Desarmamento
Quando eu era criança, meus pais, num dos meus aniversários, me deram de presente um kit Roy Rogers. Bem, naquela época, não se usava a palavra kit. Era um pacotão com vários pacotinhos dentro. Neles, havia um jeans (naquela época chamava-se calça rancheira) com a iniciais RR bordadas num dos bolsos, uma camisa azul de cavaleiro do Velho Oeste, um chapéu de abas viradas, um coldre, um revólver de brinquedo e uma caixa de espoletas.
Durante um bom tempo, circulei o quarteirão lá de casa, galopando num cabo de vassoura e atirando a esmo. Meu revólver fazia muito barulho, mas não feria ninguém. Já adolescente, ganhei, também num aniversário, uma espingarda de ar comprimido (será que isso ainda existe?). Não me tornei um serial killer de passarinhos indefesos, mas me diverti bastante praticando tiro ao alvo no quintal.
Se fosse hoje, meus pais, coitados, estariam sendo acusados de estar criando um Charlton Heston tropical. Não foi o que aconteceu. Na verdade, passada a adolescência, tomei ojeriza a armas. Não gosto nem de bombinha de São João. Outro dia mesmo, quando o governo fez uma consulta popular para saber se nós, o povo, éramos contra ou a favor de uma lei que proibisse a comercialização de armas no país, votei a favor. Apear das boas lembranças que minha pistola de Roy Rogers e minha espingardinha de chumbo me trazem, tenho certeza de que um mundo sem armas é melhor do que um mundo com armas. Perdi o plebiscito, mas não perdi o espírito democrático. Respeito a decisão popular e tenho convivido bem com as armas comercializadas legalmente.
É por isso que não entendo a sanha com que se volta a debater o desarmamento. Não que o debate não seja produtivo. Debates sempre o são. Mas estranho que o assunto volte à baila logo após a tragédia que se abateu sobre as crianças da escola de Realengo. Bullyng e segurança nas escolas são assuntos que me veem à mente quando penso naquele episódio, mas desarmamento... Que parte da história eu não entendi que faz com que se possa acreditar que, se o comércio legal de armas já estivesse abolido do país, aquela matança não teria acontecido?
Recapitulando: um sujeito desequilibrado adquire i-le-gal-men-te uma arma de um traficante de armas e planeja um homicídio em massa motivado por questões psíquicas incompreensíveis para cidadãos normais. E aí? O que o desarmamento tem a ver com isso?
Por que o crime não motiva o debate sobre como é fácil entrar armas ilegalmente no país? Por que não estamos discutindo a fragilidade da segurança de nossas fronteiras? Como todo mundo sabe, comprar armas no Paraguai é tão fácil quanto comprar bananas (talvez, no Paraguai, seja mais fácil comprar armas). Uma lei de desarmamento vai acabar com o contrabando? Um novo plebiscito só vai esconder, por mais algum tempo, algumas de nossas maiores mazelas.
Fonte: Blog do Xexeo
[o desarmamento faz parte da política oficial das esquerdas que seguindo o manual de Lênin entendem que todos os cidadãos devem ser desarmados.]
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