“O líder do PT na Câmara, Fernando Ferro (PE), manifestou hoje (18/3/2010) solidariedade ao povo e ao governo cubanos contra os ataques que têm sido feitos por vários grupos de direita, em diferentes países, contra a ilha caribenha. ‘Há uma tentativa, de âmbito internacional, para se desestabilizar o governo cubano, numa afronta aos princípios da autodeterminação dos povos’, disse Ferro.”
Otrecho acima é reprodução da tardia resposta do PT à morte de Orlando Zapata Tamayo, ocorrida em 23 de fevereiro deste ano, após 2 meses e meio em greve de fome. Por ironia do destino, no mesmo dia, deputados socialistas chilenos se manifestaram contrariamente ao regime, o que os faz cair irremediavelmente no campo inimigo, segundo a tese do líder do PT acima.Que o petismo seja a concretização de doenças espirituais e vícios intelectuais em forma de organização política não me parece tema de mais debate intelectual; tal fenômeno de sociopatia, embora com outras denominações, já foi amplamente analisado nos anais da psicopatologia política, de Karl Manhein a Eric Voegelin, de Hannah Arendt a Heimito von Doderer. Para essa mentalidade maliciosa, o poder político é a única promessa de cura dos males quando em suas mãos, sempre a origem dos males quando nas mãos da oposição política, nada ficando fora do âmbito do poder do Estado.
O trecho citado ecoa o típico modelo do burocratismo do partido. Ferro não é um idiota qualquer. É treinado pela cartilha, apregoando que se o regime simboliza qualquer coisa de anti-EUA, deve ser defendido, mesmo sendo uma tirania, em nome da “autodeterminação dos povos”.
Essa palavra-força, “autodeterminação dos povos” é bastante útil quando você apoia o tirano e não quer arrumar encrenca, não quer dar explicações etc. Exemplos: Irã, Cuba, Síria, China, Coréia do Norte. Ao mesmo tempo, ela não é utilizável quando você não apoia certos regimes mas têm a noção de que falar mal deles não lhe prejudicará seriamente, pois a constituição política desses países sabe como absorver certos disparates ideológicos. Por exemplo, EUA e Israel.
O problema é que a “autodeterminação dos povos” é, ao mesmo tempo, uma amarra linguística, pois assume que “os povos” estão, por definição determinados a seguir um dado caminho. Não considera o fato de eles estarem decididos a mudar ou desejarem uma mudança, como no caso da ditadura cubana de 51 anos de idade. Para o PT, mudar só é bom quando o seu partido não é o Estado. Por exemplo, para o PT, a eleição de Fernando Henrique nunca correspondeu à autodeterminação do povo brasileiro; aquilo foi chamado de no mínimo um golpe contra a democracia, enredando o país no chamado financismo capitalista escravizante.
Dessa forma, o PT está assumindo que o “povo cubano” em bloco está determinado a continuar sob o regime ditatorial dos Castro, sendo que qualquer manifestação contrária, venha de onde vier, deverá ser enxergada como um ataque à escolha do “povo cubano”, considerando que “todos os cubanos apoiam Castro”. Ora, se isso não é um pensamento totalitário e ditatorial arraigado no DNA do próprio PT, não há motivo dessas palavras continuarem nos dicionários e esperamos que as próximas versões dos mesmos sob regime petista venham devidamente retificados.
Mas talvez a pergunta principal seja
esta: como Lula sairá dessa enrascada, em que todos os países democráticos estão se manifestando, se não totalmente contra o regime de Castro, ao menos contra a prisão dos dissidentes presos em condições sub-humanas? O movimento conduzido pelos parentes dos presos cubanos, denominado “Eu acuso o Governo Cubano” se fortalece a cada dia, com mais de 30 mil assinaturas de quase 100 países até o momento, desautorizando aos capachos de Fidel a resposta fácil de se tratar de uma orquestração imperialista.Lula tem tentado um protagonismo internacional, aproveitando-se indevidamente de uma fama do brasileiro ser visto como um povo bom. Mas essa tarefa a que Lula está se propondo, está desnudando-o internacionalmente, o que é positivo. Se no Brasil, sua incapacidade de lidar com temas críticos é abafada e sua inação é descrita como genialidade política, o mesmo não poderá o petismo fazer com a imprensa internacional. Nessas horas, o mito do bom dialogador e socialista com uma face humana cai por terra, como no caso grotesco da equiparação dos presos políticos cubanos com criminosos, feita por Lula.
O ato falho freudiano de tê-los igualado a criminosos parece ter escapado à imprensa brasileira. Chamaram-no de insensível, de ter esquecido de seu passado de preso político (sic), chamaram-no de pragmático, de desastrado, de mal interpretado, de tudo. Só não se lembraram de dizer que Lula é adulto, chefe de um Estado, e que está aceitando a premissa normal a um regime comunista, em que criticar publicamente o governo é sempre crime. Para a diplomacia lulista, a existência pacífica entre tiranias e democracias é um ponto importante, pois as democracias decidiram ser democracias e as ditaduras decidiram ser ditaduras e ninguém tem nada a ver com isso. Para Lula, não há ditadura criticável, só democracias podem ser criticadas.
Quando Lula se vê obrigado a comentar sobre as FARC, logo fala que elas deveriam fundar um partido (por mais absurdo que seja a afirmação), pois sabe que a Colômbia aceita o jogo democrático. Lula não seria inconveniente em dar o mesmo conselho aos dissidentes cubanos.
Para o petista, o povo cubano é somente o povo pró-Castro. Isso quer dizer que os dissidentes não são considerados povo cubano e que merecem no máximo um burocrático “lamentamos o ocorrido com Orlando Tamayo”.
Talvez a maior prova de que Lula não está nem um pouco preocupado para com a liberdade alheia é o fato de, não tendo feito nada para intervir no ocorrido, criticar a postura do dissidente, dizendo que o mesmo não deveria ter feito o que fez, como se além de ignorar o trágico destino que o esperava, desautorizava-o de dar cabo à vida pelo ideal de liberdade para seu povo.
Isso mostra que Lula sente-se muito acima dos dissidentes políticos cubanos, não havendo nele sequer memória parecida que o sensibilize para com o ocorrido com Tamayo. Lula jamais faria um centésimo do que Tamayo fez e ele sabe disso, sabe que seu tempo detido foi tão sério qual um teatrinho escolar. E também sabe que os militares brasileiros eram como crianças no jardim de infância quando comparados a Castro e seus capangas.
“O líder petista sublinhou a importância dos respeito (sic) à soberania de cada país, condição essencial para a criação de uma nova ordem mundial. ‘Não aceitamos provocações como a que fazem contra Cuba’, disse. Ele assinalou que o primeiro passo para a plena reinserção internacional de Cuba seria o fim do embargo econômico dos EUA contra a ilha caribenha.”Voltemos à cartilha:
Por que chamar de desrespeito à soberania a manifestação popular de 30 mulheres, esposas e parentes de jornalistas encarcerados com penas de mais de 20 anos, hostilizadas fisicamente pelos capangas dos Comitês de Defesa da Revolução? É desrespeito à soberania quando as cubanas “Damas de Branco” recebem apoio verdadeiro de membros da comunidade internacional, socialistas chilenos inclusive? E que “nova ordem mundial” é essa que o PT diz defender? O trecho é o velho engodo para enganar as crianças do partido.
Continuemos:
“Ferro e os militantes foram recebidos pelo embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodriguez. O diplomata agradeceu pelo (sic) manifestação de apoio a seu país e garantiu que Cuba continuará ‘firme e erguida todo o tempo’ contra as seguidas provocações que tem sofrido de várias partes do mundo.”
Como podemos entender a morte de Orlando Zapata Tamayo como sendo uma “provocação de várias partes do mundo”?
Ainda, como a morte por inanição de um pedreiro cubano como Tamayo pode ser vista como um ataque reacionário mundial à Cuba?
Incito o mais brilhante ou o mais inexpressivo intelectual do PT, tanto faz, a me explicar como o outrora temido imperialismo americano anda tão fragilizado, recorrendo a métodos de ataque ao inimigo como morte por greve de fome.A arrogância farta de Lula e de seu partido, a incapacidade e a imoralidade travestida de pragmatismo para enganar liberais de ocasião estão aparecendo mundialmente.
Assim, o PT deixa claro que o projeto político do partido se sobrepõe aos direitos mais básicos do ser humano, como o direito à vida. Cabe ao brasileiro imaginar que Projeto Nacional de Direitos Humanos poderá advir desse partido.
E internacionalmente, será esse o protagonismo de que o Brasil precisa, o protagonismo da infâmia e da desídia?
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