quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Patriota acha que os filhos e netos de Lula adquiriram o direito de defender os interesses do país até na montanha-russa
O chanceler Antonio Patriota teria encerrado outro capítulo vergonhoso da história do Itamaraty se, com uma portaria de dois parágrafos, atendesse ao pedido do Ministério Público Federal e anulasse os passaportes diplomáticos concedidos irregularmente nos últimos quatro anos. Em vez disso, informa a Folha desta quarta-feira, preferiu endossar as imoralidades fabricadas pelo antecessor Celso Amorim com argumentos tão consistentes quanto as encostas da Região Serrana que sumiram no temporal.
“Não vou fazer isso porque isso estaria ferindo direitos adquiridos”, fantasiou Patriota ao recusar a anulação dos superpassaportes que premiaram cinco filhos e três netos do ex-presidente Lula, líderes religiosos bons de lábia e bons de voto e uma penca de viajantes de estimação dos donos do poder. Em janeiro, ao mudar as regras que condicionam a liberação do documento, o ministro das Relações Exteriores proibiu a entrada de novos sócios no clube. Mas quem está dentro não sai, soube-se nesta quarta-feira.
A farra continua ao som da lira do delírio. Para atender ao pedido do presidente em fim de mandato, Celso Amorim alegou dizer amém “em função dos interesses do país”. Para justificar a concessão de passaportes especiais a 22 chefes de seitas evangélicas, Patriota invocou a necessidade de “garantir a simetria com os cardeais da CNBB”, portadores de documentos semelhantes expedidos pelo Vaticano. E o que o tem a ver o Brasil com o que faz ou deixa de fazer um Estado independente e soberano?, berra o bom senso. E por que não estender o critério da simetria aos pais-de-santo, aos espíritas graduados ou ao alto comando do Santo Daime?
O chanceler acha que até 2014, quando expira o prazo de validade do papelório malandro, os netos de Lula merecem exercer o direito adquirido de furar filas no aeroporto de Miami para chegar mais cedo à Disney World e defender os interesses nacionais na montanha-russa. Até lá, segundo o palavrório mambembe do chanceler, a turma da sacolinha merece exercer o direito adquirido de passar por alfândegas com as malas afiveladas ─ algumas abarrotadas de dólares ─ e sem se expor a revistas.
Por ter-se aliado aos autores da delinquência e seus beneficiários, Patriota deve ser tratado como cúmplice. Autoridades que desrespeitam a lei e a Constituição estão sujeitas a um processo por improbidade administrativa. Ele poderia ter abolido a abjeção com uma portaria. Como não atendeu ao pedido do Ministério Público Federal, como não fez o que deveria ter feito, que seja obrigado a fazê-lo por decisão judicial.
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