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quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Saúde quase perfeita


Uma das inúmeras frases inconsequentes de Lulla, que já vai ficando perdida no tempo, é aquela em que declarou a saúde pública brasileira como quase perfeita. Por alguma razão, naquele momento, naquele local, convinha dizer isso. Parece que os tempos são outros e agora, com a aproximação das eleições, convém dizer, preventivamente, que se alguma coisa não vai bem nesse terreno a culpa é das oposições, que rejeitaram a enésima prorrogação da contribuição provisória destinada a cobrir os déficits acumulados do setor da saúde, embora, verdadeiramente, nunca tenha sido utilizada para essa finalidade.
Junto com as lamúrias pela CPMF perdida, um monstrengo tributário que causou muito mais danos do que se costuma elencar, o grande tagarela resolveu culpar os médicos que não querem ir, mal remunerados e sem estrutura, para lugares distantes. Diz ele que é muito fácil ser médico na Avenida Paulista, no que deve estar enganado, porque a maioria desses profissionais acha dificílimo conseguir isso.
Também não foram poupados das críticas os Conselhos e Associações de classe que não concordam em licenciar sem provas de validação os “cubanos” e exigir tais testes apenas dos que se formaram em Houston, Berlim ou Paris. De quebra, para ser engraçadinho, sobrou também para os doutores que, um dia, tiveram que amputar o seu dedinho. Segundo ele, se não o tivessem feito, hoje poderia se coçar melhor. Sei. Isso, agora, já não é problema, porque quando sente qualquer coceira ele vai direto aos melhores hospitais de São Paulo, não correndo o risco de ser atendido no nosso SUS quase perfeito e, muito menos, por algum médico que, incapaz de passar num vestibular, correu para ser adestrado na fazenda da família Castro. Nem o seu vice, nem a criatura que ele nos quer outorgar como presidente foram se tratar em Havana dos graves problemas de saúde que tem. Nisso, aliás, fizeram muito bem.
Já disse várias vezes que o próprio Lulla me irrita menos do que a condescendência que muita gente boa, rica e/ou bem-pensante passou a ter com o personagem. Dele nunca esperei nada, exceto que fosse o sindicalista bronco, espertíssimo, autocondescendente e de caráter “flexível” que tem provado, a cada dia, ser. Mas me incomodam certas conversas que sou obrigado a presenciar entre não lullistas resignados, que se julgam muito objetivos ao reconhecer suas supostas virtudes. É, dizem, um sujeito inteligentíssimo, hábil, com enorme presença de espírito, dotado de um fantástico instinto político, capaz de tiradas geniais, que fala a língua do povo, etc., etc.
Tudo bem mais reconfortante, é claro, do que reconhecer estarmos o tempo todo sendo manipulados por um falastrão, incapaz para qualquer coisa útil que não sejam malabarismos de palco, cuja grande virtude consistiu em não permitir que detonassem o seu próprio governo, fazendo o amontoado de asneiras que ele e seus seguidores pregavam fossem feitas durante os governos anteriores.
Essas conversas soam, para mim, como se pessoas de bem ao falar, por exemplo, de um assassino profissional, só tivessem comentários do tipo: pontaria fantástica, sangue frio a toda prova, rápido e preciso na ação, hábil para se aproximar sem ser percebido, extraordinário na capacidade de evadir-se etc., sem qualquer consideração mais séria pelo mal praticado. De que serve ficar comentando as habilidades da figura, se elas estão todas a serviço, apenas, do seu inesgotável projeto de autopromoção e de nos tornar, cada vez mais, o país da galhofa?

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