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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

LULA, O CHEFE - cap. 6 (parte 1) - Os 403 dias que marcaram o escândalo do mensalão

Nas décadas de 60 e 70 do século 20, não foram poucos os brasileiros a desafiar os "donos" do poder e a combater por liberdade e democracia. Muitos tombaram, mas a luta não foi em vão. O Brasil se transformou num país livre e democrático, como demonstraram os serviços prestados pela imprensa na apuração do escândalo do mensalão. No início do século 21, a luta das forças progressistas é por justiça social e distribuição de renda. E essa luta passa prioritariamente pelo combate à corrupção. A construção de uma sociedade sem tantas desigualdades pressupõe uma imprensa atuante, sempre pronta a denunciar o clientelismo, o fisiologismo e o chamado toma-lá-dá-cá. E a não tolerar a impunidade dos poderosos.
Jornalistas têm a missão de apontar a falta de transparência nas ações do poder constituído, a fim de garantir a boa aplicação do dinheiro público. Jornalistas denunciam desvios e demais expedientes lesivos aos direitos e aos legítimos interesses do povo. Se os homens públicos tiverem responsabilidade e espírito público, honestidade e seriedade, teremos as ferramentas necessárias para assegurar investimentos em projetos sérios, eficientes e de alcance social. Somente dessa forma o Brasil será um país desenvolvido e uma grande nação.
O escândalo do mensalão confirma, uma vez mais, que a imprensa livre, pluralista e vigilante é imprescindível à democracia a ao Estado de Direito. Nada melhor para a sociedade do que jornalistas determinados, incapazes de se curvar a pressões econômicas, chantagens políticas ou ao benefício das sempre generosas verbas publicitárias, em troca da omissão e do silêncio sobre o jogo sujo dos "donos" do poder.
Nesta cronologia dos 403 dias do escândalo do mensalão, muitos profissionais de imprensa aparecem citados nominalmente. São repórteres que não se intimidaram, não abaixaram a cabeça aos governantes da vez, e assim contribuíram de forma decisiva para desvendar os fatos e elucidar detalhes do maior esquema de corrupção governamental de que se tem notícia no Brasil, em todos os tempos.

Dia n°1 
14/maio/2005 A revista Veja chega às bancas de jornal. Traz a reportagem "O homem-chave do PTB". Transcreve trechos de uma fita de 114 minutos de duração, filmada e gravada por dois homens. O interlocutor deles, Maurício Marinho, chefe do Departamento de Contratação e Administração de Materiais da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), não sabe que uma câmera oculta registra todas as suas palavras.
O repórter de Veja, Policarpo Júnior, descreve a cena em que Marinho pega de um suposto empresário a propina – um maço de R$ 3.000 – e, sem conferi-lo, coloca-o no bolso esquerdo do paletó. É uma "aula de corrupção", afirma o repórter, que em outro trecho se refere aos "políticos desonestos que querem cargos apenas para fazer negócios escusos – cobrar comissões, beneficiar amigos, embolsar propinas, fazer caixa 2, enriquecer ilicitamente. Quem tem intimidade com o poder de Brasília sabe que esses casos não são a exceção – e em alguns bolsões de corrupção são até mesmo a regra".
O flagrante vai para o noticiário dos telejornais. As imagens chocam. Mostram Maurício Marinho, inspirado, que desanda a conversar. Ele conta detalhes dos bastidores políticos do governo do presidente Lula. O funcionário acha que está trocando ideias com dois empresários interessados em vender equipamentos de informática aos Correios. Vai logo dizendo: é preciso fazer "um acerto" para se tornar fornecedor dos Correios. De várias formas, explica:
- Dólares, euros, tem esquema de entrega em hotéis. Se for em reais, tem gente que faz ordem de pagamento, abre conta.
Maurício Marinho tranquiliza os interlocutores. O esquema é seguro:
- A gente procura agora ter muito cuidado com telefone, falar o mínimo possível.
E mais o seguinte:
- Uns têm escritório, a gente vai direto no escritório. Para evitar conversa, para evitar problema.
Os números: "os acertos" variam de 3% a 10% do total. Depende do negócio. E podem ser feitos no final do dia, ali mesmo, nos Correios:
- Vamos conversar mais ou menos às 18, depois das 18, que acabou o expediente e o pessoal vai embora. Fica só a secretária, depois vai embora também e acabou.
Agora, a política: o funcionário da estatal federal explica estar ali em defesa dos interesses do PTB. O partido, da base aliada do governo Lula, tem o deputado Roberto Jefferson (RJ) como presidente. Trechos da gravação:
- Nós somos três e trabalhamos fechado. Os três são designados pelo PTB, pelo Roberto Jefferson.
- É uma composição com o governo. Nomeamos o diretor, um assessor e um departamento-chave. Eu sou o departamento-chave. Tudo que nós fechamos o partido fica sabendo.
- O novo diretor é da nossa agremiação. Quem vai cobrir a Diretoria de Tecnologia é o Fernando Bezerra, líder do PTB no Senado, com o apoio do Roberto Jefferson.
Agora, sobre o deputado Roberto Jefferson:
- Ele me dá cobertura, fala comigo, não manda recado.
- Eu não faço nada sem consultar. Tem vez que ele vem do Rio de Janeiro só para acertar um negócio. Ele é doidão.
Na fita, Marinho revela que os achaques do PTB também ocorrem em outras empresas públicas. Cita Petrobras, Eletronorte e Infraero, todas estatais administradas pelo Governo Federal. Mas os negócios vão além, é garantido:
- Nós temos outras 18 empresas de porte nacional.
É sábado, mas a gravidade da denúncia publicada por Veja faz Lula convocar os ministros das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE), da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Na mesma noite, o ministro das Comunicações, a quem os Correios estão subordinados, divulga nota oficial: afasta Maurício Marinho e o superior hierárquico dele, Antonio Osório Batista, diretor de Administração. Antonio Osório Batista é um ex-deputado do PTB da Bahia, integrante da direção executiva do PTB. Fora nomeado por indicação de Roberto Jefferson.
Reação do presidente nacional do PT, José Genoino (SP):
- Essas coisas só não acontecem com o PT.


15/5/2005 Telefones não param de tocar em Brasília. Auxiliares do presidente Lula, nervosos, conversam com líderes da base aliada. De outro lado, o PTB cobra apoio a Roberto Jefferson. Quer solidariedade do governo. A mesma que recebeu o ministro José Dirceu, em fevereiro de 2004. Na época, uma outra fita de vídeo captou imagens e a conversa do assessor e braço direito de José Dirceu, Waldomiro Diniz. Ele pedia propina a "Carlinhos Cachoeira", um empresário do jogo. Em troca, oferecia facilidades em negócios com o Governo do Rio de Janeiro.
Detalhe: Roberto Jefferson já recebera um aval de Lula em 2004. Ocorreu num encontro, em outubro, para tratar de uma denúncia grave. Nas eleições daquele ano, o PT teria comprado, por R$ 10 milhões, o apoio eleitoral do PTB. Frase atribuída a Lula na ocasião:
- Você atravessou o oceano sozinho. Eu te daria um cheque em branco e dormiria tranquilo.
Atravessou o oceano sozinho? Tradução: não abriu a boca. Ou, no linguajar político da época: matou no peito, não envolveu mais ninguém.

3
16/5/2005 O ministro José Dirceu concede entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Afirma: o governo Lula "não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção". Rebate insinuações de fisiologismo:
- A indicação de pessoas de outros partidos não é prática fisiológica.
Dirceu se manifesta contra uma CPI para investigar corrupção nos Correios:
- O governo já tomou todas as providências que deveria tomar.
Na mesma linha, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), trata de minar a criação da CPI. Para ele, o teor da fita com as cenas e as declarações de Maurício Marinho é "uma história mal contada, uma coisa esquisita, até ridícula".

4
17/5/2005 Lula defende o deputado Roberto Jefferson em almoço com líderes da base aliada no Palácio do Planalto. Diz ser contra a CPI:
- Precisamos ter solidariedade com os parceiros, não se pode condenar ninguém por antecipação.
E insiste, para que todos ouçam, ao chamar para perto de si o líder do PTB na Câmara, deputado José Múcio (PE):
- Zé Múcio, diga ao Roberto Jefferson que sou solidário com ele. Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade. O Roberto Jefferson é inocente até prova em contrário. Quem tiver culpa no cartório que pague. Essa é a hora em que o Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não é.
Em discurso de 41 minutos no plenário da Câmara dos Deputados, Roberto Jefferson nega o esquema de corrupção nos Correios e diz que o PTB é tão ético quanto o PT. E ele, Jefferson, tão ético quanto o presidente do PT, José Genoino. Refuta a acusação de que o PTB é fisiológico, mas lista os cargos ocupados pelo partido no governo Lula:
- Temos a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil, a vice-presidência da Caixa Econômica Federal, uma diretoria da BR Distribuidora, da Embratur, da Eletronorte e da Eletronuclear, além das Delegacias de Trabalho do Rio e de São Paulo.
Para Roberto Jefferson, os R$ 3.000 recebidos por Maurício Marinho não eram propina, mas pagamento de uma consultoria.
- Ele não vendia nem comprava nada. Ele estava sendo contratado como consultor.
Sobre seu relacionamento com o funcionário, diz:
- Estive com ele três ou quatro vezes. Ele esteve uma vez no meu aniversário. Outra vez, no aeroporto. Esteve uma vez na liderança do partido. Mas nunca integrou nossos quadros e nunca recebeu delegação para pedir recursos a qualquer pessoa.
Agora, o relacionamento de Jefferson com o PT, por Jefferson:
- Houve uma conversa entre mim e o Genoino. Iríamos apoiar o PT em alguns Estados, e o PT, que segundo os jornais possuía um caixa de mais de R$ 120 milhões, iria transferir recursos para o PTB. Isso acabou não se concretizando. Genoino não pôde, disse que não dava para sustentar as suas campanhas, quanto mais as minhas. Não foi algo que ferisse a moral, a ética ou a boa relação republicana entre partidos.
Em seguida, fazendo um gesto teatral:
- Vou descer da tribuna e assinar o pedido de CPI. Nada temo. O PTB não se preocupa com investigação.
Comentário do líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP):
- Jefferson se saiu bem. Nem os opositores mais duros do governo questionam a ética do deputado.
Nos bastidores, porém, governo e aliados buscam evitar a abertura da CPI. O líder do PL na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), telefona para os colegas e apela para que não endossem as investigações. O líder do PT, deputado Paulo Rocha (PA), faz a mesma coisa. Diz Paulo Rocha:
- A CPI é um instrumento de disputa política que a oposição usa contra o governo.


18/5/2005 Em café da manhã com líderes partidários, Lula manifesta-se mais uma vez contra a CPI. Manda um recado, ao elogiar o ministro da Justiça, que também é o chefe da Polícia Federal:
- Todos sabem que o Márcio Thomaz Bastos tem credibilidade para apurar o caso dos Correios.
Na saída do mesmo encontro, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), um aliado do governo, desqualifica a CPI. Nas palavras dele:
- Todo mundo sabe como começa uma CPI, mas não sabe como termina. Além do mais, quem tem o poder de oratória do Roberto Jefferson sabe colocar bem as palavras. Ele provou que não tem nada para que possa ser condenado.
O apelo do presidente e os esforços da tropa de choque do governo não impedem a decisão dos parlamentares, contrária a deixar as investigações só nas mãos da Polícia Federal. A oposição protocola requerimento com o pedido de abertura de CPI. O documento recebe as assinaturas de 230 deputados e de 46 senadores, dos quais 101 deputados e 10 senadores aliados do Planalto.

Novos trechos da fita em que Maurício Marinho revelou a corrupção nos Correios são publicados nos jornais. Na gravação, o funcionário envolveu a Novadata, do empresário Mauro Dutra, o "Maurinho", amigo de Lula. Ele já atuara como arrecadador de dinheiro para campanhas do PT. A empresa, especializada em informática, fornecia computadores ao Governo Federal. Maurício Marinho referiu-se a uma operação favorecendo a Novadata em licitação. O diálogo começa com o interlocutor que gravava a conversa:
E a Novadata acertou daí direto com a diretoria...
- Foi direto com a diretoria.
Ou foi com você?
- Não, foi eu, o diretor e o Godoy. Mas como teve um negócio, era um negócio grande, o Godoy saiu... Veio até de São Paulo...
Maurício Marinho mencionou o diretor Antonio Osório Batista e um assessor dele, Fernando Godoy, também afastado devido ao escândalo. O diálogo prosseguiu com uma pergunta sobre a contratação da Novadata. Como se sabe, Marinho não tinha conhecimento de que estava sendo gravado:
Acertaram com o Osório direto então?
- Não, o Osório não acerta. É comigo ou com o Godoy.
O jornal Folha de S.Paulo denuncia os negócios da Novadata com o governo Lula. Renderam R$ 273,5 milhões em menos de dois anos e meio. Só com a Caixa Econômica Federal, vendas de R$ 95 milhões. Foram fechados três novos contratos com os Correios, por R$ 15,3 milhões. No quarto acerto com a Novadata, os Correios fizeram um aditivo e acrescentaram R$ 5,5 milhões a um contrato de R$ 98 milhões.
A denúncia assume contorno ainda maior: Lula passou o réveillon de 2001 na mansão de Mauro Dutra em Búzios (RJ), uma das praias mais badaladas do Brasil. Maurinho pôs avião à disposição de Lula.
Em outro trecho da gravação com a câmera escondida, Maurício Marinho trata das relações da Novadata com os Correios:
- Olha, no fornecimento de material, o mais forte é ele. Aqui no Correio, é. Computador, esses negócios, é a Novadata. Pelo menos nos últimos dois anos eles têm vencido quase todas aqui dentro.
Ainda Maurício Marinho, sobre uma licitação de "se não me engano R$ 60 milhões, coisa assim". "Eles", no caso, é a Novadata:
- Mas como eles perceberam que só estavam eles e eles achavam que podiam ganhar mais, falaram "olha, nós não vamos partir para abrir o processo, você dá como 'deserta' e marca uma outra abertura".
"Deserta", no linguajar dos certames públicos, é a licitação para a qual não se apresentam concorrentes. Tem de ser refeita. Diz Maurício Marinho:
- O preço inicial do computador que nós tínhamos colocado em R$ 3.700 na licitação, eles pediram para aumentar... Sabe para quanto foi a licitação, um item, eram quatro itens? Foi R$ 6.000. Olha que absurdo...
No discurso da véspera na Câmara dos Deputados, Roberto Jefferson chegou a denunciar um certo comandante Molina, que o teria procurado duas semanas antes da divulgação da fita, em nome do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Molina teria tentado vender a gravação clandestina, a mesma cujo teor fora publicado por Veja. Roberto Jefferson diz que recusou o negócio. Mas não o denunciou. O PMDB, por sua vez, negou qualquer envolvimento com a corrupção nos Correios. Pressionava o governo. Não queria problemas. Ameaçou Lula com CPI para investigar o caso Waldomiro Diniz. O comandante Molina foi inocentado.
Para entender: dentro do loteamento promovido pelo governo Lula, o PTB ficou com uma diretoria dos Correios, o PT com duas e o PMDB com três, incluindo a Financeira. E isso sem falar na indicação do próprio presidente dos Correios, o ex-deputado João Henrique de Almeida, também uma nomeação da cota do PMDB.
Aqui, cabe uma explicação: ao lotear estatais entre vários partidos, a administração Lula optou por trabalhar com as "porteiras abertas", o que tornou a gestão das empresas mais complexa. Se tivesse sido adotado o modelo de "porteiras fechadas", ou seja, se cada estatal fosse entregue em sua totalidade para a administração de um só partido da base aliada, este seria o responsável direto pelo que acontecesse, para o bem ou para o mal.
É por isso que desvendar os meandros do escândalo do mensalão se tornou tarefa complicada. Os acertos e as interações envolviam várias forças políticas e interesses diversos, que precisavam ser sempre contemplados, casando diferentes setores da administração, uns se sobrepondo a outros.
Mas voltemos ao ex-deputado João Henrique Almeida, o presidente dos Correios. Rapidamente, ele anuncia a suspensão de uma licitação suspeita. Não era para menos. Os detalhes de bastidores foram descritos na gravação clandestina com Maurício Marinho. O negócio de R$ 61 milhões pretendia viabilizar a aquisição de medicamentos para funcionários dos Correios. João Henrique Almeida também toma outra providência: impede o acesso de jornalistas à documentação sobre o processo de compra de remédios.
Na gravação, Maurício Marinho cita o diretor de Recursos Humanos dos Correios, Robinson Koury Viana da Silva, suplente do senador Ney Suassuna. Portanto, outro indicado do PMDB. O relato é rico, traz detalhes de uma parte da negociata tramada com o suplente de senador. Vale a pena:
- Todos os projetos dele, nós que fazemos o projeto básico. Mesmo no RH. O pessoal dele não tem muito trâmite no negócio, a gente monta, passa pra ele, aí ele chama o departamento e diz: "Eu quero isso". Mas ninguém sabe que é nós que estamos fazendo. Então o nosso negócio é assim. Tem uma licitação que vai ser... São 60 milhões em beneficiamento de saúde. (...) Fizemos tudo aqui. A decisão dele não conseguia desenrolar, desenrolar, um ano sentado em cima. Fechamos o projeto. Apareceram umas quatro empresas, deputado "a", senador "b", um rolo danado. "Meu amigo, o negócio é seu. Você quer que a gente trabalhe com quem?" Ele falou: "Infelizmente vou defender as quatro, porque as quatro virão através dos caciques e eu não posso fechar porta para ninguém". "Tudo bem, então vou colocar o preço com as quatro suas, entendeu, mando a carta, com toda a planilhinha, daquelas quatro". Fechei todo o processo, eram no mínimo três, tinha quatro, entendeu? (...) O processo está pronto. Tá pronto! Fechado, redondo. Ele adotou o recurso, o recurso é dele, da área dele, dos recursos humanos, do RH. Tá? Aí mandaram o processo de volta. O que nós fizemos chegou pra nós. Aí nós adotamos os nossos documentos, assinamos e pedimos autorização. O presidente, é acima de 650 mil, autorizou a abertura. Tá no comitê de análise. Saiu do comitê de análise, está sendo publicado. Dentro de poucos dias vocês vão ver aí na internet, tá lá, Diário Oficial. Agora, é um negócio grande. O que é que ele fez? Aí o acerto que a gente faz. Nesse tipo de negócio, ele que vai fechar, tem participação. Só que uma parte da participação vai vir pra nós. Entendeu? O negócio é dele, é capitaneado (inaudível o trecho da gravação)... Ele que levantou a bola, nós fizemos viabilizar o negócio dele. Só isso. Mas nós temos uma participação. Dessa participação dele, a gente passa para o nosso partido. Entendeu? Que é ele que me sustenta, segura a gente aqui.

8
21/5/2005 A revista Veja traz nova denúncia. Com o título "Mesada de R$ 400 mil para o PTB", a acusação de que Lídio Duarte, o presidente do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), uma estatal federal, vinha sendo pressionado a entregar R$ 400 mil por mês ao PTB. Um corretor de seguros, Henrique Brandão, agia em nome do deputado Roberto Jefferson e exigia a quantia do presidente do IRB.
A reportagem relata que Lídio Duarte ficou em dúvida, não sabia ao certo se Henrique Brandão falava mesmo em nome do PTB. A saída foi procurar Roberto Jefferson. A revista Veja documenta:
"Na conversa, Jefferson não deixou dúvidas: disse que era amigo de Henrique Brandão havia mais de 30 anos, repetiu que as despesas do partido eram altas e que precisava da colaboração financeira dos dirigentes indicados para seus cargos pelo PTB. Em outras palavras: quem tinha cargo tinha que roubar."
Eis a íntegra da transcrição da declaração de Lídio Duarte a Veja:
"A história é a seguinte: dizem que o partido tem despesas com o diretório, com as festas, com os jantares, com não sei o quê. Cada indicado tem de botar lá R$ 400 mil por mês, entendeu?"
Lídio Duarte pede demissão. Em seu lugar assume Luiz Appolônio Neto, sobrinho do deputado Delfim Netto (PP-SP), outro apadrinhado de Roberto Jefferson e tido também como ligado ao então deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), um ex-governador de São Paulo.
O IRB tem monopólio do mercado nacional de resseguros internacionais. Movimenta cerca de US$ 450 milhões por ano. Faz operações com 23 corretoras credenciadas, como a de Henrique Brandão. Escreve Veja:
"Apenas no primeiro ano, a corretora de Brandão abocanhou 10% de todos os seguros de embarcações e 20% dos de empresas aéreas. Desde 2003, nesse ambiente esplendorosamente favorável, os negócios de Brandão, o amigo de três décadas de Roberto Jefferson e empregador de seu genro, crescem a um ritmo de 25% ao ano."
Em declarações ao jornal O Estado de S. Paulo, Lídio Duarte afirma ter se recusado a fazer contratações de apaniguados políticos. A pedido de Jefferson, recebeu deputados do PTB como Nelson Marquezelli (SP) e Elaine Costa (RJ), que solicitaram nomeações para pessoas do seu círculo de influência:
- Expliquei que isso não era possível, porque no IRB todos os funcionários são de carreira, todos concursados.
A regra do concurso público não vale, como se verá, para os cargos de alta direção no IRB. Em outra reportagem, o Estadão informa que os principais postos da estatal estão loteados entre PTB, PT, PMDB e PP. O jornal destaca o papel exercido por Luiz Eduardo Lucena, indicação do PP, na Diretoria Comercial do IRB:
"Com tanta autonomia, o apadrinhado do PP chegou a manipular, em média, R$ 300 milhões em contratos, que geraram R$ 21 milhões de comissões de corretagem."

9
22/5/2005 O ministro Márcio Thomaz Bastos anuncia a abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar denúncias de corrupção no IRB. O governo Lula quer convencer parlamentares e a opinião pública de que já toma as providências necessárias. Não quer apurações políticas em âmbito do Congresso. Do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP):
- O governo está investigando, orientando e estimulando a investigação pela Polícia Federal, Controladoria-Geral da União etc. Evidente que nessas circunstâncias uma CPI não é necessária. Cabe aos líderes da base continuar a discutir com suas bancadas.
Lula segue em viagem de uma semana para a Coreia do Sul e o Japão. Durante o voo, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, traduz o sentimento do presidente aos jornalistas que estão a bordo:
- Esta lista de assinaturas da CPI é muito clara. Vai acabar o pão-de-ló e o cafuné para quem quiser jogar contra o governo. Tem de acabar essa conversa de verba, de obra. Essa conversa não vamos mais ter com quem não for do governo, no ônus e no bônus.

11
24/5/2005 O deputado Roberto Jefferson reage a declarações do presidente do PT, José Genoino, segundo as quais o governo precisava "requalificar" a base de apoio no Congresso Nacional:
- Genoino disse que o PT não empurra lixo para debaixo do tapete. Todos sabem que empurra.
Roberto Jefferson diz que o partido de Lula é traiçoeiro. Compara-o à fábula do escorpião que pede ao sapo para atravessar o rio em suas costas. Promete não picá-lo, mas trai. Não consegue contrariar a própria natureza. Os dois morrem afogados.
- O PTB é o sapo.
O presidente do PTB confidencia que os ministros José Dirceu e Aldo Rebelo (PC do B-SP), das Relações Institucionais, estiveram em sua própria casa no dia anterior.
- Eles só faltaram se ajoelhar para pedir a retirada das assinaturas.
No caso, a retirada das assinaturas que endossavam a criação da CPI dos Correios. E, com ironia:
- Mas a CPI que pega o governo, com 18 estatais, com tentáculos enormes, vamos trazer aqui o tesoureiro do PT, o segundo tesoureiro, o "Silvinho", vamos trazer o Dirceu. Ah!, essa é importante...
Mas Roberto Jefferson acabará retirando a sua assinatura do pedido de criação da CPI dos Correios. Vai se arrepender amargamente, como se verá.

12
25/5/2005 Em sessão tumultuada, o Congresso cria a CPI dos Correios. 236 deputados e 52 senadores assinam o requerimento que autoriza a investigação, bem mais do que o número mínimo necessário, de 171 deputados e 27 senadores. A derrota do governo é expressiva porque 14 deputados e um senador do PT votam pela instalação da comissão.

13
26/5/2005 Outra empresa na área de influência do PTB vai parar nos jornais. A Folha de S.Paulo publica que a Eletronuclear, uma subsidiária da Eletrobrás, recomendou a contratação da corretora Assurê Corretagem de Seguros. É a empresa de Henrique Brandão, o amigo de Roberto Jefferson, escolhida para intermediar um seguro de US$ 3,6 milhões das Usinas Angra 1 e 2, em 2004. O negócio teria rendido US$ 360 mil a Brandão.
A recomendação foi feita pela Eletronuclear, por meio de carta à Bradesco Auto-Re, do grupo Bradesco, que vencera uma licitação. Carlos Padilha, diretor de Administração e Finanças da Eletronuclear, assinou a carta recomendando a Assurê. Filiado ao PT, Carlos Padilha é ex-prefeito de Angra dos Reis (RJ).
Já o diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear, Luiz Rondon Teixeira Magalhães Filho, foi nomeado pelo PTB. O principal assessor dele, Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, é genro de Roberto Jefferson e mantém relações com Henrique Brandão. A Assurê contribuiu para a campanha da vereadora Cristiane Brasil Francisco, filha de Jefferson, à Câmara Municipal do Rio. Deu R$ 70 mil em dinheiro. O próprio Brandão, em pessoa, apareceu na relação de doadores, com R$ 10 mil.

15 
28/5/2005 A revista Veja traz depoimento do líder do governo Lula no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN). A história é reveladora. O senador queria emplacar um afilhado político, Ezequiel Ferreira de Souza, no cargo de diretor de Tecnologia dos Correios. Mas de nada valeram os compromissos e as promessas, ou o esforço de Fernando Bezerra. O caso envolveu um personagem importante da crise, o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, o "Silvinho". Diz o senador:
- No início do ano estive com o Silvio Pereira. Eu disse a ele que o governo tinha um compromisso comigo que não havia sido cumprido. Silvio respondeu que havia uma diretoria dele nos Correios, a de Tecnologia, e que poderia colocar o Ezequiel lá.
Fernando Bezerra informa que o assunto ficou de ser encaminhado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Pouco tempo depois, o senador recebeu telefonema do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG). A pedido dele, Fernando Bezerra apresentou o afilhado ao ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Diz Fernando Bezerra:
- Fiquei surpreso quando a conversa começou. Eunício disse que não poderia nomeá-lo naquele momento e que precisaria de uma semana ou uma semana e meia. A justificativa de Eunício é que não ficava bem para ele nomear o Ezequiel sem resolver as questões de nomeação nos Correios do PMDB. Eu disse a ele que esse cargo, a Diretoria de Tecnologia, havia sido prometido ao Ezequiel por Lula, na frente do Roberto Jefferson e do Fleury. O cargo prometido ao Ezequiel era do PT. O PMDB não tinha nada a ver com isso. Saí de lá e liguei para o José Dirceu. Ele me disse que a nomeação era uma ordem do presidente e que ela iria sair.
Não saiu. O que chegou ao senador, conforme a sua própria explicação, foi uma carta anônima:
- A nota dizia que a nomeação não sairia porque havia uma licitação no valor de US$ 56 milhões. A carta dizia também que a licitação tinha um sobrepreço de 20%.
Para a revista Veja, a nomeação "atrapalharia uma licitação fraudulenta dirigida por Eduardo Medeiros, diretor de Tecnologia dos Correios e homem ligado ao PT". E mais: a fim de viabilizar a licitação para a compra de kits de informática destinados aos Correios, o diretor Eduardo Medeiros e um assessor dele, Edilberto Petry, "estavam definindo especificações dos equipamentos sob orientação da Novadata, empresa pertencente a Mauro Dutra, o amigo de Lula".
Após receber a carta anônima, o senador Bezerra encontrou o ministro das Comunicações num jantar em Brasília. Ouviu de Eunício Oliveira:
- Procure ver as verdadeiras razões para o veto ao Ezequiel na Casa Civil.

17
30/5/2005 O Jornal Nacional, da TV Globo, divulga informações da CGU (Controladoria-Geral da União), que descobriu um contrato fraudulento de R$ 8 milhões para os Correios comprarem 1.500 cofres. Foi Maurício Marinho quem fez o "acerto". Os cofres são menores do que os previstos no contrato. Em troca, teria havido um "desconto".

22
4/6/2005 Mais um petardo contra o presidente do PTB. A revista Época estampa, na capa: "O laranja de Roberto Jefferson". Documenta a história do dono de uma pequena sorveteria de beira de estrada, em Cabo Frio (RJ). Foi motorista, segurança e funcionário de gabinete de Jefferson.
Ex-camelô, Durval da Silva Monteiro enfrenta problema para pagar a conta de luz da sorveteria. O pequeno estabelecimento tem 25 metros quadrados, mas o sorveteiro "ganhou" duas emissoras de rádio de Jefferson, suspeito de ser o verdadeiro dono dos negócios. Uma das emissoras, a Rádio Matozinho FM, de Três Rios (RJ), não rendeu um centavo a Durval em 20 anos. Sobre a outra, em Paraíba do Sul (RJ), o sorveteiro não tinha sequer informações. Não fazia nem ideia de que era um dos donos do negócio. Trecho da entrevista publicada em Época traz a reação do sorveteiro:
- Rádio Clube Vale do Paraíba? Eu não sou sócio dela não. Isso aí é um troço novo para mim. Rádio Clube Vale do Paraíba... Vou lá buscar ela! Quero um pedaço dela já, já. Essa rádio eu até acho que era sócio dela também.

24
6/6/2005 Entrevista-bomba de Roberto Jefferson. O deputado denuncia para a Folha de S.Paulo a existência do mensalão. O Brasil não será mais o mesmo. "PT dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson", é a manchete de primeira página. A entrevista, concedida à jornalista Renata Lo Prete, põe Brasília em polvorosa.
O presidente do PTB cita o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, homem da cúpula petista e da confiança do presidente Lula. Acusa-o de dar dinheiro a representantes do PP e do PL, em troca de apoio ao governo no Congresso. Jefferson relata o diálogo que manteve com o ex-presidente do PTB, José Carlos Martinez, morto em acidente aéreo, em outubro de 2003:
- Um pouco antes de o Martinez morrer, ele me procurou e disse: "Roberto, o Delúbio está fazendo um esquema de mesada, um mensalão, para os parlamentares da base. O PP, o PL, e quer que o PTB também receba. R$ 30 mil para cada deputado. O que você me diz disso?" Eu digo: "Sou contra. Isso é coisa de Câmara de Vereadores de quinta categoria. Vai nos escravizar e vai nos desmoralizar".
Em outro trecho, Roberto Jefferson conta que Delúbio Soares manteve contato com o líder do PTB na Câmara dos Deputados, José Múcio (PE):
- Final de dezembro, início de janeiro, o doutor Delúbio o procura: "O Roberto é um homem difícil. Eu quero falar com você. O PP e o PL têm uma participação, uma mesada, eu queria ver se vocês aceitam isso". O Múcio respondeu que não poderia tomar atitude sem falar com o presidente do partido.
Em seguida, Roberto Jefferson menciona uma reunião entre os deputados Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Pedro Henry (PP-MT), para pressionar José Múcio:
- "Que que é isso? Vocês não vão receber? Que conversa é essa? Vão dar uma de melhores que a gente?" Aí o Múcio voltou a mim. Eu respondi: "Isso desmoraliza. Tenho 22 anos de mandato e nunca vi isso acontecer no Congresso Nacional".
Roberto Jefferson diz à jornalista Renata Lo Prete ter procurado o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG):
- No princípio de 2004, liguei para o ministro Walfrido e disse que precisava relatar algo grave. Conversamos num voo para Belo Horizonte. "Walfrido, está havendo essa história de mensalão". Contei desde o Martinez até as últimas conversas. "Em hipótese alguma. Eu não terei coragem de olhar nos olhos do presidente Lula. Nós não vamos aceitar".
O deputado diz que passou por "brutal pressão", pois os parlamentares do PTB sabiam que os colegas do PL e do PP recebiam o mensalão.
- Fui ao ministro Zé Dirceu, ainda no início de 2004, e contei: "Está havendo essa história de mensalão. Alguns deputados do PTB estão me cobrando. E eu não vou pegar. Não tem jeito". O Zé deu um soco na mesa: "O Delúbio está errado. Isso não pode acontecer. Eu falei para não fazer". Eu pensei: vai acabar. Mas continuou.
Agora, o diálogo de Roberto Jefferson com o ministro Ciro Gomes (PSB-CE), da Integração Nacional:
- Lá para junho eu fui ao Ciro Gomes. Falei: "Ciro, vai dar uma zebra neste governo. Tem um mensalão. Hoje eu sei que são R$ 3 milhões, R$ 1,5 milhão mensal para o PL e para o PP. Isso vai explodir". O Ciro falou: "Roberto, é muito dinheiro, eu não acredito nisso".
- Aí fui ao ministro Miro Teixeira, das Comunicações. Levei comigo os deputados João Lyra e José Múcio. Falei: "Conte ao presidente Lula que está havendo o mensalão". Nessa época o presidente não nos recebia. Falei isso ao Aldo Rebelo, que então era líder do governo na Câmara.
A quem mais no governo o senhor denunciou a situação?
- Disse ao ministro Palocci: "Tem isso e é uma bomba". Fui informando a todos do governo a respeito do mensalão. Me recordo inclusive de que, quando o Miro Teixeira, depois de ser ministro, deixou a liderança do governo na Câmara, ele me chamou e falou: "Roberto, eu vou denunciar o mensalão. Você me dá estofo?" Eu falei: "Não posso fazer isso. Vamos abortar esse negócio sem jogar o governo no meio da rua. Vamos falar com o presidente Lula que está havendo isso". Me recordo até que o Miro deu uma entrevista ao Jornal do Brasil denunciando o mensalão e depois voltou atrás.
- No princípio deste ano, em duas conversas com o presidente Lula, na presença do ministro Walfrido, do líder Arlindo Chinaglia, do ministro Aldo Rebelo, do ministro José Dirceu, eu disse ao presidente: "Presidente, o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira. Ele continua dando mensalão aos deputados". "Que mensalão?", perguntou o presidente. Aí eu expliquei ao presidente.
Qual foi a reação dele?
- O presidente Lula chorou. Falou: "Não é possível isso". E chorou. Eu falei: "É possível sim, presidente". Estava presente ainda o Gilberto Carvalho.
- Toda a pressão que recebi neste governo, como presidente do PTB, por dinheiro, foi em função desse mensalão, que contaminou a base parlamentar. Tudo o que você está vendo aí nessa queda-de-braço é que o mensalão tem que passar para R$ 50 mil, R$ 60 mil. Essa paralisia resulta da maldição que é o mensalão.
Isso não existia também no governo passado?
- Nunca aconteceu. Eu tenho 23 anos de mandato. Nunca antes ouvi dizer que houvesse repasse mensal para deputados federais por parte de membros do partido do governo.
O que, em sua opinião, levou a essa situação?
- É mais barato pagar o exército mercenário do que dividir o poder. É mais fácil alugar um deputado do que discutir um projeto de governo. É por isso. Quem é pago não pensa.
O que fez o presidente Lula diante de seu relato?
- Depois disso parou. Tenho certeza de que parou, por isso está essa insatisfação aí. Ele meteu o pé no breque. Eu vi ele muito indignado. Pressão, pressão, pressão, pressão. Dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, todo mundo tem, todo mundo tem. Acho que foi o maior erro que o Delúbio cometeu.
Para Jefferson, "o governo agiu para isolar o PTB", para "circunscrever a desonra ao PTB". Ele não perdoa o discurso em que José Genoino falou em "requalificar" a base de apoio ao governo:
- O PTB é uma base desqualificada. Foi isso que afetou. Não segurou ninguém. Não são parceiros, não são solidários.
Ele prossegue:
- Eu sempre disse aos meus companheiros, e eles são testemunhas desde o início, o PT não tem coração, só tem cabeça. Ele nos usa como uma amante e tem vergonha de aparecer conosco à luz do dia. Nós somos para o PT gente de segunda, eu sempre me senti assim. A relação sempre foi a pior possível.
E mais:
- Você não pode confiar, o que está fechado não está fechado. Tudo o que é dito não é cumprido. Toda a palavra que é empenhada não é honrada. O PT esgarçou, esgarçou, esgarçou a minha autoridade como presidente do PTB, porque prometeu e não cumpriu. O pior foi na eleição, o que o Genoino fez comigo. Ele e o seu Delúbio.

Em outra parte da entrevista à Folha, o presidente do PTB responde a denúncias sobre o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Relata encontro com o presidente da estatal, Lídio Duarte:
- Por volta de agosto de 2004, eu o chamei ao meu escritório no Rio e disse: "Quero que você me ajude, procurando essas pessoas que trabalham com o IRB, para fazerem doações ao partido nesta eleição, porque estamos em situação muito difícil". Ele ficou de tentar. Em setembro, ele voltou a mim e disse: "Deputado, não consegui que as doações sejam por dentro, com recibo. Querem dar por fora, e isso eu não quero fazer". Eu falei: "Então não faça".
Jefferson conta que Lídio Duarte aproximou-se de Luiz Eduardo de Lucena, diretor Comercial do IRB, indicado para o cargo pelo líder do PP na Câmara, deputado José Janene (PR). Instala-se uma queda-de-braço entre PTB e PP:
- O Palocci conversa comigo e diz o seguinte: "Roberto, vamos fazer uma saída por cima. Nós temos o diretor Administrativo, um homem de altíssimo gabarito, o Appolônio Neto, sobrinho do Delfim Netto, fez um dos melhores trabalhos de modernização do IRB. A gente passa o Appolônio como sendo do PTB, e ele sendo sobrinho do Delfim, que é do PP, e a gente resolve a situação". Eu falei: "Não sou problema, está dada a solução". O doutor Appolônio foi uma indicação salomônica do ministro Palocci.
O presidente do PTB também reclama que o PT, com 20% da base, responde pela indicação de 80% dos cargos:
- Mesmo o IRB: o PTB tem a presidência, mas todos os cargos são do PT. A Eletronorte: o presidente, doutor Roberto Salmeron, é um dos melhores quadros do PTB. Mas, de novo, toda estrutura abaixo é do PT. O diretor mais importante, o de Engenharia, é o irmão do ministro Palocci.

O escândalo do mensalão explode em Brasília. O ministro das Relações Institucionais, escalado pelo Palácio do Planalto, comenta a entrevista de Roberto Jefferson. Admite que Lula fora informado por Jefferson do suposto pagamento de mesadas a deputados do PL e do PP, em 23 de março de 2005. Nervoso, Aldo Rebelo (PC do B-SP) afirma:
- É bom deixar claro que não há nenhuma acusação que relacione o pagamento a parlamentares por parte do governo. A denúncia do deputado Roberto Jefferson refere-se ao hipotético pagamento de um partido a parlamentares de outros partidos. O governo não sofreu qualquer tipo de acusação.
O ministro confirma a reunião em que Jefferson levou o assunto ao presidente da República. Estavam presentes, entre outros, o ministro Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG), os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP), José Múcio (PTB-PE) e ele próprio, Aldo Rebelo. Diz Aldo:
- De passagem, durante essa conversa, Jefferson fez referência ao pagamento a parlamentares na Câmara... Jefferson não fez referências nem a fatos nem a pessoas, fazendo apenas um comentário genérico.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), confirma que Lula foi avisado por Jefferson. E também menciona a reunião de 23 de março:
- Nenhum dos presentes tratou aquilo como denúncia, nem discutiu o assunto na reunião. Depois, Lula chamou Aldo e Chinaglia e perguntou se havia comentários sobre isso na Câmara. Não houve denúncia, apenas o relato de boato.

O deputado Miro Teixeira (RJ), que se desligara do PT e voltara ao PDT, confirma os relatos feitos por Jefferson e põe mais lenha na fogueira:
- O relato do Roberto Jefferson foi mais amplo. Não posso relatar em detalhes, pois não tenho elementos de prova. Mas ele descreveu uma cena de corrupção em um ambiente ministerial, a que ele assistiu.
A "cena de corrupção", como definiu Miro Teixeira, tinha, segundo Jefferson, um ministro, representantes de três partidos e um diretor de departamento. Ocorreu num ministério e, na ocasião, o integrante de um partido deu dinheiro a outro, de outra legenda. Quando ouviu o relato de Jefferson, Miro Teixeira era ministro das Comunicações de Lula. Reação de Miro Teixeira, segundo ele mesmo:
- Vamos agora ao presidente da República.
Miro Teixeira afirma que Jefferson se recusou e que, sem provas, teria sido irresponsável se encaminhasse a denúncia. O Jornal do Brasil publicou reportagem sobre o assunto em 24 de setembro de 2004. Mas Miro Teixeira, fonte da notícia, não deu sustentação posterior às informações. O caso não foi investigado pela Câmara dos Deputados.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), também testemunha: aliados do governo Lula procuraram dois deputados federais goianos e ofereceram mesada para que trocassem de partido.
- Foi um assédio. Era para trocar de partido, sair do PSDB e ir para a base do governo, por uma mesada de R$ 40 mil por mês e R$ 1 milhão por ano de bônus.
O mais grave: o governador conta que relatou o caso ao presidente da República em 5 de maio de 2004, durante uma visita de Lula a Rio Verde (GO). Segundo Marconi Perillo, Lula reagiu como se não soubesse, disse que iria apurar e responsabilizou o governo passado, período no qual, conforme Lula, esse tipo de expediente teve início. O governador não aceitou:
- Eu retruquei. Disse que estava falando do que estava acontecendo no governo atual, no governo dele.

O ministro Ciro Gomes (PSB-CE) confirma a procedência das denúncias de Roberto Jefferson:
- É fato que, há um ano, ele esteve na minha sala e, numa conversa, disse que havia um boato de que haveria essa prática de dinheiro para uma fração de parlamentares que, segundo mencionou, estavam no PL e no PP.
Para Ciro Gomes, porém, não existiam provas do esquema:
- Perguntei se ele tinha dados mais objetivos, que me obrigassem a tomar alguma atitude de levar adiante a informação. Ele não tinha.

O ministro Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG) ouviu por duas vezes os "boatos de mesadas" feitos por Roberto Jefferson. Ele confirma que testemunhou a reunião de 23 de março, da qual Lula participou:
- Ele falou no final da reunião, disse que tinha boatos sobre um mensalão, mas ficou nisso. Logo depois fomos embora.
Aqui, claramente, o ministro do Turismo, importante aliado de Jefferson, posiciona-se de forma a minimizar a denúncia e a proteger Lula. E será recompensado no segundo mandato do presidente da República, no qual ocupará, durante um período, o cargo de ministro das Relações Institucionais.

O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), vem a público para dizer que somas em dinheiro eram distribuídas de forma aberta durante almoços mensais realizados em restaurantes de Brasília. Descreve que tomou conhecimento do esquema por intermédio de 15 parlamentares, com os quais conversou.
- O dinheiro chegaria em uma mala, e os pacotes eram distribuídos.

De forma reservada, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) avaliam que, em tese, Lula pode sofrer processo de impeachment, por crime de responsabilidade. O presidente da República teria prevaricado se ficar provado que, informado a respeito da existência do mensalão, não tomou providências para investigar as denúncias.
Declaração do jurista Fábio Konder Comparato, presidente da Comissão de Defesa da República e da Democracia, um conceituado advogado:
- A rigor, se ficar comprovado o ato de corrupção, há várias implicações penais. Configura, inclusive, o crime de responsabilidade por parte do presidente, o que o sujeita a impeachment.
Fábio Konder Comparato acrescenta, a respeito de Lula:
- Ele, de qualquer maneira, estava ciente e mandou prosseguir, ou ficou ciente e, como diz Jefferson, mandou frear a coisa, mas não tomou providências para apurar responsabilidades.

O PPS (Partido Popular Socialista) inicia processo de coleta de assinaturas para criar a CPI do Mensalão. Em decorrência da crise, o apadrinhado de Roberto Jefferson na presidência da Eletrobrás, Roberto Salmeron, demite-se do cargo. Outra consequência do escândalo: o assessor dos Correios, Fernando Godoy, já afastado, é indiciado pela Polícia Federal.
Enquanto isso, aparentemente alheio à gravidade dos fatos, o PT trata de emitir nota em que nega a existência do mensalão. E seu presidente, José Genoino, manifesta-se mais uma vez contrário à CPI dos Correios. A essa altura, a comissão já é fato consumado. O PT sabe disso e toma providências para blindar o tesoureiro Delúbio Soares. Proíbe-o de dar entrevistas e o isola na sede do partido, em São Paulo. O tesoureiro só sai de lá à noite, apressado. O carro dele é escoltado por duas motocicletas.
Apreciador de charutos cubanos, Delúbio Soares usa carro blindado, tem intimidade com Lula e o comando do PT. Em 2004, contudo, foi denunciado por comprar propriedade rural em Goiás com dinheiro vivo. No mesmo ano pediu que o Banco do Brasil comprasse 70 ingressos por R$ 1.000 cada um, para um show musical. Detalhe: a arrecadação serviria para comprar uma nova sede para o PT. Denunciada, a operação foi desfeita.

25
7/6/2005 Acuado, Lula determina a demissão de diretores do IRB, dos Correios e solicita ao PT o afastamento do tesoureiro Delúbio Soares. Contrariado, José Genoino trata de defender o que chama de "patrimônio ético" do partido. E diz que o assunto mensalão jamais circulou na legenda:
- O que aconteceu com o Delúbio? Uma denúncia falsa e mentirosa.
O secretário-geral do partido, Silvio Pereira, o "Silvinho", descarta investigação sobre as atividades de Delúbio Soares:
- Não há necessidade. Não há nada contra ele. No mesmo tom, Paulo Ferreira, secretário de Relações Internacionais do PT:
- Delúbio é quadro de confiança e seu afastamento não está em pauta.
O tesoureiro permanece recluso, protegido da imprensa. No final do dia, deixa a sede do PT apressado, mais uma vez. Agora, abaixado no banco de trás de um carro, com vidros escuros. Outro veículo, para despistar, deixara o local pouco antes, pretendendo confundir os jornalistas. Coisa de máfia.
Declaração da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL). A ex-petista diz que o governo Lula entregou a máquina pública "para ser parasitada por delinquentes de luxo":
- Tenho absoluta convicção de que ninguém da cúpula palaciana do PT age isoladamente na montagem dos crimes contra a administração pública. Se Delúbio, Waldomiro e outros, entre aspas, quadros partidários agiam, é porque havia autorização e leniência do presidente Lula. Pelo que eu conheço do PT, não existe atuação individual.

26
8/6/2005 O tesoureiro Delúbio Soares, com um broche do PT no peito, concede entrevista. Fala a um batalhão de jornalistas. Não convence. Apesar de orientado por advogados e pela cúpula do PT, Delúbio está nervoso, usa frases de efeito, evasivas, e não responde a parte das perguntas. Diz Delúbio:
- Nós não aceitamos chantagem. Não me prejulguem pela versão de uma chantagem porque o Brasil é maior do que essas acusações. Estou muito indignado. Estão tentando chantagear não só o PT, mas também o governo e também o Congresso. O PT não se rende e não se vende.
Perguntado sobre suas idas ao Palácio do Planalto, sede do Governo Federal, apesar de não ter cargo público, o tesoureiro diz:
- Lá estive várias vezes, para tratar dos assuntos de interesse do PT. É isso que aconteceu.
A respeito da entrega de dinheiro a partidos da base aliada:
- O PT participou, no ano passado, de campanha eleitoral. Os acordos eleitorais foram tratados entre os partidos. O PT e os partidos da base aliada fizeram acordos que foram traduzidos em apoio aos candidatos nos municípios. Isso foi feito em comum acordo entre os partidos.
Delúbio Soares responde acerca da ligação com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), cujo partido foi citado por Roberto Jefferson como um dos beneficiários do mensalão:
- Não tenho nenhuma restrição, o presidente do PL tem sido uma pessoa correta. Não tenho nenhum problema de encontrar o presidente do PL, seja na minha casa, seja no escritório do PT, seja na sede do PT ou em Mogi das Cruzes, onde fui visitá-lo, em apoio ao candidato do PL naquela cidade.

A Polícia Federal investiga denúncias de extorsão praticadas por Maurício Marinho nos Correios. Um dos dez empresários que prestaram depoimento, Haroldo Cláudio, dono de uma empresa de calçados, disse que recebeu proposta para pagar R$ 350 mil de propina. Se desse o dinheiro, ganharia licitações na estatal. Segundo o empresário, Maurício Marinho disse que os valores iriam para o PTB.

27
9/6/2005 O Congresso instala a CPI dos Correios. O deputado Sandro Mabel (PL-GO) nega ter proposto à deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) que deixasse a oposição e ingressasse na base aliada do governo, em troca de mesada de R$ 30 mil e bônus de R$ 1 milhão. Sandro Mabel admite ter conversado com Raquel Teixeira, mas nega que ofereceu dinheiro. E envolve o vice-presidente da República, José Alencar (PL-MG):
- A deputada uma vez me procurou e disse: "Sandro, estou querendo ter mais espaço". Até havia uma assessora dela. Eu falei: "Raquel, o PL está sempre de portas abertas". José Alencar já tinha falado isso para ela. Estamos precisando de mulher. Agora, financeiro? Recusamos 15 parlamentares em um ano, vamos dar recursos financeiros para quê? Em primeiro lugar, não temos nem recursos.

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10/6/2005 A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) divulga nota oficial para explicar que o recém-afastado presidente dos Correios, João Henrique Souza Almeida, integrante da cota do PMDB no governo Lula, vai ser intimado a depor e poderá responder a processo por prevaricação e improbidade administrativa. Motivo: antes do escândalo nos Correios vir a público, João Henrique Almeida recebeu prazo para afastar Maurício Marinho da estatal e relatar à Polícia Federal atividades supostamente ilícitas do funcionário. Não o fez. A Abin esclarece que havia infiltrado agentes entre empresários descontentes, porque recebeu informações sobre a ocorrência de fraudes em licitações nos Correios.

29
11/6/2005 Nova gravação clandestina com diálogos mantidos por Maurício Marinho chega à imprensa. Desta vez, é divulgada na Folha de S.Paulo. Investigações sugerem disputas comerciais como causa das escutas. As conversas revelam tentativas de extorquir empresários que desejavam firmar contratos para fornecer bens e serviços aos Correios.
A fita segue o mesmo padrão da anterior. Marinho recebeu em sua sala interlocutores supostamente ligados a empresários, interessados em negócios com os Correios. Sem saber que estava sendo gravado, uma vez mais mencionou seus contatos com o deputado Roberto Jefferson e com Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira, o genro de Jefferson e assessor da diretoria da Eletronuclear. Trecho do diálogo, que começa com o interlocutor:
Eles querem garantir a condição deles dentro dos Correios. É mais do que importante, é vital até, para essa empresa. E queriam saber daí de você, de mim, me disseram, "olha, Joel, vê se é ele mesmo a pessoa".
- Nós estamos conversando aqui. Eu vou sair daqui ainda hoje e vou direto para o diretor, tá?
O que eu precisava saber de você... Mas isso bem exato e prático. Quais seriam os valores, incluindo a diretoria. Porque aí eu acerto com você as coisas, e você faz essa distribuição.
- Normalmente é feito isso, todo negócio é acertado... Tem algo que sobe, né?, e um "x" que fica embaixo. Isso é acertado assim.
Sim, mas você me deixa numa condição meio tranquila, porque efetivamente você tem essa condição de negociação.
- Tenho. O que for acertado... O que for fechado é o que sobe.
Para ficar claro: o que "sobe" é a propina endereçada ao diretor dos Correios que autoriza o contrato. O que fica "embaixo" é a comissão para Maurício Marinho, por ter encaminhado o negócio.

"O PT assombra o Planalto", diz o título de reportagem de Veja. A revista afirma que o mensalão, no valor de R$ 30 mil, é pago "para um plantel estimado de uns 90 deputados, o que daria cerca de R$ 2,7 milhões mensais". Informa ter conversado com três ministros, cinco deputados e um senador, e que "todos confirmaram, com a condição de não ter a identidade revelada, a existência do mensalão". Afirma que os nove políticos pertencem ao PT, PMDB, PSB, PP e PFL. "Esses políticos contam que Delúbio desembarcava em Brasília com o dinheiro e se dirigia à residência dos líderes e presidentes de partidos para fazer a distribuição".
A revista Veja publica declaração de um deputado petista que pede para não ser identificado. Segundo ele, o PT despreza o Congresso:
- O PT acredita que é um poder burguês. Por isso, acha que lá só tem corrupto e que o jeito mais fácil de controlá-lo é com dinheiro.

O jornal O Estado de S. Paulo denuncia: Delúbio Soares, o tesoureiro do PT, é funcionário fantasma. Professor de matemática da Secretaria de Educação de Goiás, recebe salário mas não vai trabalhar. Está licenciado, com remuneração mensal de R$ 1.242,56, para prestar serviços ao sindicato da categoria, em Goiânia. Mas há cinco anos Delúbio responde pelas finanças do PT e vive no eixo São Paulo-Brasília, bem distante de Goiás. Antes disso, foi secretário sindical do PT por cinco anos, e tampouco prestou serviços ao sindicato. Delúbio costuma se apresentar, falsamente, como professor aposentado.

30
12/6/2005 Nova entrevista do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) à repórter Renata Lo Prete, da Folha de S.Paulo. Traz denúncias contra o governo Lula, auxiliares do presidente, integrantes da base aliada no Congresso, representantes do PT. E introduz um novo personagem à opinião pública: o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Roberto Jefferson explica a origem do dinheiro do mensalão:
- Vem de operações com empresas do governo e com empresas privadas.
Que operações?
- Transferência de dinheiro à vista. Esse dinheiro chega a Brasília, pelo que sei, em malas. Tem um grande operador que trabalha junto do Delúbio, chamado Marcos Valério, que é um publicitário de Belo Horizonte. É ele quem faz a distribuição de recursos. Sei que o deputado José Janene é um dos operadores. Ele vai na fonte, pega, vem, é tido como um dos operadores do mensalão. Inclusive eu já vi o ministro Zé Dirceu muito irritado com ele porque ele se apresentava como "operador do Zé Dirceu". Ele também é um dos homens que constroem o caixa para repartição entre deputados do PP e do PL.
Qual era exatamente o papel de Marcos Valério?
- Ele é operador do Delúbio, desde o início do governo. O Janene faz a mesma operação. É de conhecimento notório.
O senhor poderia citar nomes de deputados que recebiam essa remuneração mensal?
- Isso eu vou deixar para a imprensa investigar. Mas eu sei que as direções do PP e do PL recebiam. Não é segredo. Eles insinuaram isso para o Zé Múcio, que não quis entrar.
Outro trecho:
- Se você perguntar: "Tem provas? Fotografou? Gravou?" Não. Mas era conversa cotidiana na Câmara a repartição de mesada entre os deputados da base aliada, em especial o PL e o PP. Nunca ouvi falar do PMDB, e tenho certeza de que os deputados e os senadores do PT jamais receberam isso.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já anunciou a decisão de processá-lo.
- É um direito dele. Na colocação que fiz, eu o atingi duramente. Ele tem o direito democrático de me processar.
Houve problema de dinheiro entre PT e partidos da base na campanha municipal?
- Eu e o líder Zé Múcio acalmamos nossa base dizendo o seguinte: o PTB não vai ter mensalão, que desmoraliza e escraviza o deputado, e nas eleições a gente compõe com o PT uma troca de apoio e pede o financiamento para candidaturas que nós entendemos que devemos ganhar. Foi pedida ao PTB, pelo José Genoino, uma planilha por Estados de campanhas a prefeito que o PT financiaria para nós. Apresentamos uma planilha de R$ 20 milhões. Esse recurso foi aprovado pelos dois e pelo Marcelo Sereno. No princípio de julho de 2004, eu reuni o partido e comuniquei. O repasse do dinheiro se dará em cinco etapas.
- O primeiro recurso chegou na primeira quinzena de julho: R$ 4 milhões, em dinheiro, em espécie. Em duas parcelas: uma de R$ 2,2 milhões e, três dias depois, uma de R$ 1,8 milhão. Quem trouxe o recurso à sede do PTB foi o Marcos Valério, em malas de viagem. Eu e o Emerson Palmieri dividimos esses recursos entre candidatos. E assumimos o compromisso, que era o do Genoino comigo, que outras parcelas viriam. Elas não vieram, e os candidatos do PTB que haviam assumido compromissos de campanha entraram em crise brutal. Essas coisas foram esticando a corda, tensionando a relação do PTB com o PT.
Que avaliação o senhor faz das reações dos membros do governo citados em sua entrevista anterior?
- Os ministros foram covardes com o presidente. O Palocci sabia do mensalão porque eu falei para ele. O Walfrido errou por não ter dito ao presidente sobre o mensalão, porque eu falei com ele. O ministro Ciro sabia. O Zé Dirceu, conversei várias vezes com ele sobre o mensalão. Deixaram o presidente completamente desinformado de algo que viciou a relação do governo, e do comando do PT em especial, com a base aliada no Congresso.
- Quando de minha conversa com o presidente este ano, lá no gabinete dele no Palácio do Planalto, estávamos eu e o ministro Walfrido, quando eu disse a ele do mensalão. Ele tomou um susto. Expliquei a ele no que consistia: um repasse de recursos do Delúbio para líderes e presidentes de partidos da base aliada dividirem um dinheiro por mês com representantes de suas bancadas, em especial o PP e o PL. O PTB fora convidado a participar e repelira.
- Acho que os ministros traíram a confiança do presidente. Como pode ministros minimizarem, dizendo que não havia importância em minhas palavras, e ter essa explosão no Brasil quando a Folha as coloca para a opinião pública? Só eles não tinham dimensão da explosão que isso iria provocar? O presidente, foi como se alguém dissesse "olha ali a tua mulher com outro homem". Aquela reação de surpresa, de mágoa, as lágrimas brotaram. Ele me pediu que explicasse como funcionava o mensalão. Eu disse. Depois ele se levantou, me deu um abraço e eu saí.
- E o que eu sei, até pela vivência da Casa, essas coisas não se escondem, é que houve uma atitude forte, porque o mensalão secou. E nós estamos assistindo a uma crise de abstinência. O corpo mole é porque está faltando aquilo que o Delúbio sempre transferiu a líderes e presidentes da base: o dinheiro para pagar o exército de mercenário, as bancadas de aluguel.
Em outro trecho da entrevista, a repórter pergunta:
Como se estabeleceu a relação do PTB com a cúpula petista?
- Quando, lá atrás, o José Carlos Martinez era presidente do PTB, e nós começamos a constituir a relação, depois de nomeado o Walfrido Mares Guia ministro do Turismo, o segundo cargo foi o do delegado Regional do Trabalho no Rio, Henrique Pinho. Toda a estrutura abaixo dele foi nomeada pelo Silvio Pereira. Outro cargo: Fernando Cunha, para a BR Distribuidora. Toda a estrutura abaixo do Fernando Cunha foi nomeada pelo Silvio Pereira. Na área de Petrobras, de petroquímica, quem manda é ele.
- Um dia, perguntei: "Mas como é isso? Vocês dão a cabeça e tomam o corpo?" E ele disse que esse era o jeito do PT de repartir o poder. Foi assim no Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes. A primeira indicação para o Dnit, feita pela bancada de São Paulo, acho que é Pimentel o nome, esse que hoje aparece nos jornais. Toda a estrutura abaixo foi montada pelo Silvio e pelo Delúbio. O gerente, um tal de Lauro Corrêa, é homem do PT. Ele mandava mais que o diretor-geral do Dnit. O PT nomeava as pessoas que controlavam a estrutura do poder por baixo dos nomeados do PTB.
A quem o senhor se refere quando fala na direção do PT?
- Genoino, Marcelo Sereno, Delúbio Soares, Zé Dirceu, que sempre soube de tudo. Várias vezes eu conversei com o Genoino e com o Delúbio no gabinete do ministro Zé Dirceu. Tudo era tratado com o conhecimento dessas pessoas e do Silvio Pereira. Isso no início do governo. Há uma sala contígua à do gabinete do ministro Zé Dirceu no Palácio do Planalto, e de vez em quando nós fazíamos essas conversas. 90% das conversas eram feitas no Palácio, numa salinha que era reservada ao Silvio Pereira. De vez em quando o Delúbio metia a mão na porta, entrava, sentava, conversava e saía. O Zé Dirceu participava da conversa, e o Genoino também.
Roberto Jefferson lembra o encontro com Lula, em janeiro de 2005, quando falou do mensalão pela primeira vez ao presidente da República:
- E quando eu disse a ele, olhando nos olhos dele, do mensalão, o choque dele... Eu tenho seis mandatos. Eu sou deputado federal desde o presidente Figueiredo. Eu nunca tinha ouvido falar de financiamento de bancada aliada na base pelo partido do governo. E contei isso ao presidente Lula. E vi a reação dele de perplexidade. E então as coisas pararam. Mas o que eu estranho é que a Abin, depois que eu disse isso ao presidente Lula, parte para mandar arapongas contra o PTB. Alguém, dentro do governo, não gostou que nós passamos essa informação ao presidente.
Quanto à reação do governo, desde que decidiu contar o que sabe dos pagamentos a deputados, Jefferson afirma:
- Num primeiro momento, o Zé Dirceu ficou muito hostil comigo depois do meu discurso na Câmara, quando eu assinei a CPI. Na véspera, houve reunião da executiva do PTB para que todos os companheiros assinassem a CPI e nós devolvêssemos os cargos ao governo.
Roberto Jefferson comenta o encontro, em sua casa, com José Dirceu e Aldo Rebelo. Os dois homens de confiança de Lula pediram para ele retirar o nome do requerimento de criação da CPI. O presidente do PTB argumentou que desejava a restauração da sua honra, e que a revista Veja vinha promovendo um "verdadeiro linchamento". Reação de Dirceu, segundo Jefferson:
- Ele respondeu: "Roberto, na Veja não tenho nenhuma ação, porque a Veja é tucana". Eu falei: "Mas O Globo e a Globo estão repetindo o linchamento". Ele falou: "No O Globo eu falo por cima. Dá para segurar".
Jefferson conclui:
- Retirar a assinatura foi o meu maior erro. Depois que fiz isso, recrudesceu o noticiário contra o PTB. Eu entendi que foi uma armadilha do Zé Dirceu para mim. Recrudesceu o noticiário, e eu vi claramente a mão do governo.
Viu onde e como?
- Nas matérias que saíram na revista Época e no O Globo no fim de semana seguinte. Violentamente contra mim e contra o PTB. Eu falei: "Eu errei, eu me enfraqueci ao retirar a assinatura da CPI, e o Zé Dirceu armou essa arapuca pra mim". (...) Eu vejo nitidamente o dedo desse segmento, Zé Dirceu, Genoino e Delúbio, para colocar esse cadáver podre no colo do PTB.

A Folha de S.Paulo publica o editorial "Adeus às ilusões". O jornal afirma:
"A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se revelando um dos maiores estelionatos eleitorais da história democrática do País. Todas as bandeiras que um dia caracterizaram o Partido dos Trabalhadores foram conspurcadas. Até mesmo o que se afigurava como o último baluarte petista, uma relação diferenciada com a ética e a coisa pública, se reveste de tons de 'bravata', para utilizar um termo empregado pelo próprio presidente da República ao negar propostas antes defendidas pelo seu partido."
Em outro trecho, o editorial aponta:
"Em termos sociológicos, a ausência de um projeto ajuda a explicar a crise da legenda. Sem uma utopia à qual aspirar, o poder pelo poder transformou-se em razão de existência. Muitos de seus expoentes mostraram-se deslumbrados com as mordomias, benesses e oportunidades de ascensão social oferecidas pela nova situação."
O jornal conclui:
"Galgado ao comando do País, o partido enredou-se na trama do fisiologismo e da corrupção. Suas virtudes transmutaram-se em vícios. O despreparo, a ambição e o oportunismo derrotaram a esperança."

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13/6/2005 O ministro José Dirceu (PT-SP) faz saber, por meio de sua assessoria de imprensa, que "minha relação com o presidente é excelente". E manda o recado, pelos jornais:
- Não faço nada que não seja de comum acordo e determinado por ele.
Na declaração, todo o veneno e a ameaça implícita. José Dirceu seria capaz de vir a público e contar a verdade? Fica claro que não aceitaria ser exonerado por Lula. Ao mesmo tempo, a denúncia, gravíssima: se José Dirceu foi o grande operador, o cérebro do esquema de suborno de parlamentares para que apoiassem o Governo Federal e tudo era em "comum acordo e determinado" pelo presidente da República, não restavam dúvidas: Lula era o chefe da corrupção e deveria responder pelo esquema delituoso.
É importante ressaltar que José Dirceu faz as afirmações por intermédio de seus auxiliares. Isso significa que as palavras usadas na declaração haviam sido pensadas e medidas antes da divulgação, o que só aumenta a gravidade delas. Não foi um desabafo, portanto. Nem algo falado sem querer, que escapou, no calor de uma situação indesejada, sob pressão de repórteres experientes. Tampouco foram palavras pinçadas de uma entrevista, para propositadamente prejudicá-lo. Nada disso. Dirceu manda dizer, ainda:
- Sou um soldado do partido e do governo.
Talvez em nenhum outro momento da crise Lula tenha ficado tão exposto. Afinal, o todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, braço direito do presidente da República, acusado de comandar o esquema de corrupção, diz, com todas as letras, que fez o "determinado por ele", Lula.
Mais uma justificativa para abrir um processo de impeachment contra o presidente. Processo nunca aberto, afinal.

O presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), vai à forra. Depois de acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de envolvimento no escândalo do mensalão, dispara contra o oponente. Para Valdemar Costa Neto, Jefferson quer "tomar dinheiro" de alguém. Diz duvidar da doação de R$ 4 milhões do PT ao PTB, em 2004. Motivo: o PTB está "cheio de cargos no governo", e "ajudando um monte de empresários". Palavras do presidente do PL:
- Como é que vai dar dinheiro em campanha para um cara que tem milhares de cargos? Há diversos empresários que atuam nessas empresas que podem fazer doações para o partido. Qual é a justificativa para dar um mundo de cargos e, depois, dar dinheiro para eleição? Isso não bate.
Claríssimo! Os cargos no governo servem para fazer dinheiro: existem acordos para que empresários entreguem somas de recursos a agentes políticos responsáveis por sua contratação, e a funcionários públicos que, em conluio, fazem as medições dos serviços e bens comprados pelo governo. Ou seja: tudo poderia custar menos. E quem paga a conta? O público. É dinheiro do povo.
Voltemos ao ataque de Valdemar Costa Neto contra Roberto Jefferson:
- Como não bate ele reclamar do mensalão. Um camarada que extorque empresas abrirá mão de mesada? Vai querer em dobro. Vai dizer: "Tô bravo porque tem mesada?" Ele falava aquilo para conseguir mais cargo. Foi com essa história de mensalão para conseguir mais espaço.
Para Valdemar Costa Neto, não tem lógica uma estratégia para fornecer mesadas a dezenas de deputados:
- Quem vai administrar um negócio desse? Você tem um problema em casa, com a mulher, um assessor... O pessoal deda.
Ele próprio, Valdemar Costa Neto, será denunciado pela ex-mulher. A história vem adiante.

A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) confirma ter recebido oferta em dinheiro para mudar de partido e fazer parte da base aliada do governo. Recusa-se, porém, a dar detalhes do episódio:
- A verdade me obriga a dizer que sim, eu fui convidada a mudar de partido. Agora, a responsabilidade me obriga a parar por aqui. Porque não posso provar. Vai ser a palavra de uma pessoa contra a palavra da pessoa que me fez o convite.

O diretor de Administração e Finanças da Embratur, Emerson Palmieri, pede exoneração do cargo. Ele foi citado por Roberto Jefferson como tesoureiro informal do PTB. Teria a função de receber pagamentos do PT ao PTB.

O funcionário dos Correios Maurício Marinho admite ao Ministério Público Federal ter feito contatos com mais de 300 fornecedores e prestadores de serviços. Todos interessados em assinar contratos com os Correios. A notícia ganha destaque nos jornais. Ele confessou que o genro de Roberto Jefferson, Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira, intermediou o acesso de empresários à estatal federal. Trecho do depoimento:
"Marcus Vinícius foi muitas vezes na ECT. Marcus Vinícius pedia ao depoente que atendesse determinados fornecedores, entre os quais César de tal (fornecedor de copiadoras) e Cristiano Brandão ou outra pessoa (área de tecnologia). Que não consegue se recordar de outras pessoas, mas pode informar que Marcus Vinícius o apresentou a outros fornecedores mais de duas vezes."

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14/6/2005 O Brasil pára a fim de ver e ouvir o depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. A sessão dura quase sete horas, entre a fase de depoimento e os debates. Provoca um terremoto político. Repleto de acusações, declarações contundentes e ironias, o depoimento de Jefferson reafirma denúncias feitas à Folha de S.Paulo. A confissão e o testemunho do deputado comprometem o governo Lula. Sobre o mensalão:
- Desde agosto de 2003 é voz corrente em cada canto desta Casa, em cada fundo de plenário, em cada gabinete, em cada banheiro, que o 'seu' Delúbio, com conhecimento do 'seu' José Genoino, sim, tendo como pombo-correio o 'seu' Marcos Valério, um carequinha, que é publicitário lá em Minas, repassa dinheiro a partidos que compõem a base de sustentação do governo no negócio chamado mensalão.
Jefferson refere-se ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares:
- Atendi na minha casa, no princípio de 2004, janeiro, fevereiro... O Delúbio foi simpático. Fumou um charuto. Simples, um homem simples, mas cumprindo uma missão. Cheio de melindres e de tato para falar comigo. Com aquele jeitão dele de goiano do interior, disse que gostaria de ajudar a desencravar uma unha que pudesse haver, foi a expressão que ele usou, e que faria alguns repasses para o PTB.
- Com o Zé Dirceu eu falei sobre esse assunto uma meia dúzia de vezes. Não é, Zé Dirceu? Não é? Ao Genoino, o presidente do partido, falei uma meia dúzia de vezes.
- Disse isso ao ministro Palocci. Ele nega. Mas, Palocci, com todo o respeito, disse isso a vossa excelência, olhando dentro dos seus olhos.
Agora, Jefferson mira outros deputados, envolvidos com corrupção:
- Será que eu estou falando em um convento de virgens? Será que só eu ouvi falar em mensalão? Eu apenas destampei a panela, deputado.
- Tem muita gente do PP que está acima disso, tem muita gente do PL que está acima disso. Mas deputado Valdemar Costa Neto, deputado José Janene, Pedro Corrêa, Sandro Mabel, Bispo Rodrigues, Pedro Henry. Me perdoem, de coração, não posso ser cúmplice de vocês.
Para Valdemar Costa Neto (PL-SP), que o acusara de mentiroso:
- Eu afirmo que o senhor recebe repasses.
Dirigindo-se novamente a Valdemar, que é o presidente nacional do PL:
- Diga os nomes dos seus que recebem o mensalão. Vossa excelência recebe e reparte.
Roberto Jefferson aponta que o dinheiro, "no início, era para transferência de partido. Depois, foi para votação". E mais:
- Um dia, pedi a um companheiro: (...) Avisa ao Pedro Henry que, se ele tomar os dois deputados do PTB que está tentando com aquela mala de dinheiro, vou para a tribuna e conto a história do mensalão. Aí, refluiu, mas o mensalão não parou.
Sobre a saída do deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE) do PTB:
- O motivo não é nobre, não é justo, foi por dinheiro.
- Provas não tenho, mas tenho provação. Provação vivi, porque além de eles receberem a mesada, ainda ficavam tentando os nossos deputados: "Vem para cá, seu otário. Olha, está na mala. Vocês não tem. Aqui tem".
Jefferson dá novos detalhes do acordo PT/PTB:
- Em maio do ano passado, conversamos eu, o tesoureiro do meu partido, Emerson Palmieri, o doutor Delúbio, o presidente José Genoino e o Marcelo Sereno. Lá no prédio da Varig, onde fui várias vezes, e os senhores podem buscar informação na portaria, porque lá a gente tem que se identificar. Pedi ao presidente do PT, ex-deputado Genoino, um apoio para a campanha do meu partido. "Sem problema. Você me dá um planejamento de custo das campanhas do PTB". Fizemos. Voltamos. Nos reunimos de novo com os três e eles aprovaram R$ 20 milhões para o financiamento das campanhas do PTB em todo o Brasil.
- Eles cumpriram a primeira parte do acordo, em princípios de julho, com R$ 4 milhões. O dinheiro foi levado para o partido (...) pelo senhor Marcos Valério. Foi quando estive com ele pela primeira vez. É carequinha, falante e fala em dinheiro como se fosse assim uma coisa que caísse do céu. Primeiro foram R$ 2,2 milhões. Em duas malas enormes, notas de R$ 50 e R$ 100, etiquetadas por Banco Rural e Banco do Brasil. E três dias depois, (...) ele volta com R$ 1,8 milhão. Notas de R$ 50 e R$ 100, Banco Rural e Banco do Brasil e a promessa de outras quatro parcelas iguais. Perguntei ao Genoino: "Como é que a gente vai fazer para justificar esse dinheiro?" Ele falou: "No final a gente faz a entrada, via partido, e a saída, conta-contribuição". Perfeito. Mas até hoje essas notas não chegaram. Isso gerou uma crise brutal no meu partido...
- Voltei ao Zé Dirceu, uma, duas, dez vezes, e disse: "Zé, está esgarçando, estou perdendo autoridade". Ele falou: "Roberto, a Polícia Federal é meio tucana. Meteu em cana 62 doleiros, agora, na véspera da eleição. A turma que ajuda não está podendo internar dinheiro no Brasil".
Jefferson usa o depoimento para mandar recado a José Dirceu. Ou, melhor: o recado é para Lula mesmo.
- Eu percebi que o governo quis botar um cadáver podre, que atinge o senhor Delúbio Soares, que atinge o senhor Silvio Pereira, que atinge o senhor Zé Dirceu... Estão dizendo que eu sou réu... Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, o presidente Lula. Rápido, saia daí rápido, Zé, para você não fazer mal a um homem bom, correto e de quem tenho orgulho de ter apertado a mão.
A origem do dinheiro da corrupção:
- Tem de perguntar isso ao Genoino e ao Delúbio, mas pelo que ouvi da conversa do Marcos Valério, quando ele foi levar os recursos ao PTB na eleição, ele faz via agência de publicidade, na relação de contratos que tem com algumas empresas do governo.
Sobre o financiamento de campanhas eleitorais, feito com dinheiro de empresas:
- Nenhum partido aqui recebe ajuda na eleição que não seja assim. Nenhum. Tenho a coragem de dizer de público aqui. Não aluguei meu partido, não fiz dele um exército de mercenário, nem transformei os meus colegas de bancada em homens de aluguel. Aqui todos sabem de onde vem, só que nós temos a hipocrisia de não confessar ao Brasil. Estou assumindo isso aqui e faço como pessoa física, faço como Roberto Jefferson. O dinheiro vem dos empresários que, na maioria das vezes, mantêm relação com as empresas públicas. É assim e sempre foi.
Jefferson toca no problema dos Correios, na acusação de que participou de esquema de corrupção:
- Não consegui compreender ainda por que o zeloso Ministério Público, a zelosa Polícia Federal, a zelosa Corregedoria da União não investigaram a Diretoria de Informática... E 60% do depoimento do senhor Maurício Marinho apontam lá para a diretoria do 'seu' Silvinho Pereira, secretário-geral do PT.
- Não entendi por que não pesquisaram a Novadata ainda. Não sei por que correm atrás de um óbolo de R$ 3 mil, quando os contratos que desfalcam os Correios são de bilhões. Não compreendi ainda como é que o cioso Ministério Público, a ciosa Polícia Federal e a ciosa Corregedoria da República ainda não investigaram o correio aéreo noturno, do 'seu' Silvinho Pereira, onde as contas de superfaturamento nos primeiros anos da atual gestão chegam a superfaturamento de 300%.
- A Skymaster? Eu nunca tinha ouvido falar. Sei agora, porque gente boa dos Correios está começando a me dar essas informações. E a Novadata? Naquela época não sabia nada, mas gente boa dos Correios começa a me dar agora essas informações. Assim como gente boa começa a me dar informações, deputado Valdemar Costa Neto, das licitações da Valec, do ex-deputado Juquinha, do PL. Como gente boa começa a me dar o que está acontecendo no Dnit, lá do PL. Coisas que, se Deus quiser, a CPI vai conhecer.

A revista Isto É Dinheiro publica duas entrevistas com Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária do empresário Marcos Valério, dono das agências de publicidade DNA Propaganda e SMPG Comunicação. Fernanda Karina acusa Marcos Valério de envolvimento com o esquema de compra de deputados. Conta que havia encontros frequentes de Marcos Valério com dirigentes do PT. Cita Delúbio Soares, Silvio Pereira e reuniões em hotéis de São Paulo e Brasília.
Em que hotéis?
- O Blue Trees, em Brasília, o L'Hotel, em São Paulo, o Sofitel, também em São Paulo.
A secretária testemunhou saídas de dinheiro:
- Com certeza. O Marcos Valério ficava o tempo todo com o Delúbio Soares. Era o Marcos quem pegava o negócio e levava de um lugar para o outro.
Onde o dinheiro era retirado?
- Era sempre no Banco Rural. E era coisa grande. Algumas vezes pouco, R$ 50 mil, R$ 30 mil. Às vezes muito, mas muito mais.
Para ela, Delúbio Soares era o mais próximo de Marcos Valério no esquema:
- Depois, o Delúbio abriu as portas e aí tinha o José Dirceu, o Silvio Pereira.
Como era o contato com o ministro José Dirceu?
- Havia ligações. A gente ligava e pedia para a menina do Delúbio colocar ele em contato com o Marcos Valério.
Então o Valério tinha uma comunicação direta com o Dirceu?
- Sim.
A senhora relata também que o irmão do ex-ministro Anderson Adauto teria recebido dinheiro da agência. Isso aconteceu no Ministério?
- Não. O irmão dele foi lá na agência, pegou uma mala de dinheiro e foi embora.
A ex-secretária conta que Marcos Valério mantinha contato com os deputados José Mentor (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP). Marcos Valério pagou passagens aéreas para Silvana Jupiassu, assessora de João Paulo Cunha. A filha de Silvana Jupiassu também ganhou bilhetes aéreos.
- Isso porque ela facilitava o contato com o João Paulo.
Em outra parte da entrevista, Fernanda Karina envolve outra funcionária de confiança de Marcos Valério nas operações de saques de dinheiro:
- Eram pedidos frequentes. Era tudo feito pela Simone Vasconcelos. Era ela quem ia de vez em quando para Brasília pagar.
Fernanda Karina fala das atividades de Marcos Valério:
- Ele faz intermediação de negócios. Por exemplo: a SMPB tem a conta do Banco do Brasil na parte de esportes através da Multi Action, uma das empresas do grupo. E é tudo negociata. Eu sei que eles passam dinheiro para o pessoal do governo.
Como isso é feito?
- O Marcos Valério manda e tem um pessoal do Departamento Financeiro que faz isso.
E como a senhora tinha conhecimento?
- Ele era meu chefe. Eu estava sempre com ele. Todo mundo sabe que tem mutreta no fato de a empresa ter um bom dinheiro no Banco do Brasil.
Haveria pagamento de propinas a gente do governo?
- Eu já vi sair muito dinheiro de lá.
Em que situações?
- Vi sair R$ 100 mil em dinheiro para o irmão do Anderson Adauto, no fim de 2003, quando ele era ministro dos Transportes.
E para o pessoal do Banco do Brasil?
- O Marcos Valério dá muitas festas para eles, muitos paparicos, muitos mimos.
Ele oferece viagens de jatinho para eles?
- Não, o Marcos usa o jato do Banco Rural, eventualmente. O Delúbio Soares também anda no jato do Banco Rural.
Em outro trecho, o repórter Leonardo Attuch indaga se Marcos Valério fez pagamentos para obter contas publicitárias do governo. Diz Fernanda Karina:
- Com certeza. Quando você entra numa concorrência, a gente já sabe quem vai ganhar e quem não vai. Eles fazem a licitação pública, mas é um jogo de cartas marcadas. Tem quem vai pegar a melhor parte da conta, a pior parte da conta.
A senhora viu?
- Olha, para o Banco do Brasil, o Marcos dava festas. Festas para a alta cúpula e para a área de marketing.
A revista Isto É Dinheiro pergunta como os pagamentos eram feitos:
- Tinha duas pessoas da área financeira, a Simone Vasconcelos, e uma assistente, a Geysa, que cuidavam de tudo.
A senhora tem noção de quanto?
- Já vi o boy sair com motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural. Era para depois dividir o dinheiro, entendeu?

A Folha de S.Paulo divulga o relatório "Agências & Anunciantes", do jornal Meio & Mensagem. Traz informações sobre o faturamento da agência DNA Propaganda, de Marcos Valério. É o que mais cresceu em 2004, com um aumento superior a 200%. Dos R$ 23,2 milhões de faturamento registrados em 2003, o valor subiu para R$ 70,5 milhões. A agência atende as contas do Banco do Brasil, Eletronorte e Ministério do Trabalho.
Já a SMPB, outra agência de Marcos Valério, cuida da conta dos Correios. Teve faturamento de R$ 39,9 milhões em 2004, sendo R$ 29,6 milhões apenas com os Correios. Além de atender o Banco Rural, a SMPB foi contratada pelo Ministério dos Esportes e pela Câmara dos Deputados, na gestão do presidente João Paulo Cunha (PT-SP).

Ex-tesoureiro nacional e secretário-geral do PP, Benedito Domingos afirma aos jornais Correio Braziliense e O Estado de S. Paulo que tomou conhecimento de um esquema de pagamento de mensalões a parlamentares do PP. A distribuição de dinheiro era feita no apartamento do deputado José Janene (PP-PR), localizado em edifício da Asa Sul, em Brasília.
- Você sabe que as pessoas tinham, mas não sabia de onde vinha.
Benedito Domingos conversa com o repórter Expedito Filho, de O Estado de S. Paulo. Diz que o mensalão era conhecido como "apoio financeiro", e entendido como uma espécie de caixa 2:
- O zunzunzum era muito forte. Um grupo sempre frequentou a casa do Janene. Sempre houve uma grande movimentação. A casa do Janene era chamada de pensão.

33
15/6/2005 O governo conquista o comando da CPI dos Correios. Nomeia dois aliados para os cargos principais da comissão: o presidente será o senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Osmar Serraglio tinha boas ligações com José Dirceu. Apoiara a candidatura do filho do ministro, José Carlos Becker (PT), a prefeito da cidade de Cruzeiro do Oeste (PR).
Delcídio Amaral e Osmar Serraglio acenam com investigações restritas aos Correios, deixando de fora denúncias acerca do mensalão. Na véspera, parlamentares de cinco partidos entregaram ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pedido para a criação da CPI do Mensalão. O requerimento continha assinaturas de 255 deputados e 41 senadores.

Os jornais destacam que durante os trabalhos da CPI do Banestado, no início do governo Lula, o relator e deputado José Mentor (PT-SP) apresentou sete requerimentos relacionados ao Banco Rural, determinou a quebra de sigilo bancário da instituição, solicitou cópia de inquérito policial sobre investigações de empresas do banco no exterior, ouviu diretores e convocou a presidente da instituição para depor. No final do processo, não concluiu nenhuma investigação relativa ao Rural.
Outra notícia: o Banco Rural foi condenado a pagar multa de US$ 5,9 milhões por ilegalidades cometidas no mercado de câmbio, na década de 80. O Rural teria permitido remessas de dinheiro ao exterior, com a falsificação dos nomes dos verdadeiros remetentes.

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16/6/2005 Demite-se do cargo o ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP). Considerado a face do PT no governo, era o mais poderoso auxiliar de Lula. Perdeu força em fevereiro de 2004, em consequência do escândalo Waldomiro Diniz. Com as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), ficou sem condições de permanecer no governo. Sai contrariado. Volta à Câmara dos Deputados para exercer mandato por São Paulo.

O senador Jefferson Péres (PDT-AM), dos mais respeitáveis parlamentares do Congresso Nacional, defende investigação para apurar se Lula sabia do mensalão. Quer saber se o presidente da República agiu para investigar o esquema e punir eventuais responsáveis. Jefferson Péres está convicto: Lula "foi conivente, prevaricou":
- Não acho que o presidente Lula seja capaz de um ato desonesto, no sentido de enriquecer ilicitamente. Agora, que ele sabia, com certeza sabia.
Para o senador, "ninguém, só quem acredita em Papai Noel, pode imaginar que José Dirceu com o senhor Delúbio, amigos, companheiros de partido, que há muitos anos acompanham o presidente da República, tenham feito tudo isso com o seu desconhecimento. E ficou comprovado, ou há fortes indícios de que ele sabia".
Jefferson Péres admite que um eventual processo de impeachment "pode levar o País a uma instabilidade muito grande". Entende, contudo, que a situação justifica uma investigação sobre o presidente:
- Se ficar evidenciado que o presidente realmente sabia e não tomou providências, não podemos, em nome da estabilidade, fingir que não sabemos e ficar de braços cruzados, senão nós é que estaremos prevaricando também.
O senador amazonense explica que responsabilizar alguém por corrupção não exige farta documentação para servir de prova. Diz Jefferson Péres:
- Provas são provas. Há provas documentais, técnicas, periciais e testemunhais. Se a testemunha for idônea, se o seu depoimento for convincente, a testemunha vale também, é uma prova.

Cerco ao ministro Luiz Gushiken (PT-SP). Ele comanda a Secom, Secretaria de Comunicação da Presidência da República, e é um dos auxiliares mais próximos de Lula. A Folha de S.Paulo publica que a mulher de Marco Antônio da Silva, diretor de eventos da Secom, trabalha para a empresa Multi Action, ligada a Marcos Valério.
A publicitária Telma dos Reis Menezes Silva ocupa posto estratégico de representante da Multi Action, uma realizadora de eventos. Ela mantém contatos com órgãos públicos em nome da empresa de Valério. O detalhe: cabe à Secom opinar e determinar o conteúdo de editais de licitação que definem contratações na área de comunicação do Governo Federal. É a Secom de Gushiken que controla a publicidade e os patrocínios oficiais do governo.
Marco Antônio da Silva nega qualquer irregularidade. Afirma que não tem envolvimento com o trabalho da mulher. A Folha pergunta-lhe para quem Telma dos Reis Menezes Silva trabalha. O marido:
- Não sei. Deve trabalhar para vários eventos.
Sua mulher nunca lhe disse para quem trabalha?
- Eu evito. Minha mulher não é política, não é militante, não é filiada.
Como ela conheceu Marcos Valério?
- Não sei.
O ministro sabe dessa situação?
- Acho que não. É uma questão de foro pessoal. Eu relativizei de forma primária, por ela já ser do mercado. Ela é uma pessoa ingênua em relação a essas coisas. Problemas políticos daqui eu não comento em casa.

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17/6/2005 O Campo Majoritário, maior segmento interno do PT, liderado pelo deputado José Dirceu (PT-SP), decide manter nos quadros do partido o tesoureiro Delúbio Soares e o secretário-geral, Silvio Pereira. De acordo com Delúbio Soares, as acusações contra ele são falsas. Ele avisa que não deixará o cargo, pois "seria uma confissão de culpa":
- Agi dentro das regras da política.
Manifestação de Silvio Pereira:
- O que eu fiz foi decisão partidária. Se eu sair, vai ter de sair todo o mundo.
Em reunião do PT, o presidente do partido, José Genoino, recusa-se a pôr em discussão o afastamento dos dois dirigentes. Para ele, as acusações são inconsistentes:
- Não será sequer objeto de avaliação. Será adotado o melhor para o partido.

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18/6/2205 A revista Época traz a manchete de capa "Homem da Mala". A reportagem, de Diego Escosteguy, traça um perfil de João Cláudio Genu, chefe de gabinete do líder do PP na Câmara, deputado José Janene (PR). João Cláudio Genu é apontado como braço direito de José Janene, e "principal executivo na operação do mensalão". Época registra:
"O partido de Janene teria um esquema de arrecadação muito semelhante ao do PTB de Jefferson. Apadrinhados bem posicionados em estatais garantem a arrecadação. O PP instalou diretores na Petrobras, em Furnas, no Instituto de Resseguros do Brasil e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O dinheiro chega a Brasília trazido por emissários ou pelo próprio Genu. Depois, é distribuído. Segundo relato de um parlamentar, vem em envelopes."
A revista aponta que, após aderir ao governo Lula, o PP engordou a bancada do partido. Passou de pouco mais de 20 para 56 parlamentares. E informa que os mensalões, no PP, variavam de deputado para deputado:
"Os valores variam de R$ 5 mil a R$ 30 mil, a depender da importância do político recompensado. O local de entrega varia. Às vezes é o apartamento do próprio Janene, apelidado de 'a pensão' dentro da bancada do PP. Outras, a própria sala da liderança. Em alguns casos, a casa que Genu mantém para festas no bairro Park Way, em Brasília. O chefe de gabinete de Janene é apontado como responsável pela logística da operação. O mensalão vinha sendo usado para atrair novos deputados e para garantir que alguns deles seguissem fielmente as orientações do partido."
Sobre o patrimônio de João Cláudio Genu, cujo salário é de R$ 5.720:
"O assessor é dono de um apartamento de luxo, uma casa no setor de mansões de Brasília e cinco carros, dois deles importados. Numa avaliação pessimista, nos últimos cinco anos, amealhou entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões. Metade disso só no governo atual. Na declaração que entregou ao Imposto de Renda no início do ano, declarou ter ganho menos de R$ 80 mil em 2004. Pelo recolhimento de CPMF, a Receita descobriu que passaram por suas contas bancárias R$ 680 mil no mesmo período."
A revista Isto É também destaca o deputado José Janene (PP-PR), chefe de João Cláudio Genu. O relato dos repórteres Amaury Ribeiro Jr. e Luiz Cláudio Cunha é demolidor:
"Curiosamente, nos dois primeiros anos do governo Lula, que coincidem com a ideia milagrosa do mensalão denunciado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, Janene desencravou da miséria. Documentos obtidos por Isto É em cartórios, órgãos oficiais e sindicatos rurais do Paraná mostram que Janene e sua mulher, Stael Fernanda, viraram proprietários em 2003 e 2004 de uma dezena de fazendas, imóveis e uma frota de carros importados avaliados em cerca de R$ 7 milhões. O casal amealhou tudo isso ganhando, junto, R$ 200 mil anuais, média mensal de R$ 16,5 mil – pouco mais que meio mensalão. Nesta fantástica engenharia financeira não estão incluídas outras joias de seu patrimônio: rebanhos de gado e ovinos, safras de soja e a mansão de R$ 2 milhões, ainda em construção, encravada no Royal Golf, um elegante condomínio fechado na zona mais elegante de Londrina, onde é vizinho, entre outras personalidades endinheiradas, do locutor global Galvão Bueno."
O jornal O Estado de S. Paulo entrevistou o ex-assessor parlamentar, ex-coordenador de campanha e sobrinho do deputado José Janene (PP-PR), Aristides Barion Júnior. Ele ataca o tio. Diz não se surpreender com denúncias que apontam José Janene como operador do esquema do mensalão:
- Surpreso, eu? Claro que não. O Zé é terrível, você não conhece ele. Quando o Zé vê que o cara é menor, ele esmaga. Se vê que não pode com o cara, tenta fazer um acordo. O Zé é o número um do mensalão, não tenho dúvida.
Aristides Barion Júnior conta ao repórter Fausto Macedo que José Janene lhe deve US$ 1 milhão, dinheiro que foi emprestado para a campanha eleitoral de 1994. Afirma que o tio ficou rico depois de entrar para a política:
- O Zé mora em um apartamento que vale mais de R$ 1 milhão, tem fazenda, carros importados, tem avião, tem dois apartamentos na praia, mas é tudo em nome de terceiros.
José Janene é réu em sete ações civis na Justiça do Paraná. Tem acusação por suposto ato de improbidade administrativa, desvio de verbas públicas na Prefeitura de Londrina (PR) e enriquecimento ilícito. O sobrinho conta como José Janene age nas campanhas eleitorais:
- Aí você tira suas conclusões. As campanhas são ostensivas, ele gasta uma fortuna. Na última eleição, não tinha uma esquina em Londrina que não tinha duas ou três pessoas dele com bandeiras. É muito dinheiro. Ele trabalha em cidadezinha pequena. Vai lá, acerta com o prefeito e com os vereadores, 60, 80 cidades pequenas. Aí faz votos, manda bala sem dó nem piedade.

As agências de publicidade de Marcos Valério são mais uma vez notícia de jornal. A Folha de S.Paulo traz reportagem informando que a Polícia Civil de Minas Gerais investiga a DNA e a SMPB por compra de notas fiscais frias. O inquérito policial traz 23 notas falsas, mas suspeita-se de número ainda maior.
Do repórter Mario Cesar Carvalho: "O uso de notas frias por agências de publicidade que trabalham para o governo é um método clássico para desviar dinheiro. Imagine que a agência X contratou 10 figurantes para um comercial. Na nota fiscal, os 10 podem virar 100 e a diferença em dinheiro vai para partidos ou políticos".
A reportagem informa que Valério já foi condenado a dois anos e 11 meses de reclusão porque suas agências sonegaram contribuições previdenciárias. Segundo a sentença, a DNA "deixou de recolher contribuições sociais devidas valendo-se de expedientes escusos diversos, sobretudo omitindo, de seus registros contábeis, fatos geradores daqueles tributos".
O jornal explica: "A agência não lançava na folha os valores pagos a empregados a título de remuneração e também fazia pagamentos a empregados da empresa como se fossem trabalhadores autônomos. A escrituração de pagamentos de salários em 'contabilidade paralela' foi comprovada com a apreensão de um documento que descreve os 'procedimentos adotados para efetuarmos pagamentos de salários aos funcionários que recebem seus vencimentos através do caixa (2)'".
Mais uma das agências de publicidade de Marcos Valério: contratos assinados no governo Lula permitiram faturamento de R$ 150 milhões. O contrato da agência SMPB com a Câmara dos Deputados, na gestão do ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP), talvez seja o mais curioso. Com três aditivos, o valor subiu de R$ 9 milhões para R$ 21,8 milhões.
Em 2004 Marcos Valério criou a Estratégia Marketing e Promoção, para cuidar de campanhas eleitorais. A empresa foi contratada para a campanha de um aliado de João Paulo Cunha, que disputava a Prefeitura de Osasco (SP). Campanha vitoriosa, Emídio de Souza (PT) foi eleito. O passo seguinte: a SMPB disputa licitação para ganhar a conta de publicidade da Prefeitura.

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19/6/2005 O programa Fantástico, da TV Globo, entrevista a publicitária Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP). Ela descreve conversas que ouviu do ex-marido, segundo as quais o governo de Taiwan fez uma contribuição ilegal para a campanha de Lula, em 2002. A transação teria sido intermediada por Valdemar Costa Neto e o tesoureiro Delúbio Soares. Diz Maria Christina:
- Essa doação foi entregue para o Delúbio, foi administrada para o Delúbio. Eu não tenho prova de que o PT sabia disso, porém ele representava o acesso ao PT.
Da doação, em dinheiro, no valor de US$ 2 milhões, Valdemar Costa Neto, segundo a ex-mulher, ficou com 20%. Ou seja, US$ 400 mil. Ela comenta a amizade entre Valdemar Costa Neto e Delúbio Soares:
- O integrante do PT que tinha uma relação profundamente estreita, que era o único que estava o tempo inteiro com ele, que estava envolvido com todas as coisas que ele fazia, se chama Delúbio.
Maria Christina Mendes Caldeira acusa Valdemar Costa Neto de comprar, com R$ 30 mil desviados do PL, móveis, esculturas e objetos decorativos para a casa em que os dois moravam, em Brasília. O deputado teria adquirido também dois cofres de aço para a residência.

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20/6/2005 O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) concede entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Reafirma a existência de esquema de corrupção no governo Lula. Cita três lideranças do PT na organização das operações de suborno: José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira. Acrescenta: "A última palavra era sempre do Zé Dirceu". Roberto Jefferson define o ex-ministro como "uma espécie de presidente do PT":
- Tudo que era fechado no PT tinha que ser homologado lá na Casa Civil.
Jefferson sugere o afastamento dos três dirigentes dos quadros do PT.
- É melhor que eles saiam para salvar a imagem do PT e melhorar a imagem do governo.
Em outro momento da entrevista, Roberto Jefferson acusa o esquema de distribuição de dinheiro para deputados da base aliada do governo Lula. Envolve, com ironia, o deputado João Pizzolatti (PP-SC):
- Era feito no café da manhã. O deputado subia e descia com um pacotinho. Conhecido no início dos anos 90 como um dos líderes da "tropa de choque" do governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), Roberto Jefferson opina que o nível de corrupção no governo Lula é ainda maior do que aquele que levou ao impeachment de Fernando Collor. Para o deputado, o esquema montado naquela época por PC Farias, o tesoureiro de Collor, "era menor, malfeito, às claras, com o rabo de fora".
Roberto Jefferson volta a falar dos R$ 4 milhões que diz terem sido repassados pelo PT ao PTB. Refere-se ao tesoureiro informal do PTB, acionado por ele assim que o dinheiro chegou. Diz o deputado:
- Eu pedi ao Emerson Palmieri que guardasse o dinheiro no cofre de um armário de aço, grande.

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21/6//2005 Depois de prestar depoimento à Polícia Federal e negar o teor da entrevista que dera à revista Isto É Senhor com acusações ao empresário Marcos Valério e a integrantes do PT e do governo Lula, a secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio concede nova entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Explica que recuara das primeiras declarações por medo. Um advogado orientou-a melhor, e agora ela confirma as denúncias:
- Estava com muito medo porque na terça-feira, depois que saí do meu trabalho, na rua por onde passo, veio uma pessoa, um motoqueiro, e parou a moto ao lado do meu carro, fechou meu carro. E disse que, se falasse qualquer coisa, eu colocaria a vida da minha filha e do meu marido em risco.
A secretária Fernanda Karina volta a pôr o dedo na ferida. Diz que Marcos Valério costumava manter contato com o tesoureiro Delúbio Soares, "todos os dias". Ela menciona as reuniões "com o pessoal do PT", após Marcos Valério efetuar saques de grandes quantias em dinheiro:
- Quando ele saía para as reuniões, antes de sair, passava no andar de baixo, no Departamento Financeiro, e saía com a mala.
O repórter Ismar Madeira indaga sobre o destino do dinheiro:
- Eles nunca falaram nomes. Esses nomes eu desconheço. Eu sabia que o dinheiro ia para Brasília, e que eles distribuíam lá. Mas para quem, quando e onde, eles não falavam. Era entre eles.
Declaração de Fernanda Karina:
- Dinheiro eu sabia que tinha dentro de malas, mas nunca foi aberto o dinheiro. Mas sempre sabia. Eles tomavam muito cuidado com o dinheiro, claro.
Sobre o relacionamento entre Valério e o deputado José Dirceu (PT-SP):
- Sei que ele conversava muito com o 'seu' José Dirceu, o ministro. Apesar de o ministro ligar diretamente para o celular dele, eu liguei para o ministro uma vez. Mas ele sempre falava.
Sobre a relação de Valério com o deputado João Paulo Cunha (PT-SP):
- Estreitas. Sempre que pedia para ligar, eu ligava, falava com a secretária dele em Brasília e ele retornava para o celular do senhor Marcos... As conversas não eram conversas abertas, né? Sempre conversavam por código.

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) afirma ter ouvido conversas da deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) sobre uma oferta de dinheiro. A proposta teria sido encaminhada pelo líder do PL na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), para que Raquel Teixeira trocasse o PSDB pelo PL, a fim de fazer parte da base aliada do governo Lula. Do deputado Carlos Alberto Leréia:
- Não sei de valores. Só sei que ela recebeu uma oferta em dinheiro.
Em seu depoimento, Carlos Alberto Leréia confirma: o governador Marconi Perillo (PSDB) relatou o episódio de assédio à deputada tucana a Lula, durante um evento em Rio Verde (GO), no dia 4 de maio de 2004:
- Foi no carro do presidente, na presença do motorista e do ajudante de ordens de Lula.
Para registrar: a CPI dos Correios não convocou o motorista nem o ajudante de ordens para depor.

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22/6/2005 O STF (Supremo Tribunal Federal) determina que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nomeie senadores para compor a CPI dos Bingos. Proposta no início de 2004, a CPI fora engavetada por decisão do então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que apoia o governo.
Além de apurar suspeitas de lavagem de dinheiro e a suposta ligação de casas de bingo com o crime organizado, a comissão de inquérito foi proposta com a finalidade de investigar atividades do ex-subchefe de Assuntos Parlamentares do Ministério da Casa Civil, Waldomiro Diniz. Ele acabou afastado do governo Lula depois da divulgação de uma fita no início de 2004, na qual aparece pedindo propina ao empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o "Carlinhos Cachoeira". Quando a gravação foi feita, em 2002, Waldomiro Diniz era o presidente da Loterj (Loteria Estadual do Rio), na gestão da governadora Benedita da Silva (PT-RJ).

A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) depõe no Conselho de Ética da Câmara. Afirma que recebeu proposta em dinheiro do deputado Sandro Mabel (PL-GO) para se transferir ao PL e apoiar o governo Lula. Da deputada:
- Sandro fez a seguinte colocação: "O PL quer se repaginar e ter uma cara nova. Temos que ter uma mulher, mas não qualquer mulher. Queremos uma mulher que faça a diferença". Confesso que me senti lisonjeada.
Segundo Raquel, Sandro Mabel fez vários elogios, dizendo que ela "viajaria pelo Brasil adequando a educação ao perfil do PL". Então, veio a oferta:
- Houve sim uma proposta de R$ 30 mil por mês, que poderia chegar a R$ 50 mil. Em dezembro, eu receberia mais R$ 1 milhão. Fiquei indignada. Não perguntei mais nada e a conversa acabou ali.
A deputada decidiu pedir conselho ao governador Marconi Perillo (PSDB). Ela não denunciou o caso por falta de provas:
- Era uma conversa sem testemunhas. Seria a minha palavra contra a dele. Qualquer pessoa sensata só fala o que pode provar.

A secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio concede entrevista à imprensa. Acrescenta novos detalhes às atividades do empresário Marcos Valério. Fala do relacionamento do ex-chefe com integrantes do PT. É questionada sobre "malas de dinheiro" para políticos em Brasília:
- Os acertos para saques no Banco Rural eram feitos pela Gerência Financeira da SMPB e também por Marcos. Várias vezes, quando ele precisava de dinheiro, falava diretamente com a diretoria do banco.
Fernanda Karina menciona "boys e motoqueiros" que tinham a função de ir ao Banco Rural e ao Banco do Brasil buscar dinheiro:
- As pessoas do Departamento Financeiro falavam que na mala tinha dinheiro. Não falavam o valor.
Marcos Valério encarregava-se de transportar o dinheiro a Brasília:
- Era para político, porque Marcos sempre estava conversando com político.
Fernanda Karina reafirma: Marcos Valério e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, voavam em avião do Banco Rural:
- O Banco Rural sempre disponibilizava o avião, para quando eles precisassem.
A secretária fornece detalhes sobre a licitação para a escolha da agência de publicidade que atenderia a conta dos Correios. Foi um período em que Marcos Valério manteve intenso contato com Delúbio Soares, Silvio Pereira, secretário-geral do PT, e outras "pessoas do PT em Brasília". As conversas eram incompreensíveis, sempre "codificadas":
- O que aconteceu foram vários telefonemas, várias viagens a Brasília durante o processo de licitação. As pessoas que iam às reuniões nunca eram faladas. Eu sempre soube que eram o Marcos, o Delúbio e o Silvio Pereira, algumas vezes. As reuniões eram sigilosas, fora da empresa, fora de Belo Horizonte.
A licitação dos Correios chamou a atenção da secretária Fernanda Karina. Antes da sua conclusão, todos os funcionários da SMPB já sabiam que a agência iria ganhar a conta publicitária da estatal federal:
- No final de 2003, houve uma festa preparada dois dias antes da divulgação do resultado da licitação, para os funcionários comemorarem a conquista da conta.

O TCU (Tribunal de Contas da União) aponta sobrepreço em dois contratos dos Correios com a empresa Skymaster Airlines, contratada para o serviço de postagem noturna. A Diretoria de Operações da estatal, responsável pelo negócio, estaria na área de influência do secretário-geral do PT, Silvio Pereira.
O contrato assinado em janeiro de 2004 previa gastos anuais de R$ 78 milhões. Num dos casos examinados, o TCU apurou acréscimo de 108% no valor contratado. O preço de um voo de R$ 213 mil, em dezembro de 2003, subiu para R$ 445 mil em 2004.
O TCU compara valores de duas linhas aéreas exploradas pela Varig, nos patamares de R$ 115,7 mil e R$ 27 mil. No caso dos Correios, os custos dos mesmos serviços subiram, sem justificativas, para R$ 229,2 mil e R$ 75 mil.

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23/6/2005 A publicitária Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), conversa com a repórter Angélica Santa Cruz, do jornal O Estado de S. Paulo. Conta detalhes de como o deputado costumava pagar as despesas, sempre em dinheiro vivo, inclusive quando comprava bilhetes aéreos para viagens internacionais:
- Teve uma época em que comecei a reclamar muito e ele passou a usar eventualmente um cartão. Mas ele mantinha um cofrão em nossa casa que parecia um armário. Tenho as notas fiscais desse cofre. Quando nos separamos, saí denunciando a existência dele. E o Valdemar mandou uma empresa ir lá retirar o cofre.
Maria Christina insinua que houve a "compra" de um pequeno partido político, o PST (Partido Social Trabalhista). A adesão do PST ao PL teria sido obtida com dinheiro vindo de uma agência de publicidade. A agência, por sua vez, teria um contrato com uma empresa estatal. Maria Christina não acrescenta maiores detalhes:
- Tenho provas de que ele usa verbas do PL em despesas pessoais. Ele tem dois carros em Moji que estão em nome do partido. Tenho cópias de cheques que passei para empresas que mobiliaram nossa casa e que saíram em nome do partido.

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24/6/2005 Levantamento feito pela revista Isto É escancara saques milionários de dinheiro vivo, em contas bancárias das agências de publicidade SMPB e DNA, de Marcos Valério. Só no período que vai de julho de 2003 a maio de 2005, R$ 20,9 milhões foram retirados do Banco Rural, em Belo Horizonte.
Os dados em poder do Ministério Público foram obtidos junto ao Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) e se referem a retiradas superiores a R$ 100 mil. O relatório registra os saques de R$ 16,5 milhões de contas da SMPB. Da DNA, outros R$ 4,4 milhões.
Houve 103 saques na boca do caixa, média de uma retirada por semana, sempre em valores acima de R$ 100 mil. As investigações identificaram que duas pessoas faziam os saques. Uma delas, Geyza Dias dos Santos, da SMPB, havia sido mencionada por Fernanda Karina Ramos Somaggio. Da Isto É:
"Em janeiro de 2004, por exemplo, foram retirados R$ 2,8 milhões. Em setembro do mesmo ano foi retirado R$ 1,3 milhão. Em 2003 se deram os maiores saques nas contas das duas empresas: R$ 11 milhões, no total. Apenas entre setembro e outubro foram feitos 20 saques na seguinte sequência: seis de R$ 250 mil, quatro de R$ 300 mil, três de R$ 100 mil, dois de R$ 200 mil, um de R$ 112 mil, um de R$ 350 mil, um de R$ 500 mil (o maior deles, no dia 10 de outubro) e um último de R$ 385 mil. Em 2003, os saques somaram R$ 11 milhões. No ano passado, as retiradas chegaram a R$ 10 milhões."

Divulgado relatório da comissão de sindicância realizada no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Detalha operações suspeitas de irregularidades que envolvem o presidente da estatal, Lídio Duarte, indicado pelo PTB, e o diretor comercial, Luiz Eduardo Pereira de Lucena, da cota do PP no governo Lula.
O documento indica conluio entre os dois altos funcionários do IRB e executivos das estatais Furnas Centrais Elétricas, Eletrobrás e Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) para favorecer de forma ilegal três corretoras de seguro: a Assurê, de Henrique Brandão, amigo do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), e as empresas Cooper Gay, uma multinacional inglesa, e Alexander Forbes, de origem sul-africana.
A comissão de sindicância recomenda a abertura de processo criminal por tráfico de influência e ação cível por improbidade administrativa contra os dois dirigentes do IRB. Eles concederam vantagens indevidas às corretoras.
O relatório implica em irregularidades os diretores do IRB Luiz Appolônio Neto, sobrinho do deputado Delfim Netto (PP-SP), e Carlos Murilo Goulart Barbosa Lima, que teria sido indicado para o cargo pelos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Edison Lobão (PFL-MA), que viria a ser nomeado ministro de Minas e Energia no segundo mandato de Lula, pelo PMDB.
As corretoras citadas tiveram crescimento vertiginoso, graças a contratos de colocação de resseguros no exterior. Para a comissão de sindicância, os despachos que beneficiaram as empresas eram "desprovidos de fundamentação". O relatório cita a empresa aérea TAM, cujo resseguro seria realizado pela corretora Alexander Forbes, indicada por Lídio Duarte e Luiz Eduardo Pereira de Lucena, apesar de não levar em conta recomendações da própria TAM. Os dois também teriam favorecido a Alexander Forbes em outra oportunidade, numa renovação de apólices do sistema Usiminas.
Outro problema: a despeito de parecer técnico contrário, Luiz Eduardo Pereira de Lucena teria favorecido a Cooper Gay na renovação de seguro da Petrobras, contando com um "de acordo" de Lídio Duarte. Em mais um contrato da Petrobras contrariando parecer técnico, Lídio Duarte teria operado de forma a favorecer a Cooper Gay ao contratar uma empresa. Para isso, escreveu um simples "a Cooper poderia ser testada neste tipo de negócio".

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25/6/2005 A revista Veja entrevista Marcos Valério. Descreve que o empresário "tem passado os dias trancado com um batalhão de advogados e mergulhado em documentos e fitas de vídeo", com a finalidade de esmiuçar o depoimento de Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Comissão de Ética da Câmara.
Veja questiona Marcos Valério sobre saques em dinheiro com valores e datas compatíveis às denúncias de Roberto Jefferson. Ele responde:
- Reconheço que já fiz vultosas movimentações financeiras no Banco Rural. Tenho fazendas, compro animais. Lido com gado. Há fazendeiros que simplesmente não aceitam cheque. Tenho 13 cavalos de raça.
Quando e como o senhor conheceu Delúbio?
- Em meados de 2002. Fui levado ao PT pelas mãos do deputado federal Virgílio Guimarães, meu conterrâneo da cidade de Curvelo (MG). Aí eu pedi e ele me apresentou à maioria do pessoal do PT, inclusive o Delúbio.
Como foi o processo de aproximação com os outros líderes do PT?
- Foi também pelo Virgílio. Foi ele quem me apresentou ao ministro José Dirceu e a João Paulo Cunha.
Marcos Valério fala da amizade com Delúbio Soares:
- Nunca neguei que sou muito, mas muito amigo mesmo do Delúbio. Eu sou do interior, bicho do mato. O Delúbio é goiano, bicho do mato também. Houve aquela afinidade.
A revista pergunta sobre as 13 vezes que Marcos Valério esteve na sede do PT em Brasília, em 2005. Resposta:
- Fui tomar cafezinho com meu amigo Delúbio. Discutíamos futilidades e um pouco de política.
Evasivo, o empresário admite ter ido aos gabinetes dos ministros da Saúde, Humberto Costa (PT-PE), e dos Transportes, Anderson Adauto (PL-MG), discutir política e campanhas eleitorais. Quantas vezes Marcos Valério esteve com o ministro José Dirceu (PT-SP)?
- No período em que foi ministro, três ou quatro vezes, no máximo. Por telefone, devo ter falado duas vezes, logo no início do governo. Nossos encontros foram por acaso.
Segundo relato de empresários ouvidos por Veja, o senhor foi visto várias vezes no Palácio do Planalto, na ante-sala do gabinete do ministro José Dirceu.
- Fui mesmo várias vezes ao Palácio do Planalto. Estive lá para visitar uma conterrânea do Delúbio, chamada Sandra Cabral.
Sandra Cabral é assessora-chefe da Casa Civil. Que assuntos o senhor tinha para conversar com o braço-direito do então ministro José Dirceu?
- Ela é de Goiás, como o Delúbio. Como ele tem interesse em ser candidato a deputado federal, eu e a Sandra discutíamos os projetos do Delúbio. Conversamos muito sobre isso.
O senhor está dizendo que esteve quatro ou cinco vezes no Palácio do Planalto apenas para conversar com a assessora-chefe da Casa Civil sobre uma provável candidatura do tesoureiro do PT a deputado federal?
- É isso mesmo. A Sandra é amiga do Delúbio e estava preocupada com a campanha dele.

Três dias depois de mencionada na entrevista de Marcos Valério, Sandra Cabral faria declarações a jornalistas na sede nacional do PT, em São Paulo. Diria não ver nada de errado em tratar da eventual candidatura de Delúbio Soares no Palácio do Planalto, sede do governo:
- O Planalto, no nosso governo, felizmente, é um palácio aberto. Não só à imprensa, como a qualquer outra pessoa que entra a qualquer hora. Meu gabinete é absolutamente aberto.
Após a entrevista, foi anunciada a saída de Sandra Cabral da Casa Civil.

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26/6/2005 A Folha de S.Paulo informa que o patrimônio de Marcos Valério subiu de R$ 3,8 milhões para R$ 6,7 milhões, em apenas um ano. Justamente de 2002 para 2003, no primeiro ano do governo Lula. O jornal esclarece que praticamente todos os bens do empresário estão em nome dos filhos e da mulher, Renilda Santiago. O casal possui imóveis, carros de luxo e tem aplicações financeiras. A Folha descreve ganhos de Marcos Valério:
"Em 2002, recebeu das agências de publicidade (e coligadas) das quais é sócio R$ 504 mil a título de lucros e dividendos. No ano seguinte, foram R$ 2,95 milhões. Ou seja, o retorno que as empresas lhe proporcionaram no primeiro ano do governo Lula foi quase seis vezes maior do que em 2002."

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28/6/2005 A Polícia Federal analisa documentos apreendidos nos setores de contabilidade das empresas de Marcos Valério, mas não encontra registros de transações com gado ou cavalos. Valério mencionara negócios no setor pecuário para justificar saques em dinheiro de R$ 20,9 milhões, feitos no Banco Rural. A investigação constatou número diferente: no governo Lula, o patrimônio de Valério teria saltado de R$ 2 milhões para R$ 6,7 milhões.
Pecuaristas estranham as alegações de Valério. R$ 20,9 milhões seriam suficientes para adquirir até 50 mil cabeças de bezerro de engorda, mas o nome de Valério é desconhecido no mercado de leilões de gado. Declaração de Daniel Bilk Costa, presidente do Sindicato Nacional dos Leiloeiros Rurais:
- Os poucos pecuaristas que têm mais de 5 mil cabeças de gado são conhecidos. Ninguém que gasta R$ 20 milhões, em dinheiro e à vista, fica no anonimato.
A agência de publicidade DNA foi multada em R$ 63,2 milhões pela Receita Federal em novembro de 2004, por movimentação financeira incompatível com a receita da empresa. A agência administrou R$ 268 milhões naquele ano, quantia acima do que poderia faturar com serviços de publicidade. Suspeita-se de dinheiro de caixa 2. As agências de Valério detêm cinco importantes contas de publicidade no governo Lula: Banco do Brasil, Eletronorte, Correios, Ministério do Trabalho e Ministério do Esporte.

A secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio depõe no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Faz novas revelações sobre Marcos Valério:
- Quando o senhor Marcos ia a Brasília, sempre no dia ou no dia anterior eram sacadas grandes quantias de dinheiro, pela Geyza ou pelos boys. Os boys falavam que tinha saque de R$ 1 milhão. O dinheiro era levado para o Departamento Financeiro da agência, onde a Simone e a Geyza dividiam os maços e colocavam nas malas.
- O senhor Marcos passava na empresa e pegava as malas para levar no avião fretado. Algumas vezes, a Simone diz que ficava em um hotel em Brasília, dentro de um quarto, o dia todo, contando dinheiro. E era um entra e sai de homem que ela ficava muito cansada. Ela só contava dinheiro e passava para essas pessoas.
A funcionária Geyza Dias dos Santos trabalha no Departamento Financeiro da SMPB com a gerente Simone Vasconcelos. Simone também usava quartos do hotel Grand Bittar, em Brasília, onde se hospedava, para repartir o dinheiro da propina. Os boys são Marquinhos e Orlando, cujo trabalho era retirar dinheiro no Banco Rural e no Banco do Brasil e transportá-lo até a agência.
Fernanda Karina entrega a agenda de trabalho ao Conselho de Ética, com anotações do período em que foi secretária de Marcos Valério. Lista quatro encontros do empresário com Marcus Vinicius di Flora, secretário-adjunto da Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Traz referências a Márcio Lacerda, secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, braço-direito do ministro Ciro Gomes (PSB-CE). Uma ordem de Marcos Valério: é para deixar motorista à disposição de Delúbio Soares, sempre que o tesoureiro do PT estiver em Belo Horizonte.
Apontamentos na agenda Fernanda Karina registram encontros de Marcos Valério com os deputados José Mentor (PT-SP) e João Magno (PT-MG). Tem lembrete para a secretária presentear Marcus Vinicius di Flora e outro deputado, João Paulo Cunha (PT-SP), com canetas Mont Blanc. O nome do tesoureiro nacional do PL, Jacinto Lamas, homem de confiança do deputado Valdemar Costa Neto (SP), aparece três vezes. A agenda também registra o nome do petista Henrique Pizzolato, diretor de Marketing do Banco do Brasil, com quem Marcos Valério também se encontrava com certa frequência.
As retiradas de dinheiro, segundo a secretária Fernanda Karina:
- Os saques eram feitos antes das reuniões do senhor Marcos com os senhores Delúbio e Silvio Pereira, marcadas por mim nos hotéis Blue Tree Towers em Brasília, e Sofitel em São Paulo. O senhor Marcos só dizia que era para os amigos de Brasília.
"Detalhes" da agenda de Fernanda Karina: em 3 de dezembro de 2003, dois dias antes de reunião entre Marcos Valério e Silvio Pereira, secretário-geral do PT, o empresário sacou R$ 200 mil. Alguns dias depois, em 11 de dezembro, novo encontro com Silvio Pereira. Na véspera, retirada de R$ 120 mil. Outra anotação, esta de outubro de 2003: mandar flores a Silvio Pereira, um presente pelo nascimento da filha do secretário-geral. "Parabéns pela vinda de Luana. Que seja feliz", diz o recado, ditado por Marcos Valério.

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29/6/2005 Apesar da resistência da base aliada do governo Lula, o Senado instala a CPI dos Bingos. Na CPI dos Correios, os governistas trabalham contra a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Marcos Valério. O esforço é em vão. Vencidos, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) e o deputado Maurício Rands (PT-PE) tentam impedir o depoimento de Marcos Valério. Vencidos mais uma vez, insistem na definição de uma pauta restrita, limitando o questionamento ao empresário ao caso dos Correios. Não querem indagações acerca de saques em dinheiro vivo ou perguntas sobre as amizades de Marcos Valério dentro do governo Lula e do PT.
Marcos Valério, por sua vez, presta depoimento à Polícia Federal. Ao lado dele, três advogados para orientá-lo. Agora, ele nega ter usado dinheiro vivo para comprar gado, como havia declarado à revista Veja. Em sua nova versão, o dinheiro serviu para pagar fornecedores de empresas, comprar ativos e distribuir lucros entre os sócios. Sem maiores detalhes.
Depois da Polícia Federal, Marcos Valério presta esclarecimentos à Comissão de Sindicância da Câmara dos Deputados. Não dá informações sobre os "ativos" nos quais teria aplicado o dinheiro sacado. Em relação à entrevista à revista Veja, teria sido só uma "brincadeira".

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado José Múcio (PE), líder do PTB na Câmara, confirma ter participado de jantar na casa de Roberto Jefferson (PTB-RJ), em Brasília, em março de 2005. Estavam presentes José Genoino, presidente nacional do PT, e os tesoureiros do PT e do PTB, Delúbio Soares e Emerson Palmieri. O encontro serviu para Jefferson pedir mais R$ 4 milhões ao presidente do PT. Com o dinheiro, acertaria a segunda parcela dos R$ 20 milhões prometidos pelo partido de Lula ao PTB, para gastos supostamente efetuados na campanha eleitoral de 2004.
José Múcio também confirma reunião anterior, realizada em junho de 2004, na sede do PT, em Brasília, com as presenças de Roberto Jefferson, Emerson Palmieri, José Genoino, Delúbio Soares e do secretário de comunicação do PT, Marcelo Sereno, para fazer o acordo dos R$ 20 milhões. Para registrar: até o jantar de março de 2005, José Múcio desconhecia que o PT já havia repassado R$ 4 milhões para o PTB. Palavras dele:
- Foi quando ouvi falar nos R$ 4 milhões e quando o Roberto pediu outros R$ 4 milhões para regularizar a situação, porque ele tinha ficado numa situação extremamente desconfortável no partido, por causa do acordo não cumprido dos R$ 20 milhões. Ele disse: "Com R$ 4 milhões resolvo o problema".
Com elegância, José Múcio insinuou que Roberto Jefferson, presidente do PTB, teria ficado com os R$ 4 milhões para si:
- Tenho quase certeza absoluta de que não chegou ao partido.
Aqui, José Múcio se distancia de Roberto Jefferson, a quem servia como líder do PTB na Câmara. A recompensa por isso virá no segundo mandato de Lula, no qual será nomeado líder do governo na Câmara, ministro das Relações Institucionais e ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).

Prestam depoimento no Conselho de Ética, ainda, José Genoino e a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO). José Genoino admite conhecer Marcos Valério:
- Eu estive apenas algumas vezes com ele, na sede do PT, para cumprimentar, numa relação social, na medida em que ele tinha relação mais próxima com o companheiro Delúbio Soares.
Raquel Teixeira relata telefonema de Alon Feuerwerker, assessor do ministro Aldo Rebelo (PC do B-SP), nos dias seguintes à entrevista na qual Roberto Jefferson (PTB-RJ) revelou a existência do mensalão.
- Ele disse que o objetivo era tratar de uma emenda minha de R$ 1 milhão.

A Folha de S.Paulo publica reportagem de Cláudia Trevisan, segundo a qual o PT emprestou R$ 3,6 milhões do Banco Rural em 2003, apesar de jamais ter tido conta na instituição financeira até Lula vencer as eleições de 2002. Em dezembro de 2004, o valor do empréstimo atingira R$ 5,1 milhões. Outro dado: quando o PT conseguiu o financiamento dos R$ 3,6 milhões, estava com o patrimônio líquido negativo, em R$ 4,2 milhões. Não era recomendável que um banco concedesse crédito.
Além do Banco Rural, o banco BMG. A Folha revela que o segundo banco, também com sede em Belo Horizonte, emprestou outros R$ 2,4 milhões ao PT em 2003. A dívida junto ao BMG chegou a R$ 2,7 milhões em 2004. O Banco do Brasil, por sua vez, único credor do PT em 2002, aumentou o nível de financiamentos ao partido. Dos R$ 705 mil registrados em 2002, foram R$ 1 milhão no ano seguinte. Em 2004, R$ 3,5 milhões. Ao mesmo tempo, o patrimônio líquido do PT alcançava R$ 24,7 milhões, negativos.

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30/6/2005 Roberto Jefferson no ataque. A Folha de S.Paulo publica novas acusações do presidente nacional do PTB. Agora, um esquema de desvio de dinheiro engendrado na empresa Furnas Centrais Elétricas. A maracutaia envolveria o diretor de Engenharia da empresa, Dimas Toledo. Ele teria se reunido com Roberto Jefferson, na casa do deputado, em 13 de abril de 2005.
Roberto Jefferson diz à repórter Renata Lo Prete que "sobram" R$ 3 milhões por mês em Furnas. A operação teria sido relatada por Dimas Toledo. A divisão do dinheiro: R$ 1 milhão para o PT nacional, repassado ao tesoureiro Delúbio Soares; R$ 1 milhão para o PT de Minas Gerais, levado ao partido pelo diretor de Administração de Furnas, Rodrigo Botelho Campos; e R$ 1 milhão dividido meio a meio: R$ 500 mil para a diretoria de Furnas e R$ 500 mil para alguns deputados que deixaram o PSDB e ingressaram no PTB.
O presidente do PTB nomeou três deputados desse grupo: Osmânio Pereira (MG), Salvador Zimbaldi (SP) e Luiz Piauhylino (PE), sendo que o último já se transferira novamente, para o PDT. Coube ao grupo indicar o diretor de Finanças de Furnas, José Roberto Cesaroni Cury.
A história, confusa, vai até Lula. Jefferson explica: o PTB havia escolhido Francisco Pirandel para ser o diretor de Engenharia, no lugar de Dimas Toledo. No loteamento do governo Lula, coubera ao partido nomear o cargo ocupado por Toledo. Informado da "sobra" dos R$ 3 milhões por Toledo, que lutava para manter o cargo, Jefferson contou tudo ao ministro José Dirceu:
- Tudo o que o Dimas me explicou eu relatei depois ao Zé Dirceu. Ele confirmou que era isso mesmo. Percebi claramente que o Zé Dirceu estava jogando contra a nomeação do Pirandel.
A proposta de José Dirceu, segundo Roberto Jefferson:
- "Roberto, vamos resolver esse negócio por cima. Deixa o Dimas lá. A gente faz um acerto direto entre o PT e o PTB".
Jefferson aceitou. Em 26 de abril de 2005, no Palácio do Planalto, o último encontro de Jefferson com o presidente. Lula foi logo cobrando, não estava satisfeito com a situação em Furnas:
- "Roberto, por que está demorando tanto?"
Jefferson responde que estava sofrendo pressões, mas sem dar detalhes. E diz aceitar uma "solução de compromisso". Lula não quer:
- Nada disso. O Dimas vai sair.
Pouco mais de duas semanas depois, a revista Veja publicava a gravação com Maurício Marinho, em que Jefferson aparecia como o chefe da corrupção nos Correios. Veio a crise do mensalão e a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff (PT-RS), suspendeu tudo. Dimas Toledo ficaria no cargo.
Neste ponto, com as novas denúncias de Roberto Jefferson, o Palácio do Planalto exonera todos os diretores de Furnas mencionados por Jefferson. Para diminuir o desgaste, uma nota da estatal federal pontua que os afastados "solicitaram licenças de seus cargos, até que as apurações necessárias estejam concluídas". Caem Dimas Toledo, com 35 anos de Furnas, José Roberto Cesaroni Cury e Rodrigo Botelho Campos, ex-vice-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT), indicado do PT.

Em mais uma sessão tumultuada, Roberto Jefferson presta depoimento à CPI dos Correios. Ele admite que pediu dinheiro ao diretor de Administração dos Correios, Antônio Osório:
- Eu pedi a ele que, se possível, na relação com qualquer empresário privado, ele pudesse no final ajudar o caixa oficial do partido.
Jefferson também chama para si a responsabilidade sobre o destino dos R$ 4 milhões que, segundo ele, foram repassados ao PTB pelo PT. Recusa-se a dar nomes de supostos beneficiários do dinheiro.
- Não admito que o partido pegou, morre comigo a informação. Não vou prejudicar os inocentes, recebo na pessoa física, por omissão do presidente do PT e erro meu.
O foco do depoimento, o pagamento de mensalões:
- Na raiz do mensalão está o troca-troca de partido. Até luvas de R$ 1 milhão e financiamento de R$ 30 mil de taxa de manutenção nós já temos.
- O senhor Marcos Valério, versão moderna e macaqueada do senhor PC Farias, sacava R$ 1 milhão por dia nas contas do Banco Rural. Ou sacava em Minas Gerais ou no prédio do banco no Brasília Shopping, no nono andar, onde muitos assessores dos que recebem mensalão, que estão registrados na portaria, subiam até o escritório do banco para receber R$ 30 mil, R$ 40 mil, às vezes R$ 20 mil ou até R$ 60 mil.
- Tem que procurar no Banco do Brasil também, porque recordo que, dos recursos que recebi do PT, 60% eram notas etiquetadas do Banco do Brasil.
Jefferson chuta o pau da barraca:
- Não há, povo do Brasil, cidadãos do Brasil, eleição de deputado federal que custe menos de R$ 1 milhão ou de R$ 1,5 milhão. Mas a média, aqui na CPI e na Câmara, na prestação de contas, é de R$ 100 mil. Não há eleição de senador que custe menos que R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões, mas a prestação de contas, na média, é R$ 250 mil. Esse processo começa na mentira e deságua no PC Farias, nos outros tesoureiros e, agora, no senhor Delúbio e no senhor Valério.
- É de deixar a gente perplexa. Ou alguém tem dúvida que a campanha mais rica de 2002 foi a campanha do PT? A mais milionária, a mais poderosa de todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí? E as declarações da Justiça Eleitoral não traduzem a realidade. Nem a minha, porque é igual à dos senhores.
- Participei no passado de uma CPI, a CPI do PC, como advogado. Tentei fazer naquela CPI o que vi ontem aqui por parte de alguns políticos: impedir que as investigações avançassem. Procurei evitar que os fantasmas do PC Farias pudessem viver à luz do dia. E, nessa inversão de papéis, vi que muitos que ontem exorcizavam tais fantasmas agora estão caçando eles. Só que não são mais os fantasmas de PC. São os fantasmas do Delúbio e do Marcos Valério.
- PC Farias é pinto perto do que se vê de corrupção no PT.
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) acusa Roberto Jefferson de ter servido "ao mais corrupto governo da história do Brasil, o de Fernando Collor de Mello". Jefferson retruca:
- Servi também ao de vossa excelência!
E vai em frente:
- Não tente empurrar nada para o PTB. No Rio Grande do Sul, o governo do PT viveu o escândalo do apoio dos bicheiros e tentou jogar tudo para debaixo do tapete. Bicheiros e Waldomiro Diniz são coisas do PT.
- O PT, que fez da ética e da moralidade a sua bandeira, rasgou agora a bandeira. A mim isso não traz felicidade. Chafurdou, se sujou como os outros no passado, nos quais atirou pedra. E para que isso não se repita temos de enfrentar a raiz do financiamento eleitoral. Esses fantasmas que ficam rondando o poder, Delúbio, PC Farias, Valério, é sempre a mesma prática.
- Não vim aqui mendigar em favor do meu mandato. Já passei dele. Não vim perorar pelo deputado, absolutamente. Enfrento uma luta aqui como cidadão, como homem, como chefe de família. Saio do Congresso da maneira que entrei, pela porta da frente. Ninguém vai me colocar de joelhos e com o rabo entre as pernas. Ninguém vai me acanalhar. Não faço papel do herói, porque não sou melhor que os senhores, sou igual. Não faço papel de vilão porque não sou, porque os senhores e senhoras não são melhores do que eu.
Já no final do depoimento, mais uma denúncia: Marcos Valério, em reunião intermediada pelo tesoureiro Delúbio Soares, ofereceu um negócio que renderia R$ 100 milhões ao PT e ao PTB. Uma operação no coração do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Jefferson tinha de convencer o presidente do IRB, Luiz Appolônio Neto, a fazer uma transferência de US$ 600 milhões de aplicações do IRB. Luiz Appolônio Neto fazia parte do círculo de influência de Jefferson. A comissão do negócio, os tais R$ 100 milhões:
- O Marcos Valério pediu que eu influenciasse na operação de transferência de US$ 600 milhões de uma conta que o IRB tem no exterior, não sei se na Inglaterra ou na Suíça, para o Banco Espírito Santo, em Portugal.
A proposta de Marcos Valério teria sido feita em abril de 2005, na sede do PTB, em Brasília. Na época, o Banco Espírito Santo manteria interesses no Brasil. Roberto Jefferson conta que, em seguida, telefonou para José Genoino, o presidente nacional do PT. Contou-lhe o que ouviu. Disse assim:
- "Zé, esse cara é doido, ele acha que chove dinheiro, que dinheiro dá em árvore." Resposta de José Genoino:
- Fica tranquilo, que ele resolve.

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2/7/2005 A revista Veja traz detalhes da "sociedade secreta" entre Marcos Valério e o PT. A reportagem de Alexandre Oltramari conta a história do empréstimo de R$ 2,4 milhões do BMG ao PT. A operação foi avalizada por José Genoino, Delúbio Soares e Marcos Valério. O empréstimo, de fevereiro de 2003, não foi quitado pelo PT. O partido acabou socorrido por Valério. O empresário pagou uma das parcelas da dívida, no valor de R$ 350 mil.
De posse dos documentos que comprovavam a transação, Veja perguntou ao presidente do PT se Marcos Valério assinou aval para o partido. Com a palavra, José Genoino:
- Não sei de nada disso, não. Eu tenho de me informar. Acabei de descer do avião... Acho que não tem isso. Vou me informar. Me liga em uma hora.
Uma hora depois, na sede do PT em São Paulo:
- Olha, não tem isso, não. O que temos com o Marcos Valério são dívidas de campanha de políticos que ele fez para a gente como publicitário.
Ele nunca foi avalista do PT em alguma operação bancária?
- Nunca. Ele nunca foi avalista do PT. Não tem isso, não.
A transação é comprometedora porque as agências de publicidade de Marcos Valério, como se sabe, dispõem de contratos com o Governo Federal avaliados em R$ 144,4 milhões. Da reportagem:
"Isso mostra a existência de um ciclo conhecidíssimo, mas que raramente se consegue trazer à luz com tanta nitidez como agora: o dinheiro sai dos cofres públicos, faz uma escala na conta da agência de publicidade e acaba aterrissando no caixa do PT."
Para entender melhor:
"No início do ano passado, a empresa de participações de Valério, a Graffiti, que controla a agência de publicidade DNA, contraiu um empréstimo de mais de R$ 15 milhões e deu como garantia a receita de um contrato publicitário que, pouco antes, fora firmado entre a SMPB e os Correios."
O repórter quis ouvir Valério. Ele havia negado em entrevista anterior que dera aval ao PT. Quem fala, porém, é o advogado e sócio, Rogério Tolentino:
- Por orientação dos advogados, ele não vai fazer nenhuma afirmação que possa conflitar com a defesa. Por isso, ele não pode confirmar, desmentir nem dar nenhum esclarecimento.
A direção do BMG também foi procurada, para explicar por que o banco não executou as garantias do empréstimo. Afinal, a operação não fora quitada pelo PT. A explicação, em nota:
"A direção do BMG não pode comentar as informações levantadas pela revista em respeito à lei do sigilo bancário."

As investigações mostram Marcos Valério no olho do furacão. Coincidem os saques de dinheiro no Banco Rural e o troca-troca partidário. O dinheiro saia do Banco Rural, os deputados deixavam a oposição e ingressavam na base aliada do governo Lula, em quatro partidos: PTB, PL, PP e o próprio PT.
Dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) indicam retiradas de R$ 6,4 milhões, entre agosto e outubro de 2003. Foi um período de grande migração partidária. As bancadas dos quatro partidos governistas ganharam 16 deputados. O crescimento da base aliada prosseguiu depois. A bancada do PL subiu de 26 para 52 parlamentares. A do PTB, de 26 a 47. E a do PP, de 49 a 55.

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3/7/2005 O programa Fantástico, da TV Globo, conta a história de uma mala de dinheiro entregue ao deputado José Borba (PMDB-PR), líder do partido na Câmara. José Borba esteve na agência do Banco Rural no Brasília Shopping em dezembro de 2003, quando ocorreram saques em dinheiro vivo.
Relato da secretária Fernanda Karina Ramos Somaggio, entrevistada pelo Fantástico: Marcos Valério se encontrou com Borba três ou quatro vezes, em Brasília. E levou uma mala de dinheiro para o deputado. Diz Fernanda Karina:
- Uma vez, eu me lembro que o senhor Marcos saiu com uma mala e foi para Brasília no avião do Banco Rural. E eu sabia que nessa mala tinha dinheiro. Ele pediu para eu ligar para o José Borba e depois para Delúbio ou Silvio Pereira, para dizer que estava indo para Brasília encontrar José Borba.
José Borba nega conhecer Marcos Valério:
- Nunca houve contato, nenhum encontro.

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4/7/2005 Cai Silvio Pereira, o secretário-geral do PT. "Silvinho", como é conhecido, disfarça o afastamento do partido com um pedido de licença. Entre outras coisas, ele foi acusado de organizar a distribuição de cargos no governo Lula, embora nunca tenha ocupado posição pública na administração federal. Costumava despachar dentro do Palácio do Planalto. É do grupo do deputado José Dirceu, o Campo Majoritário, corrente do PT que também abriga Lula.
Silvinho ganhou notoriedade ao defender a permanência do governador Flamarion Portela (RR) no PT, apesar das acusações de desvio de verba que pesavam contra ele. O governador acabou cassado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). É possível que o afastamento de Silvinho já tenha a ver com a história do jipe Land Rover que o secretário-geral ganhou de presente de uma empresa contratada pela Petrobras. O assunto ainda não é público.
A imprensa põe as mãos em relatório de prestação de contas do PT, do ano de 2004. O documento foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em dois anos, o partido do presidente Lula reconheceu que fez empréstimos de R$ 28,1 milhões junto ao Banco do Brasil, Banco Rural e BMG. O BMG entrou com R$ 2,4 milhões, e os detalhes foram revelados pela revista Veja. O Banco Rural, com outros R$ 5,1 milhões. E o restante, R$ 20,6 milhões, veio do Banco do Brasil, sendo a maior parte em contratos de leasing, para supostamente comprar 10 mil computadores e impressoras para o partido.
A oposição estranha a relação entre o partido do presidente da República e o Banco do Brasil, que se recusa a divulgar garantias, avalistas, taxas de juros ou quaisquer dados sobre os contratos assinados com o PT. O Banco do Brasil também se nega a informar se as parcelas do empréstimo vêm sendo honradas pelo partido. Alega sigilo bancário. Balanço do próprio PT acerca do patrimônio líquido da sigla no final de 2004, porém, registra um resultado de R$ 24 milhões negativos.
Outra revelação: apesar de o PT não ter saldado a operação de crédito de R$ 2,4 milhões feita em 2003, o BMG destinou no ano seguinte mais da metade das suas doações às campanhas eleitorais do partido do presidente da República. Os dados são do TSE. Dos 26 candidatos que receberam R$ 795 mil do BMG, 20 pertenciam ao PT. Ficaram com R$ 505 mil da bolada.
Mais Marcos Valério. A Folha de S.Paulo apura que as agências DNA Propaganda e SMPB Comunicação, de Marcos Valério, registraram depósitos bancários de R$ 500 milhões em 2004:
"Especialistas do meio publicitário ouvidos pela reportagem calculam, com base em estimativas de gastos das duas agências com a compra de espaço para veiculação de comerciais, que os ingressos de recursos nas contas da DNA e da SMPB são três vezes superiores ao que poderia ser justificado com a atividade de publicidade e propaganda em 2004."
No editorial "O amigo publicitário", a Folha afirma que "a promiscuidade entre a vida financeira das empresas de Valério e a do PT tornou-se flagrante":
"O episódio não é apenas constrangedor. Trata-se de uma acintosa violação aos mais elementares princípios republicanos. O fato de um publicitário responsável por contas de órgãos governamentais pagar dívida do partido do presidente da República já é, em si, um escândalo."
A Agência Reuters divulga tabela com o cruzamento de dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda). Existem coincidências entre votações importantes no Congresso Nacional, para aprovar projetos de interesse do governo Lula, e saques de dinheiro das contas das empresas de publicidade de Marcos Valério.
A análise contempla R$ 21 milhões em retiradas, durante dois anos. Média de um mensalão de R$ 30 mil por dia. Nas datas de votação de projetos importantes para o governo, os saques diários subiam para R$ 106 mil.
O levantamento: a votação em segundo turno da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados, em 24 de setembro de 2003, coincidiu com retiradas de R$ 1,2 milhão nos dias 23, 25 e 26 daquele mês. Em dezembro de 2003, a Reforma Tributária foi aprovada pelo Senado. Houve um novo pico de saques, no total de R$ 2,8 milhões, em janeiro de 2004.
Em março de 2004, o governo Lula precisou de apoio para neutralizar as investigações sobre o caso Waldomiro Diniz. Também queria aprovar Medida Provisória contra as casas de bingo, para sinalizar que não compartilhava das irregularidades. Retiradas no período: R$ 1 milhão. Em seguida, mais R$ 700 mil, nos dias em que o Congresso debatia e aprovava o novo salário mínimo.
Mais uma coincidência: a aprovação da Medida Provisória que deu status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ocorreu em 1º de dezembro de 2004. Graças a ela, Meirelles ficou com foro privilegiado para se defender de denúncias de crime eleitoral, evasão de divisas, sonegação e lavagem de dinheiro. Dois dias antes, saques de R$ 480 mil no Banco Rural.

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5/7/2005 Cai Delúbio Soares, o tesoureiro do PT acusado de tantas falcatruas. O afastamento é disfarçado de pedido de licença. Delúbio Soares desliga-se do PT, mas trata de proteger o presidente do partido, José Genoino. Isenta-o de qualquer responsabilidade nas decisões da área financeira do partido. E manda a surrada cantilena: acusa "conservadores" e "setores da direita" pelo escândalo do mensalão. Insiste: tudo não passa de manobra, cuja orquestração tem o objetivo de aprovar o impeachment de Lula.
Integrante do Campo Majoritário do PT, Delúbio Soares é considerado por correligionários e gente do próprio governo um "homem-bomba". Sabe demais. Sempre teve fortes ligações com Lula. A amizade com o presidente vem dos tempos de sindicalismo. Foi dirigente da CUT. Em 2000, entrou para a direção executiva do PT. Lula era o presidente de honra do PT. Participou de reuniões no Palácio do Planalto. Sem ocupar cargo no governo, foi convidado para eventos oficiais. Esteve na comitiva de Lula em viagem à África.

O líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PR), volta atrás e agora admite conhecer Marcos Valério. José Borba, aliado do governo Lula, divulga nota à imprensa para refutar qualquer comportamento ilegal. O resultado é desastroso. Termina acusando Marcos Valério de negociar cargos no governo. A repercussão do caso faz Borba perder o cargo de líder do PMDB. A nota:
"Nunca recebi do senhor Marcos Valério qualquer numerário ou recursos financeiros, limitando-se o relacionamento ao fato de que o mesmo fazia parte do grupo do PT, que exercia efetiva influência político-administrativa junto ao Governo Federal."
E mais: "O meu relacionamento com líderes do PT, integrantes de sua executiva nacional e o senhor Marcos Valério sempre foram delimitados pela tratativa da ocupação de cargos públicos, em razão de pleitos de integrantes de nossa bancada, sendo leviana e politiqueira qualquer especulação de favorecimento financeiro a deputados do PMDB".
E, por fim: "O que discuti com dirigentes do PT e o senhor Marcos Valério é o que lideranças partidárias discutem hoje e sempre discutiram em todos os governos, a nomeação de seus partidários para cargos na administração".

O Congresso instala a CPI do Mensalão. Mais uma derrota do governo. Durante dez dias, a bancada governista, orientada pelo Palácio do Planalto, tentou impedir a comissão de inquérito. Em seu lugar, propunha apurar a compra de votos, com a alegação de que era preciso investigar a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), ocorrida em 1998. Agora, com três CPIs em funcionamento, muda a tática do governo. A base aliada parte para confundir as investigações, tumultuar os processos, dispersar os trabalhos e cansar a opinião pública. Desmoralizar as CPIs.

Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) em poder da CPI dos Correios indica que a agência DNA Propaganda recebeu, durante os primeiros dois anos e meio da era Lula, R$ 419,2 milhões em depósitos, numa conta do Banco do Brasil em Belo Horizonte. A metade do dinheiro, R$ 219 milhões, foi depositada irregularmente, sem identificação da origem dos recursos.
O expediente contraria a legislação de combate à lavagem de dinheiro, que obriga os bancos a obter declarações dos clientes sobre a origem de depósitos com valores superiores a R$ 100 mil. Além disso, a informação sobre os depósitos precisa ser registrada no Banco Central. O relatório do Coaf também identificou, no último ano, uma movimentação de R$ 5,5 milhões, em dinheiro vivo. A quantia passou por uma conta da SMPB Comunicação, em agência do Banco Bradesco de Belo Horizonte. Marcos Valério obtémhabeas-corpus para depor na CPI dos Correios sem correr o risco de ser preso.

Investigações mostram que Jacinto Lamas, tesoureiro do PL, esteve 15 vezes na agência do Banco Rural no Brasília Shopping, nos dois primeiros anos do governo Lula. As visitas foram registradas no sistema de segurança do edifício. Em nove das 15 vezes, houve saques que totalizaram R$ 2,3 milhões.
Jacinto Lamas frequentava o Banco Rural nos horários em que as agências bancárias estão fechadas, no começo da manhã ou no período noturno. O sistema de segurança também registrou o nome de Alexandre Chaves Rodrigues, motorista do então presidente do PTB, José Carlos Martinez. Esteve na agência em 14 de janeiro de 2004, dia de um saque de R$ 250 mil.

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6/7/2005 Marcos Valério depõe na CPI dos Correios. Nega conhecer o mensalão. Nega envolvimento em quaisquer irregularidades. Não satisfaz. Alega que pagou "fornecedores" com saques em dinheiro vivo de R$ 20,9 milhões. Tampouco convence quando diz que "a amizade por Delúbio" foi o motivo que o levou a ser avalista do empréstimo bancário de R$ 2,4 milhões ao PT. Parlamentares fazem graça da versão. Temendo a execução da dívida, Valério resolvera pagar uma parcela do empréstimo, no valor de R$ 350 mil.
Valério admite ter se reunido com o presidente do Banco Rural e o ministro José Dirceu (PT-SP) no Palácio do Planalto. Rechaça a hipótese de ter sido beneficiado em licitação que escolhia agência de publicidade para atender os Correios. E responde se fez doações a campanhas eleitorais:
- Se fiz alguma doação, foi dentro da lei... Doação, que me lembre, não. Como pessoa física, não fiz nenhuma doação.

Os empréstimos de R$ 20,6 milhões do Banco do Brasil para o PT derrubam dois dirigentes do banco. Caem os vice-presidentes de Finanças, Luis Eduardo Franco de Abreu, ligado ao PT, e o de Varejo, Edson Monteiro.
De novo o Coaf. Vem à tona que um procurador da Fazenda Nacional, Glênio Guedes, recebeu R$ 902 mil de Marcos Valério. Foram duas transferências, no final de 2003: uma de R$ 782 mil, outra de R$ 120 mil. À CPI, Valério disse ter conhecido o procurador num clube. Guedes foi afastado do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. Motivo alegado: deu parecer a favor do arquivamento de um processo contra o Banco Rural.
O jornalista Gilberto Alípio Mansur admite ter recebido R$ 300 mil da SMPB, por serviços prestados à agência de Valério. Suspeita-se que ele intermediou encontro de Valério com a direção da Editora Três, que edita a revista Isto É, para evitar a publicação de entrevista com Fernanda Karina.

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Carlos Rodrigues (PL-RJ), acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos deputados operadores do mensalão, reconhece que se reuniu com Delúbio Soares e Silvio Pereira para fazer "negociações políticas".
Carlos Rodrigues lista as nomeações que fez no governo Lula: dois diretores da Companhia Docas do Rio, um diretor do Serviço de Patrimônio da União, o diretor-administrativo do Portus, fundo de pensão do sistema portuário, e um diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

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7/7/2005 E surge mais um empréstimo guardado em segredo pelo PT. O site da revista Época na internetdivulga operação de crédito no Banco Rural, de maio de 2003, no valor de R$ 3 milhões. O PT é o beneficiário e o avalista do empréstimo, mais uma vez, Marcos Valério. Ele assina a transação com o presidente petista, José Genoino, e com o tesoureiro, Delúbio Soares.
Da reportagem dos jornalistas Ricardo Mendonça e Eliane Brum: "As novas revelações caíram como um petardo sobre a imagem pública do PT. E, da porta para dentro, o partido implodiu. Quando surgiu o primeiro empréstimo garantido por Valério, no BMG, Genoino negou sua existência depois de consultar o tesoureiro Delúbio Soares. Desmentido publicamente e desgastado, Genoino entrou em depressão e se confessou magoado com Delúbio, que não o teria informado corretamente. Na quinta-feira, quando foi procurado por Época para falar do novo empréstimo, a respeito do qual novamente não tinha o que explicar, o presidente do PT deixou a mágoa de lado e passou a xingar Delúbio pelos cantos do partido, em São Paulo".

Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, presta depoimento à CPI dos Correios. Reafirma denúncias e trata do relacionamento de Marcos Valério com o deputado José Mentor (PT-SP). O petista foi o relator da CPI do Banestado, uma comissão de inquérito encarregada de investigar remessas ilegais de dinheiro para o exterior, em 2004:
- Uma vez, quando Mentor telefonou com uma notícia sobre a CPI do Banestado, o senhor Marcos Valério mandou que eu pegasse as 25 pastas suspensas em que ele guardava notas fiscais e de investimentos e picotasse tudo. Foram feitos quatro sacos de papel picado. O Marcos Valério só saiu da minha frente quando eu tinha picado tudo.
Sobre a logística dos saques de dinheiro vivo no Banco Rural, em operações determinadas por Marcos Valério e tocadas por Simone Vasconcelos, pessoa de estrita confiança do empresário:
- A Simone ligava, avisando que os boys iam passar no banco e a agência abria mais cedo. Eram dois ou três boys que se dirigiam ao banco para dar garantia, em caso de assalto. Acontecia pelo menos uma vez por semana. O dinheiro era acomodado em valises tipo 007, que ficavam no Departamento de Finanças da agência.
O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), quer a confirmação de que o dinheiro ia mesmo para parlamentares no Congresso Nacional. Fernanda Karina Somaggio descreve o procedimento de Valério:
- Ele falava algumas vezes com o Delúbio e depois ligava para outras pessoas, falando: "Olá, deputado. Amanhã vou estar em Brasília". Um dia que eu o ouvi falando isso teve um saque, e ele viajou no dia seguinte.

Movimentação bancária de Marcos Valério intriga a CPI e dá pistas sobre os caminhos da corrupção. Trata-se de um crédito de R$ 2,4 milhões, seguido de um débito no mesmo valor. A operação foi mapeada pela Receita Federal. Ocorreu no BMG, em nome da Graffiti Participações, empresa de Marcos Valério, em 14 de julho de 2004.
O curioso é o valor do crédito, o mesmo da dívida de R$ 2,4 milhões contraída em fevereiro de 2003 pelo PT, com o aval de Marcos Valério, no mesmo BMG. Outra coincidência: naquele mesmo 14 de julho de 2004, Marcos Valério pagou R$ 350 mil da dívida do PT junto ao BMG. E mais: o Imposto de Renda da Graffiti não faz menção à origem do dinheiro, nem dá qualquer justificativa para o depósito de R$ 2,4 milhões na conta da empresa.

A Câmara dos Deputados rompe contrato com a SMPB. A agência de Marcos Valério havia sido contratada por R$ 9 milhões em 2003, quando o presidente da Câmara era o deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Durante a vigência do contrato, o petista assinou dois aditivos, autorizando acréscimos de R$ 4,7 milhões nos gastos de publicidade.
A Prefeitura de Osasco (SP), berço político de João Paulo Cunha e onde o prefeito, Emídio de Souza (PT), é aliado do ex-presidente da Câmara, anuncia o cancelamento de licitação para contratar agência de publicidade. Do certame, no valor de R$ 3 milhões, participavam 17 empresas. Vinha sendo liderado pela SMPB. Marcos Valério já prestara serviços em Osasco durante a campanha eleitoral, por meio da Estratégia Marketing, contratada para assessorar o então candidato Emídio de Souza.
Antes de anunciar o fim dos serviços da SMPB, o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), sucessor de João Paulo Cunha, já havia autorizado mais R$ 8,2 milhões para a agência de Marcos Valério.
Em cena, o ministro Luiz Gushiken (PT-SP). O publicitário Alarico Neves Assumpção prestava serviços à agência DNA de Marcos Valério. Aí, assumiu importante cargo na Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da Repúbica, comandada por Luiz Gushiken. Depois, acabou transferido para a SMPB, a outra agência de publicidade do mesmo Marcos Valério.
Alarico Neves Assumpção ocupou o posto de diretor de Mídia da Secom. Foi responsável pela supervisão de contas publicitárias do Governo Federal em ministérios e estatais. Antes de ir para a SMPB, atuou no comitê do governo Lula que negociava preços de anúncios e respondia por gastos públicos com propaganda oficial.
A força de Luiz Gushiken vem da influência nos fundos de pensão de empresas estatais. O ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini (PT-SP), é aliado histórico de Luiz Gushiken. Foi ele quem indicou o nome de Adacir Reis para chefiar a poderosa SPC (Secretaria de Previdência Complementar). Ela regula os 366 fundos de pensão do País, responsáveis por 960 planos de previdência complementar. Os fundos atendem 2,3 milhões de pessoas. Negócio de R$ 280 bilhões.
Outro aliado de Luiz Gushiken, José Valdir Gomes, foi nomeado na diretoria de Assuntos Atuariais da SPC, para exercer o controle estratégico dos fundos de pensão. Já Sérgio Rosa é presidente da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, o maior do País. Tem patrimônio de R$ 70 bilhões. Como Luiz Gushiken, Sérgio Rosa começou no Sindicato dos Bancários de São Paulo. Veio de lá também outra indicação de Luiz Gushiken: Wagner Pinheiro, presidente da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, o segundo maior do País. Patrimônio de R$ 24,9 bilhões.
Lula põe fim a boatos sobre a saída do ministro Luiz Gushiken:
- Eu quero dizer aqui, para todo o mundo ouvir, que o companheiro Gushiken continuará dirigindo a Secom. O companheiro Gushiken cuida não apenas bem da Secretaria de Comunicação, mas do mundo de assuntos estratégicos, que é uma coisa extremamente importante. Eu acho que nós não podemos, a qualquer insinuação contra qualquer companheiro, a priori, achar que as pessoas são culpadas.
O deputado José Dirceu (PT-SP), por sua vez, defende a permanência de José Genoino no comando do PT. Em reunião do Campo Majoritário, a corrente hegemônica do PT, o ex-ministro fala em "conspiração das elites":
- Querem o impeachment do presidente Lula. É disso que se trata.

Agora, o loteamento de cargos na Fundação Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas, cujo patrimônio é de R$ 4,8 bilhões. A reportagem de Irany Tereza, do jornal O Estado de S. Paulo, aponta um rateio entre os partidos políticos da base aliada do governo Lula:
"A presidência do fundo foi entregue a Marcos Antonio Carvalho Gomes, funcionário de Furnas, ex-sindicalista e petista do grupo do deputado Jorge Bittar (PT-RJ), e os demais diretores são indicados pelo PTB, PMDB e PP, num convívio administrativo extremamente conflituoso."
Os investimentos do fundo de pensão estavam concentrados em bancos de segunda linha, como o BMG e o Banco Rural. As aplicações no Banco Santos, quebrado em 2004, provocaram perdas de R$ 153,6 milhões.
Os "investimentos" no Banco Santos levaram ao afastamento do gerente de Investimentos do fundo, Benedito Siciliano, da cota do PTB. Ele foi dispensado, apesar dos protestos do diretor de Administração e Finanças, José Dias, nomeado pelo PMDB.
De acordo com o Estadão, "aplicações desse tipo, de alto risco, costumam gerar do banco compromissos de elevada rentabilidade. A suspeita é de que parte desse rendimento seria desviada para financiar partidos políticos".

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8/7/2005 Os jornais estampam nas primeiras páginas as fotografias de uma bolada de dinheiro. Trata-se do conteúdo de uma maleta com R$ 200 mil e de outros US$ 100 mil, carregados escondidos dentro da cueca do assessor de um deputado do PT. Não qualquer deputado. José Adalberto Vieira da Silva, preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, trabalha para o deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), líder petista na Assembleia Legislativa do Ceará, integrante do Diretório Nacional do PT e irmão do presidente nacional do partido, José Genoino (SP).
Antes de se calar e se recusar a prestar esclarecimentos à Polícia Federal, José Adalberto Vieira da Silva age com rapidez para apagar a memória do telefone celular. Diz ser agricultor. O dinheiro em seu poder, resultado da venda de verduras. Desmascarado, confessa ser assessor do irmão de José Genoino. Usa o paletó para cobrir o rosto e esconder-se dos fotógrafos.
José Nobre Guimarães, por sua vez, é um dos 14 parlamentares cujo nome aparece na agenda de Marcos Valério. Em entrevista, o deputado diz não saber por que seu nome está grafado entre os registros de Valério. Também ignora o que o assessor fazia em São Paulo. Deputado do Ceará, José Nobre Guimarães estava na capital paulista, no mesmo dia da prisão. Explicação dele:
- Foi tudo uma grande armação para atingir a mim e ao Genoino. Vou desvendar esse mistério.

Silvio Pereira, o ex-secretário-geral do PT, depõe na Polícia Federal. Define-se como "dirigente profissionalizado da executiva nacional do PT". Salário, R$ 9.000 mensais. O delegado Luís Flávio Zampronha de Oliveira considera incompatíveis salário e patrimônio declarado: um apartamento em São Paulo, no valor de R$ 180 mil, uma casa de praia em Ilhabela (SP), avaliada em R$ 400 mil, e um jipe da marca Land Rover, no valor de R$ 80 mil, que, segundo o depoente, foi financiado. Veremos.

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9/7/2005 Caem José Genoino, presidente nacional do PT, e Marcelo Sereno, secretário de Comunicação do partido. Marcelo Sereno é do grupo de José Dirceu. Em 2008, ele voltaria à cena, como principal executivo da Grandiflorum Participações, compradora da refinaria de petróleo Manguinhos, no Rio. Já José Genoino, ligado diretamente a Lula, manteve o PT sempre próximo do Palácio do Planalto. Outro petista afastado: José Adalberto Vieira da Silva, assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoino, o homem dos US$ 100 mil na cueca.
Lula põe gente de seu primeiro time no PT. O ministro da Educação, Tarso Genro (PT-RS), desliga-se do governo e assume a presidência do partido. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini (PT-SP), vira secretário-geral. E o da Saúde, Humberto Costa (PT-PE), é o novo secretário de Comunicação.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Tarso Genro fala de uma "crise de coerência moral do partido", com consequência "devastadora":
- O PT vive a pior crise da sua história.

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11/7/2005 O Jornal Nacional, da TV Globo, leva ao ar conversa telefônica gravada pela Polícia Federal. Foi travada em agosto de 2004, quase dez meses antes de estourar o escândalo do mensalão. A fala é de Maria Auxiliadora de Vasconcellos, auditora fiscal do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). Ela foi presa sob a acusação de integrar uma quadrilha de fraudadores.
Na conversa com outra auditora, Maria Auxiliadora de Vasconcellos insinua que o ministro José Dirceu (PT-SP) e o ex-tesoureiro Delúbio Soares recebiam uma "mensalidade" da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro). Em troca da propina, haveria relaxamento na fiscalização de empresas fluminenses. No diálogo gravado, Maria Auxiliadora de Vasconcellos cita o ex-ministro da Previdência Social do governo Lula, Amir Lando (PMDB-RO):
- Chegou às mãos do Almir Lando. Aí foi que ele disse: "Olha, na realidade, o que acontece é o seguinte: eu, no Rio de Janeiro, não vou mexer, porque eu me comprometi a não mexer. O Rio tem um contrato com a Firjan." Ele mesmo abriu o jogo: "A Firjan dá uma mensalidade, dá não sei o quê, e quem vai buscar é o Delúbio de Souza, sei lá, Soares, para as empresas não serem fiscalizadas".
Outro trecho da gravação:
- O Amir Lando é uma pessoa maravilhosa, é uma pessoa acessível, e ele foi muito claro ao dizer: "No Rio de Janeiro, eu realmente não vou mexer porque eu tenho compromisso com o José Dirceu".
O Ministério Público tem três testemunhas do suposto esquema de pagamento de propina para autoridades do Governo Federal por parte da Firjan. Os auditores receberiam ordens para não multar determinadas empresas. Em um caso investigado, houve pressão para anulação de uma multa. Após a autuação, o empresário multado obteria o cancelamento do processo, por interferência política.

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12/7/2005 Caem os ministros Luiz Gushiken (PT-SP), da Secom, e Romero Jucá (PMDB-RR), da Previdência Social. Romero Jucá, acusado de desviar dinheiro de um abatedouro de frangos, voltaria a ter forte influência na administração Lula no segundo mandato, como líder do governo no Senado e relator da CPI da Petrobras em 2009. Já Luiz Gushiken, integrante do "núcleo duro" de Lula, assegura por ora um cargo na assessoria do presidente. Vai cuidar de um certo Núcleo de Assuntos Estratégicos. A Secretaria de Comunicação e as verbas de propaganda da Presidência da República ficam por enquanto com a nova ministra da Casa Civil, Dima Rousseff (PT-RS).

Em depoimento à CPI dos Correios, Eduardo Medeiros, diretor de Tecnologia dos Correios nomeado por influência de Silvio Pereira, garante: nada sabe sobre cobrança de propina por parte de funcionários da estatal federal, cujo cargo de presidente e seis diretorias, reconhece, foram loteados entre PMDB, PTB e PT. Ele admite que tomou conhecimento em duas ou três ocasiões do vazamento de informações acerca de especificações técnicas de licitações. Era "comum", segundo ele, a visita de deputados aos Correios, acompanhados de empresários interessados em negócios com a estatal:
- A maioria era do PMDB, naturalmente, porque o ministro, o presidente e três diretorias eram do PMDB.
Durante o depoimento, surge o caso do empresário Vilmar Martins, da Metalúrgica Gadotti Martins Carrinhos Industriais. Ele denunciou licitação dirigida e a cobrança de propina no valor de 20% do valor da nota fiscal, que deveria ser entregue em dólares, sendo a metade nas mãos do próprio Eduardo Medeiros. A chantagem: se o dinheiro não fosse pago, os Correios não aceitariam a mercadoria e não haveria pagamento. Depois de negar conhecer o empresário, Eduardo Medeiros, pressionado, confessa ter conversado com Vilmar Martins, "dois ou três dias" atrás.
Em outro depoimento à CPI, Antonio Osório, ex-diretor de Administração dos Correios, aponta na direção do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Ele teria pedido dinheiro a diretores da estatal indicados pelo PTB. Alegou precisar de recursos para o caixa de campanha do partido. O dinheiro deveria ser fornecido por empresários que mantinham contratos com os Correios. Antonio Osório se reuniu com Roberto Jefferson em mais de 50 ocasiões.
A CGU (Controladoria-Geral da União) divulga relatório preliminar. Apurou 18 irregularidades em 69 contratos e licitações dos Correios. Um total de R$ 37,5 milhões em sobrepreços. Prejuízo potencial: R$ 79 milhões.

A Polícia Federal faz operações sigilosas de busca e apreensão de documentos nas instalações do Banco Rural em Lagoa Santa (MG) e no Brasília Shopping. Quer comprovar o que disse José Francisco de Almeida Rego, ex-tesoureiro do banco. Ele deu detalhes de como a SMPB remetia dinheiro de Minas Gerais para Brasília.
Segundo Almeida Rego, os saques se tornaram usuais desde o início de 2003, no primeiro ano da era Lula, e as retiradas chegaram a ultrapassar R$ 200 mil por operação realizada. O ex-tesoureiro recebia ligações da tesouraria da agência Assembleia do Banco Rural, em Belo Horizonte, onde a SMPB mantinha conta bancária. Eram solicitações para pagamentos em Brasília. Por fax eram indicados os valores e os nomes dos sacadores.
O tesoureiro tinha a responsabilidade de cuidar da liberação dos recursos junto ao Banco Central, e dos detalhes para a entrega. O dinheiro não deveria fazer volume. Por isso, vinha em notas de R$ 50 e R$ 100. Era levado para uma sala especial da agência. Ali as cédulas eram colocadas em bolsas que os próprios sacadores traziam. Tudo gente apressada que ia embora, em geral, sem conferir os valores.
José Francisco de Almeida Rego relata que Simone Vasconcelos, executiva da SMPB em Belo Horizonte, fazia retiradas na agência do Brasília Shopping. Mas não levava o dinheiro com ela. Assinava recibos e listava os nomes daqueles que passariam depois para receber. Na maioria das vezes eram pacotes de R$ 50 mil ou R$ 100 mil. As pessoas, por determinação dela, não precisavam se identificar. A Polícia Federal confirma que localizou documentos comprovando saques em nome da SMPB na agência do Banco Rural em Brasília, mas estranhou a falta de identificação dos sacadores.

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13/7/2005 Mais uma versão para o caso do petista preso com R$ 200 mil numa maleta e US$ 100 mil na cueca. No início, José Adalberto Vieira da Silva alegou ser agricultor e o dinheiro, resultado da venda de verduras. Agora, o deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), chefe dele, envolve outro assessor de seu gabinete, José Vicente Ferreira. Os dois iriam usar o dinheiro para abrir uma locadora de veículos em Aracati (CE), em sociedade com um terceiro petista, Kennedy Moura Ramos. Diz o deputado Guimarães:
- Isso comprova que eu não tenho nada a ver com esse caso, nem o PT e muito menos o ex-presidente nacional do partido.
José Nobre Guimarães afirma que tudo foi uma "armação" contra o PT. Manifesta-se "decepcionado" e "traído" pelo assessor preso. A primeira pessoa que José Adalberto Vieira da Silva avisou ao ser detido foi Kennedy Moura Ramos. Ele é assessor especial da presidência do BNB (Banco do Nordeste do Brasil). O presidente, Roberto Smith, também pertence às fileiras do PT. Da mesma forma que Kennedy Moura Ramos, assumiu o cargo por conta da amizade e ligação com José Nobre Guimarães, o irmão de Genoino.
Kennedy Moura Ramos, ex-marido da presidente do PT do Ceará, Sônia Braga, foi assessor jurídico de José Nobre Guimarães. Kennedy Moura Ramos é responsável pelas finanças do PT no Ceará. Avisou José Nobre Guimarães da prisão do assessor. Pede exoneração dos quadros do BNB.

Em depoimento à CPI dos Bingos, o empresário de jogos Carlos Augusto Cachoeira, o "Carlinhos Cachoeira", ataca Waldomiro Diniz. Segundo ele, o ex-subchefe da Casa Civil e assessor direto do ex-ministro José Dirceu (PT-SP) pediu propina de R$ 100 mil a R$ 300 mil, em troca de favorecimento em licitação. Na época, Waldomiro Diniz presidia a Loterj, estatal que administra loterias no Rio. Waldomiro Diniz teria dito que o dinheiro era para financiar campanhas eleitorais. Para Carlinhos Cachoeira, Diniz agia sozinho:
- Em todas as conversas, no final, era pedida propina. O Waldomiro dizia: "Quero 1% do contrato bruto". Ele sempre pedia dinheiro para campanha. Hoje, tenho certeza de que esse dinheiro ficava com ele.

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14/7/2005 O Jornal Nacional, da TV Globo, noticia que assessores e até familiares de deputados do PT estiveram no Banco Rural, na agência do Brasília Shopping, local de pagamento do mensalão. Anita Leocádia Pereira Costa, assessora do líder do PT na Câmara, deputado Paulo Rocha (PA), foi à agência duas vezes. Reação do deputado Rocha: a funcionária foi fazer consulta médica em uma clínica neurológica, que também funciona no prédio.
Márcia Milanésio Cunha, casada com o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), esteve no Banco Rural três vezes. Reação de João Paulo Cunha, por meio de nota à imprensa: a mulher esteve na agência bancária para resolver problema relativo ao pagamento de uma conta de televisão a cabo.
O presidente do PT na Bahia, deputado Josias Gomes, foi pessoalmente ao Banco Rural. Explicação dele:
- Como havia almoçado no shopping, fui ao banco pedir uma informação. Não fiz saques.
Os três não contaram a verdade.

Azeda o caso do assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), preso com R$ 200 mil numa maleta e US$ 100 mil na cueca. A matéria vai ao ar pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Kennedy Moura Ramos, petista afastado do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) em consequencia do escândalo, não gostou de ser envolvido na história pelo deputado José Nobre Guimarães. Não engoliu a versão de que o dinheiro serviria para abrir uma locadora de carros no interior do Ceará. A entrevista ao JN:
- Não sei que rancores fizeram com que o deputado me fizesse uma vinculação a uma empresa que nunca ouvi falar.
Kennedy Moura Ramos vai além. Relata a conversa com José Nobre Guimarães, padrinho de seu casamento, quando ele lhe pediu para assumir que era o dono do dinheiro. Para Ramos, foi uma "proposta indecente":
- Ele falou que o Adalberto tinha que ser protegido por questões de Estado.
Kennedy Moura Ramos também descreve o diálogo com José Nobre Guimarães, quando lhe contou sobre a prisão de José Adalberto da Silva:
- Perguntou se ele tinha falado alguma coisa. Disse que não sabia. Ele disse: "Graças a Deus".
Outra contradição: José Vicente Ferreira, assessor de José Nobre Guimarães apontado pelo deputado como participante do negócio da locadora, havia concedido entrevista ao jornal O Povo, do Ceará. Dissera que emprestou um cheque a José Adalberto Vieira da Silva, seu amigo, a fim de que pudesse comprar uma passagem aérea para Recife. José Vicente Ferreira não sabia da viagem a São Paulo. Muito menos de locadora.
O Ministério Público investiga a hipótese de Vieira da Silva ter sido um emissário de Kennedy Moura Ramos em São Paulo. A finalidade da viagem, buscar dinheiro de propina repassado por empresários que mantêm negócios com o BNB. No dia anterior à prisão, Vieira da Silva teria se deslocado até o escritório de um empresário do setor de construção civil do Grupo Cavan.

A polícia de Minas Gerais apreende restos de 2 mil notas fiscais da DNA Propaganda. Os documentos estavam jogados em 12 caixas de papelão, na casa do ex-policial Marco Túlio Prata, em Contagem (MG). Ele é irmão do contador da agência, Marco Aurélio Prata. Na residência são localizados dois tambores de lata, com notas fiscais carbonizadas.
Entre as notas fiscais queimadas, provavelmente registros frios, recibos da DNA relativos a serviços supostamente prestados por empresas terceirizadas ao Banco do Brasil, Eletrobrás e Ministérios do Trabalho e do Esporte.
Os policiais também acham documentos carbonizados, nos quais ainda se consegue ler o nome da DNA. Estavam numa rua de terra, sem movimento, bem perto da casa do irmão do contador de Marcos Valério. A papelada queimada encheu cinco sacos.

Cai o diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. Ligado ao ex-ministro Luiz Gushiken (PT-SP), dividiu com ele apartamento em Brasília. Na campanha de Lula, Henrique Pizzolato, militante do PT havia 20 anos, trabalhou com Delúbio Soares para captar recursos.
Ele tinha relação próxima com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT-PR), e era amigo de Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-ministro do Trabalho e secretário-geral do PT. Henrique Pizzolato é desligado da presidência do Conselho Deliberativo da Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil.
No governo Lula, Henrique Pizzolato ocupou o posto estratégico de responsável pelos gastos de propaganda do Banco do Brasil. Foram R$ 153 milhões em 2003, e R$ 262 milhões em 2004. Afastado Henrique Pizzolato, o Banco do Brasil rescinde contrato de publicidade com a DNA de Marcos Valério. Henrique Pizzolato também era amigo de Marcos Valério.
O ex-diretor de Marketing ficou conhecido por participar do episódio dos R$ 70 mil que o Banco do Brasil deu a um show de arrecadação de fundos, com objetivo de comprar uma sede nova para o PT. Com a divulgação da história, o dinheiro teve de ser devolvido. Ele também foi apontado como responsável por um evento artístico considerado suspeito, no valor de R$ 2,5 milhões, promovido pelo então governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT.

Banho de água fria. A base governista impede que a CPI dos Correios quebre os sigilos bancários, fiscais e telefônicos de José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Silvio Pereira e do empresário Mauro Dutra, o "Maurinho", amigo de Lula. O Palácio do Planalto também consegue bloquear a convocação e o depoimento do ex-ministro Luiz Gushiken.

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15/7/2005 Operação orquestrada. Marcos Valério vem a público por meio de nota e nega mais uma vez a existência do mensalão. Explica que, "em atenção a pedidos de Delúbio Soares", "contraiu vários empréstimos bancários em nome das agências de publicidade SMPB e DNA, no período de 2003 a 2005".
A nota, estratégia de defesa, diz que o dinheiro, "a título de empréstimos", foi depositado "na rede bancária para pessoas indicadas pelo então secretário de Finanças do PT, senhor Delúbio Soares". Em seguida, o empresário menciona que o dinheiro, segundo determinação de Delúbio Soares, servia para "saldar dívidas relacionadas a campanhas eleitorais".
O reconhecimento de que Marcos Valério participou de esquema para financiar o PT é manchete dos principais jornais do País. Poucos se dão conta da manobra: desviar as investigações do pagamento de propina. Em vez do mensalão, ou seja, do dinheiro entregue a parlamentares da base aliada do governo, crime grave de corrupção, a estratégia é fazer crer que o dinheiro foi repassado para pagar dívidas de campanha. Apenas um mero crime eleitoral.
Em entrevista ao Jornal Nacional, Marcos Valério não fornece nomes, valores, número de operações bancárias, nem formas de ressarcimento do que teria sido emprestado ao PT. Nega a existência de malas para pagar grandes somas e de favorecimentos às suas empresas por parte de gente do governo.

A Folha de S.Paulo publica detalhes de alguns depoimentos secretos prestados à Corregedoria da Câmara dos Deputados. A reportagem conseguiu ler transcrições em notas taquigráficas. Num deles, José Genoino admite que Silvio Pereira usava mesmo sala do Ministério da Casa Civil, no Palácio do Planalto, para discutir a divisão de cargos federais entre os partidos da base aliada. Declaração de José Genoino:
- Ele conversava com os demais partidos e era o encarregado quando tinha conflitos. E tinha muitos conflitos com os partidos da base aliada. Ele fazia isso ou na sede do PT ou na liderança. Ou então na sala de reuniões ordinárias da Casa Civil.
Em outro depoimento, Emerson Palmieri, tesoureiro informal do PTB, afirmou que Marcos Valério havia sido designado pelo PT para obter R$ 20 milhões de empresários. O dinheiro seria repassado ao PTB nas eleições de 2004. O acerto foi feito em reuniões das quais participaram José Genoino, Delúbio Soares, Silvio Pereira, Marcelo Sereno, Roberto Jefferson e ele próprio, Emerson Palmieri.
O tesoureiro também contou detalhes dos R$ 4 milhões entregues por Valério. Foram dois pagamentos. O dinheiro chegou em duas malas "de rodinhas", em notas de R$ 50, na maioria, e umas "poucas notas de R$ 100".

O jornal Correio Braziliense traz a história do apartamento de Henrique Pizzolato. O diretor de Marketing do Banco do Brasil, afastado do cargo, comprou o imóvel de 160 metros quadrados por R$ 400 mil, em endereço dos mais valorizados do Rio de Janeiro, a uma quadra da praia de Copacabana.
Detalhe: neste mesmo dia da revelação do Correio Braziliense, um grupo de auditores da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, toma depoimento do officeboy Luiz Eduardo Ferreira da Silva. Ele conta que em 15 de janeiro de 2004, cerca de um mês antes da compra do apartamento em Copacabana, sacou R$ 326 mil de conta da DNA Propaganda em agência do Banco Rural do centro do Rio. E levou o pacote diretamente a Henrique Pizzolato.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), desabafa durante entrevista em Curitiba:
- Nunca imaginei que houvesse algo nesse sentido no País, independentemente de governo. Não significa que não possa ter existido em outros governos, mas na minha ótica pensei que, apesar de tudo o que se diz, nosso País não tivesse tantos tropeços no entrelaçamento entre a administração, políticos e empresas.

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16/7/2005 Depois de Marcos Valério, a vez de Delúbio Soares apresentar a versão de que não houve o esquema do mensalão, ou seja, pagamentos de propina a parlamentares da base aliada do governo Lula, em troca de apoio no Congresso. O que houve, simples assim, foram repasses para quitar dívidas de campanha, por meio de caixa 2. Delúbio leva a explicação espontaneamente ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
O depoimento de Delúbio vaza em seguida para a imprensa. Faz parte da estratégia. Os jornais dão destaque. Delúbio procurou usar o procurador-geral para passar o recado de que o PT recebera cerca de R$ 40 milhões em empréstimos, mas, de maneira nenhuma, assegurava o tesoureiro, o dinheiro era fruto do desvio de verbas públicas ou teve sua origem no superfaturamento de contratos com estatais. Importante: os milhões, conforme frisara Valério, foram usados para acertar despesas de campanhas eleitorais, tão-somente.

A revista Veja não deixa por menos. A reportagem de capa, "Mensalão – quando e como Lula foi alertado", descreve cinco situações nas quais informações sobre o esquema de pagamento de propina chegaram aos ouvidos do presidente da República. A primeira vez, em 25 de fevereiro de 2004, por meio do deputado Miro Teixeira (RJ), na época filiado ao PT. O episódio ocorreu duas semanas após a queda de Wadomiro Diniz.
Escreve o repórter Otávio Cabral: "Waldomiro Diniz, na condição de braço-direito de José Dirceu, era quem cuidava da relação do governo com o Congresso e, com sua demissão, os credores do mensalão entraram em polvorosa. Miro Teixeira, que havia apenas três semanas assumira a liderança do governo na Câmara, começou a ser procurado pela tropa interessada em saber como seria paga a mesada dali em diante. O deputado ficou estupefato. Não sabia o que era mensalão. Entre os dias 17 e 19 de fevereiro, Miro Teixeira recebeu várias sondagens. Numa delas, na manhã do dia 17, a pressão veio em comitiva. Eram três deputados juntos, querendo saber do futuro financeiro: Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Sandro Mabel, líder do PL, e Pedro Henry do PP".
Miro Teixeira conversou reservadamente com Lula. Disse que deixaria o cargo de líder do governo por causa do mensalão. A revista Veja documenta:
"Lula demonstrou surpresa, disse que nunca ouvira falar naquilo e prometeu conversar com o então ministro José Dirceu para apurar a denúncia – mas não voltou a tocar no assunto. No dia 31 de março, Miro voltou ao Palácio do Planalto e, diante do fato de que nada fora feito a respeito do mensalão, pediu para deixar a liderança. Saiu no dia 6 de abril, sendo substituído pelo Professor Luizinho."
O segundo aviso ao presidente, em 5 de maio de 2004. Quem deu foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O Palácio do Planalto, em comunicado oficial, deu a seguinte explicação à revista: Lula não se recorda de ter ouvido nenhum comentário de Marconi Perillo sobre o assunto.
O governador Marconi Perillo, no entanto, chegou a ilustrar a conversa com o presidente da República ao mencionar os casos de dois deputados de Goiás. Um deles virou escândalo. É o da deputada Raquel Teixeira (PSDB), a quem o deputado Sandro Mabel (PL) teria oferecido dinheiro para que se mudasse para o PL. Sobre o outro, o governador não deu detalhes. O motivo: o deputado Enio Tatico, do PSC, aceitou a proposta e se transferiu para o PL. Enio Tatico apresentou justificativa para a mudança:
- Mudei de partido porque o líder do PL é de Goiás e é meu amigo. Não recebi proposta.
O terceiro episódio. O próprio presidente abordou o assunto, durante viagem oficial à China. Aconteceu em 25 de maio de 2004. Durante um jantar, Lula perguntou ao deputado Paulo Rocha (PT-PA) se ele já ouvira falar sobre o pagamento de mesadas a deputados. Paulo Rocha negou ter ocorrido a indagação do presidente, mas dez deputados estavam na mesa do jantar. Três deles confirmaram a veracidade da conversa.
Nos outros dois casos, o aviso foi dado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). No primeiro deles, em 5 de janeiro de 2005, o ministro Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG) testemunhou a conversa. No segundo, em 23 de março de 2005, parte da alta cúpula do governo estava presente, no gabinete de Lula no Palácio do Planalto: José Dirceu (PT-SP), ministro da Casa Civil; Aldo Rebelo (PC do B-SP), ministro das Relações Institucionais; Walfrido dos Mares Guia, do Turismo; Gilberto Carvalho (PT-SP), chefe de gabinete do presidente; Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara; e o deputado José Múcio (PTB-PE). A reportagem conclui:
"Se soube do assunto e não tomou providências, Lula pode ser acusado de crime de responsabilidade, previsto nos artigos 84 e 85 da Constituição e, também, na Lei nº 1.079, editada em 1950, conhecida como Lei do impeachment. Pela lei, o presidente, se soube do mensalão, tinha de ter mandado apurar. 'Se o presidente teve ciência disso, caracteriza-se uma omissão, que é um caso típico de crime de responsabilidade', afirma o jurista Miguel Reale Júnior, que redigiu a petição que resultou no impeachment de Fernando Collor, em 1992."

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17/7/2005 Em surpreendente entrevista concedida na França e exibida no programa Fantástico, da Rede Globo, Lula faz coro às recentes versões sobre a crise política, que foram manifestadas por Delúbio Soares e Marcos Valério. Dessa forma, fecha a manobra para convencer a sociedade brasileira: houve "erros", sim, mas apenas decorrentes de empréstimos e operações de crédito, usados para pagar dívidas de campanha, por caixa 2. A versão oficial minimiza o escândalo do mensalão à manipulação de verbas não-declaradas.
Lula esforça-se para reduzir o problema. Exime-se de qualquer ato indevido, pois "já faz tempo que eu deixei de ser presidente do PT". Para o presidente da República, "o PT tem que explicar à sociedade brasileira que erros cometeu":
- O que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil, sistematicamente. Eu acho que as pessoas não pensaram direito no que estavam fazendo, porque o PT tem na ética uma das suas marcas mais extraordinárias. E não é por causa do erro de um dirigente ou de outro que você pode dizer que o PT está envolvido em corrupção.

A oposição vai para cima. Acusa o governo de engendrar uma nova Operação Uruguai, em alusão ao esquema simulado pelos aliados do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, para tentar explicar a origem do dinheiro que financiava gastos do ex-presidente. Na época, um empréstimo de US$ 3,7 milhões foi forjado para justificar despesas de Fernando Collor. O presidente acabou afastado do cargo, depois de um processo de impeachment. Agora, a farsa contábil é a série de operações de crédito de Marcos Valério. Os falsos empréstimos serviriam para esquentar dinheiro de caixa 2 oriundo de fontes ilegais, usado em acertos com políticos da base aliada.

O jornal O Estado de S. Paulo traz uma lista com os nomes de 22 deputados do PP. Testemunha cuja identidade é mantida em segredo aponta-os como destinatários de mensalões, distribuídos a mando do líder do partido, deputado José Janene (PR). Os operadores do esquema seriam João Cláudio Genu, chefe de gabinete de José Janene, e o deputado João Pizzolatti (PP-SC). Os locais de entrega da propina: o apartamento de Janene, em Brasília, e uma sala da Comissão de Minas e Energia, na Câmara dos Deputados. Segundo a denúncia, Pizzolatti circulava com o dinheiro dentro de malas, nos corredores da Câmara, protegido por funcionários da área de segurança do Congresso.

Um perfil de Marcelo Sereno, ex-secretário de Comunicação do PT e ex-chefe de gabinete de José Dirceu (PT-SP), de quem também foi assessor especial, é publicado pela Folha de S.Paulo. Para ilustrar a reportagem, a fotografia de um prédio de alto padrão na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em cuja cobertura mora Marcelo Sereno. É atribuída a ele, ainda, a compra, em março de 2005, de um outro apartamento no Rio, no valor de R$ 700 mil.
Marcelo Sereno é acusado de "manipular" o Nucleos, fundo de pensão das estatais de energia nuclear. O objetivo seria levar dinheiro para as campanhas eleitorais do PT. Os repórteres Elvira Lobato e Leonardo Souza ouvem o petista Neildo de Souza Jorge, integrante do Conselho Deliberativo do Nucleos. Ele denuncia operações financeiras lesivas aos fundos de pensão:
- A grande mutreta é que eles compravam títulos públicos e depois vendiam com deságio para corretoras. Estas faturavam a corretagem e parte desse dinheiro, pelo que sabemos agora, iria para mensalões, caixas de campanha.

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18/7/2005 O Brasil debate o caixa 2. É crime de falsidade ideológica prestar informações fraudulentas sobre a arrecadação de dinheiro para campanhas políticas sem declarar os valores à Justiça Eleitoral. Omitir receitas é crime de sonegação fiscal. Para a legislação de crimes contra o sistema financeiro nacional, considera-se fraude a movimentação de recursos de forma paralela, à margem da contabilidade legal. O caixa 2 é crime contra a ordem tributária.
Na prática, porém, o uso de caixa 2 em campanhas eleitorais não recebe punição. No máximo, multa. Ninguém fica preso por crime eleitoral. Muito mais grave é dar propina a parlamentares. Neste caso, o crime de corrupção pode condenar a 12 anos de prisão, fora processos e outras penas, caso sejam constatadas formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. E isso sem mencionar a perda do mandato, por crime de responsabilidade ou falta de decoro parlamentar.
Por isso o esforço dos envolvidos no escândalo do mensalão para descaracterizar a existência de um esquema de suborno de parlamentares. Ao circunscrever tudo ao rol de crimes eleitorais, os delitos poderiam ser diluídos para um número grande de receptores, se possível anônimos, o que, afinal, dificultaria a comprovação e a responsabilização dos culpados.

Cai o presidente da Petrobras, o ex-senador José Eduardo Dutra (PT-SE). Em seu lugar assume José Sérgio Gabrielli, também filiado ao PT. Justificativa do governo para o afastamento: José Eduardo Dutra vai disputar uma vaga no Senado em 2006. Faltam 15 meses para a eleição. Pela legislação, a desincompatibilização precisa ocorrer seis meses antes do pleito. História mal contada. Dutra acabaria derrotado em 2006, mas no ano seguinte voltaria a ocupar cargo importante no sistema Petrobras, o de presidente da BR Distribuidora. Em 2009, apoiado por Lula, seria eleito presidente do PT.
Outras mudanças no governo: Antônio Batista Brito, diretor Comercial da Brasil Veículos, e Josenilton Andrade, do Centro Cultural Banco do Brasil, são afastados do Banco do Brasil. Motivo: reportagem do Correio Braziliense mostrou os dois pressionando um funcionário de baixo escalão. O episódio ocorreu no apartamento do petista Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, que participou da ação. Os três tentaram fazer o boy Luiz Eduardo Ferreira da Silva assumir a responsabilidade pelo saque de R$ 326 mil, o mesmo que motivou a saída de Henrique Pizzolato do Banco do Brasil. O dinheiro foi retirado pelo boy no Banco Rural, de conta bancária da agência de publicidade DNA, de Marcos Valério, e entregue a Henrique Pizzolato. Depois, o petista comprou um apartamento. O boy resistiu.

Em entrevista à Rádio Jovem Pan, de São Paulo, o respeitado senador Pedro Simon (PMDB-RS) comenta as acusações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Para Pedro Simon, o escândalo do mensalão vem sendo comprovado por fatos novos, todos os dias, e é mais grave do que aquele que vitimou o ex-presidente Fernando Collor de Mello:
- A coisa lá, a Operação Uruguai e tudo mais, foi bem inferior. Lá eles usaram dinheiro das empresas, fizeram garantias, só que isso aconteceu com eles fora do governo. Agora, o partido está dentro do governo, e foram usadas empresas públicas como o Correio e Furnas para fazer transações ilícitas. Favoreceram essas empresas em troca do dinheiro dado ao partido. O nome disso é peculato, é formação de quadrilha.
De Roberto Busato, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil):
- Valério e Delúbio são personagens menores, nessa comédia infame que estarrece a nação. Valem menos pelo que são e mais pelos personagens que buscam inutilmente ocultar e aos quais serviram, com ações criminosas nos subterrâneos da política.

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19/7/2005 O escândalo do jipe Land Rover. Silvio Pereira está na CPI dos Correios, com habeas-corpus para não ser preso. Não precisa responder, se não quiser. Pode evitar perguntas, e mesmo cair em contradição. Não sairá algemado. Show de cinismo. O ex-secretário-geral do PT nunca ouviu falar em mensalão. Não tem ideia sobre empréstimos de Marcos Valério ao PT.
O que fez "Silvinho"? Segundo a sua própria versão, apenas um banco de dados, com mais de 5 mil nomes, todos de pessoas prontas a assumir postos no governo Lula. Gentilmente, Silvinho informa aos integrantes da CPI: existem 1.400 cargos ocupados por filiados do PT na administração federal. O secretário-geral não se lembra se viajou no avião de César Roberto Santos Oliveira, vice-presidente da GDK, empresa contratada da Petrobras:
- Eu mantinha contatos institucionais com César Oliveira, mas repito que não intermediei interesses da empresa.
Silvinho cala-se. Recusa-se a dizer se ganhou um jipe Land Rover da GDK:
- Não falo sobre meu patrimônio, por orientação dos advogados.
O Jornal Nacional, da TV Globo, localiza o vendedor do jipe. O carro está em nome de Silvio Pereira. Um telefonema para o homem que fez o depósito, de R$ 73.500. Confirmado: ele é funcionário da GDK.
José Paulo Boldrin, dono da revendedora de automóveis Eurobike, de Ribeirão Preto (SP), comprova o negócio. Recebeu o depósito de R$ 73.500 e vendeu o jipe, um Land Rover modelo Defender 90-SW, ano 2003. O carro já saiu da Eurobike em nome de Silvinho. E foi entregue na residência do secretário-geral do PT, na cidade de São Paulo.
A GDK doou R$100 mil para a campanha de Lula. Em 2003, primeiro ano de governo, faturou R$ 145 milhões em contratos com a Petrobras. Em 2004, venceu dez licitações promovidas pela estatal. Total em jogo: R$ 512 milhões. O maior contrato foi para reformar a plataforma de extração de petróleo P-34, no valor de US$ 88 milhões. Em 2005, mais cinco contratos celebrados com a Petrobras, no valor de R$ 272 milhões.
Na campanha eleitoral de 2004, a GDK só deu dinheiro para uma campanha política. Foi a de Osasco (SP), justamente o berço político de Silvinho. Doou R$ 400 mil para o candidato Emídio de Souza (PT), e com isso foi a maior doadora daquela campanha. O petista foi eleito.
Silvinho desliga-se do PT.

Evidências do mensalão. Deputados fizeram saques de dinheiro de contas das empresas de Valério, em agências do Banco Rural de Belo Horizonte e de Brasília. Documentos em poder da CPI dos Correios mostram autorizações de retiradas, beneficiando três deputados do PT, um do PP e um do PL.
Márcia Milanésio Cunha, mulher do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara dos Deputados, sacou R$ 50 mil. Anita Leocádia Pereira Costa, assessora do deputado Paulo Rocha (PT-PA), o então líder do PT na Câmara, retirou R$ 470 mil. O deputado Josias Gomes (PT-BA) sacou duas vezes. Ele próprio, em pessoa, R$ 50 mil de cada vez. João Cláudio Genu, chefe de gabinete de José Janene (PR), líder do PP, levou R$ 1,1 milhão. Em nome do deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ) saíram R$ 150 mil.
Simone Vasconcelos, funcionária executiva de Marcos Valério e autora de vários dos pagamentos do mensalão, fez saques de R$ 6,1 milhões. Em outubro de 2003, em Brasília, Simone Vasconcelos efetuou duas retiradas, sendo uma de R$ 800 mil e outra de R$ 650 mil. O dinheiro foi entregue em carro-forte no escritório da SMPB na capital federal.
Tem mais: Jacinto Lamas, tesoureiro do PL, retirou R$ 1,3 milhão. As seguintes pessoas também fizeram saques: Vilmar Lacerda, presidente do PT do Distrito Federal. Total: R$ 100 mil. Raimundo Ferreira da Silva Júnior, assessor do deputado Paulo Delgado (PT-MG). Total: R$ 100 mil. Roberto Costa Pinho, ex-assessor, com currículo extenso: trabalhou para os ministros da Cultura e da Fazenda, Gilberto Gil e Antônio Palocci (PT-SP), e para o senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios. Total: R$ 350 mil. José Luiz Alves, secretário de Governo da Prefeitura de Uberaba (MG). Total: R$ 150 mil. O prefeito de Uberaba, Anderson Adauto (PL), aliás, foi ministro dos Transportes de Lula. E Solange Pereira de Oliveira, funcionária da tesouraria do PT de São Paulo. Total: R$ 100 mil.
Brasília vive um corre-corre. João Paulo Cunha (PT-SP) não comenta. Sai-se com um "tudo tem explicação". O deputado Professor Luizinho (PT-SP) defende João Paulo Cunha:
- A informação que tenho, do próprio João Paulo, é de que a Márcia esteve no Rural para resolver problema da televisão a cabo.
O ex-ministro Anderson Adauto não foge da briga. Segundo ele, Delúbio Soares, o tesoureiro do PT, o ajudou a pagar uma dívida de campanha:
- Encerrei 2002, quando me elegi deputado federal, com uma dívida de campanha. Então, pedi para o Delúbio e ele me ajudou. Não sei precisar a quantia, mas foi entre R$ 100 mil e R$ 150 mil.
Foram R$ 150 mil, e Anderson Adauto era o ministro dos Transportes:
- Não vejo nenhuma irregularidade em ser ajudado para pagar dívidas de campanha.
Nas fileiras do PT, algumas "explicações": Vilmar Lacerda recebeu dinheiro para pagar dívidas de campanha. Solange Pereira de Oliveira, do Diretório de São Paulo, não quer comentar. E Raimundo Ferreira da Silva Júnior, que também é vice-presidente do PT do Distrito Federal, cumpriu ordens de Delúbio Soares. Buscou o envelope, mas não sabia quanto tinha dentro:
- O Delúbio me ligou de São Paulo e pediu para que eu fosse até a agencia do Rural, onde deveria pegar um dinheiro que ele estava precisando para umas despesas. Ele me disse que precisava de alguém de confiança para buscar o pacote. Como sou amigo dele, nada mais natural.

Cai Marco Antônio Silva, diretor de eventos da Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Era um dos mais importantes auxiliares do ex-ministro Luiz Gushiken (PT-SP). Militante do PT, foi acusado de favorecimento ilícito e tráfico de influência. É casado com Telma dos Reis Menezes da Silva, funcionária da Multi Action, empresa de organização de eventos de Marcos Valério. Em um ano de governo Lula, a Multi Action movimentou R$ 28 milhões.
Marco Antônio Silva integrou a comissão julgadora da licitação que escolheu a agência de publicidade contratada pelos Correios. Venceu a SMPB, de Marcos Valério. Contratada a SMPB, a Multi Action foi chamada para prestar serviços aos Correios.

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20/7/2005 Mais evidências do mensalão. A CPI dos Correios usa os dados da quebra do sigilo bancário de Marcos Valério para identificar o caminho do dinheiro. Surge Zilmar Fernandes da Silveira, sócia do publicitário Duda Mendonça. Foi identificada retirada de Zilmar Fernandes da Silveira de R$ 250 mil. Duda Mendonça foi o responsável pela campanha eleitoral de 2002, que elegeu Lula pela primeira vez. Além de orientar ações do presidente, Duda Mendonça gerencia contratos de publicidade da Petrobras, Ministério da Saúde e Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
Rodrigo Barroso Fernandes, assessor do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), sacou R$ 274 mil. Com a notícia, é desligado da Prefeitura. E começa a novela de um tal Roberto Marques, amigo de José Dirceu (PT-SP) que fugiu feito o diabo da cruz para não esclarecer determinada retirada de R$ 50 mil.
Outros nomes: Paulo Menegucci, diretor dos Correios. Recebeu R$ 205 mil. Jair dos Santos, motorista do ex-presidente do PTB, Flávio Martinez. Sacou R$ 300 mil. Nestor Francisco de Oliveira, assessor do deputado Roberto Brant (PFL-MG). Pegou R$ 102 mil no banco. Cantídio Cotta Figueiredo, candidato a deputado pelo PTB. Sacou R$ 68 mil. Luiz Carlos de Miranda Faria, outro candidato do PTB. Fez retirada de R$ 68 mil. Benoni Nascimento de Moura, da corretora Bônus-Banval. Pôs a mão em R$ 255 mil. E Luiz Carlos Masano, também ligado à Bônus-Banval, recebeu R$ 50 mil. Suspeita-se das ligações da Bônus-Banval com o deputado José Janene (PP-PR).
Chamam a atenção, ainda, os saques atribuídos a David Rodrigues Alves, um policial mineiro, no valor de R$ 4,9 milhões. Localizado, o policial explica que foi contratado por Cristiano de Mello Paz, sócio de Marcos Valério.
A versão dele: recebia entre R$ 50 e R$ 100, sempre que ia buscar dinheiro no Banco Rural. Levava a grana diretamente a Cristiano de Mello Paz, na SMPB em Belo Horizonte. Diz o policial:
- Os pacotes já estavam prontos nas agências, eu apenas assinava o recebimento. Meu trabalho era retirar o dinheiro e entregar na SMPB. Quero deixar claro que eu fazia a retirada do dinheiro do banco. Eu não sacava e não sei de quem era o dinheiro.
Cristiano de Mello Paz, o sócio de Marcos Valério, informa, por meio da assessoria, que não conhece o policial. David Rodrigues Alves devolve, à altura: foi apresentado a Cristiano Paz por um doleiro, Haroldo Bicalho.

Chega ao Conselho de Ética da Câmara o teor de um depoimento prestado à Polícia Federal. É de Simone Vasconcelos, apresentada como diretora administrativa e financeira da SMPB, a agência de publicidade de Valério.
A confissão de Simone Vasconcelos choca. Sozinha, ela sacou R$ 6,1 milhões de contas de Valério no Banco Rural. Os números foram apurados pela CPI dos Correios e são irrefutáveis. Simone Vasconcelos entregou pacotes de dinheiro a desconhecidos. Ela pagava o mensalão a pessoas mandadas por Valério à agência do Rural em Brasília. Os apressados pegavam os pacotes, sem conferir, e punham o conteúdo em pastas executivas.
Simone Vasconcelos não tem a mínima ideia do destino do dinheiro, mas confessa: sentia-se "constrangida e preocupada de estar sendo identificada por desconhecidos", e também por estar "entregando altas somas de dinheiro para estes, sem ao menos saber quem eram".
Numa ocasião, Marcos Valério queria saber a cor da blusa de Simone Vasconcelos, "para que fosse identificada pelo estranho que deveria receber o dinheiro". Os valores variavam de R$ 50 mil a R$ 300 mil, sendo que, em algumas ocasiões, ela teve de levar altas somas até as mãos de Valério, em hotéis de luxo. Uma vez, carregou o dinheiro até um táxi que já a esperava na frente de um centro de compras em Brasília.

Mais números contra Marcos Valério. Dos R$ 836 milhões faturados nos últimos seis anos pelas 14 empresas nas quais o nome do empresário aparecia como sócio, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) descobre: R$ 500 milhões não tiveram origem identificada. E surge mais um braço financeiro de Marcos Valério: o BRB (Banco de Brasília), pelo qual passaram, em dois anos, R$ 100 milhões. É dinheiro atribuído às chamadas "contas lavanderia".
As movimentações são descritas como atípicas. Depósitos e transferências imediatas, que vão de R$ 20 mil e R$ 120 mil cada uma, feitas pelo sistema TED (Transferência Eletrônica Direta). O dinheiro é posto instantaneamente nas contas dos beneficiados.
Em cinco anos, Valério pagou R$ 26 mil de Imposto de Renda. Dinheiro para comprar um carro popular. Nada. Para o fisco, o empresário tem renda média mensal pouco superior a R$ 5.000. O patrimônio declarado de Valério, porém, é de R$ 18,5 milhões. 80% dos bens, nos nomes da mulher, Renilda de Souza, e dos filhos do casal. Em 2004, Valério pagou apenas R$ 2.800 em impostos. Em 2005, R$ 3.000. Um espanto.

Com estrela do PT na lapela, o tesoureiro Delúbio Soares depõe à CPI dos Correios. Protegido por habeas-corpus, não pode ser preso. Ao longo de todo o escândalo, como se verá, Delúbio Soares agiu sempre como um grande escudo, protegendo Lula e a cúpula do PT. Ele isenta o governo e integrantes do PT de quaisquer responsabilidades pelas transações financeiras com Marcos Valério. Assume todos os eventuais erros. Mata no peito. Orientado por advogados, evita falar em caixa 2:
- Não existe caixa 2, existe dinheiro não-contabilizado.
Delúbio Soares nega a existência do mensalão. Deixa dúvidas:
- Eu definia quem iria receber o dinheiro. Quem definia o método de pagamento do dinheiro era o Marcos Valério. Eu não sei como era feita a entrega do dinheiro.
E foi assim que tudo começou, segundo a versão de Delúbio Soares: Marcos Valério se ofereceu para pagar as dívidas de campanha, "eu concordei". Simples assim. Tudo "na base da confiança". Sem documentos ou contratos, sem que ninguém do partido tivesse conhecimento. E como devolver os quase R$ 40 milhões que foram emprestados dos bancos? O tesoureiro do PT provoca risos dos parlamentares presentes à sessão com a resposta que dá:
- Estou diante de um grande problema, e preciso resolvê-lo o mais rápido possível.
Delúbio Soares esquiva-se de responder sobre a quantia de R$ 29.436,26, dinheiro emprestado pelo PT ao presidente Lula, em 2003. O dinheiro vai dar muito pano para manga. Por ora, a informação: no livro-caixa do PT, oficialmente entregue ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o dinheiro foi quitado em quatro parcelas. Diz o tesoureiro:
- Nossa prestação de contas é rigorosa.
Questionado sobre a legalidade do ato, encerra o assunto:
- Não convém me pronunciar.

Depoimento à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto (SP), presidente do PL, faz relato sobre a conversa telefônica entre o ex-marido e o deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), na qual os dois trataram de operação financeira para atrair deputados à bancada do PL.
- Ouvi a conversa e vi o dinheiro, guardado no cofre da nossa casa.
Ela testemunhou a entrega de uma mala repleta de dólares ao deputado maranhense Remi Trinta. Ouviu o diálogo em que Valdemar pediu para Jacinto Lamas, o tesoureiro do PL, pegar "várias malas" em Belo Horizonte:
- Ele era como o boy do Valdemar.
Além de movimentar altas somas, o ex-marido tinha o costume de andar de jatinho e torrar milhões em cassinos. Em uma noite, perdeu US$ 500 mil numa casa de jogo do Uruguai. Outra vez, foram US$ 300 mil em Las Vegas, nos Estados Unidos.
- Na volta de uma viagem acabei trazendo, sem saber, uma mala de dinheiro.

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) admite nos bastidores renunciar ao mandato. A mulher dele, Márcia Milanésio Cunha, sacou mesmo R$ 50 mil do valerioduto, no Banco Rural. Cunha chegou a escrever a carta de renúncia, mas José Dirceu (PT-SP) e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, convencem-no a recuar.
Cunha não comenta a quase-renúncia. A assessoria, porém, já está pronta para rebater: os R$ 50 mil foram gastos integralmente na campanha eleitoral de Osasco (SP). Com o tempo, a versão vai ser aprimorada. E o deputado? Viajou com a família para destino ignorado. Por dez dias.
O Congresso Nacional instala a CPI do Mensalão. O governo tem o controle da comissão, com a nomeação do senador Amir Lando (PMDB-RO) para presidente, e do deputado Abi-Ackel (PP-MG) para relator. Amir Lando foi ministro da Previdência Social de Lula, é peemedebista fiel ao Planalto. Quem o banca é o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Abi-Ackel foi ministro da Justiça do presidente João Figueiredo (1979-1985), o último da ditadura militar. Aloizio Mercadante define Abi-Ackel:
- É um deputado acima de qualquer suspeita.

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21/7/2005 Mais um deputado do PT no escândalo do mensalão. José Mentor (SP), ligado a José Dirceu (PT-SP) e à ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP), da qual foi líder de governo na Câmara Municipal de São Paulo, recebeu dois cheques, no total R$ 120 mil. Os comprovantes das transações estão entre aqueles que fazem referência aos R$ 50 milhões transferidos de contas atribuídas às empresas de Marcos Valério, via Banco do Brasil.
Os R$ 120 mil vieram da 2S Participações, empresa ligada a Marcos Valério, que movimentou R$ 26,4 milhões em dois anos. O dinheiro foi transferido para o escritório de advocacia de José Mentor. O deputado vincula a soma a serviço jurídico prestado a Rogério Tolentino, sócio de Valério. No escritório de José Mentor não há cópias do parecer que diz ter sido elaborado. José Mentor foi identificado por causa de um cheque nominal. Na maioria dos casos, porém, os cheques do Banco do Brasil em poder da CPI dos Correios mencionam números sigilosos, das contas bancárias dos favorecidos.
Detalhe importante: em julho de 2004, quando José Mentor pôs as mãos nos dois cheques, ele ocupava o cargo estratégico de relator da CPI do Banestado. A comissão investigava lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Suspeita-se que Mentor poupou o Banco Rural, ligado a Valério, no relatório final da CPI.

O deputado Paulo Rocha (PT-PA), líder do PT na Câmara dos Deputados, afasta-se do cargo. Ligado a José Dirceu (PT-SP), foi tesoureiro do PT do Pará e presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT) paraense. Sai sem explicar saques de R$ 470 mil, feitos pela assessora Anita Leocádia Costa. O dinheiro foi retirado de contas bancárias de Valério, no Banco Rural. Rocha promete conceder entrevista, mas some do gabinete.
A nota da assessoria de Paulo Rocha, coerente com as explicações de Lula, Delúbio Soares e Marcos Valério, mas contradizendo o que ele mesmo dissera anteriormente: o deputado pedira R$ 300 mil a Delúbio Soares para quitar gastos de campanha eleitoral no Pará. Não há menção sobre os R$ 170 mil restantes. Como se verá adiante, há mais dinheiro envolvido.

"Escárnio à nação" é o título do editorial da Folha de S.Paulo. Fala dos saques nas contas das empresas de Marcos Valério, que "indicam que o dinheiro não servia apenas para financiar ou saldar dívidas de campanhas, mas para complementar salários":
"Vai ficando cada vez mais claro que os desvios praticados pelo Partido dos Trabalhadores não dizem respeito a um esquema pelo qual irregularidades seriam cometidas em nome de uma causa política – o que, de qualquer forma, caracterizaria corrupção e crime."
Outro trecho:
"Perplexos, os brasileiros que acompanham o desenrolar dos depoimentos e das revelações da imprensa vão assistindo ao desvelamento de um amplo esquema de apropriação da máquina pública e movimentação irregular de recursos orquestrado pela cúpula do PT, com evidentes ramificações no Governo Federal."

A Polícia Federal avança no caso da cueca milionária. Reúne indícios sobre a origem dos R$ 200 mil encontrados na maleta e os US$ 100 mil escondidos nas partes íntimas, tudo transportado por José Adalberto Vieira da Silva, assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de José Genoino. A investigação aponta para propina. A suspeita vem do fato de Vieira da Silva ter se encontrado com o dono de uma empreiteira. Do procurador Márcio Torres, sobre o depoimento de Vieira da Silva ao Ministério Público Federal:
- Ele confirma que esteve com o empresário José Petronilho de Freitas. Disse que foi fazer uma visita e conversaram amenidades, nada a ver com o dinheiro.
O empresário é ligado ao grupo Cavan. Está em jogo um negócio de R$ 450 milhões. O sistema de transmissão de energia elétrica do Nordeste previa a construção de um linhão de 550 quilômetros ligando Teresina a Fortaleza. O empreendimento recebeu financiamento do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) e envolve a Chesf (Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco).
Recapitulando: ao receber a ordem de prisão no aeroporto de Congonhas, após ser flagrado com a dinheirama, Vieira da Silva telefonou ao amigo petista e assessor especial do BNB, Kennedy Moura, que seguiu para São Paulo. A propósito: José Nobre Guimarães também estava na capital paulista. Foi ele, aliás, quem indicou Kennedy Moura para o BNB de Lula. Vieira da Silva seria apenas "mula", alguém incumbido de transportar dinheiro.

Lula demite Olívio Dutra (PT-RS), ministro das Cidades. É um acordo para dar espaço ao PP. Em seu lugar assume Márcio Fortes (RJ), uma indicação do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE). Olívio Dutra não esconde o ressentimento:
- O PT tem problemas muito sérios, que acabam respingando no governo.
Para Olívio Dutra, "disputa" e "concentração de poder no governo" deram espaço para o crescimento da "erva daninha" da corrupção. Ele não explica nem cita nomes, mas acrescenta, com gravidade:
- O problema foi provocado por figuras e políticos que predominaram por certo tempo dentro do nosso partido.

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22/7/2005 A dívida de R$ 29.436,26 do presidente Lula. Durante cinco dias, o jornal Folha de S.Paulo solicitou explicações do Palácio do Planalto. A reportagem queria saber como o débito fora pago. O governo, finalmente, emitiu nota oficial: "A Presidência da República não tem conhecimento dessas informações, que devem ser buscadas junto ao Partido dos Trabalhadores".
O jornal recorda: no segundo dia, o Palácio do Planalto ainda respondeu que o dinheiro se referia a viagens de Lula, como presidente de honra do PT. Em seguida, estranhamente, retirou a informação. Ou seja, ela não procederia. Depois disso, nenhuma nova manifestação.
Dos dados da prestação de contas do PT, assinados pelo então tesoureiro Delúbio Soares e entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral): a primeira das quatro parcelas que quitou a dívida de R$ 29.436,26 foi de R$ 12 mil, e o depósito efetuado em 30 de dezembro de 2003, ao final do primeiro ano do governo Lula.
No mesmo dia, coincidência! Extratos bancários do PT encaminhados ao mesmo TSE revelam um depósitoon line na conta do Diretório Nacional. Nos extratos aparece o nome da funcionária Solange Pereira Oliveira, da tesouraria do PT. O nome dela também faz parte da lista dos sacadores de dinheiro das contas de Marcos Valério. Retirou R$ 100 mil, em dinheiro vivo.
A grande dúvida, que perdurava: a dívida de Lula teria sido paga com dinheiro de caixa 2, das contas de Valério? Outra informação, apurada pelos repórteres Marta Salomon e Rubens Valente: no mesmo dia 30 de dezembro de 2003, um saque na conta da SMPB de Valério. Não há identificação a respeito. O nome do sacador desapareceu do interior da sala da CPI dos Correios. Intrigante. Quem desapareceu também foi Solange Pereira Oliveira. Sumiu da sede do PT. A nova direção do PT não se manifesta a respeito.

Surgem indícios contra mais um deputado do PT. O Professor Luizinho (PT-SP) também usufruiu os serviços de caixa 2 de Marcos Valério. Ex-líder do governo Lula na Câmara dos Deputados, Luizinho é ligado a José Dirceu (PT-SP). O parlamentar, no entanto, manda Rosana Lima, sua solícita chefe de gabinete, negar qualquer problema: José Nilson dos Santos, identificado entre os sacadores do esquema do mensalão, não é o José Nilson dos Santos que trabalha para o Professor Luizinho. Trata-se de um homônimo. O José Nilson dos Santos assessor, segundo a chefe de gabinete, trabalha em Santo André (SP). "Nunca esteve em Brasília com a finalidade de sacar dinheiro no Rural. Não sacou R$ 20 mil de forma alguma".

O deputado José Borba (PMDB-PR) vai para o noticiário. Ele não aparece como sacador, nem funcionários dele aparecem como sacadores. Mas José Borba esteve no Banco Rural em Brasília, no mesmo dia e horário que Simone Vasconcelos, a fiel executiva de Marcos Valério.
Em 26 de novembro de 2003, Simone Vasconcelos fez quatro saques, num total de R$ 400 mil. De acordo com o sistema de controle, José Borba entrou no prédio apenas dois minutos antes de Simone Vasconcelos. Saiu cinco minutos depois. Uma semana na frente, em 3 de dezembro: Borba e Simone, novamente. No mesmo dia, no mesmo Banco Rural. Cenas de cinema.

Em viagem ao Rio, Lula ridiculariza as investigações sobre o mensalão:
- O que o povo quer mesmo é resultado. É saber se, no frigir dos ovos, a sua vida vai estar melhor do que quando nós entramos no governo.
Em outras palavras, Lula defende o "rouba, mas faz".

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23/7/2005 A revista Época acusa o deputado Abi-Ackel (PP-MG), relator da CPI do Mensalão. Ele teria ligações com Marcos Valério, que doou R$ 100 mil à campanha dele para deputado federal, em 1998. O filho do parlamentar, Paulo Abi-Ackel, recebeu R$ 50 mil de Marcos Valério.
Abi Ackel dá entrevista. Não se lembra do fato, ocorrido sete anos atrás. Mas nega que as supostas doações possam prejudicar o trabalho do relator:
- Estou apurando o mensalão, que pressupõe uma contribuição periódica para votar com o governo. Em 1998, era outra situação.
Em seguida, a explicação: a contribuição de Marcos Valério foi recebida não por ele, mas pelo setor financeiro da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB), candidato à reeleição ao Governo de Minas Gerais naquele ano. O depósito teria sido ordenado por Cláudio Mourão, o tesoureiro da campanha.

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25/7/2005 A CPI dos Correios identifica novos depósitos milionários. Beneficiam a corretora Bônus-Banval, relacionada ao deputado José Janene (PP-PR). Num primeiro momento apareceram saques efetuados no Banco Rural, num total de R$ 305 mil, destinados a pessoas ligadas à empresa. Desta vez a Bônus-Banval aparece por ter recebido R$ 2,9 milhões da empresa 2S, de Valério, por meio de sete transferências eletrônicas do Banco do Brasil.
Surgem também depósitos suspeitos de R$ 6 milhões na conta de uma tal Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações. São transferências por meio de cheques do Banco Rural. Para constar: Garanhuns (PE) é a cidade de nascimento do presidente Lula. No endereço registrado da Guaranhuns, em Santana do Parnaíba (SP), apenas um terreno baldio, usado pela garotada do lugar como campinho de futebol.

O deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) admite o recebimento de R$ 102 mil do valerioduto. O dinheiro veio da conta da SMPB no Banco Rural, em 31 de agosto de 2004. Romeu Queiroz assegura: o repasse não ficou com ele, mas foi transferido para candidatos às eleições daquele ano do interior de Minas Gerais, filiados ao próprio PTB e ao PT. O deputado não fornece nomes.
Mais um beneficiário do caixa 2 do PT. É o secretário de Finanças do PT de Minas Gerais, Carlos Magno Ribeiro Costa. Recebeu R$ 90 mil.

Jorge Moura, ex-presidente da Refer, o fundo de pensão dos ferroviários, acusa: Marcelo Sereno, homem de confiança de José Dirceu (PT-SP), tentou influenciar investimento de R$ 1,4 bilhão da Refer. Para Jorge Moura, Marcelo Sereno trabalhou para direcionar as aplicações do fundo de pensão em benefício dos bancos Rural, BMG, Santos e Pactual. Ele denuncia outras pressões, vindas do deputado Carlos Santana (PT-RJ). A mulher dele, Tânia Santana, ocupava cargo na diretoria da Refer. Do esquema participariam Cristina Montemor, presidente do Conselho Deliberativo da Refer, ligada a Carlos Santana e a Juarez Barroso, integrante do PT e secretário de Administração da Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ).

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26/7/2005 Depoimento à CPI dos Correios. É de Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, mulher de Marcos Valério e sócia das agências de publicidade DNA e SMPB. Ponto alto do que ela diz: o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) participou de negociações que culminaram com dois empréstimos concedidos pelos bancos Rural e BMG ao PT. Ambas as operações financeiras foram avalizadas por Marcos Valério.
Renilda Santiago dá detalhes: José Dirceu viajou a Belo Horizonte no fim de 2004, para se reunir com dirigentes do Banco Rural e discutir empréstimos para o PT. O encontro foi no hotel Ouro Minas. Segundo ela, o ex-ministro também esteve com diretores do BMG em Brasília.
Por meio de nota, José Dirceu admite que manteve encontros com executivos dos dois bancos, mas nega ter tratado de empréstimos ao PT. De acordo com a assessoria de José Dirceu, a conversa com diretores do BMG, no Palácio do Planalto, tratou exclusivamente da conjuntura econômica.
A agenda do Ministério da Casa Civil informa, ainda, que houve uma terceira reunião, em agosto de 2003, também em Brasília, com Kátia Rabelo, presidente do Banco Rural. Durante os 30 meses em que permaneceu à frente da Casa Civil, José Dirceu confirma encontros com dirigentes de apenas quatro bancos: Rural, BMG, Bradesco e Citibank.

Não foi só o jipe Land Rover de Silvio Pereira. A GDK, contratada da Petrobras, também empregou Mônica Wagner, filha do ministro das Relações Institucionais de Lula, Jaques Wagner (PT-BA). Ela trabalha na empresa desde maio de 2004. Na época, o pai comandava o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, nomeado por Lula. Em 2002, a GDK doou R$ 225 mil para a campanha do PT na Bahia. Jaques Wagner era candidato a governador. Perdeu. Em 2006, Wagner elegeu-se governador.

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27/7/2005 Apesar das negativas, José Nilson dos Santos é mesmo assessor do deputado Professor Luizinho (PT-SP), ex-líder do governo Lula na Câmara dos Deputados. Sacou R$ 20 mil em dinheiro, de conta bancária da SMPB de Marcos Valério. Foi em 23 de dezembro de 2003, no Banco Rural. Deixou o número do RG na agência. Reação do Professor Luizinho:
- Alguém está montando documentação falsa. Vou processar todos.
Em Santo André (SP), o assessor confirma o RG, mas se diz surpreso:
- Não sei o que aconteceu. Nunca entrei em uma agência do Banco Rural. Nem aqui nem em Brasília.
José Nilson dos Santos está na lista de 11 pessoas indicadas pelo PT a Marcos Valério. Todas autorizadas a fazer saques de dinheiro do caixa 2 do partido. Já faz sete anos que José Nilson dos Santos trabalha com Luizinho.
Dia seguinte, Luizinho admite, finalmente: José Nilson dos Santos sacou mesmo R$ 20 mil da conta da SMPB, no Banco Rural. Em nota à imprensa, o deputado reconheceu: o assessor se lembrou de um deslocamento para uma agência bancária, em São Paulo, em dezembro de 2003:
"No final de 2003, procurei o senhor Delúbio Soares para tratar deste assunto. Ele me orientou que retirasse o valor de R$ 20 mil em uma agência bancária na avenida Paulista. Só fui me dar conta que era o Banco Rural agora."
Luizinho, aguerrido defensor do governo Lula, justifica os R$ 20 mil, dez meses antes das eleições de 2004:
- O dinheiro foi usado na preparação de pré-campanhas de vereadores em municípios paulistas.

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), envia ofício ao Conselho de Ética da Câmara. Confirma que alertou Lula sobre o esquema de pagamentos a parlamentares, em 5 de maio de 2004. Diz o documento:
"Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas. Repeti o inteiro teor das informações que havia recebido. O senhor presidente disse que não tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria. Não sei quais foram as providências tomadas."
Marconi Perillo aponta duas testemunhas da conversa. Estavam dentro do carro em que manteve diálogo com Lula o motorista e o chefe da segurança do presidente. Como se sabe, os dois não seriam convocados a depor na CPI.

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28/7/2005 Análise da movimentação das contas bancárias das empresas de Marcos Valério alimenta as provas do esquema de corrupção. Novas revelações vêm a público: o deputado João Magno (PT-MG) recebeu duas transferências eletrônicas da SMPB, por meio do Banco Rural. Um total de R$ 29 mil, em agosto e setembro de 2004. Por meio da assessoria, explicações, com a mesma ladainha: João Magno nunca teve contato com a SMPB, mas pediu ajuda financeira ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para saldar compromissos assumidos durante as eleições de 2002. Delúbio autorizou.
Outro que se apresenta para tentar explicar, o deputado Romeu Queiroz (PTB-MG). Os R$ 50 mil depositados na conta dele, transferidos eletronicamente em agosto de 2004 da conta da SMPB no Banco Rural, fizeram parte das doações de campanha daquele ano. Vieram da empresa siderúrgica Usiminas, que teria contribuído para a eleição de Queiroz com R$ 102 mil. A SMPB, portanto, apenas teria repassado o dinheiro, imediatamente encaminhado por Queiroz, por sua vez, a candidatos a vereador de seis partidos, em 20 cidades. Quanto aos R$ 50 mil depositados diretamente em sua conta, foi um engano cometido por um assessor. Diz Romeu Queiroz:
- Não fiquei com nada.
Levantamento identifica novos saques de R$ 300 mil atribuídos a Jacinto Lamas, o tesoureiro informal do PL. O dinheiro foi repassado por meio da conta da SMPB no Banco Rural. Existem R$ 1,6 milhão em retiradas em nome de Jacinto Lamas. O irmão dele, Antônio de Pádua Lamas, assessor do PL, também fez um saque, de R$ 350 mil. Esteve no Banco Rural, em Brasília, em 7 de janeiro de 2004, por 14 minutos. Das 14h22 às 14h36.
Atualização de somas acrescenta mais R$ 1,6 milhão aos saques atribuídos ao policial mineiro David Rodrigues Alves. Os novos cálculos chegam a R$ 6,5 milhões. Identificados mais R$ 100 mil sacados por Roberto Pinho, assessor do PT. No total, ele retirou R$ 450 mil. Célio Siqueira, assessor do deputado Vanderval dos Santos (PL-SP), sacou outros R$ 150 mil.
Dados atualizados mostram que a empresa Guaranhuns recebeu R$ 7,1 milhões. A origem do dinheiro: cheques emitidos por empresas de Marcos Valério via Banco Rural, na agência do Brasília Shopping. Aberta mais uma investigação: a CPI dos Correios suspeita que a Guaranhuns é uma empresa de fachada, utilizada para lavar dinheiro e remeter ilegalmente divisas para o exterior. 99% do capital da empresa estão nas mãos de uma offshore chamada Esfort Trading, sediada no Uruguai. Outra suspeita: os R$ 7,1 milhões foram parar nas mãos do tesoureiro Jacinto Lamas, que repassou a soma ao deputado Valdemar Costa Neto (SP), presidente nacional do PL.
Entrevista com o economista Paulo de Tarso Venceslau. Ele relata ao repórter Luiz Maklouf, do jornal O Estado de S. Paulo, esquema de corrupção, de 1995, cujo operador era o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. Roberto Teixeira representava a Cpem (Consultoria para Empresas e Municípios). Por ter denunciado a trama, Venceslau foi expulso do PT em 1998. Para ele, Roberto Teixeira era o Marcos Valério da época:
- Ele era o grande operador. Ele se apresentava nas prefeituras em nome do Lula, para pegar dinheiro para o PT. Paulo de Tarso Venceslau conversou pessoalmente com Lula, naquele ano de 1995. Queria alertá-lo para os métodos ilícitos de Roberto Teixeira:
- Lula foi o primeiro a saber do caso. Sabia do comprometimento do seu compadre, sabia do volume de dinheiro público envolvido, e fez questão não só de acobertar, mas de punir quem tinha descoberto. Definição de Paulo de Tarso Venceslau: Lula é um caudilho, "e o partido se ajoelha diante dele. Esse ajoelhar foi mortal para o PT":
- O poder do Lula passou a ser quase que absoluto diante da máquina partidária. O partido se ajoelhou.
Em seguida, o economista fala do deputado José Dirceu (PT-SP):
- Até então aparentava manter uma velha amizade comigo, mas passou a ser meu algoz. Naquele momento ele provou ao Lula sua extrema lealdade. Um caudilho com esse poder, um partido de joelhos e um executor como o Zé Dirceu, só podia levar a isso que estamos vendo hoje.
Como pôde ser possível a montagem dessa máquina de dinheiro, o valerioduto, dentro do PT?
- Silvio, Delúbio, essas pessoas foram postas no entorno de Dirceu. Silvinho, por exemplo, sempre foi uma pessoa medíocre no PT. Foi alçado a dirigente pelo Zé Dirceu e virou pau-mandado. Assim como o Delúbio. São pessoas que raciocinam muito pouco, não precisam pensar muito. Tinham de executar.
Paus-mandados de quem?
- Do Zé Dirceu, que era o grande comandante, o grande chefe desse pessoal. Quem mandava e desmandava era Dirceu. A máquina partidária era controlada a mão-de-ferro por ele.
Delúbio Soares afirma que Dirceu não sabia do esquema.
- Isso é conversa para boi dormir. Zé Dirceu controlava o partido, colocava as pessoas nos postos que lhe interessavam, mantinha sob rígido controle. É ingenuidade achar que não sabia a origem dos recursos. Até porque o Delúbio não tem capacidade, nem origem, formação, preparo nem nada para montar um aparelho desse tipo. Vamos ser realistas. É um sindicalista do interior de Goiás, professor de carreira do Estado, neófito em São Paulo, nunca circulou nas rodas do poder e de repente adquire amizade sólida com um grande operador chamado Marcos Valério. É piada achar que fez isso da cabeça dele.
Sobre Lula:
- O Lula sempre geriu de perto as questões que envolvem sua relação de poder. Claro que não vai estar mandando fazer, mas saber, ele sabia. Não os detalhes. Comparando com a época que estourou o negócio do Teixeira: a primeira pessoa que soube foi Lula. Eu levei para ele, pessoalmente. E o tempo todo fingiu que não sabia. Evidentemente que Lula não operava, assim como não está operando hoje. Mas como ele sabia naquela época, ele sabe hoje, sempre soube.

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29/7/2005 Depoimento à Polícia Federal. É de João Cláudio Genu, assessor do deputado José Janene (PP-PR). Ele admite que fez vários saques em dinheiro vivo na agência do Banco Rural no Brasília Shopping. De setembro de 2003 e janeiro de 2004, foram R$ 850 mil em retiradas. Genu agiu por determinação de Janene e dos deputados Pedro Corrêa (PP-PE) e Pedro Henry (PP-MT).
Genu nega que distribuiu dinheiro do mensalão a deputados do PP. Apenas transportou somas, como uma espécie de "mula". Segundo Genu, ele pegava o dinheiro dentro da agência, em envelopes entregues por Simone Vasconcelos, executiva de Marcos Valério. Tudo ia para dentro de uma pasta tipo 007, sem conferir. Da agência bancária, Genu ia para o anexo do Senado, onde estão a presidência e a sede do PP. Lá funcionava uma espécie de tesouraria do PP.

A Polícia Federal monta esquema para proteger a vida de Soraya Garcia. Ela cuidou das finanças da campanha de Nedson Micheletti (PT) à Prefeitura de Londrina (PR) em 2004. Militante do PT, acabou denunciando a sonegação de R$ 6,5 milhões nos gastos da campanha apresentados pelo PT à Justiça Eleitoral. Ela acusa o envolvimento do então deputado Paulo Bernardo (PT-PR), nomeado depois ministro do Planejamento de Lula, e de outro deputado, André Vargas (PT-PR). Declaração do promotor eleitoral Sérgio Correia de Siqueira sobre o caixa 2 que reelegeu Nedson Micheletti, com referências ao ministro Paulo Bernardo e ao deputado André Vargas:
- O que ela fala é que eles chegavam de Brasília num dia e o dinheiro aparecia no outro.
O dinheiro surgia dentro de sacos plásticos de lixo ou em sacolas de lojas. Oficialmente, a campanha custou R$ 1,3 milhão. De acordo com os números de Soraya Garcia, foram R$ 7,8 milhões. Ela relatou ao promotor que foi incumbida de fazer duas planilhas de despesas. Uma, em letras azuis, a oficial. A outra, em vermelho, mostrava o caixa 2. Depois que os documentos eram impressos, os arquivos tinham de ser apagados do computador.
Soraya Garcia põe no rolo o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho (PT-SP). Ele é natural da mesma Londrina. Gilberto Carvalho foi procurado várias vezes para dar socorro financeiro à campanha de Nedson Micheletti. Olha a coisa batendo na porta de Lula, novamente.

Em entrevista ao repórter Sérgio Gobetti, do jornal O Estado de S. Paulo, o deputado João Magno (PT-MG), ex-prefeito de Ipatinga (MG), confessa que errou ao receber R$ 50 mil do valerioduto em 2003. Diz que o dinheiro foi usado para pagar dívidas de campanha do ano anterior:
- Não declarei. Não digo que a gente não deva respeitar a lei, mas se não jogar as regras do jogo tem de deixar a política. Recebi consciente de que era desvio da lei, mas essa é a regra do jogo no Brasil.
João Magno apresentou Marcos Valério, um velho conhecido, aos deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e José Mentor (PT-SP). Valério também tinha bom relacionamento com o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Agora, essa: para obter dinheiro do caixa 2 do PT, o petista João Magno procurou Valério, e não Delúbio Soares. A confissão:
- Foi quando perguntei se era possível ele liberar algum dinheiro, para pagar dívidas da minha campanha. Ele disse que dependia de ter o consentimento do Delúbio. Ele não entregaria dinheiro sem autorização do PT.
Em 2002, antes de conversar com Marcos Valério, João Magno já havia ido a Delúbio Soares procurar "ajuda financeira". É revelador:
- Ele disse que ia ver o que era possível fazer. Naquele momento achei uma providência bastante solidária dele. Esse assunto não era discutido no Diretório Estadual, mas cada deputado sabia que existia essa fonte de ajuda.

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30/7/2005 Um documento do Banco Rural autorizava Roberto Marques, o "Bob", amigo e uma espécie de ajudante-de-ordens do deputado José Dirceu (PT-SP), a sacar R$ 50 mil. O dinheiro, da SMPB. A matéria está na revista Veja. A prova, um fax, veio em papel timbrado do Banco Rural, endereçado à agência da avenida Paulista, em São Paulo, em 15 de junho de 2004. Bob trabalhava na Assembleia Legislativa de São Paulo, não muito longe da agência da avenida Paulista.
O saque vivo dos R$ 50 mil foi no dia seguinte. Mas quem fez foi um certo Luiz Carlos Manzano, sob suspeição de trabalhar como contador na Bônus-Banval. A corretora teria dado um emprego a Michele Janene, filha do deputado José Janene (PP-PR). José Dirceu e Bob negam. Não sabem nada sobre o saque de R$ 50 mil. A revista:
"A confirmação de que o Roberto Marques do documento do Rural é o mesmo Bob ajudante de Dirceu foi dada a Veja na última sexta-feira pelo deputado Carlos Abicalil (PT-MT). Sub-relator da CPI dos Correios, o parlamentar contou que foi procurado pelo próprio Marques na semana retrasada para tentar esclarecer o aparecimento de seu nome nos documentos contábeis do Banco Rural. Segundo o deputado, o assessor repassou o número de sua identidade e do CPF, para que ele pudesse conferir com os documentos em poder da CPI. O resultado da pesquisa, nas palavras do deputado, foi o seguinte: 'O número do RG conferia. Só não conferia o saque', diz."
Publicada a reportagem, Simone Vasconcelos, diretora administrativa e financeira da SMPB, confirma: Roberto Marques, o Bob de José Dirceu, recebeu mesmo autorização para o saque de R$ 50 mil. Carlos Abicalil evita a imprensa e não fala mais sobre o assunto. Deve ter tomado uma bronca.

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1/8/2005 Marcos Valério faz tremer. Simone Vasconcelos depõe na Polícia Federal, em Brasília. Fornece uma lista elaborada por Valério, com os nomes de 31 pessoas. Traz os sacadores e beneficiários do mensalão. Todos autorizados pelo PT a fazer retiradas em dinheiro. Total que saiu das contas bancárias das empresas de Valério: R$ 55,8 milhões. Um esclarecimento: nem sempre os beneficiários foram pegar quantias em cédulas no banco. Os mais espertos mandaram assessores e familiares. Eis os principais nomes da lista, com os respectivos valores agraciados, por ordem de grandeza:
Duda Mendonça, publicitário e marqueteiro de Lula, responsável pela campanha eleitoral vitoriosa de 2002, R$ 15,5 milhões. Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, R$ 10,8 milhões. Diretório Nacional do PT, R$ 4,9 milhões. Deputado José Janene (PP-PR), R$ 4,1 milhões. Deputado Vadão Gomes (PP-SP), R$ 3,7 milhões. Manoel Severino dos Santos, presidente da Casa da Moeda e ligado ao PT do Rio de Janeiro, R$ 2,6 milhões. Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, R$ 2,4 milhões.
Tome fôlego: deputado José Borba (PR), líder do PMDB, R$ 2,1 milhões. Marcelino Pies, tesoureiro do PT do Rio Grande do Sul, R$ 1,2 milhão. Anderson Adauto (PL-MG), ex-ministro dos Transportes de Lula, R$ 1 milhão. José Carlos Martinez, falecido ex-presidente do PTB, R$ 1 milhão. Deputado Paulo Rocha (PT-BA), R$ 920 mil, bem mais, portanto, que os R$ 420 mil identificados anteriormente.
Rodrigo Barroso Fernandes, ex-secretário do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT-MG), também está na lista de Marcos Valério, agraciado com R$ 774 mil. Márcio Araújo de Lacerda, secretário-executivo do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB-CE), pegou R$ 457 mil. Roberto Costa Pinho, assessor do ministro da Cultura, Gilberto Gil, R$ 450 mil. Deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), R$ 400 mil.
E mais estes aqui, imperdíveis: Raimundo Ferreira da Silva Júnior, do PT do Distrito Federal, R$ 370 mil. Deputado João Magno (PT-MG), R$ 350 mil. Deputado Romeu Queiroz (PTB-MG), R$ 350 mil. Deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), o irmão de José Genoino, R$ 250 mil. Vilmar Lacerda, presidente do PT do Distrito Federal, R$ 235 mil. Deputado Paulão (PT-AL), presidente do PT de Alagoas, R$ 160 mil. Deputado Josias Gomes (PT-BA), R$ 100 mil. Deputado João Paulo Cunha (PT-SP), R$ 50 mil. José Adelar Nunes, tesoureiro do PT de Santa Catarina, R$ 50 mil. E deputado Professor Luizinho (PT-SP), R$ 20 mil.
A estratégia de Valério: convencer a Polícia Federal de que a lista dos R$ 55,8 milhões tem origem em empréstimos bancários, e que o dinheiro foi totalmente repassado, por meio de caixa 2, a pessoas indicadas pelo PT. Valério queria um acordo, o benefício da delação premiada. Um abrandamento de penas, para evitar possível condenação. Em troca, forneceria informações. Mais alguns pedidos de Valério: ele não quer ser preso e quer o desbloqueio de R$ 1,8 milhão, aplicado no nome da mulher, Renilda Santiago.
Valério mantém pressão sobre o PT. Quer negociar, ser protegido. Por ora, ameaça: pode revelar os detalhes de suposta reunião entre cinco integrantes do PT e o vice-presidente do BMG, Roberto Rigotto. O encontro teria ocorrido durante o período de votação da Medida Provisória 130, que tratou de crédito consignado para aposentados. História enroladíssima, como se verá adiante. De qualquer forma, Valério jamais falou publicamente dos tais detalhes, durante a crise do escândalo do mensalão. Provavelmente, porque conseguiu o que desejava. Com o negócio, o BMG obteve exclusividade para operar créditos consignados, durante alguns meses. Fez um dinheirão.

Outro petardo: escancarados bastidores da relação entre Marcos Valério e José Dirceu (PT-SP), o superministro do presidente Lula. A psicóloga Maria Ângela Saragoça, ex-mulher de Dirceu, foi contratada pelo BMG em 2003. Trabalhava meio expediente em uma agência em São Paulo, por R$ 3.265. Um mês depois, obteve empréstimo de R$ 42 mil do Banco Rural.
O dinheiro foi usado para pagar parte do apartamento comprado por ela no tranquilo bairro de Perdizes, em São Paulo. Antes de comprá-lo, porém, Maria Ângela teve de vender o antigo imóvel, situado na Vila Madalena. Quem o comprou por R$ 115 mil foi o advogado Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. Depois, alugou-o a Ivan Guimarães, petista que ocupou a presidência do Banco Popular do Brasil. O apartamento novo custou R$ 150 mil. O vendedor do imóvel concedeu entrevista ao jornal Estado de Minas. Maria Ângela foi comprá-lo com dinheiro vivo, trazido numa sacola.
Para anotar: a DNA, de Marcos Valério, fez campanha de lançamento do Banco Popular, braço do Banco do Brasil, sem licitação. Custos da campanha: R$ 25 milhões. O BMG aproveitou os bons ventos no governo Lula e fez lucrativa parceria com a Caixa Econômica Federal e o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) para operar sistema de créditos consignados.
Voltando à ex-mulher de José Dirceu. O ministro pediu emprego a Valério para ela, logo após a posse de Lula. A notícia sai no Correio Braziliense. Dirceu não quer falar sobre o assunto. Maria Ângela divulga nota: diz que foi apresentada a Marcos Valério por Silvio Pereira, um velho conhecido, de mais de 20 anos. Dirceu, segundo ela, não tem nada a ver com isso:
"Em setembro de 2003, encontrei-o (Silvio Pereira) em companhia do senhor Marcos Valério, a quem fui apresentada. Conversamos sobre minha situação profissional e o publicitário mineiro se colocou à disposição para me indicar alguma empresa que eventualmente necessitasse de meus serviços. Também disse que tinha contatos se eu precisasse de financiamento para a compra do novo apartamento."

Renuncia o deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP). Ele preferiu perder o mandato a correr o risco de ficar inelegível até 2015, caso fosse cassado por envolvimento no escândalo do mensalão. Ficou livre para se candidatar em 2006. Valdemar Costa Neto não abriu mão do cargo de presidente do PL.
De Roberto Busato, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil):
- A renúncia não pode ser um salvo-conduto para a impunidade.
Valdemar Costa Neto profere discurso da tribuna na Câmara dos Deputados. Recebeu, sim, dinheiro do valerioduto, apesar de ter negado anteriormente. Todo o dinheiro do caixa 2 do PT foi usado, segundo ele, para pagar despesas de campanhas eleitorais. Não houve mesadas a deputados:
- Fui induzido ao erro quando aceitei receber recursos destinados à campanha, sem a devida documentação que oficializasse a doação.
O patrimônio de Valdemar Costa Neto, conforme declaração apresentada por ele ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em 2002: R$ 2,9 milhões. Em Mogi das Cruzes (SP), base eleitoral de Valdemar, ele é conhecido como "Boy". De Frederico Augusto, irmão de Valdemar, ao repórter José Maria Mayrink, do jornal O Estado de S. Paulo:
- Não entendo como o boy tem tantos bens, pois nosso pai morreu pobre e não deixou quase nada para os filhos. Em Brasília, o discurso de renúncia do presidente do PL. Menção ao PT:
- Não tínhamos razões para suspeitar da origem dos recursos que recebíamos. Em nenhum momento poderíamos colocar sob suspeita as ações de um partido aliado que, junto conosco, venceu as eleições.
O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), elogia Valdemar Costa Neto. Severino falou exatamente desse jeito:
- Não posso deixar de ressaltar a prova da dignidade da maneira correta como vossa excelência agiu para engrandecer o mandato popular, que espero que São Paulo faça de volta.
Daria certo. Valdemar seria reeleito deputado federal em 2006. E o PL, chamuscado pelo escândalo do mensalão, viraria PR (Partido da República). Valdemar continuou forte nos bastidores, durante o segundo mandato de Lula.

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2/8/2005 José Dirceu (PT-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ) enfrentam-se em sessão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Um duelo com ofensas, denúncias para todos os lados e muita ironia. Dirceu trata de proteger Lula, minimizando a influência que teve no governo do presidente. Jefferson rouba a cena. Eis as intervenções de Dirceu, retrucadas por Jefferson:
- Tenho consciência da tragédia que se abateu no PT. Sei da gravidade dos erros que setores da direção do PT cometeram na campanha de 2004, mas quero repetir que só respondo pelo que decidi, participei e autorizei.
Tratei de todos os assuntos com vossa excelência, deputado José Dirceu, os republicanos e os não-republicanos. Vossa excelência nos deixava a todos à vontade para qualquer conversa, na ante-sala do presidente da República.
- O senhor se desentendeu conosco porque queria capturar vários órgãos públicos e não permitimos as nomeações.
Falei do mensalão para o todo-poderoso José Dirceu, hoje humilde, ele deu um soco na mesa e disse: "Não pode, o Delúbio não está autorizado".
- No caso de se comprovar que o mensalão é realidade, quem vai decidir isso é a Justiça. Por enquanto é um indício, não uma certeza.
O José Genoino era o vice-presidente do PT. O presidente de fato era José Dirceu. Tudo tinha de ser fechado e homologado depois na Casa Civil, pelo José Dirceu.
- Não é fato. Não é verdade.
O acordo da Bahia foi fechado na Casa Civil. O acordo de São Paulo, o do Paraná que envolvia a nomeação em Itaipu, foi fechado na Casa Civil.
- Não posso ser prejulgado, transformado, como fez o deputado Roberto Jefferson, no chefe de quadrilha ou no chefe do maior esquema de corrupção no País.
Foi o maior tráfico de influência, a maior corrupção política que eu já vi por parte de um partido. O braço desse partido no governo é vossa excelência.
- O falecido presidente Martinez recebeu R$ 1 milhão do Marcos Valério. Se esses saques são para o mensalão, como diz o deputado Roberto Jefferson, o PTB também recebeu.
O senhor acusou um homem que não pode se defender, mas eu vou fazer isso por ele. O Martinez me mostrou que havia recebido do PT R$ 1 milhão para pagamento de programas de televisão de campanha, que são caríssimos.
- Jamais propus para qualquer deputado, deputada, senador, senadora, para qualquer presidente de partido, qualquer proposta que não fosse lícita, republicana.
Não tem mensalão no Brasil. É conversa da imprensa, todos os jornais mentem, todas as revistas mentem. Os gestos do Delúbio não são de conhecimento de vossa excelência. As atividades de Marcos Valério, que foi 12 vezes à Casa Civil, vossa excelência não viu, não.
Comentário da jornalisa Dora Kramer, de O Estado de S. Paulo:
"Quem ouvisse pela primeira vez pensaria tratar-se do ministro da Pesca, não do chefe da Casa Civil, poderosíssimo, comandante de uns, integrante de outros e influente em todos os grupos de trabalho governamentais, participante ativo e explícito dos atos do PT nesse período."
Do jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S.Paulo:
"Que diabo de político mambembe é esse que, tendo participado do alto comando petista por 12 anos, não percebeu que os seus colegas eram capazes de praticar 'atos' capazes de gerar o que o próprio Dirceu chamou de 'tragédia' do PT?"
Rossi acrescentou: "É, diga-se, o mesmo dirigente político que conviveu durante 13 anos com um certo Waldomiro Diniz e, ainda assim, foi incapaz de notar nele qualquer tendência delinquencial, a ponto de levá-lo para o coração do governo, posição a partir da qual negociava com delinquentes".

Roberto Jefferson denuncia: José Dirceu, com o conhecimento e o aval de Lula, articulou uma viagem de Marcos Valério e Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, a Lisboa. O objetivo: negociar a captação de recursos junto à Portugal Telecom, para conseguir "fundos" e pagar dívidas de campanha do PT e do PTB. O ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG), segundo Jefferson, foi quem pediu socorro ao presidente da República. O PTB precisava de dinheiro. Nasceu a operação Portugal Telecom.
Fatos denunciados: Valério e Emerson Palmieri voaram de primeira classe para a capital portuguesa, em 24 de janeiro de 2005, a fim de se encontrar com representantes do Banco Espírito Santo e com o ministro de Obras Públicas de Portugal, Antonio Mexia, que mantinha ligações com banqueiros. Valério queria se meter numa transferência de US$ 600 milhões do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). O dinheiro estava depositado numa instituição financeira do Reino Unido e com a jogada iria para o Banco Espírito Santo. O banco é um dos principais acionistas da Portugal Telecom. A "comissão" do negócio, de R$ 100 milhões, injetaria recursos de caixa 2 para "salvar" PT e PTB. Ao final, a "solução" acabou descartada, pelo alto risco.
Reação de José Dirceu:
- Não é verdade, isso não é fato. Nunca tive relação com a Portugal Telecom, de nenhum tipo. Nem administrativa, nem funcional, nunca tratei com a Portugal Telecom, nenhuma matéria.
Reação de Marcos Valério:
- Havia o rumor de que a Portugal Telecom estava comprando a Telemig Celular. Como a minha agência DNA tinha a conta da Telemig, fui a Portugal atrás de oportunidades de negócios. Palmieri foi comigo a passeio. É amigo e estava estressado.
Emerson Palmieri iria negar, como veremos.
Reação do Palácio do Planalto: em nota oficial, admitiu as visitas de dois representantes da Portugal Telecom a Lula, em Brasília. Agenda do encontro: "novos investimentos no Brasil". Da nota: "Em nenhum momento foi tratado qualquer assunto que não se referisse aos empreendimentos da companhia portuguesa no Brasil".

Marcos Valério depõe à Procuradoria-Geral da República. Afirma que se encontrou três vezes com o ex-ministro José Dirceu (PT-SP), no Palácio do Planalto. Ele faz menção a contratos de gaveta, fechados com Delúbio Soares. Uma espécie de garantia para os bancos Rural e BMG, que teriam emprestado R$ 55,8 milhões ao PT.
Valério entrega cópia de documento assinado por Delúbio, dirigido ao BMG. O tesoureiro do PT assumia "o compromisso irretratável e irrevogável de garantir, como avalista e devedor solidário", todas as operações de empréstimos firmadas com o PT e as empresas ligadas a Valério, a saber: DNA, SMPB, Graffiti e Rogério Tolentino Associados.
Os procuradores ficam intrigados. Delúbio Soares, um homem sem grandes posses, foi aceito como avalista de empréstimos milionários. O BMG também emprestou R$ 83,4 milhões às empresas de Marcos Valério, entre fevereiro de 2003 e abril de 2004.
Um momento do depoimento de Valério chama atenção: o empresário informa que R$ 4,9 milhões foram entregues, em dinheiro vivo, nas sedes do PT em São Paulo e em Brasília. Por fim: os advogados Aristides Junqueira e Pedro Fonseca, contratados para defender o PT no caso da morte do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT), receberam R$ 185 mil em recursos do chamado valerioduto. O dinheiro que pagou os advogados, portanto, não tinha nada a ver com as tais dívidas de campanha.

Cai Márcio Araújo de Lacerda (PSB-MG), secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional. Amigo do ministro Ciro Gomes (PSB-CE), era seu assessor mais importante. Em 2002, foi coordenador financeiro da campanha de Ciro Gomes, então no PTB, à Presidência da República. Em 2008, Márcio Lacerda seria eleito prefeito de Belo Horizonte, apoiado pelo PT e pelo PSDB. O nome de Márcio Lacerda apareceu na lista do valerioduto, beneficiário de R$ 457 mil. Segundo ele, o dinheiro pagou a agência de publicidade que fez a campanha de Ciro a presidente:
- A campanha do Ciro terminou sem dívida e, no segundo turno, com o apoio à candidatura de Lula, houve uma junção das equipes na campanha do PT. O pessoal da agência New Trade, responsável pelo marketing de Ciro, integrou-se, a convite de Duda Mendonça, à campanha do PT e dos aliados nos Estados. O dinheiro foi depositado na conta da agência, não podia imaginar que tinha esse esquema todo.
O empresário Jacome Einhart, dono da New Trade, confirma e descreve o telefonema que deu ao publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha eleitoral de Lula:
- Liguei para o Duda e dei os parabéns pela vitória, e ele me chamou para ajudar no segundo turno.
O dinheiro do caixa 2 do PT repassado à New Trade saldou despesas da campanha de Lula à Presidência da República. Fato grave, mas sem os desdobramentos que poderiam ter ocorrido, nem as implicações merecidas.

Depoimento do ex-secretário de Segurança Nacional do governo Lula, Luiz Eduardo Soares, à CPI dos Bingos. Ele ouviu do empresário de jogos Sérgio Canozzi, em 2002, que o ex-presidente da Loterj do Rio, Waldomiro Diniz, levantava R$ 300 mil mensais de propina.
Sérgio Canozzi também teria oferecido suborno de R$ 10 milhões para a governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), num esquema de desvio de dinheiro público. Luiz Eduardo Soares garante que denunciou a "oferta" ao secretário de Coordenação de Governo de Benedita da Silva, Marcelo Sereno, aliado de José Dirceu (PT-SP). Mais: fez três tentativas para contar o caso diretamente à governadora, mas ela desconversou. Waldomiro Diniz continuou na presidência da Loterj. Da governadora Benedita a Luiz Soares:
- Você deveria ser mais construtivo, e não ficar me trazendo mais problemas.

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3/8/2005 A operação Portugal Telecom. Notícia do jornal Expresso, de Lisboa: o ex-ministro de Obras Públicas de Portugal, Antonio Mexia, recebeu Marcos Valério, "na qualidade de consultor do presidente do Brasil". O encontro, em outubro de 2004, teve caráter "de cortesia", com duração de 15 minutos. A conversa, "de circunstância", não teve "tema específico".
Em nota, a Presidência da República nega, "enfaticamente". Afirma que Marcos Valério não foi autorizado a representar Lula. Mas é fato: Valério foi recebido em audiência pelo ministro José Dirceu (PT-SP), em 11 de janeiro de 2005, 13 dias antes da viagem a Lisboa, em companhia do tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri. Para anotar: Valério foi ao encontro de Dirceu com o representante do Banco Espírito Santo no Brasil, Ricardo Espírito Santo. Ele é primo do presidente do banco, Ricardo do Espírito Santo Salgado. Dados em poder da CPI dos Correios mantêm registro de que Ricardo do Espírito Santo Salgado esteve no Brasil no fim de 2004, para jantar com Delúbio Soares.
Mais uma informação que corrobora a denúncia de Roberto Jefferson: o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) confirma que rejeitou proposta para aplicar US$ 100 milhões no Banco Espírito Santo. Não são os números de Jefferson, mas são números milionários. Quem forçou a posição do IRB pela rejeição da proposta, em abril de 2005, foi o diretor de Finanças da estatal, Alberto Pais, o único que não teria sido indicado por partidos políticos.

Simone Vasconcelos na CPI dos Correios. A diretora administrativa e financeira da SMPB conta que esteve cerca de 30 vezes em Brasília por determinação de Marcos Valério, em 2003. Foi tratar de retiradas de dinheiro, atendendo interesses de Delúbio Soares. Ela conhece um pouco da história do saque em nome de Roberto Marques, o "Bob", fiel amigo de José Dirceu:
- A Geyza Dias, gerente financeira da SMPB, autorizou o saque de R$ 50 mil do Rural em São Paulo, em nome dele. Mas no dia seguinte enviou outro fax ao Rural, mudando o destinatário. Se foi mudado, foi por ordem do Valério, que deve ter mudado a pedido do Delúbio.
Dava muito na cara.
Os R$ 50 mil, afinal, foram recebidos por um emissário da corretora Bônus-Banval. Na primeira fase das operações do valerioduto, aliás, o dinheiro era entregue em espécie ou mediante transferências eletrônicas, diretamente aos beneficiados. Depois, Marcos Valério procurou procedimentos mais seguros, dificultando a identificação dos recebedores. Passou a usar os serviços das corretoras Bônus-Banval e Guaranhuns para distribuir o dinheiro. Além de tudo, tinha outro problema: Simone Vasconcelos não aguentava mais lidar com tanto dinheiro. Palavras dela à CPI:
- Quando chegava ao Rural em Brasília tinha impressão de que até o guarda sabia que eu ia tirar dinheiro. Não gostava disso, pelo risco pessoal. Achava perigoso. Com o passar de alguns meses, fiquei incomodada, constrangida. Não me ocorreu que fosse ilegal, mas pedi para não fazer mais.
De Simone Vasconcelos:
- Não me arrependo de nada. Sou muito grata ao Marcos Valério. Ele me deu possibilidade de crescimento profissional. E quando fiquei incomodada por entregar valores, isso mudou. Fiz tudo por determinação do meu patrão.

Cai Manoel Severino dos Santos, presidente da Casa da Moeda, órgão subordinado ao Ministério da Fazenda. Manoel Severino dos Santos aparece na lista de Valério como sacador de R$ 2,6 milhões. É um dos fundadores do PT no Rio. Foi secretário da ex-governadora Benedita da Silva (PT-RJ). Exerceu a função de tesoureiro informal do PT e trabalhou na campanha de reeleição de Benedita. É próximo de Marcelo Sereno e Delúbio Soares.
Mais denúncias: a DNA pagou R$ 34 mil mensais, entre abril de 2003 e dezembro de 2004, para a IFT (Idéias, Fatos e Texto), empresa do jornalista Luís Costa Pinto, em troca de serviços de comunicação aos deputados Professor Luizinho (PT-SP) e Virgílio Guimarães (PT-MG).
A SMPB, outra agência de Marcos Valério, pagou R$ 20 mil mensais a Luís Costa Pinto, pela assessoria ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP), na época em que ele presidia a Câmara dos Deputados. A CPI dos Correios descobriu uma transferência de R$ 50 mil das contas de Valério a Luís Costa Pinto.

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4/8/2005 Mais uma história que passa raspando em Lula. O jornal O Estado de S. Paulo faz nova revelação sobre o caixa 2 do PT. A reportagem é de Christiane Samarco. Trata-se de R$ 2,1 milhões do valerioduto que foram entregues ao líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PR), em 2004.
Segundo o próprio José Borba, boa parte dos R$ 2,1 milhões foi repassada a Carlos Roberto Massa, o "Ratinho", apresentador do Programa do Ratinho, do SBT. Bancou uma entrevista-churrasco com Lula no programa de televisão. Foram cinco horas de gravação na Granja do Torto com Lula, registradas por seis câmeras do SBT. O programa foi ao ar em 30 de abril de 2004.
José Borba relatou a história a dois integrantes da cúpula do PMDB. José Borba intermediou pessoalmente o pagamento. Deu a entender que poderia renunciar ao mandato. Iria preferir isso a contar a verdade. Afinal, Ratinho é compadre e velho amigo. Financiara a campanha de José Borba a deputado em 2002, incluindo o empréstimo de um jatinho para ele percorrer o Paraná.
O Palácio do Planalto e Ratinho negam o pagamento. Da reportagem:
"Foi justamente a eleição de 2002 que aproximou Ratinho, que já foi deputado, e o candidato Lula, apoiado pelo PMDB de Borba no Paraná. Os contatos entre eles se estreitaram a ponto de a grande entrevista exclusiva ter sido acertada pelos dois em um café da manhã em Brasília, um mês antes do churrasco no Torto. A entrevista teria custado caro porque incluiu a participação da dupla sertaneja Bruno e Marrone, que cantou com Lula."

Em depoimento à CPI do Mensalão, Roberto Jefferson (PTB-RJ) conta detalhes da operação Portugal Telecom. Foi procurado por Marcos Valério, em março de 2005, para tratar do negócio com o Banco Espírito Santo, acionista da Portugal Telecom. Valério queria que Jefferson conseguisse uma transferência de US$ 600 milhões para o Banco Espírito Santo, cuja sede fica em Portugal. O dinheiro era do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e estava aplicado na Europa.
Além disso, Jefferson teria de atuar junto à Eletrobrás. A estatal federal precisaria reestatizar linhas de transmissão de energia. O Banco Espírito Santo providenciaria financiamento de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões para isso. A comissão proposta para a trama era de 3%. Isso renderia uma bolada entre R$ 90 milhões e R$ 120 milhões, dinheiro que iria irrigar os cofres do PT e do PTB. Na época, o IRB e a Eletrobrás estavam na área de influência do PTB.
Havia outro negócio, proposto pelo então ministro José Dirceu (PT-SP). Renderia R$ 24 milhões por fora, também para PT e PTB. Esse o motivo da viagem de Valério e do tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, a Lisboa. Rogério Tolentino, sócio de Valério, também foi a Portugal.
Segundo Jefferson, Dirceu disse que a Portugal Telecom oferecera a bolada em nome de uma antecipação de recursos para futuras campanhas eleitorais. Jefferson afirma que Valério, Tolentino e Delúbio Soares viajavam com frequência a Portugal.
Em seu depoimento, Jefferson aponta a origem da crise política: dificuldades do PT e do PTB para pagar dívidas:
- Se as operações tivessem dado certo, as crises estariam sanadas. As tensões seriam superadas.
Para ele, os problemas começaram quando tomou a decisão de contar a Lula sobre o pagamento de mensalões. Jefferson acusa o ministro da Justiça:
- Passaram a perseguir a mim e ao PTB. O ministro Márcio Thomaz Bastos disse que divulgaria corrupção em três órgãos administrados pelo PTB, o IRB, os Correios e a Eletronorte.
Roberto Jefferson acrescenta:
- Procurei o José Dirceu e pedi que ele não "viajasse", mas ele não me deu ouvidos. Depois fiquei sabendo que os arapongas da Agência Brasileira de Inteligência estavam lá nos Correios, querendo me pegar.

Um "acordo" na CPI dos Correios impede a abertura dos sigilos bancários e fiscais de 11 fundos de pensão de empresas estatais. A alegação: a investigação iria gerar clima de instabilidade na economia, e prejudicar investimentos no Brasil. Deputados e senadores abrem mão da apuração das irregularidades num veio importante de abastecimento do caixa 2. Do deputado Maurício Rands (PT-PE):
- Os investimentos dos fundos são ativos da escala de bilhões. Temos de ter responsabilidade com a economia do País.
Com a decisão, o inquérito restringe-se a um pedido de informações à Secretaria de Previdência Complementar, do Ministério da Previdência Social.

A CPI dos Correios ouve o policial David Rodrigues Alves, autorizado a sacar R$ 6,5 milhões das contas das empresas de Marcos Valério, em agências do Banco Rural em Belo Horizonte. Ele confirma: o dinheiro ficava separado no banco, em maços lacrados. Transportava os valores para a SMPB, em caixas de sapato, caixas de camisa ou de celular, dependendo da quantia. Fazia até três viagens por dia, carregando de R$ 50 mil a R$ 150 mil. Em troca, recebia pagamento de R$ 50 a R$ 100 por viagem, mais o dinheiro do táxi.

Na CPI dos Bingos, Antonio Carlos Lino da Rocha, ex-presidente da multinacional Gtech no Brasil, e Marcelo Rovai, ex-diretor de Marketing da empresa. Os dois acusam o advogado Rogério Buratti e Waldomiro Diniz, ex-subchefe do Ministério da Casa Civil. Ambos teriam tentado extorquir R$ 20 milhões da Gtech, em abril de 2003. A exigência caiu depois para R$ 6 milhões. Em troca, o Governo Federal facilitaria a renovação de um contrato da multinacional norte-americana com a Caixa Econômica Federal. Rogério Buratti foi secretário de Governo do ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP), quando ele era prefeito de Ribeirão Preto (SP).
A história de Marcelo Rovai: ele aceitou conversar com Waldomiro Diniz, porque lhe informaram que o assessor de José Dirceu (PT-SP) era o terceiro homem mais importante do governo Lula. Quanto a Buratti, era poderoso o suficiente para impedir a assinatura do contrato. Afinal, já assessorara três petistas de peso: Palocci, José Dirceu e o deputado João Paulo Cunha (SP).
Os ex-dirigentes da Gtech negam o pagamento da propina. Senadores acreditam que, para evitar o rompimento do contrato de processamento de loterias, o dinheiro foi pago, e por isso a prorrogação, um negócio de R$ 650 milhões, recebeu sinal verde. Não ficou por aí a boa relação Gtech/governo Lula. Houve a criação de mais um jogo, a Loto Fácil, e o aumento de 50% no preço de outro, a Mega Sena, que também beneficiaram a Gtech.
Outra indicação do suborno: as ligações telefônicas entre Marcelo Rovai e Rogério Buratti. O ex-diretor da multinacional negou os telefonemas, mas a quebra de sigilo telefônico mostrou que os dois se falavam com frequência. É fato: a Caixa Econômica Federal prorrogou o contrato de US$ 100 milhões com a Gtech por mais um ano.

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5/8/2005 A operação Portugal Telecom. O jornal português Público informa que Ricardo Espírito Santo Salgado, presidente do Banco Espírito Santo, confirmou o encontro mantido com Marcos Valério em Lisboa, no final de 2004. Na audiência, o banqueiro comentou que tinha dificuldade para marcar uma reunião com altos funcionários do governo Lula.
De volta ao Brasil, Valério marcou o encontro, sem problemas. Em dois dias estava agendado. A reunião ocorreu em 11 de janeiro de 2005. Ricardo Espírito Santo, representante do banco português no Brasil, foi recebido pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP). Valério também estava na audiência. O banqueiro e Valério confirmaram, embora Dirceu tenha informado que não se lembrava da presença de Valério na reunião.
Outro diário português, o Jornal de Negócios, publica entrevista com o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa. Ele também se reuniu com Valério, "grande empresário de Minas Gerais", em Lisboa. Em outubro de 2004, em audiência oficial realizada no Palácio do Planalto, ocorreu encontro entre Lula e Miguel Horta e Costa.

Em entrevista ao repórter Expedito Filho, do jornal O Estado de S. Paulo, Marcos Valério descreve José Dirceu como "avalista político" dos empréstimos bancários do Banco Rural e do BMG ao PT:
- Por que você acha que os bancos emprestaram? Algum banqueiro deste País daria o aval para Delúbio e Valério? Os bancos só deram aval porque sabiam que por trás tinha um conforto, uma garantia.
Segundo Valério, Delúbio Soares avisava José Dirceu sobre todas as transferências de dinheiro do valerioduto:
- Delúbio tinha fidelidade canina e não fazia nada sem conversar com Dirceu.
Mais bastidores do mensalão, na versão de Valério:
- Nos dois últimos anos, eu fui a pessoa mais íntima do Delúbio. Ele me disse que Zé Dirceu sabia das dívidas do partido, que Zé Dirceu sabia dos compromissos com os outros partidos da base. Delúbio assumiu mais compromissos do que realmente poderia. Além de Zé Dirceu, todo mundo na cúpula do PT sabia dos empréstimos de Delúbio e das transferências para diretórios do PT e para partidos aliados.
- Eu via a maneira como Silvinho Pereira respeitava o Delúbio, o Delúbio ao Genoino, e todos ao Dirceu.
Tudo começou no segundo turno da eleição para presidente da República, em 2002. Valério se aproximou de um velho amigo, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), conterrâneo dele da cidade de Curvelo (MG). Conheceu José Dirceu e a cúpula do PT. As operações de empréstimo e transferências começaram depois da eleição:
- No PP, os saques eram autorizados para João Cláudio Genu, chefe do gabinete da liderança, e distribuídos para os deputados pelo líder, deputado José Janene. O PL, primeiro partido a receber, tinha como distribuidor o deputado Valdemar Costa Neto, embora os saques fossem feitos pelo tesoureiro Jacinto Lamas. No PMDB, quem sacava era Maria Sebastiana, e o Borba distribuía.
Valério lembra-se de conversa que ouviu na sede do PT em Brasília, no edifício Varig. Era a respeito de uma discussão entre o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o tesoureiro Delúbio Soares:
- Jefferson queria grana, chantageou e ameaçou o Delúbio. Ele me disse: "Vamos ter problemas com o Roberto Jefferson".

O publicitário Duda Mendonça emite nota para repudiar, "com veemência e indignação", o que chama de "tentativas absurdas e absolutamente improcedentes" de Marcos Valério. Duda Mendonça não aceita que ele e a sócia, Zilmar Fernandes da Silveira, sejam envolvidos no "inexplicável esquema de distribuição de dinheiro". Duda Mendonça foi apontado como o destinatário de R$ 15,5 milhões, por meio de cinco cheques lançados entre fevereiro e novembro de 2003.
A Polícia Federal indicia o coordenador financeiro da campanha de Fernando Pimentel (PT) a prefeito de Belo Horizonte. Chamado a depor, Rodrigo Barroso Fernandes prefere não se manifestar sobre os R$ 274 mil que recebeu, por meio do caixa 2 do PT. Com o nome na lista dos recebedores de dinheiro do valerioduto, Rodrigo Barroso Fernandes já havia pedido demissão da Prefeitura de Belo Horizonte.

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6/8/2005 O PT decide suspender Delúbio Soares por tempo indeterminado, mas rejeita a abertura de processo de investigação sobre as atividades do tesoureiro. Do deputado Chico Alencar (PT-RJ), que depois se transferiria para o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade):
- Delúbio sabe de muita coisa. Ele não faria operações milionárias de moto próprio, e por isso tem que ter blindagem, proteção. O partido não quer ser melindrado. O Campo Majoritário está vivo e José Dirceu, trabalhando firme.
Para o deputado Mauro Passos (SC-PT), o receio é um só. Delúbio Soares poderia contar tudo o que sabe:
- Tornou-se perigoso, do ponto de vista que pode liquidar figuras do nosso partido e do nosso governo. Imagino o esforço para que não abra o verbo.
O jornal O Estado de S. Paulo comenta a decisão do PT, no editorial "Pizza no Diretório do PT". Critica a influência de José Dirceu e classifica Delúbio Soares como o "parceiro de falcatruas de Valério", autor de "negócios escabrosos", no "maior escândalo de corrupção de que se tem notícia no País."

A revista Época publica fotografia de casa ampla, de bom gosto, avaliada em R$ 600 mil. Recém-construída por José Dirceu. Fica no condomínio Vale de Santa Fé, em Vinhedo (SP). Tem 431 metros quadrados de área construída, piscina e churrasqueira, num belo terreno de 1.680 metros quadrados.
Análise da CPI dos Correios sobre operações financeiras. É de envolvidos no escândalo do mensalão. Traz dúvidas sobre movimentações de José Dirceu. Cerca de R$ 535 mil, transferidos ao ex-ministro entre os anos de 2000 e 2005, não dispõem de identificação. Não se sabe quem foram os depositantes. Para a assessoria de José Dirceu, o deputado está protegido por sigilo bancário, e não fará comentários sobre o assunto.

A operação Portugal Telecom. Quem se manifesta agora é o ex-diretor de Finanças da Embratur no governo Lula, Emerson Palmieri. O tesoureiro informal do PTB contesta a versão apresentada por Marcos Valério, segundo a qual ele, Palmieri, fora a passeio a Lisboa por estar estressado e ser amigo de Valério. Palmieri fala ao repórter Rubens Valente, da Folha de S.Paulo:
- Não sou amigo dele, não tenho nada com ele, eu o conheço há poucos meses.
Emerson Palmieri aproximou-se de Marcos Valério "por contingência". Foi a Portugal em "missão partidária", mas não há clareza sobre o encontro de Marcos Valério com representantes da Portugal Telecom:
- O Jefferson tinha combinado com José Dirceu e que era para eu acompanhar, para saber se iria ocorrer a reunião. Mais nada, eu não tinha detalhes disso.
Na explicação confusa, Palmieri diz ter sido convocado por Roberto Jefferson para a viagem. O deputado não explicou o motivo da ida a Portugal. Refere-se assim ao encontro entre Valério e diretores da empresa portuguesa:
- Ele não permitiu que eu entrasse na reunião, disse apenas que "provavelmente vamos equacionar em 20 dias o problema do PT e do PTB".

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9/8/2005 Surge Paulo Okamotto, presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), nomeado por Lula para o cargo. Apresenta-se como autor do pagamento da dívida de R$ 29.436,26 do presidente da República junto ao PT. Okamotto foi tesoureiro da campanha de 1989, a primeira em que o líder petista disputou a Presidência da República. A CPI dos Correios investiga se teve dinheiro de caixa 2 no pagamento da dívida. No Sebrae, Okamotto administra orçamento anual de R$ 900 milhões. Ele diz que pagou a dívida em quatro parcelas, mas não contou ao presidente:
- Tirei recursos da minha conta pessoal.
Okamotto não tem provas de que pagou. Não tem recibos, nada. A história não tem lógica. Ele diz que sacou dinheiro vivo em caixas eletrônicos em Brasília, e enviou os valores em espécie para São Paulo. Na capital paulista, aconteceram os depósitos em conta bancária do PT, feitos de quatro agências diferentes do Banco do Brasil.

Em depoimento à CPI do Mensalão, Marcos Valério confirma que destinou R$ 15,5 milhões das contas bancárias de suas agências para pagar o publicitário Duda Mendonça. O dinheiro foi entregue à sócia de Duda, Zilmar Fernandes da Silveira, e a outras pessoas autorizadas por ela. Zilmar é íntima da família presidencial. Cuida pessoalmente da imagem de Lula e da primeira-dama, Marisa Letícia. Faz isso desde a eleição de 2002. Sugere roupas novas para o presidente, e tratamentos estéticos para dona Marisa. No mercado publicitário, é tida como próxima de Delúbio Soares.

Em depoimento à CPI dos Bingos, o advogado Rogério Buratti diz que foi procurado por emissários da multinacional norte-americana Gtech, em abril de 2003. Eles queriam que Buratti fosse intermediário dos interesses da empresa junto ao ministro Antonio Palocci (PT-SP), para que houvesse a renovação de um contrato de R$ 650 milhões com a Caixa Econômica Federal. Em troca da influência, Buratti receberia uma comissão milionária de R$ 16 milhões.
Rogério Buratti garante que não aceitou a proposta, e isenta o ministro da Fazenda de qualquer irregularidade. A Gtech teve o contrato renovado. Buratti nega tráfico de influência, mas não desmente a amizade com Antonio Palocci. E desvia o foco do ministro. Diz suspeitar que a Gtech contratou, por R$ 5 milhões, a MM Consultoria. A empresa, esta sim, teria ajudado na obtenção do novo contrato. A MM seria ligada ao advogado Marcelo Coelho Aguiar, que foi assessor de Luiz Gushiken (PT-SP) na Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República. A história teria desdobramentos.

Em Brasília, outra história eletrizante: o sacador do valerioduto que passou recibo. É Charles dos Santos Dias, assessor do ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), candidato ao Governo do Pará em 2002, derrotado no primeiro turno. Dos R$ 920 mil do caixa 2 do PT em nome do deputado Paulo Rocha (PT-PA), R$ 300 mil foram retirados de conta da SMPB, em dinheiro vivo, na agência Assembleia do Banco Rural, em Belo Horizonte. Dias fez o saque.
O dinheiro teria sido usado para comprar o apoio político do ex-senador. Em troca da bolada, ele teria ficado ao lado de Maria do Carmo (PT-PA), candidata a governadora no segundo turno das eleições do Pará naquele ano. Ela também foi derrotada. De qualquer forma, Charles dos Santos Dias descontaria três cheques de R$ 100 mil cada um, em 6 de maio de 2003. Assinou recibo, deixou rastro: os números do RG, CPF e do telefone celular.
Do ex-senador Ademir Andrade, ao jornal O Estado de S. Paulo:
- Tenho 30 anos de vida pública dedicada à luta do povo, sempre na esquerda, defensor dos sem-terra. Nunca me servi de qualquer coisa de governo, tive sempre comportamento absolutamente impecável, e de repente me vejo envolvido em situações como essa.

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10/8/2005 Na CPI do Mensalão, o vice-presidente da comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), trata de "esquentar" lista de sacadores das contas de Marcos Valério, numa jogada para envolver parlamentares de oposição no escândalo do mensalão. Um documento, supostamente apócrifo, relacionava 128 nomes para os quais teriam sido entregues R$ 10,8 milhões na campanha de reeleição do governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) em 1998. Eduardo Azeredo perdeu aquele pleito para Itamar Franco (PMDB-MG).
No primeiro momento, Paulo Pimenta afirma que "achou" a lista com os nomes em cima da mesa de trabalhos da CPI. Diz supor que Marcos Valério a deixou ali, por distração, ao prestar depoimento à comissão. Mas Paulo Pimenta foi visto ao lado de Valério após o final do depoimento, na madrugada anterior, caminhando em direção à garagem do Senado.
Paulo Pimenta apressa-se em dar uma segunda versão. Foi mesmo até o carro de Valério pegar a tal lista, mas com o advogado de Valério. A história não prospera. O advogado, Marcelo Leonardo, nega. E, pior, fica provado que Pimenta saiu do Senado, naquela madrugada, dentro do carro de Valério.
Do jornalista Janio de Freitas, na Folha de S.Paulo:
"Assim tem agido a tropa de choque petista. Procura esvaziar tudo o tempo todo, sem decência no trato dos fatos, sem dignidade política e sem compostura pessoal. Disso só pode resultar a sua associação moral a Marcos Valério e a quantos acusados haja. E, como o PT domina as CPIs ao somar-se a seus aliados da 'base governista', as inquirições e investigações ficam prejudicadas, particularmente as referentes ao mensalão."
Paulo Pimenta renuncia à vice-presidência da CPI do Mensalão.

Depoimento à CPI dos Correios de Cristiano Mello Paz, sócio de Marcos Valério na agência de publicidade SMPB. Ele afirma que assinou "pilhas" de cheques identificados apenas como "assunto PT/Marcos Valério", sem saber o destino do dinheiro. Diz Cristiano Mello Paz:
- Marcos Valério fez uma reunião conosco em que falou da importância da aproximação com o partido. Toda agência de publicidade tem interesse em estar próxima. Não vejo nada de ilícito nisso.
Cristiano Mello Paz defende o sócio:
- Valério colocou a importância de ter bom relacionamento com o PT. Disse que queria se aproximar do PT e tomou a decisão de fazer o empréstimo, se nós concordássemos. Assinei na confiança e achei que deveria assinar.
Os cheques da "conta PT" vinham separadamente. Não eram nominais. Eram ao portador ou endereçados a determinadas empresas.
- Todas as vezes que os cheques chegavam na minha mesa eram pilhas desse tamanho, até me incomodava. Eu não tinha tempo para ficar conferindo.
Os parlamentares estranham. Que motivos teriam levado a agência a assumir riscos, emprestando dinheiro a um partido político? Justificativa de Paz:
- Senti desconforto por causa da dívida da empresa. O Valério dizia: "Não se preocupe, o PT vai pagar". Achei que tudo seria cumprido. Hoje vejo que foi um erro.
A Polícia Federal entrega à CPI dos Correios laudo apontando suspeitas de manipulação em números e informações do Banco Rural. Há indícios de transações que foram apagadas ou modificadas nas operações de crédito, débito, transferências bancárias e saques atribuídos às empresas de Valério.
Os peritos da Polícia Federal desconfiam de modificações feitas intencionalmente na contabilidade eletrônica do banco, para que coincidissem com as versões dos saques. As mudanças poderiam escamotear falsificações de valores, omitir sacadores e até incluir operações fantasmas. De acordo com dados da CPI, não há identificação sobre a origem de R$ 11,8 milhões, referentes a 50 movimentações das empresas de Valério no Banco Rural.

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11/8/2005 A crise assume aspectos ainda mais chocantes. Duda Mendonça e Zilmar Fernandes da Silveira depõem na CPI dos Correios. O marqueteiro de Lula aparece sem ser convocado. Confessa que recebeu R$ 11,9 milhões em caixa 2, de Marcos Valério. O dinheiro pagou serviços prestados na campanha de 2002, que elegeu Lula. Pior: R$ 10,5 milhões do total foram depositados no exterior, segundo Duda Mendonça, por orientação de Marcos Valério.
Duda Mendonça teria sido obrigado a constituir uma empresa offshore, cuja característica principal é a ausência de identificação dos donos. Nasceu a Dusseldorf, nas Bahamas. De acordo com a versão, Marcos Valério fez seguidos depósitos à Dusseldorf em 2003, por meio dos bancos BAC Flórida Bank, Banco Rural Europa, Israel Discount Bank de Nova York e a empresa Trade Link. Duda Mendonça não fornece senha ou extratos para permitir a análise da movimentação. Diz o marqueteiro de Lula:
- Esse dinheiro era claramente de caixa 2, a gente não é bobo. Nós sabíamos, mas não tínhamos outra opção, queríamos receber. Não vou dar uma de santinho. Ou eu recebia daquele jeito, ou tomava cano.
Além dos R$ 10,5 milhões na Dusseldorf, Marcos Valério repassou R$ 1,4 milhão em dinheiro vivo, em várias parcelas. Duda Mendonça recebeu tudo. Os primeiros R$ 300 mil foram na agência do Banco Rural da avenida Paulista, em São Paulo. Zilmar Fernandes da Silveira foi buscá-lo:
- Cheguei na tesouraria do Rural e o rapaz me trouxe um pacote de dinheiro. Eu me assustei, porque pensei que ia receber um cheque administrativo.
A sócia de Duda Mendonça acostumou-se. Voltou à mesma agência nos dias seguintes para pegar mais duas boladas de R$ 300 mil cada uma, em dinheiro vivo. E depois fez outras duas retiradas, também em espécie, de R$ 250 mil cada. Total: R$ 1,4 milhão. Só parou porque disse ter sido assaltada. Aí um doleiro teria sido incumbido de fazer os saques na agência.
O depoimento de Duda abala o País. Além do marketing de Lula, o publicitário cuidou das campanhas dos candidatos do PT aos governos de São Paulo e do Rio, José Genoino e Benedita da Silva, e do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Recebeu R$ 11,9 milhões de Valério, e outros R$ 3,6 milhões de Delúbio. Todos os R$ 15,5 milhões "por fora", sem nota fiscal.
As televisões transmitem o depoimento de Duda Mendonça. O publicitário escancara a promiscuidade entre público e privado nas relações do Governo Federal. Segundo ele, o pacote fechado com o PT para as eleições de 2002 era de R$ 25 milhões. Faltou o acerto de R$ 9,5 milhões do combinado, mas Duda Mendonça voltou a trabalhar para o partido do presidente Lula em 2004. Foi responsável pelas campanhas eleitorais em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Recife e Goiânia. Duda detém contas milionárias de publicidade do governo Lula, a saber: Petrobras, Secom e Ministério da Saúde. Juntas, renderam faturamento de R$ 120 milhões em 2003 e 2004. O acesso de Duda à esplanada dos Ministérios e ao ministro Luiz Gushiken (PT-SP) é constante. Recebeu o apelido de ministro da propaganda.
Ao depor à CPI, Duda Mendonça quer se livrar da acusação de evasão de divisas. O crime teria sido cometido por quem enviou o dinheiro ao exterior. Não ele. Duda apenas o recebeu e, portanto, seria autor de crime mais leve, de sonegação fiscal. Caso fizesse acerto com a Receita Federal antes da denúncia do Ministério Público, ficaria livre de processo criminal.
Repercussões do depoimento de Duda Mendonça: para o jornal Folha de S.Paulo, em editorial, "o presidente Lula perde o pouco de autoridade que lhe restava: como pode o governo exigir dos cidadãos e das empresas o cumprimento de obrigações fiscais se o mais alto magistrado da República chegou ao poder valendo-se de operações fraudulentas?"
O jornalista Clóvis Rossi, na mesma Folha, escreve que o depoimento do "publicitário do rei" mostra que não foram apenas deputados os beneficiados pelo valerioduto. "Foi o próprio presidente da República, cuja propaganda foi paga com esse dinheiro. Pior: não foram pagamentos feitos durante a campanha e, portanto, antes da presidência de Lula, mas depois da posse e depois de a agência de Duda ter obtido contratos de publicidade do governo".
O presidente do PT, Tarso Genro (RS), defende Lula:
- Não há nenhuma legitimação moral e jurídica para a proposta de impeachment. Vamos fazer todos os movimentos políticos, jurídicos e sociais para defender o mandato do presidente.
Da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL):
- Agora se fecham todos os indícios de crime. E esse dinheiro não veio de empréstimo. Veio de licitações fraudadas, de investimentos de fundos em bancos que depois retribuíam. Tudo que o Código Penal diz que dá cadeia eles fizeram.
O deputado José Dirceu (PT-SP) alerta para "convulsão social", em caso de impeachment de Lula:
- Vocês acham que não vai acontecer nada no País se fizerem isso?
Enquanto Duda Mendonça depunha à CPI dos Correios, Marcos Valério comparece à CPI do Mensalão. Ele tampouco fora convocado. O depoimento não tem a mesma repercussão, mas cria um problema. Segundo Valério, foi o próprio Duda quem pediu para o dinheiro ser depositado no exterior:
- Fui procurado pelo Delúbio, que me incumbiu de pagar o Duda, por intermédio da Zilmar. Fiz os pagamentos à pessoa que ela indicou, o consultor financeiro de nome Jader.
A grana foi sacada pelo doleiro Jader Kalid Antônio, autor de 22 operações de retirada de dinheiro da SMPB. Diz Valério:
- Fui usado pelo PT e cuspido para fora. É muito mais fácil acusar o publicitário Valério do que o marqueteiro Duda Mendonça. É mais fácil falar em valerioduto do que em dirceuduto ou ptduto.
Ex-diretores do Banco Central são entrevistados pelos repórteres Fernando Dantas e Suely Caldas, do jornal O Estado de S. Paulo. Os pagamentos a Duda Mendonça no exterior seriam mais uma evidência de que os empréstimos dos bancos Rural e BMG ao PT e ao empresário Marcos Valério foram obras de ficção. As operações de crédito fariam parte, portanto, de estratégia para camuflar doações prévias, depositadas por empresas em contas bancárias no exterior, e cujos titulares seriam os próprios bancos envolvidos no esquema. Os empréstimos serviriam para cobrir as doações, e não eram para ser pagos.
Segundo a análise, não faria sentido aprovar empréstimos de milhões de reais, em operações avalizadas por dirigentes do PT, políticos com baixo patrimônio. A suspeita é de que os empréstimos não deveriam ser quitados e nem cobrados, pois já haviam sido pré-pagos com depósitos no exterior.
Em outro texto, Suely Caldas explica que os empréstimos foram inventados para "esquentar" dinheiro depositado no Banco Rural em paraíso fiscal:
"A empresa interessada em doar dinheiro ao governo Lula deposita, digamos, US$ 5 milhões na conta do Banco Rural, lá no paraíso fiscal. Feito isso, o Rural concede um empréstimo do mesmo valor, no Brasil, à SMPB, empresa de Marcos Valério. Em seguida, a SMPB repassa o dinheiro do 'crédito' aos 'protegidos' indicados por Dirceu/Delúbio (por enquanto, deputados do PT e de partidos aliados)."
A suspeita sobre a verdadeira face do esquema vinha do fato de o Banco Rural ter levado calote de R$ 6,5 milhões de Marcos Valério em 1998. Na época, Valério teria engendrado operação semelhante para a campanha de reeleição do governador de Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O esquema ficaria conhecido como mensalão mineiro. "Que banco sério premia o insistente e reincidente caloteiro com tantos outros milionários empréstimos?"
Da repórter Suely Caldas: "Além de comissões polpudas faturadas por eles, o Rural provisiona no balanço o 'prejuízo' decorrente do calote dos 'empréstimos', obviamente concebidos para se transformar em ativos podres. Com isso, o banco reduz 'seu lucro' e se livra do Imposto de Renda referente à parcela do falso 'prejuízo'".
O repórter Lourival Sant'Anna, do mesmo Estadão, obtém informações de bastidor, de fonte próxima a Delúbio Soares. Os gastos com a campanha de Lula, em 2002, teriam alcançado R$ 200 milhões. O PT admitiu despesas de R$ 21 milhões, quase dez vezes menos. Os R$ 21 milhões teriam sido suficientes para todas as despesas, e havia ainda uma sobra de R$ 11 mil. Nos números de verdade, ficaria uma dívida de caixa 2, de mais de R$ 20 milhões. E a arrecadação não-contabilizada teria sido de quase R$ 160 milhões.

A CPI dos Bingos recebe informações do Ministério Público de São Paulo. O advogado Rogério Buratti manteve relações próximas com Antonio Palocci (PT-SP), ministro da Fazenda, pelo menos até fevereiro de 2004. Mentira à CPI ao dizer que não tinha contato com Palocci. O ministro também negara.
Rogério Buratti foi secretário de Governo de Ribeirão Preto (SP), no período em que o prefeito da cidade era Antonio Palocci. Foi afastado por suspeita de corrupção. Motivo: fita gravada pelo próprio Rogério Buratti continha indícios de acerto ilegal com um empresário. A gravação, furtada por integrante do PT e divulgada, inviabilizou a permanência de Rogério Buratti na Prefeitura. Saiu do PT, e não teria mais convivido com Antonio Palocci.
Agora, sabe-se que ligou duas vezes de um telefone fixo, em 7 de fevereiro de 2004, para a casa do ministro, em Brasília. E no dia 21 daquele mês, mais uma vez, de um celular. Além disso, manteve contatos telefônicos com Juscelino Antonio Dourado, chefe de gabinete de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda. E fez outras 99 ligações para Ralf Barquete, um consultor da Caixa Econômica Federal. Os telefonemas ocorreram no período da renovação do contrato entre a Caixa e a multinacional Gtech. Ralf Barquete também foi secretário de Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto. Rogério Buratti minimiza a importância dos telefonemas ao ministro. Segundo o advogado, as conversas tiveram "caráter pessoal":
- Nunca disse que não conheço Palocci e não converso com ele. Disse que não tenho intimidade com ele. Foi isso que eu falei.
Antonio Palocci insiste na versão furada. Em nota emitida por sua assessoria, afirma que "eventuais telefonemas foram provavelmente tentativas de contato que não prosperaram". Sobre os contatos com Rogério Buratti nos últimos anos, "apenas sociais, eventuais e esporádicos". Muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte.

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12/8/2005 Lula improvisa em reunião ministerial no Palácio do Planalto:
- Eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas.
O presidente não diz com clareza a que se refere. Nem aponta os culpados:
- Quero dizer a vocês, com toda a franqueza, eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o País.
Lula não menciona que fora alertado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) para a existência do esquema de distribuição de mensalões:
- Se estivesse ao meu alcance, já teria identificado e punido exemplarmente os responsáveis por esta situação.
O presidente jamais iria apontar os responsáveis pela suposta traição.

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13/8/2005 A revista Veja traz entrevista com o jurista Hélio Bicudo, um dos quadros mais respeitáveis do PT. Ele diz à repórter Lucila Soares que o partido chegou ao governo sem projeto, tratou de aparelhar o Estado e adotou a "tática de alcançar resultados pela corrupção do Congresso Nacional":
- Não posso admitir que dentro da história que venho construindo, muitas vezes penosamente, eu possa ser considerado partícipe do que está acontecendo.
O senhor acredita que o presidente Lula sabia dos fatos que estão vindo a público?
- Lula é um homem centralizador. Sempre foi presidente de fato do partido. É impossível que ele não soubesse como os fundos estavam sendo angariados e gastos e quem era o responsável. Não é porque o sujeito é candidato a presidente que não precisa saber de dinheiro. Pelo contrário. É aí que começa a corrupção.
Por que o presidente não tomou nenhuma atitude para impedir que a situação chegasse aonde chegou?
- Ele é mestre em esconder a sujeira embaixo do tapete. Sempre agiu dessa forma.
Em outro trecho, Hélio Bicudo trata de um caso que envolveu Lula:
- Em 1997, presidi uma comissão de sindicância do PT para apurar denúncias contra o empresário Roberto Teixeira, que estava usando o nome de Lula para obter contratos de prefeituras em São Paulo. A responsabilidade dele ficou claríssima. Foi pedida a instalação de uma comissão de ética, e isso foi deixado de lado por determinação de Lula, porque o Roberto Teixeira é compadre dele.
Em que momento o senhor começou a perceber que o partido estava no caminho errado?
- Quando a direção passou a tomar a frente das campanhas políticas. No início, a militância era a grande força eleitoral. Isso foi mudando na medida em que o partido começou a abandonar os princípios éticos. A partir da campanha eleitoral de 1998 instalou-se definitivamente a política de atingir o poder a qualquer preço.
Hélio Bicudo abandona o PT.

O Jornal Nacional, da TV Globo, entrevista a mulher do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o "Toninho da Barcelona". Ela não é identificada, por segurança. Diz temer pela vida do marido, preso na penitenciária de segurança máxima de Avaré (SP):
- Ele se transformou num arquivo vivo.
Em cartas endereçadas à família, Toninho da Barcelona contou que remeteu dinheiro ao exterior, por solicitação do PT, desde a primeira campanha de Lula a presidente, em 1989. Segundo ele, as remessas se multiplicaram na década de 90 e foram concentradas na empresa Trade Link, ligada ao Banco Rural, nas Ilhas Cayman, e em outra offshore situada no Panamá.
A mulher de Toninho da Barcelona fala ao Jornal Nacional de ameaças ao marido. Teriam sido feitas por supostos advogados que o procuraram na prisão, a mando do deputado José Mentor (PT-SP):
- Ele falou para mim que os advogados perguntaram se ele tinha mesmo revelações a fazer sobre as remessas do partido.
Toninho da Barcelona perguntou aos advogados o que ganharia para responder a pergunta. A resposta foi a seguinte:
- Temos três reis e um ás que podem ajudá-lo a sair daqui.
A revista Veja aborda o assunto. Para a publicação, as cartas de Toninho da Barcelona dão pistas sobre os caminhos do dinheiro:
"Os doleiros, normalmente, recebem dinheiro frio no Brasil – das mãos do dono do dinheiro ou de seu representante – e se encarregam de enviá-lo ao exterior, por meio de uma cadeia de laranjas."

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15/8/2005 Técnicos da CPI dos Correios suspeitam da versão de Duda Mendonça. O publicitário disse ter sido obrigado a abrir empresa em paraíso fiscal para ser remunerado pela campanha que elegeu Lula em 2002. O problema: remessas de R$ 8,8 milhões à offshore Dusseldorf, nas Bahamas, foram feitas nos dias seguintes a saques em contas de Marcos Valério.
A coincidência de datas é considerada forte indicador de que o dinheiro dos depósitos teve origem no Brasil. Depois de sacado, os valores seriam depositados por doleiros em contas no exterior, até chegarem aoffshores como a Trade Link, ligada ao Banco Rural, nas Ilhas Cayman. De lá, seguia transferência para a Dusseldorf. Como evidência, os técnicos apontam 35 dos 40 depósitos em dólares na conta de Duda Mendonça no BankBoston de Miami, cuja origem teriam sido recursos retirados do Banco Rural no Brasil.
Os dados: em 11 de março de 2003 sacaram-se R$ 300 mil do Banco Rural, em Belo Horizonte. No dia seguinte, a Trade Link autorizou uma transferência de US$ 83,6 mil (equivalente a R$ 300 mil, menos as comissões) para a Dusseldorf. No dia 12 de março de 2003, um dia depois, sacaram-se outros R$ 300 mil do Banco Rural de Belo Horizonte. Mais um dia, novo depósito em dólares, de valor equivalente, no BankBoston de Miami.
Para os técnicos da CPI, a exigência de Marcos Valério para que Duda Mendonça abrisse uma offshore em paraíso fiscal só faria sentido se o dinheiro já estivesse no exterior, sem a possibilidade de ser "internalizado" no Brasil, o que, aparentemente, não ocorreu.

Em entrevista a Lourival Sant'Anna, repórter de O Estado de S. Paulo, Roberto Busato, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), aponta motivos para a abertura de processo de impeachment contra Lula. Roberto Busato denuncia falhas da Polícia Federal e do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) para detectar movimentações de dinheiro do valerioduto. Diz Roberto Busato:
- Não é possível que esse Banco Rural tenha praticado tantos fatos que não foram detectados pela análise sistêmica que o Banco Central é obrigado a fazer. Onde estava a Receita Federal, com todos esses ilícitos tributários declarados? É incrível a inoperância de instrumentos do Estado brasileiro para evitar ou estancar uma corrupção sistêmica que estava ocorrendo dentro do governo Lula. Temos de reexaminar a legislação e as instituições.
- Os membros do PT envolvidos na corrupção fazem uma separação entre erro e corrupção, entendendo que em benefícios para o partido não há delito, mas erro. E que delito é apenas o aproveitamento próprio das verbas desviadas. Isso é desvio de conduta muito grave. Agiram criminosamente.
O presidente da OAB justifica o pedido de impeachment:
- O presidente é a expressão máxima do PT. Portanto, não me parece lógico que ele desconhecesse as práticas que seu partido estava adotando na sua própria campanha e, depois, dentro do seu governo. Havia denúncias a partir do caso Waldomiro Diniz. E o presidente da República nunca veio a público demonstrar transparência na solução desses problemas. Esses indícios todos autorizam juridicamente um pedido deimpeachment do presidente.

A CPI dos Correios inicia o processo de notificação de 18 deputados envolvidos no escândalo do mensalão. Todos são convocados a apresentar suas defesas por escrito. A lista dos que podem ser cassados tem sete deputados do PT, quatro do PP, três do PL, dois do PTB, um do PMDB e um do PFL (Partido da Frente Liberal, cujo nome é alterado para Democratas durante o segundo mandato de Lula). Os nomes: José Dirceu (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), Paulo Rocha (PT-BA), Josias Gomes (PT-BA), João Magno (PT-MG), José Janene (PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Vadão Gomes (PP-SP), Sandro Mabel (PL-GO), Carlos Rodrigues (PL-RJ), Wanderval Santos (PL-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ), Romeu Queiroz (PTB-MG), José Borba (PMDB-PR) e Roberto Brant (PFL-MG).

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16/8/2005 Uma comissão de 12 parlamentares da CPI dos Correios desloca-se a São Paulo para ouvir o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o "Toninho da Barcelona". Ele se diz disposto a colaborar com as investigações, em troca de proteção e da revisão da condenação a 25 anos de prisão. Fornece os nomes de quatro expoentes que fizeram operações de remessa de dinheiro ao exterior: José Dirceu (PT-SP), Delúbio Soares, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Diz mais: a corretora Bônus-Banval fez operações para o líder do PP, deputado José Janene (PR), e também para José Dirceu. Fala de grandes quantias em moeda nacional, trocadas por dólares. Foi pedido do deputado José Mentor (PT-SP). Informa conhecer detalhes de operações em Santo André (SP), feitas por doleiros que prestavam serviços ao PT. Cita o envolvimento do MTB Bank no esquema de remessa de divisas ao exterior, e relata operações cruzadas entre o Banco Rural e o BankBoston no exterior.
Em agosto de 2004, Toninho da Barcelona vendeu US$ 134 mil para o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Francisco Baltazar da Silva. Ele foi indicado para o cargo por Lula, depois de coordenar a equipe de segurança de Lula nas quatro eleições presidenciais disputadas pelo petista. Com o escândalo, Francisco Baltazar da Silva deixou o cargo.
O ministro Márcio Thomaz Bastos admite remessas de dinheiro e aplicações financeiras no exterior, mas ressalva: as operações, feitas pelo Unibanco, foram legais, por contratos de câmbio e registradas no Banco Central.
A Folha de S.Paulo reporta que duas diretoras uruguaias da Guaranhuns, empresa apontada como intermediária no esquema de distribuição de dinheiro do mensalão, foram denunciadas por lavagem de dinheiro pelo DEA (Departamento de Combate ao Narcotráfico, dos Estados Unidos). Elas teriam atuado com o Cartel de Juarez, uma organização de drogas mexicana.

Em depoimento à CPI do Mensalão, Emerson Palmieri, tesoureiro informal do PTB, dá detalhes sobre a reunião em que o PT se comprometeu a repassar R$ 20 milhões para a campanha eleitoral do PTB em 2004:
- Estávamos eu e o deputado Roberto Jefferson, com José Genoino, Delúbio Soares, Silvio Pereira e Marcelo Sereno. Genoino disse que a contribuição seria de partido para partido, e os recibos seriam providenciados depois. Seriam cinco parcelas de R$ 4 milhões. Depois disso, Genoino levantou-se e disse que ia ligar para José Dirceu.
As negociações com o PT, segundo o tesoureiro do PTB, eram conduzidas principalmente por José Genoino e o tesoureiro Delúbio Soares.
- Depois, Delúbio nos apresentou Valério e passamos a tratar com ele.
Das cinco parcelas de R$ 4 milhões, só uma teria sido paga. Veio em duas etapas, em dinheiro vivo, no início de julho de 2004. Uma de R$ 2,2 milhões, outra de R$ 1,8 milhão. Palmieri foi encarregado por Roberto Jefferson de dividir o dinheiro em "bolos" de R$ 150 mil e R$ 200 mil. Do tesoureiro:
- Não coube tudo no cofre do partido, passei uma parte para um armário ao lado. Entreguei a chave ao deputado Roberto Jefferson e ele me pediu sigilo. Poucos dias depois, disse a ele que deveríamos providenciar um segurança para tomar conta daquela dinheirama. Ele me respondeu: "O dinheiro já não está mais aqui no PTB". Não sei para onde ele levou. Acho que Jefferson não distribuiu o dinheiro.
Jacinto Lamas, o ex-tesoureiro do PL, também depõe na CPI do Mensalão. Afirma ter ido buscar, por determinação do ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), "pacotes", "envelopes" e "encomendas", sempre em dinheiro vivo, na sede da SMPB em Belo Horizonte, e na agência do Banco Rural no Brasília Shopping. Confessa também o recebimento em hotéis. Neste caso, Simone Vasconcelos, diretora da SMPB, entregava o dinheiro.
- Era sempre um acerto entre o Valdemar e o Delúbio.

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17/8/2005 Preso o advogado Rogério Buratti, ex-secretário de Antonio Palocci (PT-SP) na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP). Acusado de tentar destruir contratos de venda de imóveis e cheques, documentos que o incriminariam em negócios suspeitos, Rogério Buratti é denunciado pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, num esquema de compra e venda de fazendas e de duas empresas de ônibus. Preso também o corretor de imóveis Claudinet Mauad, envolvido nas transações de Rogério Buratti.
Investigações sustentam que Rogério Buratti comprou três fazendas nos últimos dois anos. Por uma propriedade em Ituverava (SP), pagou R$ 280 mil. Em seguida, trocou-a por terras em Pedregulho (SP), que custaram R$ 600 mil. Em novo negócio, vendeu a fazenda de Pedregulho e comprou uma outra em Buritizeiro (MG), por R$ 1,2 milhão. Mais recentemente, teria se desfeito da última propriedade, e comprado duas empresas de ônibus por R$ 2,6 milhões, nas cidades de Rancharia (SP) e Presidente Venceslau (SP).
Para o Ministério Público, os negócios evidenciam operações de lavagem de dinheiro. Teriam sido firmados por meio de contratos de gaveta. As empresas de ônibus estariam em nome de terceiros. Interceptação telefônica autorizada pela Justiça indicaria que Buratti já comprara nova fazenda, em Catalão (GO).
Em 1992, Rogério Buratti chegou a Ribeirão Preto para coordenar a campanha vitoriosa do então candidato a prefeito, vereador Antonio Palocci. Chegou sem nada, dirigindo um fusca. O petista Palocci governou Ribeirão Preto de 1993 a 1996. Em 2000, foi eleito prefeito pela segunda vez. Em 2005, o patrimônio de Buratti ultrapassaria R$ 3 milhões. Ele acabou afastado da Prefeitura de Ribeirão por se meter com uma empreiteira. Veio a público a gravação de uma conversa suspeita entre Buratti e um empresário. Em seguida, Buratti trabalhou como assessor da Prefeitura de Matão (SP), na época também sob comando do PT.
De lá foi para a empreiteira Leão Leão, que havia sido a principal doadora da segunda campanha de Antonio Palocci a prefeito de Ribeirão. Buratti tinha o cargo de vice-presidente da Leão Leão em 2004, quando foi forçado a sair da empreiteira. Palocci era ministro da Fazenda de Lula e Buratti estava metido em novo escândalo, o da suposta extorsão de dinheiro da multinacional Gtech. A empresa norte-americana queria renovar um contrato com a Caixa Econômica Federal, subordinada justamente ao Ministério da Fazenda. Waldomiro Diniz também teria participado da operação.
Buratti é indiciado por suspeita de envolvimento em esquema de fraude em licitações e contratos irregulares de limpeza pública em Ribeirão e outras nove cidades de São Paulo e Minas Gerais, em benefício da Leão Leão. Palocci não comenta a prisão. Buratti fecha acordo com o Ministério Público. Iria colaborar com a Justiça nas investigações, em troca de redução da pena.

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18/8/2005 Em depoimento à CPI do Mensalão, Delúbio Soares sai-se com evasivas. Além da sucessão de negativas, o ex-tesoureiro do PT não se lembra de mais nada. E os empréstimos de Marcos Valério ao partido? "Tem que verificar se foram R$ 55 milhões, R$ 56 milhões, R$ 58 milhões". Do dinheiro repassado ao publicitário Duda Mendonça, "não sei se são R$ 12 milhões, R$ 16 milhões, R$ 17 milhões". Sobre a grana que o PT ficou de dar ao PL pelo apoio em 2002, "algo em torno de R$ 9 milhões a R$ 10 milhões".
De acordo com Delúbio Soares, ele "não tinha nenhum tipo de controle sobre quanto foi pago, e a quem". Também nega a existência de documentação sobre empréstimos feitos por Marcos Valério:
- Não fizemos contabilidade nenhuma. Eu falava com o Marcos Valério, ele fazia o empréstimo. Não temos nem contabilidade de caderneta.
Delúbio Soares tem precisão cirúrgica, no entanto, quando interessa:
- O PT nunca comprou voto, nunca comprou deputados, nunca comprou votação.
O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) introduziu Marcos Valério:
- Quando o Virgílio me apresentou ao Marcos Valério, disse que ele tinha experiência em campanhas. Ao falar de experiência, quero dizer alguém que sabe trabalhar com recursos, que não faz mutreta.
Dos repasses de dinheiro do PT a partidos aliados:
- Parte do dinheiro era para resolver débitos de 2002. Uma parte para planejar, em 2003, as campanhas eleitorais de 2004. E uma parte para a eleição de 2004. Sei que foi uma ilegalidade. Pagar dívida de outro partido com dinheiro não-contabilizado é proibido pela lei eleitoral.
Apesar de se definir como "pessoa fiel", incapaz de delatar as pessoas, enumera parceiros com quem manteve negociações:
- No PMDB, rachado em relação ao apoio ao governo, o contato era feito com o deputado José Borba. No PTB, o contato inicial foi com o ex-presidente José Carlos Martinez e, depois da sua morte, com o deputado Roberto Jefferson. No PL, as conversas eram com o presidente, Valdemar Costa Neto. No PP, com o deputado José Janene.
O tesoureiro lista os diretórios do PT que receberam recursos de caixa 2. Cita São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.
- Pedi para o Marcos Valério resolver com esses Estados.
Delúbio se atrapalha ao ser inquirido pelo deputado Júlio Redecker (PSDB-RS). O deputado procura esclarecer a transferência de R$ 457 mil do valerioduto para Márcio Lacerda, ex-secretário executivo do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB-CE). O dinheiro teria sido usado para quitar dívida com a agência New Trade, do publicitário Einhart Jacome Paz. Depois de trabalhar para Ciro no primeiro turno de 2002, o publicitário prestou serviços à campanha de Lula no segundo turno. O diálogo é tenso:
O dinheiro foi enviado para Ciro Gomes?
- Sim.
Pagou despesas de campanha de Ciro ou de Lula?
- De Ciro.
Mas Ciro disse que foi serviço prestado pelo marqueteiro dele no segundo turno à campanha de Lula.
- Não foi. O dinheiro pagou serviços prestados pelo Einhart à campanha de Ciro no segundo turno.
Mas Ciro não foi candidato no segundo turno. Ele apoiou a candidatura de Lula.
- O Einhart trabalhou com o Duda Mendonça. Eles filmaram o Ciro para o programa de Lula no segundo turno, o dinheiro pagou despesas que o Ciro teve no segundo turno.
Então o dinheiro de Valério, de caixa 2, pagou despesas de campanha de Lula no segundo turno.
Delúbio silencia.

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19/8/2005 Em depoimento na Delegacia Seccional da Polícia Civil de Ribeirão Preto (SP), Rogério Buratti admite esquema irregular de financiamento da campanha de Lula em 2002, com dinheiro de caixa 2 de casas de bingo de São Paulo e do Rio de Janeiro. A operação rendeu R$ 2 milhões à campanha, o que lhe foi confidenciado por Ralf Barquete, secretário da Fazenda do então prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci (PT). Para lembrar: o prefeito Palocci virou coordenador de campanha de Lula em 2002, substituindo o prefeito petista Celso Daniel, de Santo André (SP), assassinado. Ralf Barquete também morreu, vítima de câncer.
Rogério Buratti relata que as casas de bingo tinham interesse na regularização do jogo no Brasil. A Medida Provisória que regulamentava a atividade, elaborada a pedido do ministro José Dirceu (PT-SP), foi abandonada depois de divulgada a gravação em que Waldomiro Diniz aparecia pedindo propina ao empresário de jogo "Carlinhos Cachoeira". De Buratti aos seis promotores do Ministério Público que tomaram o depoimento:
- Em relação à exploração dos bingos no País, tenho conhecimento de que houve duas contribuições em 2002 para a campanha do presidente Lula, que foram efetivadas por dois grupos. Um do Rio, cujo nome desconheço, outro de São Paulo. O grupo de São Paulo ofereceu R$ 1 milhão. Não sei o montante oferecido pelo grupo do Rio. Acredito que seja em torno de R$ 1 milhão ou mais. A contribuição foi encaminhada diretamente ao comitê financeiro da campanha, na sede nacional do PT. O comitê era coordenado por Delúbio Soares, ele tinha conhecimento. O interesse dessas contribuições era a regulamentação do jogo de bingo no Brasil, o que não aconteceu.

O economista César Queiroz Benjamim, fundador do PT. Em entrevista ao repórter Wilson Tosta, do jornal O Estado de S. Paulo, ele afirma que tomou conhecimento de financiamentos irregulares de bancos e empreiteiras ao PT, durante a campanha presidencial de 1994. O dinheiro beneficiava o candidato Lula, derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). Na época, César Queiroz Benjamin fazia parte da coordenação da campanha do PT:
- Tentei discutir na direção nacional, não houve possibilidade, e resolvi levar ao encontro nacional do PT de 1995, que era o primeiro na sequência da eleição. E aí ficou claro para mim que já estava havendo no PT o início do esquema que agora vem à luz, inclusive com os mesmos personagens. Eu tive a percepção de que isso continha um perigo extraordinário, que era a entrada no PT, pesadamente, de esquemas de financiamento que teriam um impacto grande na vida interna do partido. O Dirceu foi eleito para a presidência, esse grupo que agora está nas manchetes assume cargos-chave, e fica claro que o PT tinha tido uma inflexão para pior. A direção passava a gerenciar interesses.
Segundo César Queiroz Benjamin, o processo de corrupção no PT talvez tenha começado antes, com esquemas de financiamento montados por Delúbio Soares. O tesoureiro petista representara a CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT) no FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador):
- Até essa época, a Articulação, que é o grupo do Lula e do Dirceu, ainda disputava a hegemonia no PT, cabeça com cabeça. A minha interpretação é a de que esse grupo usou esquemas de financiamento heterodoxos para fortalecer a Articulação. Porque o FAT faz convênios com sindicatos. E assim fortaleceu as finanças da Articulação, que passa a manejar poder financeiro que é uma arma nova na luta. Passa a ter capacidade de financiar candidaturas, trazer pessoas, estabelecer pontes. Delúbio se tornou figura paradigmática. Foi tesoureiro da CUT, foi para o PT como tesoureiro. E esse grupo começa a ser conhecido como "os operadores".
Para César Benjamin, Lula "dissolveu por dentro os valores da esquerda":
- O Lula garante que foi traído, que não sabia. Mas eu não acredito nisso. Foram práticas sistemáticas durante mais de dez anos, do grupo que era mais próximo dele. Parece completamente inverossímil que ele fosse o único a não saber. Eu, que já estava fora do PT, sabia. Como o Lula poderia não saber?
- O grande legado do Lula é essa disseminação do antivalor. O valor da esperteza, o valor de se dar bem, de não estudar, ter orgulho de não estudar... Eu diria que o Lula sempre foi um grande guarda-chuva para os oportunistas no PT. Uma coisa é o partido ter um líder que é honesto, honrado. Então, quem quer ser picareta fica meio acuado. Pode até querer ser picareta, mas não é a regra. Outra coisa é você estar num ambiente em que veio de cima o exemplo. Então, sob a liderança do Lula, eu diria que se formou a pior geração de militantes da esquerda brasileira de toda a sua história: pragmática, oportunista, individualista, carreirista.

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20/8/2005 A revista Veja obtém informações exclusivas do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o "Toninho da Barcelona". Ele responde a uma lista de 20 perguntas do repórter Policarpo Junior. Relata o envolvimento do PT com o mundo das remessas de divisas para o exterior, as trocas de dólares por reais e outras transgressões. Fala de uma conta clandestina do PT operada pelo Trade Link Bank, uma offshore ligada ao Banco Rural, nas Ilhas Cayman.
O esquema funcionava para o PT sacar dinheiro do exterior e usá-lo no Brasil. Segundo Toninho da Barcelona, a operação era conduzida por Dario Messer, um doleiro do Rio. O Trade Link remetia o dinheiro para a offshore de Dario Messer, no Panamá. Ao mesmo tempo, uma quantia correspondente era liberada, em reais, no Banco Rural, em Belo Horizonte. Do repórter:
"O esquema é uma forte evidência de que os R$ 28 milhões que Valério diz ter obtido na forma de dois empréstimos junto ao Banco Rural sejam simplesmente recursos internados pelo PT a partir de sua conta clandestina no exterior."
Conforme a reportagem, "os cofres do PT viviam abarrotados de dólares. Em 2002, no auge da campanha presidencial, a casa de câmbio do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, a Barcelona, chegou a fazer trocas de moeda em ritmo quase diário". A revista implica o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), há 30 anos amigo de Lula:
"As trocas de dólares por reais, que se materializavam no gabinete do então vereador e hoje deputado Devanir Ribeiro, integram outro braço do esquema petista. Neste caso, o partido mantinha volumes consideráveis de dólares em dinheiro vivo, escondido em cofres ou malas ou cuecas, e acionava a casa de câmbio quando precisava convertê-los em reais. Em geral, quem ligava para a casa de câmbio Barcelona era o assessor legislativo da Câmara dos Vereadores, Marcos Lustosa Ribeiro – que vem a ser filho do deputado Devanir Ribeiro. No telefonema, "Marcão", como é conhecido, perguntava a cotação de venda e informava quanto queria trocar. No início de 2002, as trocas eram esporádicas e ocorriam a cada dez ou 15 dias. No meio do ano alcançaram ritmo alucinado. 'Com a aproximação das eleições tornaram-se quase diárias', lembra o doleiro."
O repórter entrevista Marcelo Viana, responsável pelas operações de balcão da Barcelona na época. As trocas de dólares por reais chegaram à casa dos R$ 500 mil semanais. Dependendo do volume, as somas eram entregues em sacolas ou envelopes, no gabinete do vereador Devanir Ribeiro. Diz Viana:
- Mas também já levei dinheiro preso às meias e debaixo da roupa.
Marcos Lustosa, o filho de Devanir, não nega. Ressalva, para livrar o pai:
- Não era dinheiro de política, meu pai não tinha nada a ver com isso. Era dinheiro que eu ganhava com serviços de informática que fazia na Câmara, e trocava por dólar. Coisa pequena, para meu uso mesmo.
O pai, convenientemente, esconde-se atrás do filho:
- Se o Marcos trocou dinheiro com Toninho da Barcelona, o problema é dele. O Marcos é maior de idade, casado, vacinado e cuida da vida dele.
Outro esquema relatado por Toninho da Barcelona funcionou em Santo André (SP), durante a administração do prefeito Celso Daniel (PT). Movimentou dinheiro a ponto de a cambista Nelma Cunha ter de acionar Toninho da Barcelona por não dispor das quantias solicitadas. Sobre a corretora Bônus-Banval, de São Paulo:
"Um dos esquemas mais complexos – mas igualmente clássico – do PT funcionava na corretora Bônus-Banval. Toninho da Barcelona conta que a corretora era usada pelo partido para intermediar operações fraudulentas e, assim, tornou-se uma das principais fontes de pagamento do mensalão. Sua especialidade eram as operações de 'esquenta-esfria', nas quais os prejuízos eram sempre dos fundos de pensão das estatais. 'As ligações entre o PT e a Bônus são estreitas. Os sócios são amigos íntimos de José Dirceu', acusa o doleiro."

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22/8/2005 Cai Marcos Antonio Carvalho Gomes, presidente do fundo de pensão Fundação Real Grandeza, dos funcionários de Furnas Centrais Elétricas e da Eletronuclear. Filiado ao PT, ele teria investido irregularmente R$ 151 milhões em certificados de depósitos bancários do Banco Santos. Do total aplicado, R$ 131 milhões não foram mais recuperados.

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23/8/2005 Em depoimento à CPI do Mensalão, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), presidente do PL, dá explicações. Recebeu R$ 6,5 milhões em recursos do caixa 2 do PT, entre janeiro de 2003 e setembro de 2004. Pagou despesas com material de campanha do presidente Lula, no segundo turno das eleições de 2002. O jogo de Valdemar Costa Neto:
- A situação em São Paulo era difícil. Lula tinha vencido José Serra no primeiro turno por apenas 100 mil votos. Tínhamos que entrar com força. Encomendei o material e o dinheiro foi gasto para pagar os fornecedores.
Valdemar Costa Neto foi autorizado a fazer os gastos pelo tesoureiro Delúbio Soares, "porque ele estava cheio de dívidas e não podia mais procurar os fornecedores". Mas Valdemar não tem como comprovar os dispêndios:
- Só tenho recibos de R$ 1,7 milhão. Os outros R$ 4,8 milhões foram entregues sem comprovação. Estou tentando pegar alguns recibos no PT.

Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular, depõe na CPI dos Correios. Braço do Banco do Brasil, o Banco Popular foi criado em 2003 para fomentar a concessão de microcréditos. Em 2004, Ivan Guimarães alugou apartamento de Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. Imóvel vendido por Ângela Saragoça, ex-mulher de José Dirceu (PT-SP).
No primeiro ano de funcionamento, o Banco Popular gastou R$ 29,7 milhões com propaganda, mais que os R$ 21,3 milhões liberados para a concessão de microcréditos. Diz Ivan Guimarães:
- Os gastos de marketing são mais elevados no primeiro ano, porque é preciso construir a imagem da instituição.
Em seu depoimento, ele atribui toda a responsabilidade pelas despesas e decisões sobre gastos de propaganda à diretoria de Marketing do Banco do Brasil, chefiada por Henrique Pizzolato.
- Remetíamos os recursos ao Banco do Brasil e eles efetuavam os dispêndios. Não tínhamos contato com agências de publicidade.
O Banco Popular contratou, sem licitação, a Lumens Serviço de Informação. Por R$ 35 mil por mês, a empresa de consultoria faria o "desenvolvimento de suporte à estrutura e gestão de serviços". A Lumens é de Bonerges Ramos Freire. Ele é casado com Patrícia Valente, irmã de Mônica Valente, mulher de Delúbio Soares. O negócio foi encerrado em abril de 2005.

103
24/8/2005 Depois de quase dois meses, o ex-líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Rocha (PA), admite publicamente que a assessora Anita Leocádia Pereira Costa sacou R$ 620 mil do valerioduto. O dinheiro, explica o deputado, foi usado para pagar dívidas da campanha eleitoral no Pará, apesar de nada ter sido informado ao Tribunal Regional Eleitoral. Em relação aos outros R$ 300 mil atribuídos a Paulo Rocha na lista de Marcos Valério, o parlamentar informa que foram entregues ao PSB paraense.
Paulo Rocha, presidente do diretório do PT no Pará, considera o ato da assessora "irregular, mas não estranho". Afinal, justifica o deputado, Ana Leocádia Pereira Costa fez as retiradas "na condição de militante" do PT. Paulo Rocha não vê motivos para ser cassado:
- Não cometi nenhum crime. Não matei, não roubei. Cumpri meu dever de presidente regional do PT.

Em Passo Fundo (RS), o escritor Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, amigo histórico de Lula, afirma que um pequeno grupo de dirigentes do PT "atola pé e alma na corrupção", e compromete todo um projeto. Frei Betto, nomeado para trabalhar no Palácio do Planalto como assessor especial de Lula, pediu para deixar o cargo depois de um ano. Ele concede entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo:
- Nem sob os anos da ditadura a direita conseguiu desmoralizar a esquerda como esse núcleo petista fez em tão pouco tempo. Na ditadura, apesar de todo sofrimento, perseguições, prisões e assassinatos, nós saímos de cabeça erguida e certos de que tínhamos contribuído para a redemocratização do País. Agora, não. Esses dirigentes desmoralizaram o partido e respingaram lama por toda a esquerda brasileira.

105
26/8/2005 O Ministério Público do Rio de Janeiro conclui inquérito que investigou gravação clandestina de conversa entre o empresário de jogos Carlos Augusto de Almeida Ramos, o "Carlinhos Cachoeira", e o então presidente da Loterj, a estatal fluminense de loterias, Waldomiro Diniz. A divulgação da fita, em fevereiro de 2004, provocou um escândalo. Em consequência, Waldomiro Diniz pediu demissão do Ministério da Casa Civil, onde era importante assessor de José Dirceu (PT-SP). Note-se: ele não foi demitido. Na gravação, Waldomiro Diniz e Carlinhos Cachoeira aparecem negociando contratos e propina, durante reunião realizada em 2002.
A Polícia Federal fez perícia na fita e não detectou montagem ou edição fraudulenta. O diálogo trata da doação de dinheiro do empresário a campanhas eleitorais, em troca de vantagens em contratos da Loterj. Waldomiro Diniz pede comissão de 1% sobre os negócios aprovados. O Ministério Público requer que a Justiça obrigue o ressarcimento aos cofres públicos, aplique multa e o puna com a perda dos direitos políticos. Note-se bem: Waldomiro Diniz não foi demitido do governo Lula. Pediu para sair.

Extrato bancário do PT na CPI dos Correios. É do período de 15 de dezembro de 2003 a 31 de maio de 2004. Mostra 23 depósitos ao partido, num total de R$ 3,2 milhões. Os depósitos têm valores redondos, e variam de R$ 20 mil a R$ 300 mil, como se fossem mensalinhos, mensalões e supermensalões. Era a época de glória da relação PT/Marcos Valério, com saques e pagamentos sem fim. Além dos valores redondos, chama a atenção que apenas dois dos 23 depósitos têm identificação. Um dos depositantes, Carlos Alberto Timóteo, é funcionário do PT. Mas não confirma a operação.

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27/8/2005 A revista Época traz a reportagem "Lavanderia mensalão". Denuncia operações suspeitas de mais de R$ 100 milhões, com recursos dos fundos de pensão. De acordo com a revista, o dinheiro dos fundos foi parar nas mãos de operadores do mensalão e, em parte, acabou desviado e levado ao exterior, principalmente para paraísos fiscais do Caribe. O texto é assinado pelos repórteres Ricardo Grinbaum, Leandro Loyola e David Friedlander:
"O esquema foi executado em 2003 e 2004 e envolve pelo menos cinco fundos de pensão de empresas estatais. Os fundos, que são os investidores mais ricos do País, teriam perdido dinheiro – fraudando os associados de propósito."
A suspeita é de que dirigentes dos fundos, donos de cargos políticos, aplicavam os recursos, de forma intencional, em investimentos sabidamente perdedores. O prejuízo ficava com os trabalhadores que, supostamente, deveriam ter as suas poupanças administradas com eficiência, para não lhes faltarem recursos na hora de receber as pensões, no futuro. A maracutaia é justamente o rateio do dinheiro perdido, entre especuladores e políticos:
"A simulação da aposta no mercado financeiro servia para justificar a saída do dinheiro dos fundos. No mercado financeiro esse tipo de golpe é muito popular, até pela dificuldade em incriminar os responsáveis. Como as operações na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) são muito complicadas e todo dia há gente ganhando e perdendo milhões, quando alguém é apanhado em delito financeiro costuma se defender dizendo que errou na hora de aplicar e que isso faz parte do jogo."

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28/8/2005 O jornal O Globo, do Rio, traz reportagem mostrando o resultado de trabalhos de auditoria realizados em contratos firmados pelos Correios no valor de R$ 7 bilhões, em 2003 e 2004. O assunto é grave. Foram constatados 525 tipos de irregularidades, a maior parte considerada de "alto risco" para os cofres públicos. O repórter José Casado mergulhou num mundo de licitações dirigidas, orçamentos irreais, pagamentos sem cobertura contratual, reajustes indevidos e pregões eletrônicos distorcidos.
A força tarefa que examinou os contratos de 40 departamentos da estatal foi formada por técnicos do TCU (Tribunal de Contas da União) e da CGU (Controladoria-Geral da União). A maior distorção ocorreu no chamado "correio híbrido postal", sistema de correspondência eletrônica para grandes clientes. O projeto estava pronto em 2002, por R$ 861 milhões. A licitação foi suspensa. Reapareceu em 2004, com orçamento de R$ 4,4 bilhões. "Variação injustificada". Exigência de "capacidade tecnológica de impressão de 100 milhões de páginas por mês" direcionaria o certame à American Bank Note.
Os auditores descobriram gastos fraudulentos de R$ 1,2 bilhão para comprar equipamentos, num projeto feito sem estudo de viabilidade, sem comprovação de gastos e sem informações adequadas sobre custos. Os resultados foram máquinas ociosas e softwares desperdiçados. O projeto foi definido como exemplo de "ineficiência e antieconomicidade".
A inspeção detectou vários rombos, como gastos de R$ 100 milhões em produtos dispensáveis. Houve despesas irregulares da ordem de R$ 175 milhões, no projeto "rede corporativa". Outros R$ 90 milhões, aplicados em "estudos de viabilidade", foram considerados "ineficientes e desatualizados".

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29/8/2005 A semana começa quente no Congresso Nacional. Pronto o parecer que recomenda a cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias do escândalo do mensalão. Para o relator, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), Jefferson comportou-se de forma incompatível com a ética e o decoro parlamentar. Jairo Carneiro acusa-o por receber dinheiro de caixa 2 na campanha de 2004 e por tráfico de influência em empresas estatais.
O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), não aceita a tese de que houve pagamentos de mensalões. Fazendo coro ao discurso governista, fala em dinheiro repassado com a finalidade de quitar dívidas eleitorais, algo "menos grave". Severino Cavalcanti sugere apenas censura ou repreensão para os envolvidos, não a perda de mandatos.
O senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios, admite ter havido distribuição de "recursos" a deputados, mas não aconteceu, necessariamente, em cotas mensais:
- Dependeu de migração partidária, das grandes votações.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) não usa meias palavras:
- Qual a diferença entre um deputado que recebeu recursos mensalmente e outro que recebeu para pagar despesa de campanha? Nenhuma. Ambos ficam comprometidos com o governo.
Fernando Gabeira (PV-RJ) critica a tese de que não-registro de dinheiro de campanha é crime menor:
- Não é só caixa 2. E tampouco importa se houve mensalão ou semestrão. Houve suborno.
De Ricardo Izar (PTB-SP), presidente da Comissão de Ética da Câmara:
- Existem provas cabais, e não meros indícios, de que houve pagamentos e retiradas irregulares de dinheiro, por parte de alguns parlamentares, oriundos das empresas do senhor Marcos Valério, via Banco Rural e outros meios. Algumas retiradas foram, inclusive, cíclicas, o que é um indício de um esquema de pagamento mensal e sistemático de deputados.
O deputado André Costa (PT-RJ) anuncia o seu desligamento do PT. Em nota, acusa a decadência moral e ética:
- O aparelhamento do partido, sob o rígido controle de uma oligarquia, tem produzido uma inaceitável corrupção de valores e práticas.
Também se desliga do PT o senador Cristovam Buarque (DF).

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30/8/2005 Em depoimento à CPI do Mensalão, o operador de mercado José Carlos Batista, dono da empresa Guaranhuns. Diz ter sido contratado por Valério em novembro de 2002. Deveria intermediar entregas de dinheiro à coligação PT-PL. Ao PL, repassou R$ 4,5 milhões. Já foram identificados 63 depósitos da SMPB à Guaranhuns, no valor de R$ 6 milhões. Relata Batista:
- A partir de 2002, quase toda a semana eu levava em espécie dinheiro para os representantes da coligação com o PL.
O empresário conta mais uma história. Foi chamado por Valério para intermediar a aquisição de R$ 10 milhões em certificados de reflorestamento. A compra de títulos iria lavar dinheiro para pagar dívidas do PT e do PL. A Guaranhuns e a Bônus-Banval trabalharam juntas. Teriam sido criadas para atuar no financiamento de partidos políticos. No meio do depoimento, Batista resolve recuar. Desdiz o que afirmara, porque entende que iria se complicar.
- Se algum erro cometi, foi o de acreditar na hipnose coletiva que colocava o PT como partido da honestidade, da ética e da transparência.
Para o deputado José Rocha (PFL-BA), José Carlos Batista é um "laranja":
- Tudo indica que a Guaranhuns é uma empresa de fachada, usada para dificultar o rastreamento do dinheiro que saía das empresas do senhor Valério.
Em desabafo ao repórter Expedito Filho, de O Estado de S. Paulo, Valério:
- Minha vida virou um molambo. Eu virei um molambo. Fui usado e abandonado pelo PT, um partido de pessoas sem coração. Somente eu e Delúbio somos responsabilizados por tudo. Cadê José Dirceu? José Genoino? Silvinho Pereira? Antonio Palocci? Todos sumiram e só se fala em Marcos Valério como o responsável por tudo. Estão preparando uma pizza.
Marcos Valério se diz amigo de Delúbio Soares. Para ele, o ex-tesoureiro "não fez nada sem a ordem e orientação do ex-ministro José Dirceu":
- Delúbio não conta tudo o que sabe porque é um idiota. Ele tem uma fidelidade canina e é o único por quem eu tenho amizade. Mas eu tenho raiva do PT e gostar do Delúbio e odiar o PT pode parecer um paradoxo. Mas o Delúbio foi afastado, expulso e, como eu, abandonado.

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31/8/2005 Entrevista de Soraya Garcia, assessora financeira do PT na campanha de reeleição do prefeito de Londrina (PR), Nedson Micheletti (PT), em 2004. Ela fala ao repórter José Maschio, da Folha de S.Paulo. Acusa o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), de carregar dinheiro vivo para Londrina, onde circulou num automóvel blindado da marca BMW:
- O ministro José Dirceu veio a Londrina em 18 de setembro. Era um sábado e durante a semana todo o mundo no comitê financeiro reclamava de dificuldades para pagar contas de campanha. Na segunda-feira o comitê tinha R$ 300 mil em caixa. Todo esse dinheiro era em notas de R$ 100 e com lacre do Banco do Brasil. O Dirceu veio em um jatinho particular, chegou às 15h30 e foi embora antes das 17 horas.
Soraya Garcia menciona o coordenador da campanha de Nedson Micheletti, Augusto Dias Júnior. Ele confirmou, na época, que José Dirceu trouxera o dinheiro. Filiada ao PT, Soraya Garcia decidiu denunciar o que viu em razão do desencanto com a forma como o PT fez política em Londrina.
Mais dois envolvidos por Soraya Garcia: Gilberto Carvalho (PT-SP), chefe de gabinete de Lula, e a irmã dele, Márcia Lopes, vereadora licenciada do PT em Londrina e secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social:
- Eu nunca vi o Gilberto Carvalho trazer dinheiro pessoalmente a Londrina. Mas todas as vezes que existiam dificuldades de caixa, o Augusto Dias Júnior e o Jacks falavam que era preciso ligar para ele. E o dinheiro surgia.
Jacks Aparecido Dias é presidente do PT de Londrina. Sobre Márcia Lopes:
- Tinha também a Márcia Lopes, que era acionada para despesas em eventos. O Jacks e o Augusto me avisavam que eventos no Buffet Carvalho eram problema da Márcia Lopes. Aconteceram vários eventos desse gênero.
Soraya Garcia cita mais dois: o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (PT-PR), e o presidente do PT do Paraná, deputado André Vargas. Ambos participaram de reunião para decidir a contratação de cabos eleitorais:
- O Jacks disse que tinha reunido 2 mil pessoas que seriam contratadas por R$ 100 ao dia. O André Vargas perguntou ao Paulo Bernardo se o número de cabos eleitorais estava bom e se havia como pagá-los. O Bernardo falou que estava bom e que existia lastro para isso. Lastro era dinheiro. Além dos três, estavam na reunião o Augusto Dias Júnior, coordenador da campanha, e os candidatos a vereador Gláudio Renato Lima e Eloir Valença. Eu assisti à reunião, estava separando dinheiro para pagar despesas de campanha.

Depoimento à CPI dos Correios. É de Enivaldo Quadrado, dono da corretora Bônus-Banval. Ele conta que atendeu pedidos de Marcos Valério. Mandou um funcionário fazer três retiradas de dinheiro na agência do Banco Rural da avenida Paulista, em São Paulo, num total de R$ 605 mil. Dá como exemplo um dos saques, ocorrido em março de 2004, no valor de R$ 255 mil:
- Não havia saque de cheque. Era só chegar na agência do Rural, procurar o senhor Guanabara na tesouraria, e já estava tudo separadinho. O dinheiro foi entregue integralmente ao Valério.
Segundo Enivaldo Quadrado, Valério pediu indicações de investimentos para fundos de pensão. Na CPI, suspeita-se que os fundos abasteceram indiretamente o caixa 2 do PT. Faziam aplicações em instituições como o Banco Rural e o BMG, e em troca os bancos autorizavam empréstimos para as empresas de Marcos Valério, cientes de que o dinheiro não seria devolvido.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) entrega relatório à CPI dos Correios. O documento classifica de "operações atípicas", com "movimentações incompatíveis" e "sistemáticas contabilizações de prejuízos", as operações do fundo Geap, ligado a vários Ministérios, e o Portus, fundo de pensão vinculado a companhias portuárias.
O Geap tem faturamento bruto anual de R$ 1,1 bilhão. Movimentou R$ 55 milhões entre janeiro de 2003 e março de 2005. Teve perdas de R$ 1,3 milhão nas transações. Além disso, efetuou dois saques suspeitos, em dinheiro, nos valores de R$ 201 mil e de R$ 144 mil. O Portus tem faturamento bruto anual de R$ 1 bilhão. Girou R$ 26,5 milhões e acumulou prejuízo de R$ 747 mil.

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1/9/2005 Em sessão conjunta, as CPIs dos Correios e do Mensalão aprovam, por unanimidade, relatório denunciando 18 deputados federais por "um amplo conjunto de crimes políticos". O documento solicita a abertura de processos de cassação de mandatos contra os citados. Os parlamentares fazem parte da lista de beneficiários dos saques das contas de Marcos Valério. Entre os crimes, improbidade administrativa, corrupção ativa e passiva, prevaricação, infração à legislação eleitoral e sonegação fiscal. O relatório vai para o Conselho de Ética da Câmara. Do relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR):
- Não será fácil alguém se contrapor a algo tão evidente, aos fatos documentados. O que fizemos foi reunir provas.
Da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL):
- Deve ficar claro que esses 18 são insignificantes perto do número de parlamentares que receberam dinheiro para ser base de bajulação do governo.
Do relatório:
"Em 2003, com a posse do novo governo, vivia-se um sonho de um Brasil diferente, com inclusão social, participação popular, boa escola e salário digno. Hoje, ao contrário, percebe-se um sentimento generalizado, misto de decepção e indignação por conta da corrupção política praticada pelos dirigentes de alguns partidos políticos e pelas suspeitas que pairam sobre membros do Congresso."
O documento refere-se ao deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ):
"Ninguém melhor do que quem, diuturnamente, compartilhava o exercício do poder, para destrinçar-lhe as entranhas. O parlamentar comandava, através de indicados, cargos nos Correios, IRB, Dnit, Eletronorte, etc."
"A ninguém convence a versão de que Valério tenha garantido os empréstimos do Banco Rural e do BMG ao PT apenas em nome da amizade com Delúbio Soares. Mais difícil ainda de acreditar é a alegação de que essa amizade justifica os empréstimos para financiar partidos."
Outro trecho do relatório:
"Cabe constatar a migração exagerada em direção a determinados partidos e os métodos de cooptação utilizados. Para explicar esse nebuloso esquema, é perfeitamente plausível a tese de que os empréstimos foram simulados para dar aparência lícita a dinheiro de origem ilícita, que seria destinado ao bolso de políticos sob o falso argumento de dívidas passadas. O que resta inconteste é o recebimento de dinheiro por parlamentares e dirigentes de partidos da base do governo na Câmara."
Agora, aborda o mensalão:
"O que menos interessa, a esse respeito, é a periodicidade dos pagamentos. O fato importante, do qual não podemos nos afastar, é o recebimento de vantagens indevidas."
Sobre estatais, acusa a "utilização de diretorias como forma de empresas contratadas pela administração pública contribuírem para partido, como se isso não fosse adicionado ao custo dos serviços, onerando a população".
O relatório traz críticas à prática do caixa 2:
"Quem admite o caixa 2 confessa ilícito eleitoral, o que, só por si, é merecedor de severa reprimenda, porque aceita a burla à eleição. Nada mais compromete a democracia que uma eleição viciada. Daí a necessidade de punição."
"Não há legitimidade em mandato financiado com caixa 2. A utilização de meios ilícitos para ganhar eleições, não como instrumento do interesse público, mas particular ou partidário, são condutas que atentam contra o princípio do estado democrático."
Os 18 deputados denunciados: José Dirceu (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP), Paulo Rocha (PT-PA), João Magno (PT-MG), Josias Gomes (PT-BA), José Janene (PP-PR), Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Vadão Gomes (PP-SP), Wanderval Santos (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), Sandro Mabel (PL-GO), José Borba (PMDB-PR), Roberto Brant (PFL-MG), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Roberto Jefferson (PTB-RJ).

O Conselho de Ética da Câmara aprova, por unanimidade, pedido de cassação de Roberto Jefferson. Ele é acusado de confessar o recebimento de R$ 4 milhões do PT por meio do valerioduto, e de fazer indicações partidárias para obter benefícios financeiros ao PTB. O processo segue para votação final e secreta no plenário da Câmara. Diz o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR):
- Jefferson confessou ter quebrado o decoro parlamentar ao participar, como beneficiário, do mais vergonhoso esquema de submissão do Legislativo ao Executivo.
Do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ):
- Ele não é um paladino da ética, mas um sócio dissidente de um esquema.
Do deputado Josias Quintal (PMDB-RJ):
- Jefferson prestou um serviço ao País e ao parlamento. Ele permitiu desvendar o esquema de corrupção.
Os principais jornais do País publicam fotografias de Lula ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE). As imagens mostram solenidade em Brasília. Lula preside a cerimônia. Condecora Severino com a Ordem de Rio Branco, no grau de Grã-Cruz, a mais alta condecoração do Itamaraty. Os dois estão juntos, mais que nunca.
Criticado por defender punição branda aos envolvidos no escândalo do mensalão, Severino passa o dia ao lado de Lula. Além do evento no Itamaraty, se faz presente em solenidade no Palácio do Planalto e, depois, reúne-se com Lula, no gabinete presidencial. Para atrair Severino como aliado, Lula demitiu Olívio Dutra (PT-RS) e nomeou Márcio Fortes (PP-RJ) ministro das Cidades.

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2/9/2005 Com a reportagem de capa "O mensalinho de Severino", a revista Veja denuncia esquema pelo qual o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), cobrou propina de R$ 10 mil mensais, de março a novembro de 2003, do empresário Sebastião Augusto Buani, concessionário do restaurante Fiorella, instalado no 10º andar do prédio da Câmara.
O repórter Alexandre Oltramari teve acesso ao texto no qual o empresário relata a extorsão. Sebastião Buani afirma que entregava envelopes com o dinheiro exigido pelo deputado às duas secretárias de Severino Cavalcanti, Gabriela Kênia Martins e Rucely Paula Camacho.
Algumas vezes, a propina ia diretamente às mãos de Severino. Um cheque foi descontado pelo motorista do deputado, numa agência do Bradesco. A gerente Jane de Albuquerque confirmou a operação. Em agosto, Sebastião Buani, em dificuldade, despachou envelope com apenas R$ 6 mil. O resultado:
- Levei uma bronca do deputado por telefone.
A partir de dezembro de 2003, o empresário não conseguiu mais pagar a propina. Em dois meses, perdeu seis das oito concessões de restaurantes e lanchonetes que tinha no Congresso. O repórter procurou o presidente da Câmara. Reação de Severino Cavalcanti, dando tapas na mesa, ao lado de um advogado, três assessores de imprensa e dois funcionários:
- Isso é uma mentira. Ele é um canalha, safado! Esse homem não merece as calças que veste.
Da reportagem:
"A defesa de Severino tem muito adjetivo, e pouca substância. O contrato de concessão de Buani para explorar o restaurante encerrou-se em janeiro de 2003, depois da quarta e necessariamente última prorrogação. Buani, no entanto, não foi convidado a se retirar. O deputado Severino mandou que fosse feita uma licitação para escolher o novo concessionário, mas a licitação não se realizou, e ficou tudo por isso mesmo. De tal modo que Buani operou seu restaurante ao longo de todo o ano de 2003 sem nenhum amparo legal."
O esquema teria começado no início de 2002. Sebastião Buani queria prorrogar a licença de funcionamento do restaurante. Procurou Severino, na época o primeiro-secretário da Câmara, responsável pela administração da Casa. O empresário foi obrigado a desembolsar R$ 40 mil, dinheiro que foi dividido, segundo Buani, entre Severino e o deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE). O empresário obteve a prorrogação. A reportagem afirma:
"É o documento mais escandaloso e comprometedor de toda essa história. Ali, num clandestino ato de ofício, Severino prorroga a licença de Buani até 2005. Severino não tinha poderes para isso e, ao fazê-lo, produziu uma prova cabal das relações promíscuas que manteve com Buani."
Explicação de Severino:
- Eu sou um homem experimentado. Tenho mais de 40 anos de vida pública, mas não tenho a menor lembrança de ter assinado esse documento dando a prorrogação. O que pode ter acontecido é ter juntado esse negócio, ou alguém ter botado no meio dos documentos e eu ter assinado sem ler.
A revista Veja também relata o episódio da nomeação do deputado Augusto Nardes (PP-RS) como ministro do TCU (Tribunal de Contas da União). Aliado de Severino Cavalcanti, Augusto Nardes era suspeito de crime eleitoral, peculato e concussão. Quando soube da ficha do protegido do presidente da Câmara, Adylson Motta, presidente do TCU, pediu a Lula para não sancionar a nomeação, devido à "inobservância do requisito constitucional da reputação ilibada e idoneidade moral".
Lula assinou.

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3/9/2005 A Folha de S.Paulo publica detalhes de reunião do Campo Majoritário do PT realizada na véspera, em São Paulo. A repórter Catia Seabra obtém informações de bastidor. O destaque foi o discurso do deputado João Paulo Cunha (PT-SP). Ele é um dos acusados de envolvimento no escândalo do mensalão. Fez desabafo "repleto de ameaças veladas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva", afirma o texto. Reclamou de ingratidão e hipocrisia:
- Quem tomou a decisão de fazer alianças? Foi o Zé Dirceu? Quem exigiu o contrato com Duda Mendonça?
Fica implícito que, para João Paulo Cunha, Lula é o responsável. Lula é o chefe. A aliança PT-PL, aponta o deputado, foi "quase uma exigência do Lula". O mensaleiro insistiu, sempre se referindo ao presidente da República:
- Éramos nós que dizíamos ser amigos do Duda Mendonça? Que frequentávamos a casa de praia do Duda Mendonça?
João Paulo Cunha também condenou a cassação de mandatos:
- Ninguém agiu por interesse pessoal. Se houve erro, não adianta crucificar o Zé Dirceu.

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5/9/2005 Lula sai em defesa do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). Pede ajuda ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Quer evitar que Severino seja obrigado a deixar a presidência da Câmara. Afinal, o deputado pernambucano se revelou um fiel aliado do governo na crise política. O ministro Jaques Wagner (PT-BA), das Relações Institucionais, recebe orientação de Lula para atuar ao lado de Severino Cavalcanti, contra o afastamento pretendido pela oposição. Ao longo do dia, Jaques Wagner conversa com dirigentes petistas e integrantes da base aliada do governo. Pede a todos para que não critiquem Severino Cavalcanti.
Enquanto Jaques Wagner pressiona, circulam em Brasília cópias de um texto escrito por Sebastião Buani, o dono do restaurante Fiorella. Traz o título sugestivo "A história de um mensalinho". Em duas páginas, a denúncia de que Severino Cavalcanti recebeu 13 pacotes de dinheiro em 2003, num total de R$ 84 mil. O presidente da Câmara chegou a ligar até seis vezes num mesmo dia, para cobrar o pagamento da propina de R$ 10 mil mensais que estava atrasado. O dinheiro era uma exigência dele em troca de um contrato forjado de concessão, instrumento que permitiu o funcionamento do Fiorella, outros dois restaurantes e seis lanchonetes nas dependências do Congresso.

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6/9/2005 A CPI dos Correios conclui análise de documentos provenientes da quebra dos sigilos telefônicos de duas estrelas do escândalo do mensalão. Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, fez 121 telefonemas para o Palácio do Planalto, sede do Governo Federal, em 2003 e 2004. Do total, 59 foram para o Ministério da Casa Civil, sob comando de José Dirceu, inclusive para Waldomiro Diniz, no período que antecedeu o seu afastamento.
As empresas de Marcos Valério, por sua vez, fizeram 129 ligações para a Presidência da República, no período em que a DNA e a SMPB disputavam licitações pertinentes a contratos publicitários com o Banco do Brasil, no valor de R$ 111 milhões, e com os Correios, no total de R$ 23 milhões. Foi entre agosto e dezembro de 2003. Do total de 268 chamadas das empresas de Marcos Valério sob suspeita, a grande maioria foi para a Secom, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, sob comando do ministro Luiz Gushiken (PT-SP). O mesmo Luiz Gushiken que sempre negou qualquer interferência em contratos de publicidade de empresas estatais.

Em depoimento à Polícia Federal, Marcos Valério reafirma ter repassado R$ 15,5 milhões para Duda Mendonça, o marqueteiro de Lula, atendendo a pedido de Delúbio Soares. Mas nega ter depositado o dinheiro no exterior e refuta a acusação de que orientou Duda Mendonça a abrir conta fora do País, como condição para receber o pagamento por serviços prestados ao PT.
Segundo Marcos Valério, o dinheiro fazia parte do caixa 2 do PT e as parcelas eram sacadas por Zilmar Fernandes da Silveira. A sócia de Duda fazia as retiradas em agência do Banco Rural, em São Paulo. Ela teria sido assaltada e, a partir daí, solicitou que os cheques fossem entregues ao doleiro Jader Kalid, em Belo Horizonte. Diz Marcos Valério:
- Zilmar falou que Jader seria seu consultor financeiro e ficaria encarregado de descontar os cheques emitidos para pagar Duda.
Explicação de Marcos Valério:
- A Zilmar afirmou que não poderia contabilizar os recebimentos, motivo pelo qual solicitou que os cheques fossem nominais à SMPB.
No depoimento, Valério cita o deputado José Janene (PP-PR), integrante da base aliada do governo Lula e suspeito de ser um dos operadores do mensalão. Segundo Valério, Janene foi o responsável pela indicação da corretora Bônus-Banval para intermediar pagamentos de dinheiro. Por meio da corretora, R$ 10 milhões foram repassados para PP, PL e PT, da seguinte forma: R$ 900 mil para o PL, R$ 1,2 milhão para o PP e R$ 7,9 milhões para o PT.
Em outro depoimento à Polícia Federal, o deputado José Mentor (PT-SP) tenta justificar o recebimento de R$ 120 mil de Marcos Valério. Alega que o dinheiro foi pagamento por "estudos jurídicos" feitos por seu escritório de advocacia, a pedido de empresas de Valério. José Mentor não apresenta documentos. Diz que o contrato foi verbal e que os tais estudos jurídicos não podem ser revelados, "por questões de sigilo profissional". A suspeita: José Mentor recebeu propina para favorecer o Banco Rural, ligado a Marcos Valério, durante a CPI do Banestado.
Também depõe à Polícia Federal Izeílton Carvalho de Souza, ex-gerente do restaurante Fiorella. Ele confirma: o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), recebeu propina de R$ 10 mil mensais em 2003, para que as portas do restaurante ficassem abertas. O dinheiro era entregue em envelopes ou em cheques. O pagamento ficou a cargo da diretora do restaurante, Gisele Buani, filha do dono, Sebastião Buani.

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7/9/2005 Em Nova York, em viagem oficial para representar o Brasil em evento da União Interparlamentar, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) está transtornado. Nas entrevistas concedidas, dá versões divergentes para tentar explicar o caso do mensalinho. Na primeira manifestação, pela manhã, nega a existência da propina. Mas faz uma ressalva:
- Eu não assinei esse contrato. E, se assinei, é um contrato normal, que deve estar junto com toda a documentação.
Minutos depois, se diz reticente:
- Tenho de ver o original. O ônus da prova cabe a quem denuncia.
No período da tarde, Severino volta a ser questionado. E volta a dizer que o contrato não existiu.
- Aquele documento não existe. Mas, se existe, é uma falsidade. Documento como aquele eu não assinei. Só pode ser um documento falso.

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8/9/2005 O empresário Sebastião Buani concede entrevista coletiva. Ao lado de 50 funcionários e da mulher, Diana, revela os detalhes do escândalo do mensalinho de Severino Cavalcanti. Informa que entregou R$ 110 mil de propina ao deputado em 2002 e 2003, em troca de autorização para operar restaurantes e lanchonetes no Congresso. Tudo começou ao pedir ajuda ao deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) a fim de prorrogar contrato de funcionamento do Fiorella. Na época, Severino era o primeiro-secretário da Câmara. A conversa ocorreu nos corredores do Congresso:
- Comentei com ele: "Estou com um pedido lá na mesa do primeiro-secretário e o senhor, que é amigo dele, poderia ver se pode dar uma decisão final, ou pode ou não pode, ou é lei ou não é". Pouco tempo depois, recebi um telefonema para comparecer ao gabinete de apoio do primeiro-secretário. Na conversa, o primeiro-secretário me disse: "Você sabe, eu sou um homem que não tenho empresas, e neste ano de eleição a gente precisa de uma ajuda".
Severino Cavalcanti pediu R$ 60 mil para renovar o contrato. Sebastião Buani recusou. Severino propôs R$ 50 mil. Nova recusa e o valor acabou fixado em R$ 40 mil, metade para Severino e metade para Gonzaga Patriota. O dinheiro foi pago, o empresário recebeu em abril um termo assinado por Severino, prorrogando a concessão por cinco anos.
Em outubro de 2002, porém, surgiu um problema. Sebastião Buani recebeu correspondência da direção da Câmara dos Deputados perguntando se ele tinha interesse em renovar a concessão, em caráter de emergência, por mais um ano. O empresário se sentiu enganado por Severino Cavalcanti. Concluiu que o documento assinado pelo deputado, colocado dentro de um processo administrativo, não tinha validade. Diz Sebastião Buani:
- Esse documento foi colocado dentro do processo e foi me dada uma cópia do processo com essa via dentro. Não existe isso de "não vi o documento", "não existe documento". Mas quando a gente abriu o processo, no lugar daquele papel prorrogando o contrato, havia outro do próprio Severino, dizendo que indeferia o processo por isso e aquilo. Pensei, então, "não estou acreditando", "fui enganado de uma forma... como eu caí numa dessa?" Dinheiro ganho suado, com dificuldade, por documento que não valia nada?
Inconformado, o empresário procurou Severino Cavalcanti para reclamar. Recebeu garantias de que não haveria problemas:
- Fui direto ao Severino e ele me disse: "Não se preocupe, enquanto eu estiver na Mesa Diretora você estará na Casa".
Sebastião Buani achou que estava tudo resolvido. Em janeiro de 2003, no entanto, Severino Cavalcanti o procurou novamente para dizer que seria assinado um contrato emergencial, com a prorrogação do contrato por um ano. De fato, a prorrogação de cinco anos, assinada anteriormente pelo deputado, não valia nada. Severino Cavalcanti disse:
- Quero que você ganhe muito dinheiro, porque você merece.
Foi aí que surgiu o acerto do mensalinho. Sebastião Buani já havia recebido autorização para aumentar em quase 40% o valor das refeições. Severino Cavalcanti pediu R$ 20 mil mensais para prorrogar o contrato. O empresário reclamou. A conversa teria demorado quatro horas:
- Ele bateu o pé, mas depois de muita negociação ficou por R$ 10 mil.
O mensalinho foi pago de fevereiro a agosto de 2003.
- O dinheiro era entregue em envelopes pardos, nós saíamos pelos corredores com o dinheiro nas mãos, eu e ele andando pelos corredores.
Sebastião Buani diz que resolveu interromper o pagamento da propina atendendo ao pedido da filha, Gisele, diretora da empresa.
- Um dia minha filha me viu contando dinheiro numa quarta-feira para pagar a propina, e disse: "Pai, sai dessa vida porque a gente não precisa disso. O senhor está deixando de pagar funcionários que moram longe e ganham pouco para pagar propina".
Suspenso o mensalinho, vieram os problemas. Sebastião Buani foi perdendo, uma a uma, as concessões para operar restaurantes e lanchonetes na Câmara. Só restou o restaurante Fiorella, agora com os dias contados.
Ainda em Nova York, Severino Cavalcanti reage à entrevista de Buani:
- É mentira, é mentira, é mentira.

Anunciada a demissão de Maurício Marinho, o funcionário dos Correios que foi pivô do escândalo do mensalão. Mas o homem filmado ao receber propina de R$ 3 mil continuará recebendo salário, de R$ 10 mil mensais, enquanto estiver em licença médica, cuja prorrogação pode se estender por nove meses.

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10/9/2005 A revista Isto É denuncia que parte do dinheiro pago pelo PT ao publicitário Duda Mendonça veio de recursos públicos da Prefeitura de Belo Horizonte. Duda trabalhou na campanha de reeleição do prefeito da capital mineira, Fernando Pimentel (PT), em 2004. Segundo o repórter Amaury Ribeiro Jr., convênio de R$ 14 milhões foi assinado entre a municipalidade e o CDL (Clube dos Diretores Lojistas de Belo Horizonte) para comprar e instalar cerca de 300 câmeras de segurança e filmar as ruas centrais da cidade.
O convênio recebeu a chancela do prefeito Fernando Pimentel e do empresário Glauco Diniz Duarte, diretor do CDL e dono da GD International, empresa que teria transferido o equivalente a R$ 2 milhões dos recursos municipais a uma conta do banco BAC Flórida. De lá, o montante teria sido encaminhado para a conta Dusseldorf, de Duda Mendonça, no BankBoston das Bahamas. O Ministério Público investiga as suspeitas de fraude, contrabando, superfaturamento e participação de empresas fantasmas.

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11/9/2005 O ministro Jaques Wagner (PT-BA), das Relações Institucionais, reúne-se reservadamente com Severino Cavalcanti (PP-PE). O encontro ocorre na residência oficial do presidente da Câmara, antes de uma entrevista que seria concedida por Severino. Durante o encontro, Jaques Wagner pede-lhe que tenha cautela nas declarações aos jornalistas. Quer evitar desmentidos posteriores. O governo Lula continua dando respaldo a Severino. Do ministro:
- O governo decidiu que não vai fazer prejulgamento e vai esperar a apuração da denúncia.
Trecho da entrevista de Severino Cavalcanti:
- O governo tem certeza absoluta de que não estou dentro desse enlameado que tentaram lançar em meu nome.
Reação do empresário Sebastião Buani, ao dizer que até pouco tempo atrás era bem-vindo no gabinete de Severino Cavalcanti:
- Ele não falou da ligação que tinha comigo, por que ia lá no restaurante, o tanto que me ligava. Se quebrarem o sigilo telefônico, vão estranhar por que um primeiro-secretário liga tanto para um concessionário.

A CPI dos Correios divulga levantamento parcial obtido com a quebra de sigilos telefônicos de 2003 a 2005. Os dados apontam três deputados envolvidos no escândalo do mensalão, trocando telefonemas com a SMPB, a agência de Marcos Valério usada para repassar dinheiro de caixa 2.
São eles: Professor Luizinho (PT-SP), com 13 ligações telefônicas, inclusive no dia 23 de dezembro de 2003, data do saque de R$ 20 mil atribuído a ele, na agência da avenida Paulista do Banco Rural, em São Paulo. Sandro Mabel (PL-GO) manteve nove conversas telefônicas. Ele é acusado de ter oferecido dinheiro para a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) mudar de partido. E José Janene (PP-PR) teria usado telefone celular para conversar com Valério.

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