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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Os advogados e suas safadezas não mudam — palavra de Jonathan Swift

Os advogados e suas safadezas não mudam — palavra de Jonathan Swift:

Os advogados esuas safadezas não mudam — palavra de Jonathan Swift

JulioSevero
Safadeza de advogados não énovidade alguma. O livro “Viagens de Gulliver” faz sucesso há mais de trêsséculos. Qual é a criança que nunca assistiu ao desenho de um homem giganteentre minúsculos seres humanos numa ilha? Há também filmes. Mas tanto desenhosquanto filmes, que retratam a riqueza da imaginação do autor, deixam de fora afigura do advogado. Sim, o advogado está muito bem presente no livro “Viagensde Gulliver,” de Jonathan Swift (1667-1745). Mas, ao contrário de muitos outrospersonagens retratados com qualidades fictícias, os advogados são apresentadosexatamente como são. Pior: apesar da descrição ter sido feita mais de 300 anosatrás, não dá para notar mudança nenhuma desde então.
Quando li o livro de Swift muitosanos atrás, nunca mais me esqueci da figura do advogado, imortalizada por Swiftem suas qualidades e profissionalismo a serviço da safadeza. Claro, sempre háas exceções, mas Swift apontou que mesmo na época dele, as exceções eramrealmente raras. Um advogado é sempre um advogado. A seguir, o retrato queSwift fez dessa figura que teima em não mudar, com as devidas atualizações linguísticasfeitas por mim, numa conversa em que o personagem Gulliver tem com um personagemda realeza:
— O número de advogados entre nós éinfinito e ultrapassa o número das baratas. Eles têm entre si todas as espéciesde títulos, de distinções e de nomes. Pelo fato de que o enorme número delestorna a profissão pouco lucrativa, recorrem à astúcia e às tramoias judiciais,para poderem sobreviver. Aprenderam, logo nos primeiros anos, a arte maliciosa deprovar, com um discurso torto, que o preto é branco e o branco é preto.
— São estes homens que, com sua habilidade,arruínam e despojam os outros? — perguntou Sua Alteza.
— São, com certeza — respondi — evou citar-lhe um exemplo. Se o meu vizinho quer ficar com a minha vaca, eleprocura logo um advogado, e promete-lhe uma boa grana se puder fazer parecerque a minha vaca não é minha. Sou então obrigado a me dirigir também a umadvogado para defender os meus direitos, pois a lei não permite que eu me defenda.Ora, embora de fato a vaca seja minha por direito, nem por isso deixo de medeparar com dois grandes obstáculos. O primeiro é que o advogado, ao qual recorripara defender a minha causa, está, pelo espírito de sua profissão, habituado desdea juventude a defender a falsidade, de modo que ele se sente como um peixe forada água quando lhe digo a verdade nua e crua. O segundo obstáculo é que o mesmoadvogado, apesar da simplicidade da causa que lhe entreguei, é obrigado acomplicá-la e prolongá-la o mais que puder, conforme o costume de seus colegasde profissão. Do contrário, o acusariam de estragar a profissão e de dar mauexemplo.
— Daí, só me restam duas soluçõespara resolver o problema: A primeira solução é ir até o advogado do meu vizinhoe tentar suborná-lo, dando-lhe o dobro do que esperava receber do seu cliente.Com um bom suborno, não é difícil fazê-lo pender para minha causa. A segundasolução é igualmente infalível. Tudo o que preciso fazer é recomendar ao meuadvogado que faça uma defesa confusa, dizendo aos juízes que a minha vacatalvez não seja minha, mas do meu vizinho. É tiro e queda. Os juízes, poucohabituados às coisas claras e simples, ouvirão com gosto os argumentosmatreiros do meu advogado e estarão com muito melhor disposição de julgar a meufavor.
— Um dos princípios dos juízes éque tudo quanto foi julgado, foi julgado muito bem. Assim, têm o máximo cuidadoem conservar todas as decisões anteriormente tomadas, ainda que por pura ignorânciae patentemente opostas à justiça e ao bom senso. Além disso, a atenção dos juízesvolta-se sempre mais para as circunstâncias do que para a causa principal. Porexemplo: no caso da minha vaca, o que eles vão querer saber se ela é vermelha ounegra, se tem orelhas grandes; em que pasto costuma pastar; que quantidade deleite fornece por dia, e assim por diante. Feito isso, começam a consultar asdecisões do passado. De tempos a tempos, eles tratarão da questão. Ficarei poismuito feliz se conseguirem julgar a minha causa ao final de dez anos! É precisoobservar ainda que os advogados e os juízes têm uma linguagem especial, umjargão que é só deles, um modo de se expressar que ninguém mais entende. Énessa “magnífica” linguagem que são escritas as leis, que se multiplicaminfinitamente. Vossa Alteza vê perfeitamente que, neste labirinto, a verdadeirajustiça se perde facilmente e é muito difícil ganhar a causa mais fácil.
— É pena — disse Sua Alteza — queuma classe tão inteligente e talentosa não faça bom uso de seu conhecimento.Não seria melhor — acrescentou ele — que se ocupassem em dar aos outros liçõesde prudência e de integridade moral, e repartissem tal conhecimento ao público?
— Que nada! — respondi — Sabemapenas o que lhes interessa e nada mais. São os maiores ignorantes do mundo esão inimigos do conhecimento, e, nas relações normais da vida, são estúpidos,ranzinzas, enfadonhos e mal-educados. Não são todos assim. Só a maioria.
Adaptadopor Julio Severo do livro “As Viagens de Gulliver,” de Jonathan Swift.
Leiturarecomendada:
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