Há alguns anos escrevemos um artigo sob o título Pac(quinho). Mostramos que se tratava da maior enganação que já se perpetrara no País quanto a planos econômicos, pelo simples fato de mentir, criando o nada. Muitos planos foram feitos antes, mas nunca com tantas mentiras assim.
Explicamos, didaticamente, que se tratava de uma consolidação de tudo o que existia. Sem criação de nada. Dissemos, na ocasião, que o Brasil iria investir no pac(quinho) 504 bilhões de reais, o que significava 126 bilhões de reais por ano. Ou meros 6% do PIB da época. Assim mesmo, com o governo investindo apenas 68 bilhões, com média de 17 bilhões por ano, ficando o restante para as estatais. E que isso era mais ou menos os valores dos quatro anos anteriores.
O pac(quinho) não era, portanto, mais do que a consolidação dos programas já existentes. Apenas levava o povo e, estranhamente, também a maioria dos jornalistas e economistas, a pensar na criação de algo. Em realidade, era como você chegar à sua cara esposa em casa e lhe dizer, singelamente: "Benzinho, temos um orçamento mensal de 3.000 reais". Ela ficaria preocupada, pois seria difícil trocar o carro, cortinas, sofá e outras coisinhas mais. E com você fazendo isso por vários anos – no caso, quatro de governo.
Num determinado momento, você saca da cartola a genial idéia da consolidação do orçamento em uma peça anual. Chega em casa, todo pimpão: "Benzinho, este ano nosso orçamento é de 36.000 reais". Ela, que também não entende lá muito de economia, se entusiasma; afinal, é um valor substancial.
E pode ser o inverso, com o lar sendo conduzido pela mulher, e esta falando do orçamento ao querido esposo. "Oba, vamos trocar de carro finalmente", diz a outra parte. "E também o sofá velho que maltrata minhas costas".
Sem, no entanto, se dar conta de que continuam a ter apenas 3.000 reais mensais para gastar "à vontade".
Foi exatamente o que o governo fez. E levou todos a suspiros fantásticos, com pouca gente enxergando a realidade e a verdadeira e maligna intenção. Portanto, como se pode ver, o pac(quinho) não era mais do que isso. E todos se rejubilaram com o nosso novo e reeleito governo. Ou seja, o mesmo país ignorante dos fatos e da economia, aquele de sempre.
E como ficou o pac(quinho) que criticamos veementemente na ocasião, mostrando o que quase ninguém estava se dando conta? Aliás, a maioria não se dá conta até agora. Segundo a imprensa tem divulgado, apenas 10% das obras previstas foram concluídas. 62% nem saíram do papel, estando em fase de licitação ou contratação. O povo brasileiro não toma jeito.
Há poucas semanas o governo começou a alardear o pac(quinho) 2. Como assim, cara-pálida? Se não fez o primeiro, como pode vir o segundo? Alguém tem dúvida de que se está gestando mais um "1984", fantástica obra de George Orwell, o herói do atual governo tupiniquim? Tudo que não foi feito no pac(quinho) 1, e isso é, literalmente, quase tudo, entrará como pac(quinho) 2 – levando o povo e a maioria dos jornalistas e economistas, a suspirar mais uma vez com a grandiosidade do nosso País. O povo, sem acesso à informação ou que não entende de economia, elevará ainda mais a popularidade do nosso santo.
Até quando o Brasil será, como já dissemos e escrevemos, um grande acampamento, em vez de um grande país? Somos, certamente, um povo totalmente individualizado, cada um com suas crenças e imposições, sem pensar num país, num amanhã. Tudo o que vale é hoje, o que se diz e o que se acredita. Pobre país! Parece que a linha do Equador divide a boa-fé neste planeta. Abaixo do Equador, tem de ser asilado. Quem sabe em Marte!
Parece que somos um país de brincadeirinha. Onde todos somos tratados como se nos faltasse inteligência para entender o que está acontecendo. E tão influenciáveis por números grandiosos, que nem fazemos a relação com a economia como um todo. Em especial sua relação com conceitos econômicos e sobre o que o país precisa para crescer.
Pior que parece que somos mesmo. E ainda há muito por ouvir. Afinal, já se fala em pac(quinho) da Copa.
Sem esquecer o pac(quinho) das Olimpíadas.
Somos um país que chegou ao ponto em que as mentiras nem precisam ser muito repetidas para se tornarem verdades. Basta falar uma vez e bingo! Vira verdade absoluta. E nem precisa ser verificada. Sinal dos tempos, em que se regride em lugar de avançar.
Dessa maneira, de equívoco em equívoco, de mentira em mentira, vamos construindo um país sem futuro, parafraseando diversos dos nossos artigos. Acreditamos que se fechássemos o país e o devolvêssemos a Portugal, com pedidos de desculpas pelos estragos causados, não o aceitariam de volta: no mínimo teríamos que fazer alguns reparos, reformas etc.
Reformas? Está ai uma boa idéia, e muito "original" ...
Sem contar com a ditadura civil que está a caminho. Em que o pac(quinho) é apenas uma forma de popularizar o governo e permitir tudo a ele.
Publicado pelo Diário do Comércio em 03/03/2010
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