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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Lula: um brucutu discursa no Recife e rebaixa, de novo, a democracia e as instituições


No post acima, vocês viram que Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência, tentou virar a página das lambanças dos petistas na Receita Federal estendendo a mão ao adversário, muito “generosa” que é. Poucas horas antes, ela tinha sido a coadjuvante de um comício em Recife, de que a estrela foi, como vocês podem supor, Luiz Inácio Lula da Silva, o Babalorixá de Banânia. E Lula mergulhou fundo da indignidade política. Em vez de “mão estendida”, o que se viu foi uma declaração de guerra e a clara disposição de eliminar os adversários.

Lula, como sabem, vai a comícios “como petista”, não como “presidente”, embora todo o custo do deslocamento do “petista” seja pago pelo “presidente” — nós todos. O homem também discursa, nessas ocasiões, “como militante”, não “como chefe do governo”, embora sejamos obrigados a convir que, se um pombo passa por ali e faz cocô na cabeça do petista, vai acabar carimbando a cabeça do presidente.

Essa distinção, pois, é pura conversa mole. Lula está investido de seu cargo 24 horas por dia, onde quer que esteja, aonde quer que vá. Até mesmo num comício de sua candidata à Presidência. E isso significa que ele está, ou estaria, obrigado a se pautar por algumas regras do decoro. Mas quê… Em Recife, ele foi muito além do que seria o tolerável numa democracia. Tomou o microfone e, naquele seu estilo um tanto circense,  atacou em termos inaceitáveis três políticos que lhe fazem oposição: Jarbas Vasconcelos, candidato ao governo do Estado pelo PMDB, o deputado Raul Jungmann, candidato ao Senado pelo PPS, e o senador Marco Maciel, que disputa a reeleição pelo DEM.

Sobre Vasconcelos, ex-governador, afirmou que “ele vai ficar devendo pontos ao Ibope”. Referindo-se a Maciel, perguntou: “Esse que foi vice-presidente, o que ele trouxe para Pernambuco? Me contem”. Jungmann foi tratado como “aquele menorzinho”, que “parecia que tomava conta da reforma agrária”. O presidente da República classificou os políticos da oposição de “picaretas e chantagistas”. Defendendo o voto nos candidatos que são seus aliados, afirmou que “Pernambuco não pode continuar votando neste tipo de gente para o Senado da República. É preciso virar a página da história política deste Estado”.

Ontem, os três reagiram ao ataque. “Ele continua como uma figura extravagante, ferindo a lei. Ele é um semideus, então acha que pode tudo. Ele quer suprimir a oposição”, afirmou Jarbas. “Numa sociedade democrática, o juiz é o eleitor. Eu faço política com ‘P’ grande, como disse Joaquim Nabuco”, reagiu Maciel, que trazia consigo uma lista das obras feitas pelo governo FHC em Pernambuco. Jungmann foi um pouco mais duro: “O presidente deveria ter vergonha. Ele, que sempre foi discriminado por ser nordestino, pobre, não deveria nunca utilizar o discurso de ridicularizar ou diminuir a oposição”.

Rebaixamento institucional

No país em que o presidente, no exercício do cargo — porque ele continua presidente mesmo depois do encerramento do expediente —, refere-se em tais termos a políticos de oposição, as instituições estão, quando menos, rebaixadas. E isso não vai provocar reação nenhuma, a não ser essa que se vê, daqueles que foram agredidos. Eu insisto numa lembrança: quando FHC afirmou que havia gente na oposição que fazia “nhenhenhém”, o colunismo político caiu de pau nele. Lula pode tudo.

Estou pouco me lixando, reitero, para a popularidade de Lula. Ele não foi eleito para ser dono do Brasil. E me importa menos ainda se sua candidata vencerá ou não as eleições. Para a hipótese de vencer, que fique claro uma vez mais o que penso do comportamento desses caras: odeiam a democracia, odeiam as leis, odeiam o estado de direito. E eu os denuncio por isso.

Não vou aqui lembrar os muitos serviços relevantes que as pessoas atacadas por Lula prestaram ao Pernambuco e ao Brasil. Não seria difícil. Lembro apenas que este senhor é aquele que sobe no palanque dos Sarneys, no Maranhão, para exaltar as suas virtudes de grandes administradores, patriotas e pessoas preocupadas com o povo. Sim, no passado, ele os esculhambou também. Até fazer um acordo. Lula é um ogro moral — sem a simpatia e a bonomia do Shrek. E a Fiona? Já sabemos.

E Lula arrematou, na sua ignorância sempre desassombrada:

“Pernambuco de (Francisco) Julião, de Arraes, de Frei Caneca, Eduardo Campos e de Lula não pode votar neste tipo de gente para senador da República”.

Coitado do Frei Caneca nesse bolo… Sintomaticamente, o Babalorixá não lembrou Joaquim Nabuco. Se soubesse quem é, o mais provável é que não o admirasse.

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