O preparador Yannick Sire, 41, é um daqueles americanos que construíram o cenário que hoje conhecemos como Pro Touring. Aqueles muscle cars metidos a besta, com mecânica altamente modificada para causar crises de autoestima em Porsches 911. Bem, após quase duas décadas investindo nisso, Sire resolveu partir para a ignorância e construiu um Hot Rod com dois V8. Por quê? Because race car.
Motores com mais de dez litros ou que passem dos 1.000 cv (aspirados ou sobrealimentados) não são novidade nos EUA. Este seria o caminho fácil para Sire, que preferiu investir no insólito e colocou dois V8 Chevy sob o capô… mas que capô, cazzo! Os motores são gêmeos: 350 polegadas cúbicas, comando hidráulico roletado, cabeçotes da AFR (custam uma bica e são usinados em CNC), 456 cv cada um.
A pergunta que não quer calar: como eles foram unidos? Bem, Sire construiu uma espécie de luva monstruosa que une os dois virabrequins, separados por ângulo de rotação de 45 graus (há outras possibilidades, como 10º). Esta luva, meticulosamente balanceada e com um damper (para absorver vibrações) embutido, conecta o miolo da polia do virabrequim do motor de trás ao volante do motor que fica na frente. Dê uma olhada no vídeo abaixo:
Todos os acessórios (bombas, alternador, etc) ficam instalados no motor de trás, então o carro funciona normalmente sem o motor da frente instalado. A ordem de ignição precisou ser alterada para manter funcionamento estável, sem vibrações ou tensões que moessem o novo supervirabrequim. Anote aí a ordem dos cilindros: 1-1-8-8-4-4-3-3-6-6-5-5-7-7-2-2.
A esposa de Sire deve adorar o trabalho dele. Talvez não. Talvez ele não tenha esposa. Talvez ele tenha a envenenado com a defumação de combustão e borracha queimada ao chegar em casa após um passeio como este:
Pois é. Os freios da frente não conseguem segurar a porrada de mais de 900 cv conjugados num burnout. Um bom observador vai sacar que as rodas de 20″ vieram do BMW X5, o que apenas dá início à uma verdadeira salada mecânica:
- O teto retrátil foi feito a partir de dois tetos de Karmann-Ghia
- A caixa de direção veio do Subaru Impreza WRX STI
- O sistema de freios, com discos de 14 polegadas na frente, é do Corvette C6
- As mangas de eixo são do Camaro de 2ª geração
- A luva que une os dois motores usou como base alguns componentes do diferencial com suspensão traseira independente do Pontiac GTO (o moderno, baseado no Holden Monaro)
- A suspensão traseira usa sistema de eixo rígido, com o clássico Dana 60, que equipava os muscle cars dos anos dourados com big blocks
O brinquedão pesa cerca de 1.100 kg – pouca coisa mais que o Renault Sandero – e é estruturado com tubos de cromo-molibdênio de 1,75″. A carroceria, feita de folhas de alumínio rebitadas, dá um toque bélico (ou de
Yannick fabricou os coletores de escape que une toda esta suruba de 16 cilindros em uma macarronada de aço . Será que passa na Controlar?
A cabine, seca e simples como deveria ser. Há algo de hipnótico nestes painéis feitos de uma simples folha de alumínio cravejada de mostradores (quer saber pra quê eles servem? Reveja esta série de posts). Note a triangulação feita na junção da coluna A com o teto: este Hot não foi feito na base da orelhada. Os bancos são ProCar. O sistema de acionamento do câmbio automático Turbo400 é da B&M.
Aqui temos o Hot nas etapas finais de ajustes, fazendo testes de forma responsável em local completamente isolado e com equipamentos de segurança apropriados – e não perca a miragem que surge no cruzamento aos 28 s! Note como o tanque de combustível fica bem distante de qualquer impacto na traseira.
Bem, deixei o melhor vídeo para o final. Pegue um café quentinho e aumente o volume.
* nenhum animal
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