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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O peso da derrota

Osilêncio das oposições é ensurdecedor. E digo bem das oposições, pois cada um dos partidos oposicionistas encontra-se em crise interna, numa ausência de rumos que chama a atenção de qualquer cidadão, mesmo desatento. 
 
É evidente que PSDB, DEM e PPS carecem de um diagnóstico do que lhes aconteceu. Em decorrência, tampouco sabem como se orientar no momento presente. Salta à vista que se trata da terceira eleição federal perdida.
 
São três derrotas consecutivas que podem, também, ser o prenúncio de uma quarta, se nada for feito. Para eles, torna-se imperioso pensar. Porém, o que mais observamos são conflitos regionais, disputas de liderança e lutas pelos respectivos comandos partidários. Pode-se mesmo dizer que o PSDB e o DEM apenas se preocupam com os sintomas, sem nenhum diagnóstico da "doença" que os acomete.
 
Os partidos de oposição têm uma manifesta dificuldade de se tornarem partidos nacionais e com um discurso voltado para todos os brasileiros. Os interesses regionais primam manifestamente sobre os nacionais. Qualquer composição partidária interna e, mesmo, entre partidos passa prioritariamente pelos interesses das cúpulas estaduais.
 
Em princípio, poder-se-ia contra-argumentar que isso seria normal, não sendo motivo especial de preocupação. Neste caso, porém, dever-se-ia acrescentar a renúncia a um projeto nacional.
 
O PMDB é um bom exemplo disso, pois tornou-se uma federação de interesses regionais – e parece conviver perfeitamente bem com isto. Já o PT, pelo contrário, tornou-se um verdadeiro partido nacional. A questão que se coloca, portanto, é a seguinte: pretendem os partidos de oposição tornarem-se, cada um individualmente, um novo PMDB?
 
PSDB e DEM, internamente, perseguem, respectivamente, um conflito sério pelo controle da legenda. Os tucanos continuam imersos nos sintomas, numa disputa entre o setor paulista e o mineiro da agremiação – concretizada respectivamente em pré-candidatos declarados para a nova disputa presidencial, José Serra e Aécio Neves.
 
De um lado, novamente, poder-se-ia dizer que se trata de algo normal, dado o fracasso das últimas eleições no nível presidencial. As brigas se acentuam na derrota e se atenuam na vitória.  Contudo, de nada adianta do ponto de vista político e eleitoral que tal disputa se faça na ausência de um diagnóstico da derrota, da ausência de um projeto nacional e da manifesta desorientação presente.
 
A única coisa que aparece é uma disputa entre pessoas, como se o problema aí se esgotasse. A eleição de Dilma Rousseff, por sinal, mostra que uma pessoa estranha à cúpula partidária e encarnando um projeto nacional, conseguiu ser eleita a despeito de sua falta de carisma.
 
Lula e o PT tinham uma idéia do que deveria ser feito politicamente e seguiram com afinco e coerência o que tinham planejado. Tiveram diagnóstico e rumo. A escolha da candidata obedeceu a esse roteiro, mesmo não tendo  ela experiência eleitoral. 
 
No que diz respeito às concepções partidárias, há um problema de monta a ser superado. O PT, no exercício do poder – não em sua retórica política – está se tornando, aos trancos e barrancos, um partido social-democrata no estilo europeu do termo.
 
Os setores mais radicais do partido abominam essa denominação, porque se crêem ainda portadores de um projeto revolucionário. Outros, no entanto, a boca pequena – ou não tão pequena assim – estão praticamente adotando esse rumo. Como se trata de um problema de nome e não,  por assim dizer, de conteúdo, são chamados de "pragmáticos".
 
O que significa ser, no caso, "pragmático"?  Significa não seguir as orientações partidárias radicais ou revolucionárias em proveito da administração de uma sociedade capitalista. A ênfase é dada à questão social, porém isso não altera minimamente os termos da questão.
 
A social-democracia empreendeu muito bem esse projeto, muito melhor do que todas as sociedades que adotaram o socialismo e fracassaram, nascidas, precisamente, de um projeto revolucionário, ainda adotado como doutrina petista.
 
Para sermos mais precisos, deveríamos também dizer que a "direita" europeia, como os democratas cristãos na Itália e na Alemanha, ou os gaullistas na França, também fizeram uma "gestão social" do capitalismo.
 
Entretanto, o PT continua refém de uma contradição entre sua prática de governo e sua concepção, até hoje não revisada. Frequentemente, temos a esquizofrenia. O partido diz fazer uma coisa e faz outra completamente distinta. O seu fazer, porém, conseguiu empurrar  o PSDB para uma armadilha, da qual os tucanos não sabem como se desvencilhar.
 
O PT, "pragmaticamente", ao se "social-democratizar", não apenas roubou partes importantes do programa partidário do PSDB,  como políticas de seu governo. Assim foi com o bolsa-educação e outros auxílios sociais do governo FHC que se tornaram o "bolsa-família".  E o roubo foi um crime perfeito por falta mesmo de oposição.
 
O destino doutrinário do DEM, por seu lado, segue um impasse semelhante. Depois de ter sinalizado para um programa de perfil liberal, terminou mergulhando em problemas internos e, até  mesmo, em questões de mera sobrevivência.
 
De novo o partido ficou a reboque dos sintomas. Ainda no governo Fernando Henrique, poderia apresentar, como conquistas suas, a privatização das empresas estatais –, que foi um enorme sucesso. Nem ele, nem os tucanos, souberam capitalizar isso. É como se o governo FHC tivesse privatizado empresas sem nenhuma convicção, tão somente  pela mais completa necessidade, quase envergonhado. 
 
Posteriormente, na oposição, o DEM deixou de se engajar em campanhas contra o não pagamento dos precatórios, pois isto contrariava interesses municipais e estaduais. Afastou-se de eleitores simpatizantes seus. Quando se engajou politicamente na defesa de idéias angariou enorme adesão, como em sua luta pela não prorrogação da CPMF. Naquele momento, foi como se um novo rumo tivesse sido encontrado. No entanto, seguiu-se a desorientação.
 

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