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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

É o PT quem tenta impor a sua agenda aos cristãos, não o contrário


Ninguém precisa ser cristão para ser político. Eu mesmo não exijo que os candidatos que escolho partilhem da minha fé. Conheço agnósticos excelentes e católicos detestáveis. O que não é certo é tentar enganar as pessoas. Aí não! Os políticos têm o direito de dizer tudo o que pensam — e, se for o caso, de perder eleições fazendo-o. Em 1985, num debate, Boris Casoy perguntou se Fernando Henrique Cardoso, candidato à Prefeitura de São Paulo, acreditava em Deus. O jornalista foi injustamente massacrado por isso. FHC não pagou o mico de se dizer um crente. Afirmou que respeitava a crença das outras pessoas. Atribui-se a sua derrota, por estreita margem de votos, à pergunta e à resposta. É possível haver péssimos e excelentes administradores pios ou ateus? Claro que sim! Mas os eleitores têm o direito de saber o que pensam os homens públicos. E tomam, então, a sua decisão. Quanto mais informação, mais liberdade têm para decidir. “Ah, mas crença é matéria de convicção pessoal”. É, sim! Já a religião apela a uma coletividade.

Dilma é católica só quando o avião balança e acredita que a descriminação do aborto é um bem para a sociedade? Então ela tem de dizer essas coisas com clareza. Ninguém a obriga a sustentar o que não pensa. Pode tentar convencer a sociedade do acerto de suas proposições. O que é inaceitável é que homens públicos e governos empreendam políticas sub-reptícias para pôr em prática aquilo que não foi acertado com a sociedade. O filme defendendo o aborto patrocinado pelo Fiocruz (ver post de ontem) é, antes de tudo, um crime de natureza democrática. Por quê? Oficialmente, a política do governo Lula não é de incentivo à descriminação. Não obstante, é essa a militância permanente do Ministério da Saúde e da Secretaria da Mulher. Os brasileiros estão sendo enganados.

Não se trata de obscurantismo nenhum, como afirmou editorial da Folha, senão de defesa da clareza! Digam os defensores do aborto o que acharem melhor, e aqueles que forem contrários também exporão seus argumentos. O Datafolha já demonstrou que Erenice tirou mais votos de Dilma do que essa polêmica. Creio que, hoje, o que mais prejudica Dilma não é a sua convicção favorável à descriminação, mas o seu esforço de estar nas duas posições ao mesmo tempo.

E os políticos, reitero, podem falar a verdade. Peguemos o exemplo de Plínio de Arruda Sampaio: porque teve mais tempo, disse mais besteiras no horário eleitoral do que o Zé Maria, do PSTU. E teve aquela mixuruquice de votos. À sua maneira, foi honesto: defende o aborto, quer propriedades rurais de no máximo mil hectares, aluguel forçado para quem tem imóvel vazio, socialização da medicina, o fim do capitalismo… Ninguém quer isso, como a gente viu, embora ele assegure falar em nome dos “trabalhadores”, junto com Rui Pimenta e o já citado Zé Maria.

“Ah, Reinaldo, se Dilma dissesse tudo, não teria chegado tão longe!” É? Então as pessoas têm o direito de fazer por ela o que ela não fez por si mesma: aproximá-la de suas reais convicções. Ora, por que a legalização do aborto foi parar no Programa Nacional de Direitos Humanos? Porque é o que pensam as lideranças que estiveram envolvidas com o texto, Dilma inclusive, embora os brasileiros não tivessem clareza disso.

No fim das contas, não são os cristãos que querem impor uma agenda à candidata Dilma Rousseff; é o PT que pretende impor a sua agenda aos cristãos, chamando de conspiração a reação negativa a seu ideário. Quando tudo dá errado, quando balança o avião da candidatura, então ela começa a  rezar e a persegnar-se, ainda que a seu modo.

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