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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O lulismo como abrigo e reciclagem da barbárie


O lulismo é hoje o abrigo preferencial da barbárie política. Salafrários de todo o Brasil descobriam que a melhor maneira de manter seus esquemas de poder ou, se for o caso, de substituir velhas oligarquias locais por novas é unir-se à alastrante base de apoio ao presidente. A “democracia dos consumidores”, que a tantos encanta, convive com formas tradicionalíssimas de violência política, que, não obstante, falam agora uma linguagem militante e cidadã.

Talvez nem se trate de uma “convivência”. A chamada “democratização do consumo” se tornou o redutor da política: ela tudo justificaria; em seu nome, todas as práticas passariam a ser, se não exatamente admitidas, ao menos toleradas; quando não toleradas, provocam uma reação de repulsa bem abaixo daquela que seria razoável.
Vejam o que se passa no Tocantins e no Amapá, para citar dois casos. As figuras engolfadas por escândalos cabeludos contam com o apoio entusiasmado do presidente da República. Ele não pode, sei disto, ser pessoalmente responsabilizado pelos crimes cometidos por seus aliados, mas os eventos expõem com clareza insofismável a qualidade das alianças locais do lulo-petismo.

Ah, não! Não foi este governo que inventou o atraso; de jeito nenhum! De certo modo, ele próprio é expressão de muitas e antigas misérias morais. Mas é inegável que estava em curso um processo de civilização da política— até mesmo daquelas elites regionais antes chamadas “tradicionais”. Isso se perdeu.  Ou alguns “tradicionalistas” voltaram a suas práticas de sempre ou foram tragados por adversários que conseguiram ser ainda mais truculentos, mas agora com as bênçãos do Babalorixá de Banânia.

Sabem onde Lula fez um de seus discursos mais violentos contra a imprensa? No Tocantins, de seu aliado Carlos Gaguim, este mesmo envolvido num, se me permitem, “escândalo escandaloso” e capaz de mobilizar soldados armados para impedir uma revista de circular.

No dia 21, durante inauguração de um trecho da Ferrovia Norte-Sul, afirmou Lula:

“O que eles [a imprensa] não percebem é que o povo não é mais massa de manobra como há 30 anos. Eles não podem colocar alguém para mentir e achar que o povo vai acreditar. Quando falam mal, e eu estou errado, dou a mão à palmatória. Porque acho que a liberdade de imprensa é uma coisa sagrada para fortalecer a democracia. Mas liberdade de imprensa não quer dizer que você pode inventar o dia inteiro. Não pode inventar”.

Está claro que, para o presidente, a imprensa tem a sagrada liberdade de elogiá-lo ou, no limite, de fazer as críticas que ele próprio reconhece como justas. No Tocantins, o PT integra a coligação de Gaguim, chamada ironicamente de “Força do Povo”. O governador, ao tentar impedir, com fuzis, a distribuição da revista VEJA, estava apenas dando dimensão prática à retórica do chefe.

O notável é que Lula pode ir a cada um desses rincões do atraso e da truculência política e fazer um discurso inflamado contra as elites, os donos do poder, os que não respeitam a vontade do povo etc. A “nova era democrática” apontada pelos “intelequituais” petistas condena o Brasil ao velho atraso.

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