A partir desta quinta-feira (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva representará o Brasil em visitas a cinco países: Rússia, Qatar, Irã, Espanha e Portugal. Alguns dos temas de discussão são a insistente proposta do governo brasileiro de reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas e a interferência do Brasil diante das dificuldades de negociação sobre o polêmico programa nuclear iraniano. A participação na Cúpula de Madri suscita ainda a questão do isolamento de Honduras da comunidade sul-americana. José Augusto Guilhon de Albuquerque, fundador do Departamento de Ciência Política e do Núcleo de Relações Internacionais da USP, analisa os três assuntos problemáticos. No mapa, o trajeto do presidente Lula e as pautas de cada visita.
Conselho de Segurança das Nações Unidas
Contexto: Desde o início de seu primeiro mandato, em 2003, o governo Lula busca apoio para o ingresso do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU - uma reivindicação antiga de ex-presidentes brasileiros. O que motiva o Itamaraty a insistir na candidatura é o prestígio internacional que entrar para o clube daria ao país, pois aumentaria seu peso como interlocutor nas questões globais. Além do Brasil, estão na fila Japão e Alemanha, que assumem hoje uma posição bastante relevante na comunidade internacional.
Comentário: "O Brasil não ganha nada com esse 'samba de uma nota só'. Repetir esse assunto em todas as viagens é totalmente inútil. Mesmo porque, qualquer mudança na estrutura do Conselho está bloqueada, devido ao veto da China - que quer evitar a entrada do Japão, candidato dos EUA, no grupo. As negociações não vão avançar. O Brasil deveria focar a visita à Rússia nos acordos comerciais, considerando que o país é um grande importador de carnes e hoje favorece EUA e Europa nas negociações."
Saiba mais: Conselho de Segurança da ONU
Programa nuclear iraniano
Contexto: O programa nuclear do Irã tem gerado desconfiança por parte da comunidade internacional, já que o país não declara suas atividades atômicas e mantém restrições às inspeções da ONU. As potências ocidentais acreditam que os iranianos tenham as ferramentas necessárias para desenvolver armas de destruição em massa. Para garantir a redução das atividades de enriquecimento de urânio em Teerã, os Estados Unidos defendem a imposição de uma quarta rodada de sanções internacionais contra a república islâmica. O presidente Mahmoud Ahmadinejad alega que os únicos objetivos de seu programa nuclear são realizar pesquisas médicas e gerar eletricidade. Nesta quarta-feira, ele declarou que qualquer resolução do Conselho de Segurança punindo o Irã sobre sua recusa em abandonar o enriquecimento de urânio "não valerá um centavo". O Brasil, assim como outros membros não-permanentes do Conselho de Segurança, tem incentivado um acordo de troca de urânio pouco enriquecido do Irã por combustível nuclear, que pode ser usado apenas para fins pacíficos. A ideia é evitar a imposição de novas sanções contra o país.
Comentário: "De fato, o programa nuclear iraniano é um tópico relevante, pois os olhos do mundo estão voltados para ele. O presidente Lula transformou sua viagem ao Irã em ícone e quer comprovar a nova capacidade do Brasil de interferir nas questões internacionais, de uma maneira que pretende ser decisiva. O governo brasileiro prometeu ser bem sucedido em algo que o mundo todo tem fracassado: até agora, o sexteto (membros do Conselho e Alemanha) não conseguiu chegar a um acordo com o Irã. Evidentemente, é uma grande jogada. Porém, é difícil imaginar qual tipo de trunfo econômico, de prestígio ou intimidação militar o Brasil tem que o sexteto não tem. O máximo que vai acontecer é Ahmadinejad declarar que concorda com o Lula e que se compromete a não desenvolver armas nucleares, mas ele não vai abrir completamente o programa e mostrar na prática que vai seguir a regra. Nada vai mudar, e Lula ainda vai sair cantando vitória."
Saiba mais: Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP)
Cúpula de Madri e o isolamento de Honduras
Contexto: Ao lado dos presidentes da Argentina, Venezuela e Equador, o governo brasileiro ameaçou boicotar a Cúpula de Madri, caso o presidente hondurenho Porfírio Lobo fosse ao evento. O Brasil não reconhece o novo governo de Honduras após a eleição de novembro, apontada como a única solução para a crise que o país atravessou em 2009. O presidente deposto Manuel Zelaya ficou quatro meses hospedado na Embaixada Brasileira durante o impasse político. Devido à rejeição dos países sul-americanos ao seu governo, Lobo participará apenas da cúpula da América Central com a União Europeia em Madri, mas não do encontro da América Latina com o bloco europeu.
Comentário: "A Cúpula América Latina e Caribe - União Européia (ALC-UE) tem sido utilizada como plataforma para discursos políticos de Chávez, Correa e Lula, que demonizam alguns e beneficiam outros. Alguns posicionamentos são controversos: Cuba faz parte do encontro desde que foi criado, enquanto Honduras agora é impedida de participar - como se houvesse alguma dúvida de qual dos dois países é uma democracia. Deveria haver um esforço para normalizar a posição de Honduras no continente americano e focar as discussões em assuntos urgentes, como os reflexos da crise europeia sobre nós. A Europa é um parceiro importantíssimo do Brasil e de outros países latino-americanos. Se a economia do continente se retrai para evitar a crise, isso vai nos trazer sérias consequências. É preciso debater mecanismos de defesa para este choque."
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