Meus leitores habituais talvez recordem do artigo que escrevi recentemente com o título "Os culpados pela pobreza" (1). Nesse texto, entre as causas da constrangedora miséria persistente no país, incluí os luxos e requintes de certos palácios construídos para acolher os altos escalões dos poderes da república. E citei como exemplo o prédio do TSE em Brasília, "uma obra de R$ 328 milhões na qual o escritório do comunista Oscar Niemeyer abocanhou R$ 5 milhões, graças ao monopólio de projetos que estabeleceu sobre a Capital". Esse relato suscitou reação indignada de um leitor que se confessou comunista e me interpelou sobre a fonte de tão destrambelhada e escandalosa informação.
Esclareceu-me que Niemeyer era um comunista convicto, que vivia com simplicidade e destinava seus bens aos necessitados. E me adiantou que havia tentado, sem êxito, falar com o mestre (com quem sugeria manter relações de camaradagem) para adverti-lo sobre minhas aleivosias. Niemeyer não o atendera, disse-me, por estar hospitalizado.
Em resposta, indiquei-lhe algumas palavras que, digitadas no Google, lhe forneceriam, em abundância, a confirmação do que eu escrevera. Horas depois o velho comunista retornou em outro tom. Se Niemeyer havia cobrado aquele robusto valor era porque o projeto valia isso mesmo, tanto assim que a proposta fora aceita pelo governo. Pronto! De uma hora para outra, perante o mesmo fato, a indignação desapareceu dando lugar a uma justificativa. Sem se dar por vencido, contudo, fez emergir nova suspeita sobre meu texto: de onde tirara eu que o velho arquiteto exercia um monopólio sobre os projetos públicos na capital da república? Que irresponsabilidade minha! Com toda a paciência, ensinei-o a encontrar ainda mais abundante informação sobre o assunto.
Quando eu estava dando o papo por encerrado, o sujeito volta à cena, numa repetição da farsa anterior, transmudando a indignação em explicação: Oscar Niemeyer era o maior arquiteto do país e tinha todo o direito de projetar em Brasília quantos prédios quisesse. E, mais uma vez, fingiu-se de vitorioso, "denunciando" que um dos relatos sobre esse monopólio estava em coluna do jornalista Cláudio Humberto ("jornalista do presidente Collor, Dr. Puggina, que horror"!). E com esse achado na gaveta dos argumentos ele pretendeu desqualificar dezenas de informações sobre o mesmo assunto. Camarada é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito.
Achei-me, então, no direito e na obrigação de desmascarar toda aquela retórica de botequim da Lapa. Mostrei-lhe o quanto sua ética estava submetida ao partido, à ideologia e à propaganda. Disse-lhe que os comunistas nunca agiram de outro modo. Afirmei-lhe que, com essa ética, haviam matado 100 milhões de pessoas no século passado sem que uma sequer lhes pesasse na consciência porque, afinal, tudo se tornava justo e santo no sagrado interesse do partido e da ideologia. E lhe pedi, dado que ele me alinhava entre seus desafetos, que, tendo oportunidade, me poupasse a vida.
Por que relato este diálogo travado por e-mail? Porque eu o considero absolutamente característico da moralidade dos militantes comunistas, que muitos insistem em afirmar que, ou não existem, ou, se existem, são diferentes disso aí.
(1) www.puggina.org/artigos/percival_puggina-os_culpados_pela_pobreza.php
Em resposta, indiquei-lhe algumas palavras que, digitadas no Google, lhe forneceriam, em abundância, a confirmação do que eu escrevera. Horas depois o velho comunista retornou em outro tom. Se Niemeyer havia cobrado aquele robusto valor era porque o projeto valia isso mesmo, tanto assim que a proposta fora aceita pelo governo. Pronto! De uma hora para outra, perante o mesmo fato, a indignação desapareceu dando lugar a uma justificativa. Sem se dar por vencido, contudo, fez emergir nova suspeita sobre meu texto: de onde tirara eu que o velho arquiteto exercia um monopólio sobre os projetos públicos na capital da república? Que irresponsabilidade minha! Com toda a paciência, ensinei-o a encontrar ainda mais abundante informação sobre o assunto.
Quando eu estava dando o papo por encerrado, o sujeito volta à cena, numa repetição da farsa anterior, transmudando a indignação em explicação: Oscar Niemeyer era o maior arquiteto do país e tinha todo o direito de projetar em Brasília quantos prédios quisesse. E, mais uma vez, fingiu-se de vitorioso, "denunciando" que um dos relatos sobre esse monopólio estava em coluna do jornalista Cláudio Humberto ("jornalista do presidente Collor, Dr. Puggina, que horror"!). E com esse achado na gaveta dos argumentos ele pretendeu desqualificar dezenas de informações sobre o mesmo assunto. Camarada é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito.
Achei-me, então, no direito e na obrigação de desmascarar toda aquela retórica de botequim da Lapa. Mostrei-lhe o quanto sua ética estava submetida ao partido, à ideologia e à propaganda. Disse-lhe que os comunistas nunca agiram de outro modo. Afirmei-lhe que, com essa ética, haviam matado 100 milhões de pessoas no século passado sem que uma sequer lhes pesasse na consciência porque, afinal, tudo se tornava justo e santo no sagrado interesse do partido e da ideologia. E lhe pedi, dado que ele me alinhava entre seus desafetos, que, tendo oportunidade, me poupasse a vida.
Por que relato este diálogo travado por e-mail? Porque eu o considero absolutamente característico da moralidade dos militantes comunistas, que muitos insistem em afirmar que, ou não existem, ou, se existem, são diferentes disso aí.
(1) www.puggina.org/artigos/percival_puggina-os_culpados_pela_pobreza.php
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