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segunda-feira, 8 de março de 2010

O filho do Brasil é a cara do pai

Tenho um casal de amigos que gostou tanto do filme “Lula o filho do Brasil” que já foi assisti-lo quatro vezes. Hein? Mentira minha? Tem razão. Estou apenas demonstrando o completo desencontro do filme com as expectativas de seus personagens, protagonistas e produtores. A única plateia que bateu palmas para a obra de Fábio Barreto foi a que compareceu à sua pré-estreia, um seleto cordão de – como direi? – parceiros, cativados pelos cheques dos contratos ou pelos contracheques funcionais.


Pois eis que na contramão daqueles aplausos e das reverências dos blogs de esquerda, quando chegou aos cinemas – quase quatrocentas salas decoradas para recebê-lo – o filme travou. Travou miseravelmente.  Deu apagão na sala de projeção. Após dois meses nas telas, ainda estava longe do milhão de espectadores. No fim de semana de 28/02 (veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/cultura de 1º de março), menos de quinhentas pessoas assistiram a película, que despencava como pedra, em irreversível parábola descendente. Para quem antevia um estouro de bilheteria, produzido por um público entre cinco e 16 milhões de fãs, o filme é um esférico e lustroso fracasso.

Olhando assim, pelo alto, de avião, até parece obra do PAC, não é mesmo?
Empacou, não funcionou, custou caro, foi cercado de imensa publicidade, recebeu calorosos aplausos dos companheiros, pretendia ampliar o prestígio de Lula e foi concebido em tom de puxa-saquismo. Mas não é obra do PAC, não! Tem tudo para ser, mas não é. Não é do PAC e não tem mãe. Alguém dirá que não faz sentido ironizar o insucesso do filme. Acontece que “Lula, o filho do Brasil” encaixou-se na perspectiva política e eleitoral de 2010. Esperava-se que o ato de assisti-lo se constituísse em reverência litúrgica. E confiava-se em que os fiéis assistentes deixariam as salas de exibição decididos a obedecer cegamente seu pastor. Ora, quem se farda para o jogo político e entra em campo pode fazer gol e pode levar gol. Então ironizo.

Em qualquer lugar do mundo, um fracasso de bilheteria arde no bolso de quem investiu no espetáculo. No Brasil, as coisas não são assim. Quando um filme chega aos cinemas todo mundo já ganhou dinheiro através dos benefícios que, a título de incentivo à cultura, retiram recursos diretamente do erário. Não recuso importância à cultura (quando o bem ou produto realmente tem valor cultural).
Mas quando os pacientes do SUS se empilham em beliches nos corredores, quando a sociedade padece nas mãos da criminalidade e quando a educação anda um passo atrás da ignorância, creio que a escala das prioridades aponta outros rumos para esses recursos. Não vejo sentido em que o sucesso financeiro de um filme não dependa da aceitação do público, mas da coleta de incentivos fiscais.

A bem da verdade, esclareça-se: não foi assim com “Lula o filho do Brasil”. A obra de Fábio Barreto, por motivos óbvios, não usou esse mecanismo. Seria difícil explicar a concessão de estímulo fiscal para um filme de louvação ao presidente da República, em pleno exercício do mandato e em ano eleitoral. A grana foi buscada junto a empresas altamente conscientes de suas responsabilidades com a arte e a cultura nacional, animadas por irresistível desejo de contribuir com quotas da ordem de R$ 1 milhão (Revista Época fev/2009) para que Barreto promovesse um personagem que, só por acaso, é o dono do caixa do país. Mas convenhamos, deu no mesmo que se fosse coisa da Lei de Incentivo à Cultura. Ao fim e ao cabo, de uma forma ou de outra, o dinheiro sai do mesmíssimo lugar. E a Campanha da Fraternidade está convencida de que o Brasil é assim por causa da economia de mercado.

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