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terça-feira, 3 de maio de 2011

O mau filho à casa torna. No PT, claro.


Delúbio e o PT têm tudo a ver: nas hostes petistas, o crime compensa

Na sexta-feira passada, o Brasil assistiu a morte moral do Partido dos Trabalhadores. Por 60 votos a 15, o ex-tesoureiro Delúbio Soares foi readmitido nos quadros da agremiação. Não foi surpresa. Entre os petistas, atributos como ética, honradez e moral já estavam há muito moribundos, vítimas de longa enfermidade. Delúbio e o PT têm tudo a ver: nas hostes petistas, o crime compensa. O mau filho à casa torna.
Delúbio é um dos 38 denunciados pela Procuradoria Geral da República por formação de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e evasão de divisas no escândalo do mensalão. Era um dos cabeças da “organização criminosa” sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF). Também foi condenado a devolver R$ 164 mil aos cofres públicos em Goiás.
“Se Delúbio foi um dos cérebros do mensalão; se a Procuradoria Geral da República classificou o mensalão de crime; se ele figura em processo na condição de réu; e se o próprio PT preferiu expulsá-lo, a sociedade entende com razão que Delúbio não deveria ter voltado ao partido”, escreve Ricardo Noblat n’O Globo de hoje. Tremenda ficha-suja, o tesoureiro do mensalão pretende ser candidato nas eleições de 2012 pelo PT. Delúbio está em casa.
Do ponto de vista ético, o partido já agoniza faz tempo. O escândalo do mensalão foi apenas o coroamento de práticas comuns entre os petistas. Casos como os das prefeituras de Santo André e Campinas, de recursos desviados para os cofres do PT, agora frequentam o noticiário governista rotineiramente. Pouca gente por ali parece se preocupar com esse tipo de podridão. Delúbio foi recebido de volta porque, como autêntico mafioso, “segurou tudo calado”, nas sábias palavras da hoje senadora Marta Suplicy (PT-SP).
“Aos dirigentes parece pouco importar se vai repercutir mal a concessão de tal recompensa ao silêncio do homem que jurou ser o único responsável pelo esquema de arrecadação e distribuição de dinheiro tido como ‘criminoso’ pela Procuradoria Geral da República”, escreveu Dora Kramer na edição de ontem de O Estado de S.Paulo. Tristes e verdadeiras palavras.
O mais provável é que Delúbio tenha sido peça menor em todo o esquema de corrupção petista descoberto em 2005. Ou seja, foi apenas uma cabeça entregue com objetivo de poupar o PT e o então presidente Lula. Se Delúbio tivesse falado tudo o que sabia, provavelmente sobrariam poucos petistas para contar a história do vale-tudo da consolidação do partido no poder.
Mas Delúbio não é apenas uma engrenagem de uma organização criminosa. Também é um “delinquente pessoal”, como definiu Janio de Freitas, condenado a devolver recursos para os cofres públicos porque recebia salário como professor da rede pública de Goiás sem pisar em sala de aula. Como tesoureiro do PT, falsificou documentos para dar a impressão de que era um professor ativo. Pelo menos os alunos goianos foram poupados de um mestre pernicioso…
Mas os anos em que Delúbio ficou formalmente longe do PT foram de exílio, sofrimento e solidão? Que nada! Durante a temporada de afastamento combinado com os amigos, Delúbio se dedicou ao que sempre soube fazer de melhor: ganhar dinheiro de maneira obscura.
Sempre próximo do ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT presta consultoria para a construtora Brookfield, uma das mais atuantes no Distrito Federal, revelou a revista Época. A empresa já foi premiada até com a venda de um imóvel de R$ 342 milhões para a Previ, o poderoso fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, controlado pelo PT. Terá sido mera coincidência?
Quando agonizou, vítima do mensalão, Delúbio prognosticou que tudo aquilo terminaria como “piada de salão”. Os próceres do partido – incluindo o ex-presidente da República – dedicam-se diuturnamente a transformar a tenebrosa profecia delubiana em fato. Acham que podem rir da sociedade. Mas quem rirá por último é quem vive uma vida pautada na honradez, na ética e nas boas atitudes. Delúbio pode ter sido aceito de volta no PT, mas num país limpo será sempre um pária.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela – Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 225
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

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