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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As Farc, o PT e os objetivos de longo prazo do Foro de São Paulo


Cuba, 2001. Lula discursa no encontro do FSP
Nota Editoria MÍDIA@MAIS:
 No momento em que os destinos da política nacional mais uma vez serão dedicidos através das urnas - ou assim, pelo menos, a opinião pública nacional é levada a crer -, com a eleição presidencial que se aproxima, o PT e vários outros partidos e agremiações de esquerda se reunem na Argentina, no XVI Encontro do Foro de São Paulo. O que pouca gente parece  entender, e a indiferença ou cumplicidade daqueles que teriam por obrigação informar o público corretamente não contribui em nada para ajudar a esclarecer, é que os verdadeiros rumos da política nacional podem estar sendo definidos nessa obscura reunião de extremistas de esquerda, muitos dos quais são membros do partido que governa o Brasil, um evento que conta com a chancela do  governo brasileiro, como prova a leitura de uma carta assinada pelo próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas, afinal, o que é o Foro de São Paulo e quais as suas implicações na política nacional? Como essa organização atua no Brasil, e quais os interesses nela envolvidos? Para responder isso o MÍDIA@MAIS disponibiliza para o público um relatório especial sobre o assunto, tentando condensar o máximo de informações sobre o assunto e torná-lo inteligível ao leitor alheio ao linguajar da esquerda, muitas vezes cifrado, tendo como destinatários apenas seus pares.
Esperamos que aqueles que leiam este texto percebam como os fatos aqui descritos poderão exercer forte influência sobre os rumos do país, que poderá evoluir, dependendo do que acontecer nos próximos meses, para um regime autoritário de fato, claramente calcado nos modelos cubano e venezuelano.
***
OBS: A compilação dos documentos citados nesse artigo pode ser baixada clicando-se aqui.
A ligação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) está explicitamente estabelecida através da cooperação de ambas as instituições no âmbito do Foro de São Paulo, agremiação de organizações da esquerda radical latino-americana que, segundo palavras do próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em fonte disponível em site oficial do Palácio do Planalto, tem um papel central na integração e apoio mútuo dessas forças no subcontinente e seu avanço nos poderes executivo e legislativo de países da região.
Diante da denúncia dessa arregimentação por um número reduzido porém insistente de pessoas e pequenos órgãos de mídia, criaram-se entraves técnicos para o acesso às páginas comprobatórias do vínculo PT-Farc nos sítios oficiais das organizações participantes do citado “Foro”. No entanto, as fontes ainda disponíveis e aquelas que tiveram conteúdo acessado por outros meios tornam possível não só oferecer um corpo de evidências suficiente para atestar a veracidade da acusação do vínculo criminoso apontado pelo candidato à Vice-Presidência Índio da Costa, bem como permitem requerer ao Poder Judiciário o desbloqueio do acesso às fontes indicadas e a quaisquer outras de conteúdo semelhante, bem como a busca e apreensão da documentação material e eletrônica comprobatória em posse das organizações e indivíduos explicitamente envolvidos, evitando-se, com essa medida, o risco da derrocada do estado de direito e da perda da estabilidade institucional no país.
A gravidade da situação não está, de forma alguma, sendo exagerada. O maior erro que se pode cometer na análise dos fatos que serão demonstrados abaixo é compreendê-los dentro de esquemas explicativos com base em acontecimentos históricos anteriores, tomando o processo de evolução da social-democracia européia como uma constante histórica. A relativa moderação das políticas do Governo Lula, se comparadas àquelas que o PT tradicionalmente pregou, não indica uma acomodação progressiva ao jogo democrático e a submissão às instituições características das nações ocidentais desenvolvidas. A chave de interpretação não pode ser a mesma, pois as condições são outras, o contexto é diferente.
 
O Foro de São Paulo foi formado para viabilizar a entrada da esquerda radical no processo democrático eleitoral, já que, como explica seu fundador, Luiz Inácio Lula da Silva, com a Queda do Muro de Berlim as condições já não se apresentavam como na época da Guerra Fria. Fazia-se necessário às forças revolucionárias se apresentarem de outra forma para conquistarem o poder e, aí então, fazerem as mudanças que defendiam. Não houve, portanto, uma mudança de finalidade, a exemplo do que ocorreu na esquerda européia, mas de estratégia para a tomada do poder hegemônico.
 
É verdade que o Presidente Lula expressou publicamente sua preferência de que as Farc se tornassem um partido político, mas o fato de a organização manter a atuação como guerrilha jamais foi motivo de repreensão pública nas resoluções do Foro de São Paulo. O terrorismo das Farc é até mesmo justificado apelando-se ao contexto colombiano, da mesma forma com que a candidata Dilma Rousseff justifica sua atuação como terrorista.
 
 
Deve-se enfatizar que o que foi dito acima não é uma mera interpretação possível, tão válida como a da “europeização da esquerda” ou qualquer outra. É a situação conforme descrita pelos próprios envolvidos e reiterada nas "Resoluções Aprovadas no 4º Congresso do PT", em fevereiro de 2010, que enfatizam a premência da consolidação da hegemonia do Partido através da eleição de Dilma Russeff e a subsequente convocação de uma nova assembléia constituinte, o que inevitavelmente levará a um cenário de polarização da sociedade brasileira - a exemplo do que ocorre na Venezuela sob a aprovação do Foro de São Paulo - através de mudanças institucionais radicais chanceladas pelo uso abusivo do instrumento do plebiscito, abrindo-se questões complexas para consulta e referendo a um povo manipulado pelos “programas sociais” do atual Governo e ignorante dos vínculos e das verdadeiras intenções do Partido dos Trabalhadores.
 
Para demonstrar de forma inequívoca a realidade do quadro descrito, foram utilizadas abaixo algumas fontes da rede mundial de computadores que já não estão mais disponíveis, mas cujo conteúdo pode ser parcialmente resgatado através dos instrumentos da “Internet Archive”, uma organização não-governamental que procura preservar a memória da internet. Para tanto, a ONG recebe apoio de respeitadas instituições, como o Smithsonian Institute e a Biblioteca do Congresso Americano, o que é suficiente para atestar a confiabilidade do projeto. Ela mantém a Wayback Machine, um recurso que permite a visualização do conteúdo antigo de milhões de páginas da internet.  Foi através dele que conseguimos resgatar o texto de páginas já não mais acessíveis, mas cujo conteúdo será aqui reproduzido.
 
A exposição que se segue está dividida em 4 partes:
 
1. em “O Presidente, o PT e o Foro de São Paulo”, será demonstrada a importância do Foro de São Paulo para a articulação da esquerda radical latino-americana, caracterizando-se, no caso brasileiro, como uma instância paralela mas integrada ao Poder Executivo. Utilizando-se as palavras do próprio Presidente Lula, será fornecido um breve histórico da formação da entidade, o contexto em que foi gestada e sua importância em acontecimentos políticos recentes na região, sendo representada, em nossa política externa, dentro do Poder Executivo, pela figura de Marco Aurélio Garcia. Também será destacada a importância dada ao Foro de São Paulo nas resoluções do 3º Congresso do PT, em 2007;
 
2. em “O Foro de São Paulo, as Farc e o PT”, será destacada a participação das Farc no FSP e a relação entre a organização colombiana e o PT;
 
3. em “Apagando as Fontes”, será abordado como as instituições e indivíduos envolvidos com o Foro de São Paulo ocultaram as fontes antes disponíveis em seus sítios na internet, o que evidencia a tentativa de esconder informações que preferem não ver divulgadas;
 
4. em “Estratégia Revolucionária”, através de declarações de importantes membros do PT e outras fontes, ficará evidente como a imagem de moderação que o Partido adotou há alguns anos esconde um projeto revolucionário mais radical através da tomada do poder pela via democrática, em conformidade com o receituário de Lênin, a despeito da forma como essa moderação estratégica possa parecer aos olhos de setores mais afoitos do PT.
 
Esperamos, com essa exposição, ajudar a uma melhor compreensão da natureza do Partido dos Trabalhadores e seu projeto hegemônico revolucionário, que já está sendo implementado através da via eleitoral. É nesse contexto que deve ser interpretada a política externa do Governo Lula, a integração regional que promove, o apoio a Chávez e outros líderes da esquerda latino-americana, seu dissimulado apoio às Farc - o que não o tem impedido de se alinhar a Chávez em contraposição ao governo colombiano -, e as propostas de controle da imprensa e outros setores da sociedade.
 
 

1. O Presidente, o PT e o Foro de São Paulo

1A Fotos que documentam a participação de Luiz Inácio Lula da Silva em duas edições do Foro de São Paulo.


1Aa Em 2001, quando o FSP ocorreu em Havana, Cuba:
 
 
1Ab Em 2005, quando ele voltou a ocorrer na cidade de São Paulo:
 

1B Referências do Presidente à importância do Foro de São Paulo na articulação da esquerda latino-americana.

1Ba “Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no ato político de celebração aos 15 anos do Foro de São Paulo”, na cidade de São Paulo, Brasil, em 02 de julho de 2005.
 
A transcrição integral se encontra disponível no site oficial da Secretaria da Imprensa da Presidência da República Federativa do Brasil, neste endereço:http://www.info.planalto.gov.br/download/discursos/pr812a.doc
 
"Em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990... Foi assim que nós, em janeiro de 2003, propusemos ao nosso companheiro, presidente Chávez, a criação do Grupo de Amigos para encontrar uma solução tranqüila que, graças a Deus, aconteceu na Venezuela. E só foi possível graças a uma ação política de companheiros. Não era uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente. Quem está lembrado, o Chávez participou de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível construirmos, com muitas divergências políticas, a consolidação do que aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou o Chávez como presidente da Venezuela. Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política ."
 
1Bb “Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de formatura da Turma de 2002 do Programa de Formação e Aperfeiçoamento do Instituto Rio Branco, no Palácio Itamaraty, 01 de setembro de 2005”. Neste discurso o Presidente caracteriza o FSP mais claramente como uma instância de exercício de poder paralela mas integrada ao atual Poder Executivo, o que tipifica uma indevida e perigosa mistura de Estado e Partido, rompendo assim com os preceitos básicos essenciais do estado de direito.
 
 
Eu me lembro que quando eu chamei o Celso Amorim e, logo depois, convidei o Marco Aurélio para trabalhar como meu assessor, não faltaram pessoas que tentaram criar disputas de que eu tinha um chefe das relações internacionais e um assessor especial e que, portanto, ia ter um confronto entre os dois. Saíram matérias, no começo precisou-se explicar, e eu acho que é importante dizer: a relação entre Celso Amorim, que cumpre a função institucional de ser ministro das Relações Exteriores, e a relação com Marco Aurélio, que cumpre uma outra função tão nobre quanto se tivesse o título de ministro ou de embaixador, que faz um trabalho que possivelmente qualquer um outro e até eu, teria dificuldade de fazer, porque o Marco Aurélio vem de uma relação com a esquerda da América Latina e a esquerda européia, que eu acredito que poucas pessoas tiveram o prazer de dizer isso em todo o tempo em que ele foi secretário de Relações Internacionais do PT. E, para nossa felicidade, muitos companheiros que eram militantes de esquerda na década de 80 estão se transformando em governo.
 
Então, nós passamos a ter uma relação privilegiada com presidentes e com ministros que eram militantes, junto conosco, do Foro de São Paulo, tentando encontrar uma saída democrática para a esquerda na América Latina.
 
Essa função de assessor especial é uma função que permite, ao mesmo tempo, a gente ter uma relação de alto nível com o presidente de um país e, ao mesmo tempo, ter uma relação de alto nível e de confiança com a oposição daquele país, com os sindicatos daquele país, com os grupos indígenas, com o movimento social, porque é uma relação construída ao longo de 15 ou 20 anos. Não é uma coisa que aconteceu porque alguém tem um cargo, é uma coisa que aconteceu porque nós temos uma relação.
 
Então, eu quero, Celso Amorim, falar isso porque já estamos com 32 meses de governo e eu acho que você e o Marco Aurélio deram uma dimensão extraordinária de que é possível a gente construir não apenas a grande diplomacia brasileira, mas é capaz de fazer mais do que isso, a gente é capaz de ir à Bolívia conversar com os presidentes, conversar com os senadores e depois chamar o Evo Morales e conversar com ele com a mesma respeitabilidade, com o mesmo grau de reconhecimento, e assim vale. Foi isso que permitiu que a gente conseguisse criar o Grupo de Amigos para ajudar a Venezuela, porque ao mesmo tempo que a gente conversava com o Chávez, ao mesmo tempo que a gente conversava com a direita na Venezuela, a gente conversava com os setores de esquerda da Venezuela, para que houvesse essa compreensão.
 
O mesmo aconteceu com o Equador, o mesmo aconteceu com o Uruguai, é uma coisa que eu acho extraordinária, essa relação entre vocês dois e a possibilidade de ver a América do Sul numa ascensão de consolidação da democracia, tal como estamos vivendo hoje...
 
1Bc “Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no encerramento do Encontro de Governadores da Frente Norte do Mercosul, em Belém, Pará, 06 de dezembro de 2007”.
 
 
...Primeiro, quero falar um pouco do Mercosul e falar um pouco da nossa América do Sul.
 
Meus companheiros representantes dos países da América do Sul, eu tive a felicidade de, em 1990, convocar – se eu não falei dos senadores, eu quero cumprimentar os senadores aqui presentes – eu tive o prazer de convocar a primeira reunião da esquerda na América Latina, em 1990Eu tinha terminado a eleição de 89, nós tínhamos saído muito fortalecidos do processo eleitoral e era preciso, então, fazer um chamamento a todas as organizações de esquerda que militavam na política da América Latina, para que pudéssemos começar a estabelecer uma estratégia de procedimento entre a esquerda da América Latina.
 
Eu me lembro, Chacho, como se fosse hoje, era época da Copa do Mundo de 1990, e a reunião foi feita em São Paulo, por isso é que ficou constituído o Foro de São Paulo. Só da Argentina tinha 13 organizações políticas, 13 grupos de esquerda que não conversavam entre si. A única coisa que os unia era o Maradona, naquele momento. A República Dominicana, que é um país pequeno, tinha 18 organizações de esquerda naquele encontro. Parecia, Ana Júlia, o PT.
 
Foi uma reunião muito difícil porque as pessoas não confiavam em si, cada um desconfiava do outro, cada um era mais revolucionário do que o outro, cada um era mais guerrilheiro do que o outro. E era preciso, então, criar um ponto de equilíbrio para fazer as pessoas entenderem. Eu descobri isso nas eleições de 89, que era possível, com um pouco de organização, o povo chegar ao poder em qualquer país do mundo e em qualquer país da América do Sul.
 
Pois bem, passados esses 18 anos, ou melhor, vamos pegar 14 anos atrás. Nós fizemos uma pequena revolução democrática na América do Sul e na América Latina. Eu, por exemplo, conheci o (Fidel) em um encontro que fizemos em Cuba. Tinha acabado de ser preso por conta do golpe e acabado de ser liberado. Conheci o Chávez em um encontro do Foro de São Paulo, como conheci também o Daniel Ortega, como conheci tantos companheiros da Argentina, do Chile, do Uruguai, do Paraguai, da Bolívia, do Equador, da Venezuela, da Colômbia. Qual é a mudança que houve nesses 18 anos? Olhem o mapa da América do Sul hoje. O que aconteceu na América do Sul é um fenômeno político que, possivelmente, os sociólogos levarão um tempo para compreender por que aconteceu tão rápido a mudança que houve, uma mudança extremamente importante.
 
Eu lembro que quando o companheiro Duhalde – eu ganhei as eleições de 2002 e o primeiro país a visitar foi a Argentina – falou assim para mim: “Lula, eu vou eleger”... o Menem estava se metendo a ser candidato outra vez, e não sei mais quem, tinha até corredor de automóvel que ia ser candidato na Argentina. E o Duhalde falou: “Lula, nós vamos eleger aqui o Kirchner”. Eu perguntei: quem é Kirchner? Ele falou: “É o governador de Santa Cruz. Ele não é conhecido aqui em Buenos Aires, mas nós vamos elegê-lo”. Pois bem, seis meses depois o Kirchner era presidente da Argentina. Depois foi um processo, com Tabaré; depois foi um processo, com Nicanor Duarte, no Paraguai; depois foi um processo no Equador, que não deu certo no primeiro momento, mas deu certo no segundo momento, com Rafael Correa. O Chávez era o único presidente até então existente, na América do Sul, com cara progressista, com compromissos efetivos com o povo mais pobre.
 
E hoje nós vemos que o que aconteceu na América do Sul está se espraiando para a América Central e para a América Latina, em quase todos os países. Na Guatemala, acaba de ganhar um companheiro, muito companheiro nosso, que participou do Foro de São Paulo. Nós vamos ter eleições agora em El Salvador e, certamente, ganhará um companheiro da Frente Farabundo Marti as eleições para a presidência de El Salvador, pelo menos é o que as pesquisas estão indicando. A eleição no Panamá foi um avanço extraordinário, com o companheiro Torrijos, e assim nós estamos avançando. Há um mapa exatamente antagônico ao mapa que existiu de 1980 a 1990, ou ao ano 2000. Quando o povo teve oportunidade, na América do Sul, ele fez uma guinada completa, ele trocou o neoliberalismo pelo que tinha de mais avançado em políticas sociais em todos os países da América do Sul, e está acontecendo, agora, na América Latina...
 
1Bd “Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao jornalista Joaquín Sola, do programa Desde el Llano, do canal de TV TN, em Buenos Aires, Argentina, em 23 de fevereiro de 2008. Entrevista publicada em 25/02/2008”.
 
 
... Eu não esqueço nunca, quando em junho de 1990, eu fiz em São Paulo um encontro de toda a esquerda latino-americana, para que a gente pudesse começar a discutir a nossa participação no processo democrático.
 
Eu fico muito feliz porque depois daquela reunião, todo ano nós fazíamos um encontro do Foro de São Paulo. A esquerda não conversava entre si. Hoje, em todos os países, com exceção das Farc, aqueles que eram setores de esquerda estão tentando disputar o poder pela via democrática, pelas eleições livres e diretas. Esse é um ganho extraordinário...
 
1Be “Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao jornalista Fernando Morais, para a revista Nosso Caminho, no Palácio do Planalto,DF, em 06 de novembro de 2008”.
 
 
Então, eu penso que está mudando o mundo. E graças a Deus ele começou a mudar na nossa querida América do Sul. Eu fico vendo o Colon eleito lá na Guatemala, eu fico vendo a possibilidade do Maurício ser eleito lá em El Salvador, eu fico imaginando o Torrijos eleger uma outra mulher no Panamá. Logo, logo terá eleições em outros países, e eu estou percebendo que os setores progressistas e de esquerda da América Latina estão fazendo um aprendizado extraordinário de como chegar ao poder. E aí eu fico mais feliz porque quando nós criamos o Foro de São Paulo, em 1990, nós tivemos em junho a primeira reunião e a idéia era tentar unificar o comportamento da esquerda na América Latina para que a gente pudesse se organizar em um partido, para que a gente pudesse... naquele tempo tinha muito grupos de luta armada no Brasil, (ou seja), na América do Sul. Hoje, com exceção das Farc, não tem nenhum grupo armado e todo mundo está chegando ao poder pela via democrática. É um avanço extraordinário.
 
1Bf “Entrevista concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao final da 5ª Cúpula das Américas, em Porto de Espanha, Trinidad e Tobago, em 19 de abril de 2009”.
 
 
Pode parecer ilusão, mas eu sou um otimista porque como eu já vivi muito tempo de crise aqui na América Latina, como já há muitas décadas eu tinha lido “As veias abertas da América Latina”, como eu vivi na oposição na América Latina, como o Brasil e o PT... Eu e o Marco Aurélio, sobretudo, temos responsabilidade com a organização da esquerda na América Latina, porque criamos o Foro de São Paulo, e hoje, vários companheiros que assumiram a Presidência, eram companheiros do Foro de São Paulo, que participaram desde os anos 90. Então, como eu conheço toda essa gente, eu vou ficando otimista cada vez que eu vejo que a reunião andou um passo. De passo em passo, termina o meu mandato, vem outra pessoa, vai continuar dando passos, aí nós construiremos uma muralha da China aqui na América Latina.
 

1C Referências à importância do Foro de São Paulo no Livro de Resoluções do 3º Congresso do PT, em 2007.

 
 
“A década dos noventa a crise dos países socialistas, cujo auge foi entre o final dos anos oitenta e o início dos anos noventa, impactou fortemente as relações internacionais do PT, consolidou a opção petista por trilhar caminhos próprios no cenário mundial, desenvolvendo relações com todos os partidos democráticos e de esquerda, pertencentes a diferentes tradições.
 
Esta opção pluralista se materializou com força na convocatória das organizações, movimentos e partidos de esquerda da América Latina e Caribenha para uma reunião, em julho de 1990, na cidade de São Paulo. A motivação principal desta reunião foi reunir as esquerdas do continente, para refletir sobre os acontecimentos pós-queda do Muro de Berlim e pensar alternativas ao predomínio das políticas neoliberais executadas por governos como os de Collor, Menem, Fujimori e Salinas de Gortari.
 
A partir da convocatória feita pelo PT, nasceu o que futuramente se chamaria Foro de São Paulo, que ao longo dos últimos 17 anos contou com a participação ativa da Frente Ampla de Uruguai, da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional (FMLN) de El Salvador, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) de Nicarágua, do Partido Revolucionário Democrático (PRD do México e do Partido Comunista de Cuba, entre outras forças políticas. Além de participar ativamente do Foro de São Paulo, respondendo por sua Secretaria Executiva, o PT participa da Conferência Permanente de Partidos Políticos de América Latina (COPPPAL) e da Coordinación Socialista Latinoamericana (CSL)”.
 
“...O PT seguiu dando prioridade ao Foro de São Paulo, como instância comprometida com a integração regional, a confraternização, o diálogo, o intercâmbio de experiências, a solidariedade e a unidade de ação de amplos setores da esquerda de nosso continente, sem perder de vista a pluralidade política e a diversidade cultural latino-americana e caribenha”.
 
“Partindo da fraternidade universal dos povos, afirmamos o valor estratégico do internacionalismo. Tal perspectiva ganha força ao pensarmos na multiplicidade de iniciativas em favor de uma nova ordem mundial, constituindo o internacionalismo como fruto de diálogos entre os diversos atores e sujeitos políticos, sociais e culturais.
 
O internacionalismo e a solidariedade internacional incluem as lutas de cunho planetário, em torno da preservação do meio ambiente e da paz mundial. O Foro de São Paulo, a Aliança Social Continental, o Fórum Social Mundial, as iniciativas de integração regional e tantas outras, ao congregar partidos, movimentos e governos (em seus diversos níveis), articulam lutas e demandas locais, nacionais, regionais e mundiais, permitindo tecer alianças rumo a um outro mundo, que pretendemos seja socialista”.           
 
“Atribuições, funcionamento e plano de trabalho da SRI A Secretaria de Relações Internacionais do PT (SRI) tem as seguintes atribuições:
 
...3) fortalecer a presença do PT no mundo, através dos núcleos, da difusão de material partidário, do contato com os meios de comunicação, do envio e recepção de delegações internacionais, da presença partidária em eventos internacionais. Organizar visitas periódicas aos partidos amigos, bem como a países de importância estratégica. Implementar a presença e a atuação sistemática do PT nos países governados por partidos amigos, com destaque para a América Latina e Caribenha. Acompanhar os organismos internacionais que reúnem partidos políticos, com destaque para o Foro de São Paulo;”
 
“A SRI deve organizar uma rotina de viagens internacionais de dirigentes do Partido, com base no plano político aprovado pelo 3º Congresso do PT, dando ênfase para aqueles países governados por partidos de esquerda e progressistas; para aqueles de grande importância estratégica; para aqueles onde a esquerda possui grande força política e eleitoral. Faz parte desta rotina acompanhar as reuniões do Foro de São Paulo e as iniciativas relacionadas a integração continental (Parlamento, Cúpulas sociais, reuniões de chefes de Estado)”.
 
“A SRI, enquanto o PT for escolhido para esta tarefa pelo FSP, será encarregada de manter a secretaria executiva do Foro de São Paulo...
 
Desde sua criação, a SRI já foi dirigida por: Luís Eduardo Greenhalgh, Francisco Weffort, Marco Aurélio Garcia, Aloizio Mercadante, Paulo Delgado e Paulo Ferreira”.
 
“Plano de trabalho 2007-2010
 
Cabe ao Diretório Nacional elaborar o plano de trabalho da SRI, com base nas resoluções políticas e organizativas do 3º Congresso, observando a evolução da situação internacional.
 
Dentre as prioridades para o próximo período, o Congresso aponta as seguintes:...
 
3.XIV Encontro do Foro de São Paulo, em 2008, em Montevidéu.
4.XV Encontro do Foro de São Paulo, em 2009, em Cidade do México...”
 

1D terceira parte do vídeo do PT sobre o IIIº Congresso (2007), cujos trechos foram reproduzidos acima, também faz referências à importância do Foro de São Paulo na promoção do internacionalismo para a construção do socialismo na região.

(Link original removido pelo PT) http://www.youtube.com/watch?v=nHTXtPwTT9U  
Cópia disponível no canal do M@M:

2. O Foro de São Paulo, as Farc e o PT

2B Do antigo site do PT, hospedado então no Universo Online (UOL). As páginas foram recuperadas através da Wayback Machine.

2Ba Lista dos partidos membros do Foro de São Paulo,que incluía as FARC:
 
 
 

2Bb Pronunciamento oficial do Foro de São Paulo em favor das Farc, justificando sua atividade guerrilheira como reação ao governo federal.
 
 
X Encontro (Cuba)
 
PRONUNCIAMENTO SOBRE O II ENCONTRO PELA PAZ NA COLÔMBIA
 
O X Encontro do Foro de São Paulo, realizado em Havana, Cuba, de 4 a 7 de dezembro do ano 2001, declara sua preocupação ante a acentuação da situação na Colômbia. As constantes matanças de camponeses em distintos lugares do país, ameaças, encarceramentos, desaparições de pessoas, constituem mostras da constante violação dos direitos humanos por parte do Governo colombiano, o qual provocou a resposta popular convertida em ações políticas, diplomáticas e guerrilheiras por parte do povo colombiano.
 
Nesse marco se realizou em San Salvador, durante os dias 20, 21 e 22 de julho deste ano, o I Encontro Internacional de Solidariedade e pela Paz na Colômbia e América Latina, realizado por iniciativa e sob a direção da FMLN de El Salvador. O II Encontro Internacional de Solidariedade e pela Paz na Colômbia e América Latina se celebrará na Cidade do México, nos dias 4 e 5 de março do próximo ano, tendo como anfitriões de dito evento os companheiros do Partido do Trabalho do México. O X Encontro se pronuncia por convidar todas as organizações e partidos membros do Foro de São Paulo a apoiar e participar ativamente deste evento.
 
Cidade de Havana, 7 de dezembro de 2001
 
2Bc Resolução do Foro de São Paulo em apoio às FARC, descrevendo e defendendo sua atuação como exercício “dos direitos de rebelião e autodeterminação dos povos” e rechaçando, também para o caso das FARC, “o qualificativo de terroristas” pois seriam somente uma “forma de resistência”.
 
 
X Encontro (Cuba) 
 
RESOLUÇÃO DE CONDENAÇÃO AO PLANO COLÔMBIA E DE SOLIDARIEDADE COM A LUTA DO POVO COLOMBIANO
 
O X Encontro do Foro de São Paulo reunido de 4 a 7 de dezembro de 2001, em Havana, Cuba.
 
CONSIDERANDO:
 
1. A grave crise econômica, política e social que sofre o povo colombiano, produto das políticas desenvolvidas pelo Estado e seus diferentes governos, aplicando as imposições do Império e as receitas do Fundo Monetário Internacional - FMI.
2. A justa e necessária luta de colombianas e colombianos por construir a sociedade que merecem, em paz, com justiça social, dignidade e soberania.
3. O desenvolvimento de medidas imperiais como o Plano Colômbia e seu complemento, a Iniciativa Regional Andina, verdadeiros planos de guerra contra o povo colombiano, latino-americano e caribenho.
4. O terrorismo de Estado que segue assassinando a população civil paralisada pela ação de seus grupos paramilitares.
 
RESOLVE:
 
5. Apoiar e encoraja os processos de diálogos desenvolvidos pelas FARC - Exército do Povo e o ELN, em busca de soluções diferentes à guerra para a grave crise colombiana e o conflito social, político e armado, ficando à disposição, na medida de nossas possibilidades e as necessidades dos processos.
6. Manifestar sua solidariedade e reconhecimento com a Frente Social e Política como expressão importante da organização de colombianos e colombianas no desenvolvimento da luta por seus direitos.
7. Repudiar e condenar novamente o Plano Colômbia e seu complemento, a Iniciativa Regional Andina, e organizar a resistência popular como parte da corrente de lutas contra a dominação neocolonial da qual fazem parte megaprojetos como a ALCA.
8. Manifestar publicamente, como forças e movimentos políticos anti-imperialistas, nossa defesa aos direitos de rebelião e autodeterminação dos povos do mundo e rechaçar o qualificativo de terroristas para toda forma de resistência.
9. Ratificar a legitimidade, justeza e necessidade da luta das organizações colombianas e solidarizar-nos com elas.
10. Condenar energicamente o terrorismo de Estado e demandar castigo ao paramilitarismo e seus responsáveis materiais e intelectuais, nacionais e estrangeiros.
11. Reivindicar o reconhecimento dos presos políticos e sindicais na Colômbia e exigir sua liberdade imediata. Pedir o pleno exercício do direito à defesa e a aplicação urgente das recomendações da ONU para modificar as condições carcerárias deploráveis em contradição com as normas elementares da dignidade humana.
 
Cidade de Havana, 7 de dezembro de 2001.
 

2C Do atual site do PT, atestando a participação das Farc como partido integrante do Foro, não como um mero partido convidado.

 
Partidos de esquerda da América Latina e Caribe terão encontro no próximo ano
 
O Grupo de Trabalho do Foro São Paulo reuniu-se no mês passado em Manágua, na Nicarágua com o objetivo de preparar o IX Encontro dos Partidos Latino-Americanos e Caribenhos de Esquerda, que será em fevereiro do ano que vem, na própria Nicarágua.
 
O PT e os demais partidos integrantes do Foro, além dos partidos convidados à reunião, participaram das comemorações do XX aniversário da Revolução Popular, promovida pela Frente Sandinista.
 
O Grupo de Trabalho fez uma análise sobre a situação política e econômica da região, da crise do modelo neoliberal que sob os chamados "efeito-tequila, samba ou tango acaba escamoteando a realidade que empobrece os países lationamericanos e concentra a riqueza nas mãos dos países desenvolvidos.
 
Durante a reunião, tratou-se também da dolarização das nossas economias, que nos converte em reféns do Tesouro americano e de sua política monetária, com altas taxas de juros.
O Grupo de Trabalho constatou que os partido do Foro têm desenvolvido política de alianças que tem o objetivo, por um lado de garantir transições pacíficas à democracia e, por outro, de consolidar os espaços de poder até agora alcançados nos processos eleitorais, destacando-se os casos do México e da Nicarágua.
 
Colômbia -
 
Foi tratado com especial ênfase o caso das negociações entre a FARC e o governo colombiano para um acordo de paz que garanta a democracia e a justiça social, a abertura do diálogo entre o ELN e o governo para facilitar o desenvolvimento da comunicação nacional. Neste sentido, o Foro repudiou veementemente qualquer tentativa de intervenção norte-americana no conflito armado que ocorre no país...
 
Participaram da reunião do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, além do PT, o PRD, do México; FARC, Partido Comunista e ELN, da Colômbia; Partido Comunista de Cuba; Partido Comunista de Guadalupe; URNG, da Guatemala; e FSLN, da Nicarágua. Estiveram presentes também o Partidos dos Trabalhadores do México e o PSD-Frepaso, da Argentina, que foram convidados especialmente, em decorrência do Seminário do Cone Sul. Compareceram ainda representantes do Partido Social-Democrata, da Áustria; Partido Comunista da França e Partido Socialista de Esquerda da Noruega...
 

2D Carta de apoio das FARC ao então recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva

Publicada na Folha de São Paulo, em 5 de dezembro de 2002  http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0512200207.htm (demonstrando que, ao se pronunciar contra as Farc durante a campanha, Lula somente despistava as atenções).
 
Carta das Farc manifesta apoio a Lula, Gutiérrez, Venezuela e Cuba
DA REDAÇÃO
 
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo guerrilheiro de esquerda do país, expressaram ontem sua solidariedade ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em uma carta enviada ao Fórum de São Paulo, organização de partidos de esquerda latino-americanos.
O fórum, idealizado pelo PT, realiza um encontro na Guatemala. Na carta, a guerrilha também manifestou apoio a Cuba, à Venezuela, aos argentinos, aos palestinos e ao presidente eleito do Equador, o coronel esquerdista Lucio Gutiérrez.
Durante a campanha eleitoral, Lula criticou a atuação das Farc e fez questão de desvincular o PT da guerrilha colombiana.
A carta das Farc tinha data de ontem e foi assinada na clandestinidade pelo chefe da comissão internacional do grupo, o ex-negociador de paz Raúl Reyes.
A mensagem foi difundida no dia em que o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, em visita oficial a Bogotá, se encontrou com o presidente colombiano, Álvaro Uribe, e com a ministra da Defesa, Marta Lucía Ramírez.
A visita de Powell, a primeira à América do Sul desde os atentados terroristas aos EUA em 11 de setembro do ano passado, serviu como demonstração de apoio aos esforços do governo colombiano na luta contra o narcotráfico e os grupos armados ilegais.
Ela indica a possibilidade de uma ajuda financeira adicional para o Plano Colômbia, com o qual os EUA já contribuem com mais de US$ 1,3 bilhão.
 

2E Entrevista do supracitado Raúl Reyes, então chefe da comissão internacional das Farc, como afirmou o artigo da Folha de São Paulo reproduzido acima

Em  24 de agosto de 2003, Reyes declarou abertamente a ligação das Farc tanto com Lula como com Chávezhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2408200318.htm.
[...]
Folha - Vocês têm buscado contato com o governo Lula?
Reyes - Estamos tentando estabelecer -ou restabeleceras mesmas relações que tínhamos antes, quando ele era apenas o candidato do PT à Presidência.
Folha - O sr. conheceu Lula?
Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.
Folha - Houve uma conversa?
Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.
[...]
Folha - Fora do governo, quais são os contatos das Farc no Brasil?

Reyes - As Farc têm contatos não apenas no Brasil com distintas forças políticas e governos, partidos e movimentos sociais. Na época do presidente [Fernando Henrique] Cardoso, tínhamos uma delegação no Brasil.
Folha - O sr. pode nomear as mais importantes?
Reyes - Bem, o PT, e, claro, dentro do PT há uma quantidade de forças; os sem-terra, os sem-teto, os estudantes, sindicalistas, intelectuais, sacerdotes, historiadores, jornalistas...
Folha - Quais intelectuais?
Reyes - [O sociólogo] Emir Sader, frei Betto [assessor especial de Lula] e muitos outros.
[...]
Folha - Que relação as Farc mantêm com o governo venezuelano?
Reyes - Estamos propondo ao governo de Hugo Chávez uma explicação sobre a política das Farc em relação aos países vizinhos.
Folha - Existe contato ou não?
Reyes - Temos informações muito positivas sobre Chávez, um bolivariano patriota que luta pela dignidade do seu povo. Nós o admiramos muitíssimo [...]”


3. Apagando as Fontes

3A O site original do Foro de São Paulo era http://www.forosaopaulo.org (sem a preposição “de”), já não mais acessível. Foi dessas e outras fontes que o sítio Mídia sem Máscara, também utilizando a Wayback Machine, quando necessário, retirou as Atas do Foro de São Paulo http://www.midiasemmascara.org/arquivo/atas-do-foro-de-sao-paulo/7.html. O domínio original pertencia, pelo menos em 2007, ao Partido dos Trabalhadores, como pode ser verificado no “Who is” do site http://who.is/domain_archive-org/forosaopaulo.org/. Como se pode ver no mesmo link, o detentor do domínio está agora protegido pelo Whois Private Protection Service, serviço utilizado geralmente por pessoas físicas que não querem deixar seus dados pessoais expostos.  Mas por que o PT, ou seja lá quem possui o domínio atualmente, quereria esconder seu vínculo com o sítio?
 
[N.E] ATUALIZAÇÃO 23/08/2010
 
A posse do domínio explícita em nome do Partido dos Trabalhadores vai até 29/10/2009. A partir daí o proprietário ativou o serviço de proteção do whois, como atesta o screenshot do serviço DomainTools abaixo:
 
Sendo o registro de 29/10/2009:
 
E o de 21/12/2009, já protegido por sigilo:
 
3B Atualmente, o sítio http://www.forodesaopaulo.org (com a preposição “de” faltante no original) aparece como o oficial. O “Who is” desse site está disponível.
Infelizmente, mesmo o acesso ao site por meio da Wayback Machine pode ser impossibilitado através da disponibilização de um robô (um arquivo em formato .txt) na página de abertura, como é explicadoaqui. Parece ser essa a razão por que há grande dificuldade em se acessar as atas do Foro de São Paulo nos sites originais.

4. Estratégia Revolucionária.

4A Matéria do Le Monde, conhecidíssimo jornal francês, durante as eleições que levaram Lula ao poder:
 
 
"En privé, Lula, âgé de 56 ans, pense tout haut que l'élection est une 'farce' et qu'il faut en passer par là pour prendre le pouvoir."
Tradução:
 
"Em particular, Lula, com 56 anos de idade, pensa alto que a eleição é uma 'farsa' pela qual é preciso passar para tomar o poder."
 
4B À mesma época, foi publicada a seguinte entrevista de Marco Aurélio Garcia. assessor especial para política internacional de Lula, no  La Nacion, diário da Argentina:
 
http://www.lanacion.com.ar/02/10/05/dx_437863.asp (link para a entrevista completa. Para acessá-lo, no entanto, será necessário cadastrar-se no site)
 
"...Pero destacó: "Brasil se movió hacia la izquierda. La impresión de que el PT se trasladó al centro surge de que hemos tenido que asumir compromisos que están en ese terreno. Eso implica que tendremos que aceptar inicialmente algunas prácticas. Pero eso no es para siempre...".

4C Entrevista de José Genoíno ao jornal O Estado de São Paulo, publicada em 19.10.2003.
 
 
Até Lenin fez concessões a multinacionais'
 
Genoino nega que PT aprofunde modelo de FHC, mas diz que é preciso ceder para atingir outro modelo
 
Agliberto Lima/AE
 
PATRÍCIA VILLALBA e CONRADO CORSALETTE
 
O presidente do PT, José Genoino, recorre a ícones da esquerda para responder às críticas ao governo de Lula e negar que, no poder, o partido esteja navegando pelos mares do neoliberalismo. Na defesa de que o PT é, de fato, um partido de esquerda, o ex-radical e agora moderado Genoino não hesita em comparar Lula a Lenin: "Depois da Revolução (Russa) de 1917, Lenin fez concessões a multinacionais sobre exploração do petróleo de Baku, porque não tinha dinheiro para explorar."
 
Genoino nega veementemente que o PT esteja aprofundando a política econômica do governo Fernando Henrique. Citando a tão recorrente "herança maldita", ele argumenta que a equipe econômica teve de "segurar o boi pelos chifres" para pôr o País no rumo certo. Na mesma linha, ressalta que o PT não foi eleito para fazer rupturas, mas para mudar o País gradualmente. Por isso, lamenta a atitude "precipitada" de alguns companheiros que acham que o sonho já acabou - como o deputado Fernando Gabeira, que acaba de sair do partido.
 
"Não adianta sonhar e ficar por isso mesmo. E para mudar, tem de sonhar com os pés no chão."
 
Nesta entrevista ao Estado, Genoino fala dos planos do PT para continuar na esquerda, mesmo sendo governo:
 
Estado - O que o sr. diria aos petistas que talvez estejam pensando como o deputado Fernando Gabeira, que sonharam o sonho errado?
 
José Genoino - A quase totalidade dos petistas, pelas pesquisas que nós temos e pelas plenárias que são realizadas pelo País afora, tem confiança no governo. A base entende as dificuldades que o governo está vencendo, confia na força que o partido está dando ao governo. Portanto, eu acho que o sentimento da militância do PT é de realizar o sonho. Os petistas que esperaram e que lutaram 23 anos por esse momento não vão baixar a cabeça na primeira dificuldade.
 
Estado - Que tipo de contribuição o governo Lula e o PT deram até agora para a mudança do pensamento hegemônico, do neoliberalismo? A política econômica manteve-se a mesma.
 
Genoino - Não. Nós não estamos realizando a política neoliberal. Nós estamos criando no Brasil uma maneira de governar, com responsabilidade. Fomos eleitos para fazer mudanças processuais e graduais. O PT não ganhou a eleição para fazer rupturasE nós temos uma correlação de forças que não é maioria de esquerda. Por isso, nós governamos com a esquerda, centro-esquerda e setores de centro. Esse é o resultado do processo democrático.
 
Estado - Mas o que diferencia o PT no governo?
 
Genoino - Em primeiro lugar, é um governo de negociação. Nós negociamos com governadores, com empresários e com o Congresso. Nós sabemos negociar mantendo a linha central do que nós queremos. Sinceramente, eu imaginava que as dificuldades seriam maiores. Foi isso que eu disse pro Gabeira: 'Estamos há 23 anos esperando por esse momento e na primeira dificuldade a gente deixa de sonhar?'
Estado - Em resumo, vai demorar para o senhor acordar desse "sonho"?
 
Genoino - Eu não tenho sonho errado. Eu sou um sonhador com os pés no chão, quero realizar o sonho. Aliás, o marxismo é que disse que pra a gente mudar o mundo, em vez de fazer abstração, tem de mudar. Não adianta sonhar e ficar por isso mesmo.
 
Estado - Quando o sr. imaginou as dificuldades, pensou que muitas delas viriam justamente do PT?
 
Genoino - Claro que sim. Nós sempre avaliávamos que haveria um tensionamento com certos segmentos do PT. É natural que tenha um tensionamento entre o ato de governar do PT e a experiência do PT. As pessoas estão se posicionando muito mais por razões político-ideológicas do que por razões técnicas.
 
Estado - Mas quando o PT era oposição, não praticava a oposição ideológica? Descartar a ideologia hoje, não seria uma nova versão do "esqueça o que eu escrevi" do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso?
 
Genoino - Não, pelo contrário. As idéias, os valores, as causas e os sonhos compõem o ideário do PT. O PT nunca foi vinculado a uma vertente ortodoxa da esquerda, não nasceu do muro.
 
Estado - Mas em algumas questões não há como não ser maniqueísta. Ou você agrada aos empresários ou agrada aos trabalhadores. Por exemplo, na reforma trabalhista. Os empresários vão aplaudir a reforma trabalhista do PT?
 
Genoino - Eu acho que nós temos de fazer uma mudança na CLT garantindo com direitos permanentes férias, repouso semanal, 13.º salário e licença maternidade. O que a esquerda tem de pensar é que a política não é um lado destruir o outro. Você não pode fazer política moderna sem negociar.
 
Estado - Mas não é constrangedor os maiores aplausos para o governo virem dos empresários, dos banqueiros e até mesmo do ex-ministro Pedro Malan?
 
Genoino - Elogios a gente recebe de qualquer pessoa. As pesquisas que nós temos mostram que a maioria da população brasileira elogia o governo Lula. A média de avaliação positiva do PT varia 31% a 36% e a rejeição, de 11% a 13%. A hegemonia é um processo paulatino de convencimento. É o que o PT está construindo.
 
Estado - Está construindo ou está se aproveitando de um pensamento e se moldando a ele?
 
Genoino - Não. Nós somos oposição ao pensamento neoliberal, aos valores de que o mercado resolve todos os problemas. Nós estamos construindo um projeto de Brasil com outros valores e outros parâmetros. Agora, essa construção não foi feita na base de um choque nem de uma ruptura.
Estado - Mas não há como negar que na economia houve um aprofundamento da política de Fernando Henrique.
 
Genoino - Nós não estamos aprofundando. Tivemos de segurar o boi pelos chifres para poder sair dessa situação. Já disse para os meus companheiros que eles precisam ler uma das decisões do Lenin, depois da Revolução de 1917. Ele fez concessões a multinacionais sobre exploração do petróleo de Baku, porque não tinha dinheiro para explorar. O problema é o sentido político de tomar essas medidas. Você toma essas medidas no sentido de aprofundar o modelo ou no sentido de processualmente criar condições para outro modelo. Eu acho que faria muito bem a alguns críticos do PT a leitura de algumas decisões de quando houve rupturas e confrontos. Ainda bem que o nosso filósofo inspirador da esquerda dizia: 'A humanidade só se propõe a fazer tarefas realizáveis.'
 
Estado - Depois das concessões de Lenin, veio uma grande mudança, o comunismo. O que vem por aí?
 
Genoino - Um país democrático, socialmente justo e soberano.
 
Estado - Isto é genérico demais.
 
Genoino - Nós não temos uma definição de implantar o socialismo como um projeto econômico e político. O PT está no jogo democrático, representa uma grande renovação da esquerda justamente porque saiu daquela matriz ortodoxa.
 
No início do governo Fernando Henrique nós fizemos uma oposição muito fechada. Qual foi o resultado? Derrota em 1996, perdemos quase todas as prefeituras. O PT aprende.
 
Estado - Como é que se sentiria o deputado José Genoino no Congresso tendo como aliado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que foi da tropa de choque de Fernando Collor?
 
Genoino - Eu estaria muito feliz, como estou na presidência do PT, para defender um governo. Em relação a essas pessoas, você sabe que desde a minha experiência parlamentar eu era criticado porque me dava bem com todo mundo.
 
O deputado Roberto Jefferson apoiou Lula no segundo turno, apóia e vota com o governo. Está sendo bom pra quem? Para o PT e para o governo Lula.
 
Estado - O deputado Roberto Jefferson está sendo mais companheiro do que a senadora Heloísa Helena?
 
Genoino - Estou me referindo a aliados. Sobre esses companheiros do PT, eles deveriam manifestar suas opiniões e, na hora de votar, votar com o partido.
 
Se eu dissesse o que eles dizem do PT, para ser coerente, eu já teria deixado o partido. A política de esquerda tem lado, e não vamos abrir mão do nosso lado.
 
Estado - Apesar de Lula dizer que não é de esquerda?
 
Genoino - O Lula nunca foi um esquerdista e há uma diferença. Esquerda nós somos. Ser de esquerda hoje não é defender corporativismo. É defender uma sociedade justa.            
 
4D A entrevista ao jornal foi citada em outra entrevista com José Genoíno, no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/programa/pgm0957 (à direita, clicar em “Transcrição”).
 
Paulo Markun: Só [vou] terminar a pergunta. No início do governo Lula, o senhor deu uma entrevista para a Patrícia Villalba e Conrado Corsalette, do Estado de S. Paulo, cujo título era “Até Lênin fez concessões a multinacionais”. E lá pelas tantas, eles lhe perguntaram: “Como é que se sentiria o deputado José Genoino, no Congresso, tendo como aliado Roberto Jefferson, que foi da tropa de choque de Fernando Collor?” E o senhor declarou o seguinte: “Eu estaria muito feliz, como estou na presidência do PT, para defender um governo. Em relação a essas pessoas, você sabe que, desde minha experiência parlamentar, eu era criticado porque me dava muito bem com todo mundo. O deputado Roberto Jefferson apoiou o Lula no segundo turno, apóia e vota com o governo. Está sendo bom para quem? Para o PT e para o governo Lula”. Eu pergunto: não foi uma tática errada, essa, de se apoiar em partidos que não tinham nenhuma ligação com as idéias do PT? E que veio dar aonde deu?
 
José Genoino: Paulo, o povo brasileiro, quando votou no Lula, não votou na maioria da Câmara e na maioria do Senado.
 
Paulo Markun: Sim, o PT chegou a 20%...
 
José Genoino: Diziam que o governo Lula não ia se viabilizar, porque o PT não tinha capacidade de fazer alianças. Nós construímos uma aliança com os partidos que apoiaram o Lula no segundo turno, inclusive o PTB. Ampliamos essa aliança com o PMDB, e nós devíamos ter incluído o PMDB desde aquela época no governo, porque nós tínhamos um programa, que era a estabilidade para o país crescer; melhorar emprego e renda, respeitando os termos da "Carta aos Brasileiros” [assinada pelo candidato Lula, em 2002, assegurando que, caso eleito presidente, o PT respeitaria os contratos nacionais e internacionais]; viabilizar os programas sociais, que nós unificamos no [programa] Bolsa Família, com sete milhões de famílias, aumentamos a renda média para 75 mil; recuperar o papel público das estatais e dos bancos públicos – foram recuperados: BNDES é banco de fomento, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, os bancos regionais –; e votar as reformas pendentes no Congresso: votamos a reforma da Previdência, a reforma do Judiciário e agora precisa retornar a reforma tributária. Estas alianças, elas foram importantes para o governo, que tem maioria. Não é só para aprovar o que o governo quer, é também para impedir que se aprovem coisas contra o governo. E a esquerda já fez alianças, inclusive em guerra. O Vietnã estava em plena guerra e fazia aliança pontual com quem estava matando; a China fez alianças...
 
Paulo Markun: [interrompendo] Sim, o Stalin fez aliança para...
 
José Genoino: Nós temos que ter objetivos...
 
Eliane Cantanhêde: Deputado.
 
José Genoino: Eu negocio. Eu usei um lema, que também está nessa entrevista [no Estado de S. Paulo]. Eu negocio com qualquer pessoa, mas eu sei qual é o lado da mesa e qual é a cadeira em que eu me sento...
 
Eliane Cantanhêde: Deputado.
 
José Genoino: Portanto, o mal não é das alianças. Agora, nós temos que definir, mudando o sistema político partidário, fazer alianças com critérios, fazer alianças mais precisas, isso nós temos que fazer. O PT é um aprendizado permanente...
 
Mauro Chaves: [interrompendo] E faz parte disso...
 
José Genoino: O PT muda o Brasil, e o Brasil ajuda a mudar o PT...
 
4E Recomendações de Lênin em “Esquerdismo, doença infantil do comunismo – Ensaio de palestra popular sobre a estratégia e tática marxistas”, clássico escrito em 1920 e disponível online neste endereço: http://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/esquerdismo/index.htm. Lênin reprova o simplismo e ingenuidade dos revolucionários radicais, que criticavam quaisquer alianças estratégicas com forças políticas mais conservadores.
 
Ao surgir em 1903, o bolchevismo herdou a tradição de luta implacável contra o revolucionarismo pequeno-burguês, semi-anarquista (ou capaz de "namoricar" o anarquismo), tradição que sempre existira na social-democracia revolucionária e que se consolidou particularmente em nosso país em 1900/1903, quando foram assentadas as bases do partido de massas do proletariado revolucionário da Rússia. O bolchevismo fez sua e continuou a luta contra o partido que mais fielmente representava as tendências do revolucionarismo pequeno-burguês (isto é, o partido dos "socialistas revolucionários") em três pontos principais. Em primeiro lugar, esse partido, que repudiava o marxismo, obstinava-se em não querer compreender (talvez fosse mais justo dizer que não podia. compreender) a necessidade de levar em conta, com estrita objetividade, as forças de classe e suas relações mútuas antes de empreender qualquer ação política. Em segundo lugar, esse partido via um sinal particular de seu "revolucionarismo" ou de seu "esquerdismo" no reconhecimento do terror individual, dos atentados, que nós, marxistas, rejeitávamos categoricamente. É claro que condenávamos o terror individual exclusivamente por conveniência; as pessoas capazes de condenar "por princípio" o terror da grande revolução francesa ou, de modo geral, o terror de um partido revolucionário vitorioso, assediado pela burguesia do mundo inteiro, já foram fustigadas e ridicularizadas por Plekhanov em 1900/1903, quando este era marxista e revolucionário. [cap.IV]
 
Em 1908, os bolcheviques ‘de esquerda’ foram expulsos de nosso partido, em virtude de seu empenho em não querer compreender a necessidade de participar num ‘parlamento’ ultra-reacionário...” [cap. IV]
 
0 parlamentarismo é uma forma de trabalho; o jornalismo é outra. O conteúdo pode ser comunista em ambas, e deve sê-lo, se os que trabalham num e noutro setor são verdadeiros comunistas, verdadeiros membros do partido proletário, de massas. Mas, tanto numa como noutra - e em qualquer esfera de trabalho no capitalismo e no período de transição do capitalismo para o socialismo - é impossível evitar as dificuldades e as tarefas originais que o proletariado deve vencer e resolver para utilizar em seu benefício pessoas que procedem de meios burgueses, para alcançar a vitória sobre os preconceitos e a influência dos intelectuais burgueses, para debilitar a resistência do ambiente pequeno-burguês (e, posteriormente, para transformá-lo por completo)”.[cap. IV]
 
“Em 1918, as coisas não chegaram à cisão. Os comunistas ‘de esquerda’ só constituíram, na ocasião, um grupo especial, ou ‘fração’, dentro de nosso Partido, e por pouco tempo. No mesmo ano, os mais destacados representantes do ‘comunismo de esquerda’, Rádek e Bukharin, por exemplo, reconheceram abertamente seu erro. Achavam que a paz de Brest era um compromisso com os imperialistas, inaceitáveis por princípio e funesto para o partido do proletariado revolucionário. Tratava-se, realmente, de um compromisso com os imperialistas; mas era precisamente um compromisso dessa espécie que era obrigatório naquelas circunstâncias.” [cap. IV]
 
“Imagine que o carro em que você está viajando é detido por bandidos armados. Você lhes dá o dinheiro, a carteira de identidade, o revólver e o automóvel; mas, em troca disso, escapa da agradável companhia dos bandidos. Trata-se, evidentemente, de um compromisso. Do ut des (‘dou’ meu dinheiro, minhas armas e meu automóvel, ‘para que me dês’ a possibilidade de seguir em paz). Dificilmente, porém, se encontraria um homem sensato capaz de declarar que esse compromisso é ‘inadmissível do ponto de vista dos princípios’, ou de denunciar quem o assumiu como cúmplice dos bandidos (ainda que esses, possuindo o automóvel, e as armas, possam utilizá-los para novas pilhagens). Nosso compromisso com os bandidos do imperialismo alemão foi semelhante a esse.”[cap. IV]
 
“Todo bolchevique que tenha participado conscientemente do desenvolvimento do bolchevismo desde 1903, ou que o tenha observado de perto, não poderá deixar de exclamar imediatamente, depois de haver lido tais opiniões: ‘Que velharias conhecidas! Que infantilidades de ‘esquerda’!’” [cap. V]
 
“É impossível conceber maior insensatez, maior dano causado à revolução pelos revolucionários ‘de esquerda’! Se hoje, na Rússia, depois de dois anos e meio de triunfos sem precedentes sobre a burguesia da Rússia e a da Entente estabelecêssemos como condição de ingresso nos sindicatos o ‘reconhecimento da ditadura’, faríamos uma tolice, perderíamos nossa influência sobre as massas e ajudaríamos os mencheviques, pois a tarefa dos comunistas consiste em saber convencer os elementos atrasados, saber atuar entre eles, e não em isolar-se deles através de palavras de ordem tiradas subjetivamente de nossa cabeça e infantilmente ‘esquerdistas’”. [cap. VI]
 
“[O]s comunistas ‘de esquerda’ são pródigos de elogios a nós bolcheviques. Às vezes dá-nos vontade de dizer-lhes: louvem-nos menos e tratem de compreender melhor a nossa tática, familiarizar-se mais com ela!...” [cap. VII]
 
“É surpreendente que, com semelhantes idéias, esses esquerdistas não condenem categoricamente o Bolchevismo! Não é possível que os esquerdistas alemães ignorem que toda a história do bolchevismo, antes e depois da revolução de Outubro, está cheia de casos de manobra, de acordos e compromissos com outros partidos, inclusive os partidos burgueses!” [cap. VIII]
 
As pessoas ingênuas e totalmente inexperientes pensam que basta admitir os compromissos em geral para que desapareça completamente a linha divisória entre o oportunismo, contra o qual sustentamos e devemos sustentar uma luta intransigente, e o marxismo revolucionário ou comunismo. Mas essas pessoas, se ainda não sabem que todas as linhas divisórias na natureza ou na sociedade são variáveis e até certo ponto convencionais, só podem ser ajudadas mediante o estudo prolongado, a educação, a ilustração e a experiência política e prática...” [cap. VIII]
 
“... [R]enunciar a acordos e compromissos com possíveis aliados (ainda que provisórios, inconsistentes, vacilantes, condicionais), não é, por acaso, qualquer coisa de extremamente ridículo?” [cap. VIII]
 
“Colocar obrigatoriamente, a todo preço e imediatamente em primeiro plano a denúncia do Tratado de Versailles, antes da questão de libertar do jugo imperialista os demais países oprimidos pelo imperialismo, é uma manifestação de nacionalismo pequeno-burguês ... podemos e devemos aceitar, se for necessário, uma existência mais prolongada do Tratado de Versailles...a situação atual é de tal natureza, que os comunistas alemães não devem amarrar-se as mãos e prometer a renúncia obrigatória e indispensável ao Tratado de Versailles em caso de triunfar o comunismo. Isso seria uma tolice...”
 
“[Q]uanto à paz de Versailles, não estamos de modo algum obrigados a rechaçá-la a todo custo e, além disso, imediatamente. Amarrarmos as mãos antecipadamente, declarar abertamente ao inimigo, hoje melhor armado que nós, que vamos lutar contra ele e em que momento, é uma tolice e nada tem de revolucionárioAceitar o combate quando é claramente vantajoso para o inimigo e não para nós constitui um crime, e não servem para nada os políticos da classe revolucionária que não sabem ‘manobrar’, que não sabem concertar ‘acordos e compromissos’ a fim de evitar um combate que todos sabem ser desfavorável”. [cap. VIII]
 
Depois da primeira revolução socialista do proletariado, depois da derrubada da burguesia num pais, o proletariado desse país continua sendo durante muito tempo mais débil que a burguesiaem virtude, simplesmente, das imensas relações internacionais que ela tem e graças à restauração, ao renascimento espontâneo e contínuo do capitalismo e da burguesia através dos pequenos produtores de mercadorias do país em que ela foi derrubada. Só se pode vencer um inimigo mais forte retesando e utilizando todas as forças e aproveitando obrigatoriamente com o maior cuidado, minúcia, prudência e habilidade a menor ‘brecha’ entre os inimigos, toda contradição de interesses entre a burguesia dos diferentes países, entre os diferentes grupos ou categorias da burguesia dentro de cada país; também é necessário aproveitar as menores possibilidades de conseguir um aliado de massas, mesmo que temporário, vacilante, instável, pouco seguro, condicionalQuem não compreende isto, não compreende nenhuma palavra de marxismo nem de socialismo científico, contemporâneo, em geral. Quem não demonstrou na prática, durante um período bem considerável e em situações políticas bastante variadas, sua habilidade em aplicar esta verdade à vida, ainda não aprendeu a ajudar a classe revolucionária em sua luta para libertar toda a humanidade trabalhadora dos exploradores. E isso aplica-se tanto ao período anterior à conquista do Poder político pelo proletariado como ao posterior.” [cap. VIII]
 
“E se replicarem dizendo que esta tática é muito ‘astuta’ ou complicada, que as massas não a compreenderão, que dispersará e desagregará nossas forças impedindo-nos de concentrá-las, na revolução soviética, etc., responderei aos meus contestadores ‘de esquerda’: não atribuam às massas o seu próprio doutrinarismo!” [cap. IX]
 
“A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em particular pelas três revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não basta que as massas exploradas e oprimidas tenham consciência da impossibilidade de continuar vivendo como vivem e exijam transformações; para a revolução é necessário que os exploradores não possam continuar vivendo e governando como vivem e governam. Só quando os ‘de baixo’ não querem e os ‘de cima’ não podem continuar vivendo à moda antiga é que a revolução pode triunfarEm outras palavras, esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que afete explorados e exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir, em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em todo caso, a maioria dos operários conscientes, pensantes, politicamente ativos) compreenda a fundo a necessidade da revolução e esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apática), que reduza o governo à impotência e torne possível sua rápida derrubada pelos revolucionários.” [cap. IX]
 
É necessário unir a mais absoluta fidelidade às idéias comunistas à arte de admitir todos os compromissos práticos necessários, manobras, acordos, ziguezagues, retiradas, etc....” [cap. X]
 
“...[N]ão conseguireis nada através unicamente dos hábitos de propagandista, com a simples repetição das verdades do comunismo ‘puro’. E é porque nesse caso a conta não é feita aos milhares, como faz o propagandista membro de um grupo reduzido e que ainda não dirige massas, e sim aos milhões e dezenas de milhões. Nesse caso é preciso perguntar a si próprio não só se convencemos a vanguarda da classe revolucionária, como também se estão em movimento as forças historicamente ativas de todas as classes da tal sociedade, obrigatoriamente de todas, sem exceção, de modo que a batalha decisiva esteja completamente amadurecida, de maneira que
 
1) todas as forças de classe que nos são adversas estejam suficientemente perdidas na confusão, suficientemente lutando entre si, suficientemente debilitadas por uma luta superior a suas forças;
 
2) que todos os elementos vacilantes, instáveis, inconsistentes, intermediários, isto é, a pequena burguesia, a democracia pequeno-burguesa, que se diferencia da burguesia, estejam suficientemente desmascarados diante do povo, suficientemente cobertos de opróbrio por sua falência prática;
 
3) que nas massas proletárias comece a aparecer e a expandir-se com poderoso impulso o afã de apoiar as ações revolucionárias mais resolutas, mais valentes e abnegadas contra a burguesiaÉ então que está madura a revolução, que nossa vitória está assegurada, caso tenhamos sabido levar em conta todas as condições levemente esboçadas acima e tenhamos escolhido acertadamente o momento”.[cap. X]
 
O autor é professor, micro-empresário e pesquisador free-lancer das estruturas não-governamentais de poder político.

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