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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Erenice confirmou que usava cargo para aumentar a "taxa de sucesso" dos filhos. Mas a caneta era da Dilma.


Da Folha de São Paulo:

A ex-ministra Erenice Guerra mudou a versão que sustentava até agora e confirmou à Polícia Federal que recebeu na Casa Civil empresários que negociavam contrato com a firma de lobby dos filhos dela para obter um empréstimo do BNDES. Na época, a ministra era Dilma Rousseff, atual candidata do PT à sucessão presidencial, e Erenice, seu braço direito. A Folha teve acesso à íntegra do depoimento dela, que durou quatro horas e teve mais de cem perguntas sobre o esquema de tráfico de influência na Casa Civil.

A assessoria da Casa Civil, por meio de notas oficiais, havia negado por duas vezes à Folha a participação de Erenice na reunião com os empresários de Campinas que negociavam com a empresa de lobby Capital. Em uma delas a assessoria alegou "incompatibilidade de agenda" da então secretária-executiva da Casa Civil.

Após a Folha publicar a negociação do filho de Erenice com esses empresários, ela deixou o governo.Erenice afirmara, em entrevista à revista "IstoÉ", após deixar o cargo, que "nunca" recebeu representante da EDRB Brasil, empresa de energia solar de Campinas que procurou a empresa dos filhos dela para obter financiamento do governo.

Ontem Erenice mudou a versão. Disse à PF que recebeu, no ano passado, os empresários paulistas no prédio do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), onde funcionava provisoriamente o governo. Ela relatou que esteve na reunião "salvo engano, entre 20 e 30 minutos". Procurada mais uma vez, a Casa Civil disse ontem à Folhaque as informações prestadas antes partiram da então ministra e que não iria comentar o depoimento. O dono da EDRB, Aldo Vagner, e o consultor Rubnei Quícoli disseram à PF que após a reunião com Erenice foram procurados pela empresa dos filhos dela para viabilizar o projeto em troca de "taxa de sucesso".

A PF perguntou a Erenice se Dilma tinha conhecimento do projeto apresentado na reunião. Ela disse que não saberia responder. Ela negou que tenha pedido, por intermédio do ex-diretor dos Correios Marco Antonio Oliveira (tio de um sócio do filho dela na empresa de lobby), dinheiro para a campanha de Dilma. Erenice afirmou que nem ela nem Dilma conhecem Oliveira. No depoimento, Erenice também confirmou que se encontrou no início do ano, numa padaria de Brasília e em seu próprio apartamento, com outro empresário, da MTA Linhas Aéreas, que contratou a empresa dos filhos.

Erenice negara os encontros à revista "Veja". Em nota, a Casa Civil dizia que a ministra só recebia empresários "em seu gabinete, com agenda prévia e pública". Erenice disse ainda que "não sabia" que seu ex-assessor Vinícius Castro, sócio do filho dela na empresa de lobby, "pretendia assessorar a empresa EDRB no projeto apresentado à Casa Civil". Também não disse se foi ele quem agendou a reunião. Erenice contou à PF que, "em data não recordada", o filho Israel lhe disse que "tinha a intenção de montar uma empresa de assessoria na área de aviação", e que Vinícius Castro seria convidado para futura sociedade. Apesar disso, disse que "não era de seu conhecimento" que Vinícius e Israel estavam procurando empresas.

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