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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Jornalista australiano denuncia descaso brasileiro ao infanticídio em aldeias indígenas

Jornalista australiano denuncia descaso brasileiro ao infanticídio em aldeias indígenas:


Jornalista
australiano denuncia descaso brasileiro ao infanticídio em aldeias
indígenas  

Soraya
Mendanha
O jornalista australiano Paul
Raffaele manifestou indignação, em audiência pública na Comissão de Direitos
Humanos (CDH) nesta quinta-feira (29), com o que chamou de tolerância do
governo brasileiro à prática do infanticídio em tribos indígenas isoladas.
Infanticídio indígena
Durante cerca de duas semanas de
convivência com os índios Suruwahás, no Sudoeste do Amazonas, para produzir o
documentário Amazon's Ancient Tribe -
First Contact
, Paul constatou que o grupo incentiva o assassinato de
recém-nascidos deficientes ou filhos de mães solteiras, por acreditarem que são
maus espíritos.
O jornalista afirmou que a Funai, e
consequentemente o governo brasileiro, faz vista grossa à prática e que essa
tolerância escapa de sua compreensão.
- Acredito que a Funai seja o órgão
errado para administrar os territórios indígenas. O departamento está cheio de
antropólogos que querem proteger a pureza cultural dos índios, mesmo quando
isso envolve enterrar bebês vivos ou abandoná-los na floresta para serem
comidos vivos por onças e outras feras - destacou.
Paul Raffaele disse discordar da
política da Funai e do governo brasileiro de tentar manter tribos indígenas
isoladas do resto da sociedade. Segundo ele, ao agirem assim, concordam e
aprovam com uma das piores violações aos direitos humanos em todo o mundo.
- Não consigo entender por que não
há, no Brasil, uma grande discussão a respeito do assunto. Como o povo
brasileiro aceita as regras desses antropólogos? Não conheço nenhum outro país
no mundo que aceite crianças enterradas vivas - ressaltou.
O jornalista, que trabalha há cerca
de 50 anos visitando tribos isoladas, disse que, na maioria dos locais em que
esteve, os jovens queriam ter contato com o mundo externo para buscar formação
educacional e conhecimento. Raffaele afirmou que a Funai desencoraja esse tipo
de atitude e incentiva os índios a permanecer na “Idade da Pedra”.
- Eles não perguntam o que os
índios, principalmente os jovens, querem. Eles dizem a esses jovens o que devem
fazer. Fecham as tribos no que eu chamo de museu antropológico vivo - disse.
Raffaele lembrou que membros da
Funai e do governo brasileiro negam que ainda haja assassinato de bebês e
crianças em tribos indígenas, mas ressaltou que existem provas contundentes que
comprovam a prática, especialmente entre tribos mais isoladas.
- Não estou falando de algo que
aconteceu há séculos. Pode ter acontecido ontem e acontecer amanhã. Está na
hora de o governo brasileiro ficar do lado de todas as suas crianças e não
apenas daquelas não indígenas - disse.
O senador Magno Malta (PR-ES),
autor do requerimento da audiência, criticou a posição dos que defendem o ato
como uma prática cultural. Ele disse acreditar que a cultura é sempre menor do
que a vida e que não há justificativa para qualquer tipo de defesa à morte.
- Deus não criou a cultura, criou a
vida - destacou.
Representantes do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), do Ministério Público e parlamentares presentes à udiência
ressaltaram a importância do tema e afirmaram que debaterão o assunto dentro
dos órgãos, para que possam ser desenvolvidos projetos que levem mais cidadania
às comunidades indígenas isoladas.
Os índios Suruwahá vivem em uma
área no município de Camaruã, no Sudoeste do Amazonas. O grupo, composto hoje
por cerca de 140 pessoas, é também conhecido como “povo do veneno”, devido à
prática e veneração do suicídio, que constitui uma das características mais
marcantes de sua cultura.
O consultor legislativo Fabiano
Augusto Martins Silveira, representante do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP), afirmou que as condutas verificadas na tribo podem ser
classificadas não só como infanticídio, mas também como homicídio. De acordo
com ele, cabe aos órgãos de proteção agir para impedir suicídios e homicídios.
- Não podemos ser tolerantes com
aqueles que aceitam ou propagam a morte - disse.
Divulgação:
www.juliosevero.com
Leitura
recomendada:
Depois
do aborto, o infanticídio
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