Aconselho a quem ainda perde tempo tentando entender o Sr. Lula através de leituras e análises da tal ciência política, que não perca tempo. Debruce-se, apenas, sobre o conhecido personagem Odorico Paraguaçu. - Eduardo Afonso Bacelar
Quando nada mais parece surpreender no panorama político brasileiro, sempre surge algo inusitado. De uns tempos a esta parte, o mágico do absurdo tem sido aquele de quem deveríamos esperar, pelo menos, um mínimo de respeito pelo país, pela população e pelas instituições.
É o demiurgo (petralhas, à Wikipédia) do mundo surpreendente, nosso grande líder e timoneiro, segundo não só ele confia, mas muitos acabaram por acreditar.
Depois de se tornar o inventor do Brasil, o conselheiro do mundo, o sábio reformador dos tempos, salvador dos desvalidos e deslumbre das elites, a consciência crítica dos poderosos e sei lá mais o quê, o presidente Lulla, que Deus nos proteja, se arvorou, também, em reserva moral da nação. Dei-me conta disso ao ver, na televisão, a firme atitude com que ele, logo ao se tornar público o estupro aos dados sigilosos da Receita Federal, tomou a formidável atitude: ordenou à Polícia Federal de Brasília que centralize a investigação dos fatos e o faça com todo o rigor. Decisão do presidente. Fica a pergunta: para investigar um crime, é preciso que o presidente dê uma ordem? Poderia a polícia se omitir e deixar para lá? Oficialmente é claro que não. Polícia existe para isso mesmo e é obrigada a fazê-lo embora, convenhamos, nem sempre as consequências sejam as que deveriam ser.
Temos assistido a um rosário de abusos cujas explicações se perdem na poeira dos tempos. No que deu, até hoje, o fragrante ridículo de corrupção nos Correios? E a dinheirama dos chamados aloprados veio de onde, afinal? E a inacreditável declaração de Duda Mendonça, em plena CPI do Congresso, de que foi obrigado a abrir conta no exterior para receber o pagamento pela primeira campanha vitoriosa de Lulla? Esse episódio foi o mais fantástico de todos, porque possibilitou à oposição a mais genial decisão estratégica de todos os tempos: deixar Lulla “sangrar” no cargo por mais um mandato e meio.
Desta feita, ao se revelar que “again”, como diria o Forest Gump, o sigilo fiscal de vários membros da oposição e da família do candidato oposicionista foi violado, o presidente não aguentou mais, subiu nas tamancas, declarou que era crime e ordenou que tudo fosse apurado. Ainda bem que podemos contar com ele.
Paralelamente, as costumeiras medidas de contra-informação foram postas em andamento: versões atribuindo a responsabilidade às vítimas; busca de bodes expiatórios; explicações suficientemente complexas para confundir a maioria das pessoas e empenho para isolar a candidata do tema.
O mais irritante, na minha opinião, são as reprimendas sobre a leviandade acusatória, quando se discutem as motivações geradoras do ocorrido. Entram em cena os petistas “vips” para mostrar indignação com o malicioso aproveitamento eleitoral que, vejam só, se pretende dar aos fatos. Assisti até a um programa de entrevistas na televisão em que um advogado dava pulinhos e esbravejava contra o que chamava de ilações indevidas e imorais. Ora, até em direito criminal o motivo, a oportunidade e, por que não, os antecedentes do suspeito ajudam a identificar a autoria do delito. Parece que todos já se esqueceram de que, não faz muito, a candidata do governo estava esgrimindo negativas para evitar explicações sobre sua reunião como uma ex-chefe da Receita, a quem teria orientado para enterrar as investigações sobre o neo-lullista José Sarney. Até as gravações das fitas de segurança desapareceram no ar.
Não existe nenhum defensor tão exaltado da presunção de inocência, como princípio de direito, do que um petralha pego em falcatrua ou a serviço do borramento de evidências. Quando se trata, com razão ou sem razão, de destruir um inimigo, todas as pretensões nesse sentido se tornam um faz-me-rir imediato.
A verdade é que essa argumentação forense de presunção inesgotável de inocência tem pouco espaço em política. Nesta, o que geralmente vale é o aforismo que costumam atribuir ao antigo ditador português Antonio Salazar: “em política, o que parece é”. Pode ser até um tanto perverso em diversas circunstâncias, mas é preciso reconhecer que geralmente as coisas se passam assim e não é sem motivo.
Neste caso, vejamos o que “parece”. Os petralhas têm um longo histórico de intimidades com informações sigilosas alheias e fabricações de dossiês. Entre os casos mais célebres, lembre-se o do caseiro Francenildo e a mala de dinheiro dos aloprados para aquisição de falsos dossiês. A quase doutora Dilma já foi acusada de pressionar chefias da Receita. As vítimas são todas ligadas ao candidato da oposição, inclusive familiares, e os levantamentos foram feitos antes das pesquisas darem favoritismo ao avatar do apedeuta. Um dos sigilos violados é da vítima preferencial dos petralhas, o Sr Eduardo Jorge Caldas, contra o qual travam uma batalha interminável de acusações que nunca se confirmam. Em resumo, eu diria que “parece” à beça. Mas podemos ficar tranquilos: Lulla está usando todo o capital político necessário para servir de escudo à candidata que logrou a única façanha que a oposição jamais deveria lhe ter permitido: manter-se praticamente escondida, desde o início da campanha até agora.
Termos Lulla como reserva moral é apenas o coroamento do absurdo.
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