segunda-feira, 9 de maio de 2011
As poucas realizações do PT têm a marca da empulhação
O PT tem uma tremenda dificuldade de passar das palavras à ação. Quando é criticado, culpa os outros. Quando realiza, o faz na base do improviso. O DNA palanqueiro sobrevive no sangue petista. O partido mostra-se incapaz de ser e agir como governo. Suas poucas realizações têm a marca da empulhação.
Tome-se o tão propalado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sua vistosa carteira de obras e ações continua a ser apenas isso: uma extensa lista de boas intenções. Os empreendimentos custam a sair do papel e, quando saem, lembram uma canção de Caetano Veloso: mal deixam de ser construção e já são ruína.
O jornal O Globo dedicou-se a excursionar pelas obras do PAC inauguradas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado ao lado da então candidata Dilma Rousseff. Encontrou um roteiro de empreendimentos parados ou inacabados. Dá até para oferecê-lo a uma agência de turismo, tantas são as atrações. Tem pedra fundamental com placa de cobre que não acaba mais. Mas coisa que funcione bem não tem.
O festival de obras inconclusas é até democrático: há ferrovias, conjuntos habitacionais, hospitais, aeroportos, obras de saneamento e rodovias. Em alguns casos, os empreendimentos foram paralisados tão logo terminara o comício da então candidata ou tão logo a caravana presidencial passara. Queimado o foguetório, sobraram poeira e degradação. O filho está tão feio que sua “mãe” agora nem fala mais dele…
Um dos exemplos mais gritantes é o da ferrovia Norte-Sul, ligando o Maranhão a Goiás. Pelo cronograma oficial, os últimos batentes deveriam ser fixados em dezembro passado. Foi o que anunciou o então presidente quando, a apenas 12 dias do primeiro turno das eleições, visitou a sonhada obra. “No dia 20 de dezembro preparem uma grande festa”, disse Lula em Porangatu (GO).
Tudo parecia impecável. Mas, passado o pleito, a tal festa não teve motivo para acontecer. A inauguração prometida para dezembro foi transferida para abril, passou para julho e pode agora, quem sabe, ocorrer em algum dia do segundo semestre, conforme prevê a estatal que cuida da ferrovia.
Sem a Norte-Sul – que, por integrar zonas produtoras, é imensamente aguardada no Centro-Oeste, Norte e Nordeste – as empresas têm de se desdobrar para driblar os astronômicos custos logísticos incorridos em seus negócios em território brasileiro. O governo do PT desdenha disso e ainda se permite criticar quem busca soluções além-mar, como faz, por exemplo, a Vale.
Os exemplos de descompromisso não têm fim. Em agosto, em cima do palanque, Dilma e Lula anunciaram a construção de 700 casas populares em Campo Grande (MS). Nada aconteceu, como, aliás, tem sido a marca do Minha Casa Minha Vida – cujos financiamentos despencaram neste ano, como mostra hoje o Valor Econômico.
Na comunidade da Rocinha, no Rio, um dos cenários mais disputados pelos petistas durante a campanha, o conjunto habitacional entregue há cinco meses já apresenta rachaduras, infiltrações e falta de água. “Disseram que iam passar tinta por cima das rachaduras das paredes. Meu medo é que desabe tudo”, afirma uma moradora. É o que já aconteceu no Ceará na decantada obra da transposição do rio São Francisco.
O pior de tudo isso é que o PT dá mostras claras de não aprender com os erros. O grau de improviso assombra as obras associadas à Copa de 2014. Há duas semanas, o governo de Dilma anunciou que deixaria de lado seus dogmas e concederia os aeroportos à iniciativa privada. O processo, disse o ministro Antonio Palocci, seria rápido.
Bastaram 15 dias para que se percebesse que a tal celeridade não passa de enganação. Há uma miríade de providências a ser ainda tomadas e as concessões só devem sair em 2012, mesmo assim de maneira incompleta, como mostrou O Estado de S.Paulo no domingo. Obras premidas por cronogramas apertados são pasto para sobrepreços e corrupção, algo que o PT adora.
Durante os anos Lula, o PT aproveitou-se de avanços institucionais e estruturais legados pelas gestões anteriores. Esta herança esvaiu-se.
Dilma Rousseff agora se depara com um país que está em construção, mas ao mesmo tempo já está desabando, porque muito pouco foi feito nos últimos oito anos. Não dá mais para continuar improvisando. Não dá mais para continuar enganando. Muita coisa está muito fora da ordem.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela – Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 230
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela
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