LULA chora ao lado de uma Dilma à beira do êxtase. A grande vítima é a legalidade (Foto: Marcos Alves/O Globo)
Poderia começar este texto de várias maneiras, mas começo assim: Paulo Pereira da Silva, o deputado Paulinho da Força (PDT), que se diz trabalhador, sobe no palanque na Força Sindical, organizado com patrocínio das estatais, e puxa o coro:
“Olê, olê, olê, olá, Dil-má, Dil-má… Cantou sozinho. Os presentes não o acompanham. Já havia tentando antes um “Lu-lá/ Lu-lá”, e já tinha dado xabu. Aconteceu na festa do 1º de Maio da Força Sindical, uma das três a que o presidente e sua “criatura eleitoral” compareceram ontem. Esperava-se a presença de mais de um milhão de pessoas. Apareceu menos da metade: 450 mil foram assistir ao show do KLB e participar do sorteio de carros e apartamentos. Os outros 550 mil acharam que tinha coisa melhor para fazer.
Isso não impediu que Paulinho BNDES (quem não lembra do que falo clica aqui) fizesse um discurso bem próprio do Primeiro de Maio, provando que não se tratava de um ato político-eleitoral ilegal, patrocinado por estatais:
Nós vamos fábrica por fábrica falar que esse sujeito (José Serra) não pode ser candidato. Toda vez que nós procuramos o ex-governador para sermos recebidos, ele não recebe… Uma coisa é fazer discurso para a imprensa, outra coisa é vir aqui enfrentar os trabalhadores e dizer por que ele não gosta dos trabalhadores. Por isso eu quero dizer, ministra Dilma, que nós, trabalhadores, vamos andar fábrica por fábrica, empresa por empresa, loja por loja, nós vamos andar o Brasil, e dizer que esse sujeito que tem medo de trabalhador não pode ser candidato para depois tirar os direitos dos trabalhadores.
Quem financiava esse discurso do notório Paulinho? A Petrobras, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e a Eletrobras.
Na sua vez de discursar, Lula, muito respeitador da lei (!!!), recorreu à sutileza habitual. ReferIndo-se às eleições, afirmou: “Vocês sabem quem eu quero”. Já o ministro Carlos Lupi (Trabalho) e Antonio Neto, presidente da CGBT, fizeram como Paulinho: campanha eleitoral escancarada. Os petistas rumaram em seguida para a festa da União Geral dos Trabalhadores (UGT). Mais discursos, mais campanha, mais ilegalidades. E o grande momento do Demiurgo estava reservado para o terceiro evento do dia: o da CUT, que reuniu apenas 10 mil pessoas.
Àquela penca de estatais, somou-se uma outra no financiamento do evento da central petista: o BNDES. Ora, não sejam mesquinhos! Pensem bem: por que um banco de fomento não iria fomentar um evento para promover a candidatura da petista Dilma Rousseff? Faz sentido, não faz? Até a Infraero entrou com grana. Sentindo-se, aí sim, em casa, Lula carregou nas tintas e nas lágrimas. Há uma coisa estranha neste senhor: ele se emociona com as barbaridades que faz.
O maior legado que eu vou deixar para esse país não é eleger a pessoa que vai me suceder, o que farei com muito orgulho. Quem vier depois de mim vai ter que trabalhar muito mais porque o povo aprendeu a cobrar. Eu tenho consciência do que vai acontecer neste país, tenho consciência. Eu sei que a legislação não me permite falar em candidatos porque só depois de junho…
No terreno da CUT, adivinhem o que aconteceu… Ora, os militantes começaram a gritar “Dil-má/ Dil-má”. Uma observação importante: a ilegalidade de que Lula participou ontem continuará ilegal mesmo depois de junho.
Leiam este trecho do Globo Online:
No início da noite, em evento promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), ele voltou à carga. Depois de destacar realizações de seu governo, disse que não é possível “mudar, em oito anos, 500 anos de desigualdade”. “É preciso mais tempo, mas com sequenciamento”, afirmou. Logo a seguir voltou-se para a correligionária: “Dilma, você ouviu o que eu disse?”
Ao longo do dia, ainda sobrou espaço para performances circenses de Aloizio Mercandante, que também atacou Serra, e de Marta Suplicy, segundo quem, desta vez, “o Bigode vai ganhar do Picolé do Chuchu”. Vocês sabem que, quando esta grande dama decide ser elegante, não tem pra ninguém. Disse que quer ser a primeira senadora eleita por São Paulo. Não há duvida: trata-se de campanha eleitoral explícita, financiada com dinheiro de estatais. Tão logo as candidaturas dessa gente toda sejam oficializadas, cabe recorrer à ustiça Eleitoral para impugná-las.
Por muito menos, o Tribunal Superior Eleitoral cassou o mandato de governadores.
No comício da CUT, ao falar de seu governo, Lula chorou. Suas lágrimas encharcaram a Constituição, sobre a qual pisoteava, e a Lei Eleitoral, de que, mais uma vez, ele fazia chacota. Essa penca de ilegalidades se deu dois dias depois de fazer campanha eleitoral para a sua candidata em rede nacional de rádio e televisão, oportunidade em que, contrariado a legislação que regula esse tipo de intervenção, fez propaganda pessoal e atacou as oposições.
Este é o nosso Hugo Chávez emotivo, cheio de amor para dar. Alguns bobos me perguntam ou se espantam de vez em quando: “Mas você não reconhece nada de bom no governo Lula?” Claro que sim. Já reconheci. Basta saber ler. Mas não peçam que considere corriqueira a atuação de um chefe de estado que desmoraliza as leis, que vilipendia o texto constitucional, que transgride as regras da convivência democrática.
SE O TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL PERMITIR QUE ESSES ATOS RESTEM IMPUNES, ENTÃO ESTARÁ INSTAURADO O VALE-TUDO NO PAÍS.
Prosseguindo na sua orgia de ilegalidades, Lula afirmou, no comício da CUT, esperar que o convidem para 1º de Maio de 2011:
“Se for alguém ruim (na Presidência), a gente vem aqui meter o pau. Se for alguém bom, a gente vem aqui ajudar e acompanhar”
E os cutistas gritaram “Dil-má/Dil-má”.
Ora, “alguém ruim”, é evidente, seria Serra (afinal, como ele próprio disse, todo mundo sabe o que ele quer). Eis aí revelado, em frase tão curta, o que há de intolerável nessa gente. Lula está anunciando que, caso Dilma perca a eleição, o caminho do partido já está traçado: tentar sabotar o governo de maneira metódica, sistemática, cotidiana. E o PT fez ou faz outra coisa quando na oposição?
Por que diabos um presidente popular, que fez um governo bem-avaliado pela maioria dos brasileiros, não pode se manter nos limites das leis que o elegeram e que garantiram o seu poder? Porque isso vai contra a natureza do PT e do próprio Lula, que vêem no arcabouço legal não os instrumentos de seu triunfo, mas empecilhos a seus delírios de poder absoluto. Lula só inventou uma candidata do nada porque pretende, como já deixou claro tantas vezes, o terceiro mandato por procuração. E só por isso tenta fazer uma disputa contra FHC, tática até agora rejeitada pelo eleitorado: precisa desesperadamente, na sua imaginação, vencer o ex-presidente ao menos uma vez.
Está chegando a hora de Lula deixar o governo. E ele já se prepara para ser ou o condestável do próximo ou o líder da sabotagem. Por enquanto, ele está sabotando apenas as leis. Ou os tribunais se encarregam de pôr limites neste senhor, ou as eleições brasileiras têm tudo para ser as mais sujas de nossa história. E não por causa da Internet.
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