Ex-presidente comanda reunião com partidos, ouve queixas contra Dilma e até repreende ministros
Por Maria Lima, de Brasília
Numa espécie de intervenção branca no governo Dilma Rousseff para conter a base aliada e a crise envolvendo o ministro Antonio Palocci (Casa Civil), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chefiou uma reunião de três horas e meia com líderes e presidentes de partidos aliados ontem, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No encontro, Lula prometeu resolver reclamações de falta de interlocução com o governo, pediu apoio para Palocci e alertou para o risco de uma crise institucional de consequências imprevisíveis. Sua próxima missão é se reunir com ministros para cobrar deles mais atenção aos aliados. O que já fez com Palocci, no jantar de anteontem com Dilma no Palácio da Alvorada.
Segundo relatos dos participantes do café da manhã na casa de Sarney, ao pedir solidariedade e apoio para segurar o chefe da Casa Civil, Lula disse que Palocci estava "muito estressado", mas não podia ser desamparado porque dá uma contribuição enorme ao governo Dilma e ao Brasil. E contou, segundo um líder presente, como foi o puxão de orelhas no ministro:
- No jantar com o Palocci ontem à noite eu disse a ele: tome cuidado, porque sua situação no Congresso é péssima. Há uma imensa insatisfação com sua conduta. Você tem que se aproximar mais, atender as bancadas, marcar jantares políticos.
Na véspera, Lula se reuniu com senadores do PT, que desfiaram um rosário de queixas contra a falta de interlocução com o Planalto, inclusive com Palocci, que nunca atende ninguém. Nem nos momentos de crise.
A atuação de Lula nos dois últimos dias, elogiada pelos aliados, já produziu os primeiros efeitos: hoje Dilma almoçará com a bancada do PT no Senado e, semana que vem, com os líderes dos demais partidos aliados que se reuniram ontem na casa de Sarney.
E, ontem mesmo, Dilma e Palocci já botavam em prática as orientações de Lula: o ministro telefonou para marcar jantares e para antecipar a aliados a decisão da presidente de recolher o kit contra a homofobia, que tanto incomodava a bancada evangélica. A própria Dilma telefonou para o líder do PRB, senador Marcelo Crivella (RJ).
Na conversa na casa de Sarney, que contou também com a presença do vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente pediu que todos os presentes colocassem suas pendências, que ele as levaria para Dilma e para os ministros da área. E fez uma avaliação da crise provocada pela revelação de que o patrimônio de Palocci aumentou substancialmente no período em que ele atuou como consultor, entre 2007 e 2010, quando era deputado.
- O presidente Lula tem uma sensibilidade política mais aguçada e deu sinais claros de que a crise do Palocci é muito grave, não sai da mídia, e que pode caminhar para uma crise institucional de dimensões preocupantes e futuro imprevisível - contou um dos senadores presentes.
Enquanto ocorria a reunião de Lula com aliados, Palocci telefonou para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), para confirmar o almoço de hoje. Ligou também para o líder do PTB, Magno Malta (ES), um dos mais revoltados com a falta de atendimento no Planalto. Magno teria se recusado a falar com Palocci naquele momento.
- Lula disse que ia conversar com os ministros, que se recusam até a devolver telefonema, para que eles acordem. Eu disse sobre o caso do Palocci: a arrogância precede a ruína! Não estou aqui para ser desrespeitado por ninguém. Lidero cinco senadores. E quando o pau quebra descobrem que existe base? - disse Magno Malta, após a reunião com Lula.
Segundo ele, Lula concordou com as reclamações e disse que os ministros deveriam receber os parlamentares.
- O café foi bom. O presidente Lula é jeitoso. Não tem a síndrome de Mercadante - completou Malta, referindo-se ao ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.
Nesses encontros, Lula vem fazendo uma defesa intransigente de Dilma, repetindo muito que ela teve um período difícil com a pneumonia, passou os primeiros meses cuidando da gestão e que só agora está fazendo o ajuste fino da articulação política.
O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), sugeriu a Lula que aconselhasse Dilma a aparecer mais, para ocupar o espaço político e evitar vazios que são ocupados com notícias negativas.
- Se a crise tem um lado positivo, foi ter trazido Lula para o protagonismo político. E ele se apresentou, não foi chamado. Foi aplaudido! Fala como irmão. Senti nele uma saudade, uma melancolia, uma vontade de abraçar os companheiros! - disse Crivella.
Segundo relatos, ao ouvir as críticas sobre ministros e propostas do governo, Lula, no seu estilo bem humorado, disparou:
- Desse jeito vamos ter que criar o MVDM, o Ministério do Vai Dar Merda.
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