Não se pode dizer que haja uma crise de confiança no governo Dilma, não ainda. Digamos que aumente em ritmo bastante acelerado a desconfiança. Desconfiança de que o governo não sabe o que fazer com a inflação — aquela de que a presidente se ocupa “diuturnamente” e “noturnamente” (não está claro se também “matinalmente” e “vespertinamente”); desconfiança de que o governo não vai conseguir cumprir o calendário das obras para a Copa do Mundo; desconfiança de que o modelo não mais funciona só na base da parolagem. Se é assim, algo tem de ser feito. E se fez! De imediato, decidiu-se que o ministro Antônio Palocci, o fiador do primeiro governo Lula junto aos mercados, tinha de sair da coxia e operar na ribalta. Seu papel de articulador dos bastidores, de conversador — com políticos, com empresários, com o mercado, com a imprensa —, já vinha se mostrando insuficiente. Os silêncios eloqüentes de Dilma, que a tantos encanta — e, confesso, a mim também, não sei se pelos mesmos motivos… —, já não dão mais conta do recado.
Coube ao ministro-chefe da Casa Civil, cuja tarefa era eminentemente política até outro dia, fazer o anúncio principal na reunião de ontem do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social: o governo vai lançar, no início do mês que vem, editais propondo a concessão à iniciativa privada dos aeroportos de Guarulhos (SP) e de Brasília. No fim de maio, será a vez de Viracopos (Campinas-SP). No fim de junho e início de julho, saem o de Confins (MG) e o do Galeão (RJ). A empresa que vencer a licitação executa as obras necessárias — terminais, pistas, infra-estrutura, ligação com outros meios de transporte — e depois explora os serviços: aluguel de lojas, tarefas aeroportuárias etc. Que nome isso tem? Privatização!
Por que foi Palocci a anunciar a medida? Para tentar dar credibilidade à decisão. Os petistas passaram oito anos rejeitando a participação da iniciativa privada no sistema aeroportuário — cinco dos quais sob o comando da então superministra Dilma Rousseff. Chega a ser irritante, não fosse ridículo, ter de ler que a agora presidente está brava com o atraso nas obras. Ora… Durante a campanha eleitoral, aprendemos com a “professora” Dilma, que esse papo de iniciativa privada é coisa de tucano. Os petistas ganharam três eleições presidenciais satanizando as privatizações. Recordar é não passar recibo de idiota. É preciso confrontar a Dilma que decidiu privatizar aeroportos com a Dilma candidata. Assistam a este vídeo.
Como se vê acima, ela nem mesmo reconhece os benefícios da privatização da telefonia. Na sua cabeça de Dilma, o brasileiro só passou a ter renda — e, pois, telefone — no governo do PT. Não é tema deste post, mas não resisto: em 1997, havia 17 milhões de linhas fixas no país e 4,5 milhões de celulares. A Telebras foi privatizada em 1998. Em 2003, ano em que Lula chegou ao poder, os fixos já eram 38,8 milhões, e os móveis, 35,2 milhões. Voltemos ao ponto. Em sua retórica eleitoreira, como vocês podem perceber, as privatizações são um mal para o país. Neste outro vídeo, o proselitismo é ainda mais virulento; os adversários são chamados de “turma do contra”. Nota: nunca ninguém propôs, no tucanato, a privatização da Petrobras.
Mas é no vídeo abaixo que a o estilo “enrolation” atinge o estado da arte. Assistam até os 3min36s. Volto em seguida.
Depois de oito anos no poder, a candidata Dilma Rousseff culpou os governos passados pela falta de investimentos nos aeroportos. E por que não apelar ao capital privado? Ela não responde. Segundo disse, a solução era a abertura do capital da Infraero, num modelo similar ao da Petrobras. Mas não era a solução imediata, dizia ela há seis meses. “Imediatamente, a Infraero tem dinheiro suficiente para fazer os investimentos através de, por exemplo, módulos (…) Ocê não faz aeroportos só no sentido tradicional…”
Entendo…
Por que relembrar esses vídeos? Porque é preciso evidenciar que o desastre nos aeroportos não foi uma determinação da natureza ou uma irrupção de irracionalidade nesse mercado; ele foi meticulosamente construído pela incompetência petista — em particular, a de Dilma Rousseff, que respondia pelo setor. A presidente decidiu privatizar? Antes assim; antes tarde do que nunca! Aplaudo! Que tente corrigir as bobagens que ela mesma protagonizou na área.
EncerroPalocci volta à ribalta para tentar tirar o governo daquele autismo virtuoso cantado em farta prosa jornalística — logo começariam os versos. Vamos ver. Daqui a pouco, é possível que seja necessária uma voz com mais credibilidade para falar também sobre economia…
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