O Banco Central (BC) vai intimar até sexta-feira os ex-diretores do Banco Panamericano para que expliquem as inconsistências contábeis que levaram a instituição a acumular um rombo de R$ 2,5 bilhões.
A autoridade já encontrou indícios suficientes para abrir um processo administrativo contra os executivos. O primeiro passo é a intimação. Eles terão entre 15 e 30 dias para se defender.
Também até o fim desta semana, o BC encerrará as investigações dentro do banco. O resultado será enviado para o Ministério Público em São Paulo. Técnicos do BC entraram no Panamericano em meados de setembro, depois de identificar problemas na contabilidade.
Segundo o BC, o Panamericano tinha uma estrutura de despesas incompatível com as receitas. Com isso, apurava seguidos prejuízos, que eram mascarados pelas fraudes contábeis. A principal delas era a não contabilização da venda de carteiras de crédito para outras instituições financeiras (normalmente de grande porte, como Bradesco, Itaú, Santander e HSBC).
O Panamericano continuava computando como sua as receitas decorrentes desses empréstimos, inflando os resultados e encobrindo os prejuízos. Ainda não se sabe por que o banco acumulava perdas. Umas das hipóteses é a concessão de empréstimos em um ramo altamente arriscado: automóveis usados.
A antiga diretoria do banco era encabeçada por Rafael Palladino (diretor superintendente, primo de Íris, mulher do empresário Silvio Santos) e Wilson Roberto de Aro (diretor financeiro).
Conforme antecipou o Estado na edição de sábado, o BC também identificou indícios de desvio de dinheiro por parte dos ex-diretores do Panamericano. Oficialmente, a instituição nega a hipótese. Por meio da assessoria de imprensa, informa que o foco da investigação é a fraude nas carteiras de crédito.
O BC também já encontrou no banco Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com taxas de remuneração elevadas para os padrões brasileiros. A informação também é negada oficialmente pela instituição.
O Panamericano foi uma das instituições que mais recorreram a um tipo de CDB regulamentado pelo BC no auge da crise de 2008, que previa um seguro anticalote para aplicações de até R$ 20 milhões. Em abril de 2009, esses CDBs chegaram a representar 50% das receitas do banco.
Fraudes escondidas. A contabilidade do Panamericano passou por vários crivos ao longo dos últimos anos. Nenhum deles detectou as fraudes. Segundo o BC, a maquiagem dos números começou em 2006. Em novembro do ano seguinte, o Panamericano emitiu ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Com a operação, arrecadou quase R$ 777 milhões.
No fim do ano passado, os auditores e negociadores da Caixa Econômica Federal também mergulharam nas contas do Panamericano quando o banco estatal comprou 49% do capital votante do banco de Silvio Santos por R$ 739 milhões. Mais uma vez, ninguém viu. Leia MAIS
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