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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Este blogueiro lamenta a covardia do PT e convida o partido a ter coragem


A questão religiosa é pauta obrigatória da imprensa. Os petistas inventaram a guerra santa, o processo foi deflagrado, as lideranças políticas se posicionam etc. Mas é mais do que indiscreto o sotaque que tenta transformar Dilma Rousseff e o PT em vítimas de uma “corrente”. Ora, eles são vítimas, afinal de contas, do quê? De suas próprias idéias? De suas próprias opiniões? O que há de mentiroso em atribuir à candidata do PT e ao partido a defesa da descriminação do aborto? Ambos o fizeram explicitamente. No caso da legenda, trata-se de uma militância histórica, confirmada na página 82 do livro de resoluções do 3º Congresso. Estou mentindo?

O único papel politicamente digno dos petistas é fazer a defesa daquilo em que acreditam — e não macaquear opiniões que não têm. Eu defendo as minhas. Tomo porrada de todo lado por isso. É do jogo! O que eu deveria esperar? Que os meus adversários intelectuais dissessem: “Oh, como esse Reinaldo é bacana!”? Ora… É claro que se deve divergir segundo regras, que essa gente nem sempre respeita, daí as ameaças, os xingamentos, as correntes sujas, essas coisas. Mas esse é outro problema. Pode-se escrever para ser amado por todos — sendo tão convicto como uma porta e tão incisivo como uma parede branca — ou para fazer o debate. Vocês sabem qual é a minha escolha. É preciso ter a coragem de sustentar o que se pensa. Como é aquela máxima? Quem não sabe brincar que não vá para o playground.

Os petistas estão tentando, com a ajuda de alguns setores da imprensa, é aplicar um truque, fazendo de conta que pensam o que não pensam ou que não pensam o que pensam, com o fito de ganhar as eleições. Caso Dilma triunfe, pergunto: o Ministério da Saúde vai mudar de orientação ou continuará a ser um centro de produção de literatura pró-aborto? A Secretaria das Mulheres mudará de orientação ou continuará a advogar, como ente do estado, a mudança da lei?

A Fiocruz financiou um filme abertamente favorável à legalização do aborto: é fato; é história. Há quem goste disso. Eu não gosto. Não gostando, escrevo contra. Por que os que gostam não escrevem a favor, ora essa? Há pelo menos 10 anos abordo esse tema, levando cacetada de todo lado. Cadê os petistas defensores da legalização do aborto? Os covardes fugiram? Bateram em retirada? A esquerda já foi mais corajosa para defender mesmo o que considero equívoco.

Uma pergunta

O PT pôs no ar uma campanha — e a própria Dilma repetiu a falácia no debate da Band — segundo a qual o PSDB pretendeu e pretende ainda privatizar a Petrobras e o pré-sal. Trata-se de uma fantasia. Na Internet, a história corre solta. E, no entanto, a mentira descarada não é tratada segundo aquilo que é: mentira descarada! No máximo, o PT aparece acusando, e o PSDB negando. O JORNALISMO PARECE INCAPAZ DE INFORMAR — AINDA A SUA FUNÇÃO PRINCIPAL — QUE SE TRATA DE UMA INVENCIONICE.

Qual é a conseqüência mais deletéria da isenção que degenera em isentismo e do “outro lado” que degenera em “outro-ladismo”? Perde-se de vista a existência do fato; desconsidera-se que nem tudo é mera questão de ponto de vista. O PSDB não “acusa” Dilma de ter defendido a descriminação do aborto; tampouco a candidata “seria” favorável. Ela, com efeito, defendeu. Não é uma acusação do adversário, mas uma verdade historicamente comprovada. Cuidado, gente! Daqui a pouco, o isentismo e o outro-ladismo ainda escreverão: “Os judeus acusam Hitler de ter promovido o Holocausto, que teria matado seis milhões de judeus; mas os neonazistas negam…”

Assim como a posição de Dilma nesse caso era incontroversa, é igualmente incontroverso que o governo FHC, Serra e os tucanos de maneira geral jamais pensaram em privatizar a Petrobras e o pré-sal. É simplesmente mentira! Ora, tratar as duas questões como meras versões do que cada um diz sobre seu respectivo adversário tem o condão de transformar tanto a mentira como a verdade naquela coisa cinzenta e pastosa que é o boato, o diz-que-diz-que. E, obviamente, quem mente sai ganhando nessa operação.

Lamento a covardia do PT! É claro que este seria um bom momento para debater as questões relativas à descriminação do aborto. Essa é uma luta do partido que marca seus 30 anos de existência. Na hora, então, em que se poderia fazer um belo confronto político e intelectual, os companheiros recuam, vexados, e preferem acusar o “jogo sujo”? Qual jogo sujo? Atribuir ao partido o que o partido realmente pensa? Não só isso: de maneira patética, aparecem em público agarrados a figuras que consideravam verdadeiros pterodáctilos ideológicos até anteontem?

Mudou de idéia? Uma ova! Esconde o que pensa para ganhar as eleições e, uma vez no poder, manter a sua política, favorável à descriminação, a exemplo do que fizeram, ao longo dos oito anos de governo Lula, o Ministério da Saúde, a Secretaria da mulher e, mais recentemente, por intermédio do PNDH3, a Secretaria dos Direitos Humanos, o Ministério da Justiça e a Casa Civil, de que a titular era Dilma Rousseff.

Tenham a coragem de fazer o debate, ora essa! Eu já disse aqui, de um modo um tanto gauche, que a minha ética é a do Cavaleiro Negro, do filme Em Busca do Cálice Sagrado, de Monty Python: perco um braço, mas grito: “Lute, covarde!”. Perco outro e continuo: “Lute, covarde!”. Lá se me vai uma perna, repito o desafio… E por aí afora. Quando os petistas praticamente exigiam que eu me rendesse à vitória de Dilma no primeiro turno, brinquei com o diálogo do matador Antônio das Mortes e do jagunço Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha:

— Se entrega, Corisco?
— Só me entrego na morte, de parabelo na mão!

Os petistas trocaram a ética da luta política pela ética do mais descarado oportunismo. O debate, com efeito, no estágio em que está, é tristíssimo! Os militantes históricos do PT devem sentir uma profunda vergonha, se é que isso restou em alguma área recôndita do partido. Bandeiras históricas estão sendo sacrificadas em nome de uma muito pouco convincente Dilma temente a Deus. Cuidado, petistas! Há coisas que não resistem ao exame da história!

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