos anos de
idade, ela comanda programas infantis cuja tônica é erotizar precocemente as
crianças, transformando meninas em arremedos de mulheres sem se preocupar com
sua vulgarização.
Os programas que comandou sempre
tiveram como mote atropelar o desenvolvimento infantil em sua exuberância
repleta de etapas simbólicas. Pasteurizou os encantos desta fase empenhando-se
em exaltar a diferença entre possuir e não possuir os produtos que anunciava ou
que levavam sua grife tais como sandálias, roupas, maiôs, lingeries, xampus,
bonecas, chicletes, cosméticos, álbum de figurinhas, cadernos, agendas,
computadores, sopas, iogurtes, etc., num universo insano onde ela, eternamente
fantasiada de insinuante ninfeta, faz biquinho e comanda a miúda plebe ignara.
Xuxa: símbolo máximo da erotização da infância no Brasil
Cientes estamos todos de que esta
senhora, durante muitos e muitos anos, defendeu zelosamente seu polpudo
patrimônio utilizando-se da fachada de menina meio abobada que sequer sabia
quantos milhões possuía. Costumava dizer que era a sua empresária que
administrava suas posses cujo montante alegava, candidamente, desconhecer.
Pobre menina rica. E burra, com certeza. Como se fosse possível alguém tão htapada
tornar-se tão rica.
Talvez para esconder a consciência
que tinha acerca do quanto ajudou a devastar a inocência de tantas gerações de
meninas que lhe devotavam a mais pura idolatria, posou de inocente útil usando
a mesma máscara que agora reedita para falar, emocionada, do seu mais novo
pretenso drama/marketing.
Esqueceu-se de que sua audiência,
formada, na sua massacrante maioria, por meninas, passou a ser considerada como
alvo da desumana propaganda colocando-as como mero veículo de consumo.
Esqueceu-se, convenientemente, de
comentar que milhares de garotas pelo Brasil afora foram abusadas sexualmente
ao mesmo tempo em que eram, por ela, adestradas a vestirem-se e comportarem-se
como verdadeiras lolitas.
Esqueceu-se de que ensinou atitudes
claramente ambivalentes para crianças que não faziam a mais pálida ideia do que
podiam mobilizar em mentes doentias.
Esqueceu-se de que a erotização tem
sido ligada a três dos maiores problemas de saúde mental de adolescentes e mulheres
adultas: desordens alimentares, baixa auto-estima e depressão.
Esqueceu-se também de que as
crianças, diariamente bombardeadas com imagens de paquitas como modelos de uma
beleza simplesmente inalcançável enquanto corpos reais, torturavam-se
perseguindo um modo de serem belas, perfeitas, saudáveis e eternas.
Estimulando a sexualidade de forma
tão precoce, essas meninas perderam grande e preciosa fase do seu
desenvolvimento natural. E reduzir o período da inocência, certamente,
acarretou-lhes desdobramentos nefastos.
Daí para ideia, cada vez mais
presente, da infância como objeto a ser apreciado, desejado, exaltado, numa
espécie de pedofilização generalizada na sociedade foi, apenas, um pequeno
passo.
Num país onde as mães deixam suas
crias, por absoluta falta de opção, frente à tevê sem qualquer tipo de controle
e sem condições para discutir o conteúdo apresentado, encontrou esta senhora
terreno mais que propício para disseminar sua perversa e desmedida ganância por
audiência e dinheiro.
Fosse ela uma pessoa minimamente
preocupada com a direção que a sexualidade exacerbada e fora de contexto toma,
neste país onde mulheres são cotidianamente massacradas, teria falado sobre
este suposto drama muito tempo atrás. Teria tido muito mais cuidado com os exemplos
de exposição que passava. Teria norteado seu trabalho dentro de parâmetros
muito mais educativos e, desta forma, contribuído para que milhares de meninas
fossem verdadeiramente cuidadas e respeitadas.
Ou teria simplesmente virado as
costas e ido embora.
Logo, frente ao seu histórico, não
tem mesmo nenhuma autoridade para sustentar qualquer atitude fundamentada em
belos e necessários méritos.
Porque são de grandes valores, bons
princípios e atitude exemplares que nossa sociedade necessita de maneira urgente.
Portanto, cale-se, Xuxa!
Nota
de Julio Severo: Esse texto, que foi muito bem escrito, está sendo distribuído
por email e também foi enviado a mim. Por mais que eu tivesse procurado
localizar o verdadeiro autor e origem, não consegui.
Divulgação:
www.juliosevero.com
Fantástico
na luta contra a pedofilia?

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