Entre os fatores que concorreram para Dilma Rousseff não ser o estrondo que se esperava nas urnas, está, quero crer, a agressividade de Lula no último mês de campanha, especialmente depois que ficou evidente que uma quadrilha operava na Casa Civil. Estivessem certos os institutos sérios (não creio que estivessem; os não-sérios são apenas bandidos, mas esse é outro debate), não haveria uma miserável razão, recorrendo à metáfora futebolística de que ele gosta tanto, para o presidente optar pelo jogo bruto: deu carrinho por trás, entrou de sola, foi na canela, usou pé alto, chegou mesmo a bolinar a democracia ao sugerir que era preciso eleger senadores servis ao Executivo… Por quê? Aquilo não era comportamento de quem estava vencendo a partida por um placar tão largo.
É que o PT, que nunca soube perder, também não sabe vencer, o que é típico de grupos fascistóides. A iminência da vitória no primeiro turno lhes trouxe o sonho de sempre: extirpar — Lula usou esse verbo em Santa Catarina para se referir ao DEM — os adversários. O presidente atacou a imprensa, que chamou de “partido”; declarou-se a si e aos seus a própria “opinião pública”; cobrou, em palanque, onde estavam, afinal, os sigilos violados dos tucanos e dos familiares de Serra — em vez de condenar o jogo sujo, pediu que o crime fosse exibido em praça pública; asseverou que venceria “esse sujeito”, referindo-se a Geraldo Alckmin, em São Paulo; prometeu ser ele a pôr a faixa em Mercadante… Arrogante! Bruto! Antidemocrático! Por isso o Manifesto em Defesa da Democracia, em três semanas, passa a marca dos 80 mil signatários. Já o manifesto do oficialismo, em apoio ao presidente, sumiu no ralo da história.
Por que toda essa histeria do PT, que vai da denúncia calhorda e falsa de que existe uma guerra santa contra o partido à ida de Dilma Rousseff à Basílica de Aparecida (onde errou ao persignar-se), passando pelo comportamento destrambelhado da candidata no debate e por um ato ilegal de intelectuais petistas (oximoro delicioso) na Faculdade de Direito da USP? O que se tenta é classificar de artificialismo e golpe uma eventual virada no jogo eleitoral, como se a derrota de Dilma não fosse uma das possibilidades que sempre estiveram presentes. Por isso se disputa eleição, não é? Para ganhar ou para perder. Não para os petistas!
Tentam fazer crer a sociedade que só uma tramóia tira a eleição de Dilma. Esse não é um comportamento sem desdobramentos práticos.
A sabotagem na vitória
Vitorioso em 2002, o PT passou longos oito anos desconstruindo o governo FHC da maneira mais calhorda e mentirosa possível. Porque não bastava a Lula, dentro da lógica normal da democracia, implementar o seu programa, corrigir erros, cometer os seus próprios, acertar. Notem: era preciso não deixar pedra sobre pedra, sustentar que nada de bom, NADA!!!, veio do governo anterior. A edição que o marqueteiro de Dilma fez do debate da Band é uma súmula das mistificações erigidas ao longo desses anos.
Lula não tentou ser melhor do que FHC na comparação — essa é outra mentira. Ele tentou destruir o seu antecessor, como tenta destruir os seus adversários.
Sabotagem na derrota
E que partido agia assim? Aquele mesmo que passara os oito anos na oposição sabotando o… mesmo governo FHC: lutou contra o Real, denunciou o Proer, recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, chutou o traseiro de investidores durante a privatização de estatais, votou contra o Fundef, ATACOU OS PROGRAMAS DE RENDA MÍNIMA, CHAMANDO-OS DE ESMOLA…
Agora, vislumbrada a possibilidade Serra vencer a disputa, o PT faz o quê? Denuncia uma grande conspiração — sabe-se lá de quem; seria dos cristãos? — e, acreditem, já anuncia que, se tudo der errado, retoma o seu velho padrão, aquele celebrizado nos oito anos de oposição: sabotagem!
Uns bobocas dizem: “Ah, você sataniza o PT; é muito mais rigoroso com ele do que com os outros partidos”. Eu não me obrigo a distribuir igualmente as minhas broncas só para mostrar a minha isenção. Não tenho partido, mas tenho lado (democracia, estado de direito, economia de mercado, essas coisas…). Ao longo de oito anos, é consenso que faltou ao PSDB um teor mais alto de oposicionismo. O partido não se caracterizou por dizer “não” a tudo o que viesse do governo Lula. Já o PT teve a cara-de-pau de implementar projetos e de adotar práticas que, na oposição, considerava lesivas aos interesses da pátria e do povo.
Falta de compostura
A falta de compostura do presidente da República no processo eleitoral, de que ele é, no Executivo, um magistrado, fala por si. Pensem no exemplo de civilidade que deu FHC em 2002 na iminência da derrota e vejam o comportamento destrambelhado de Lula, mesmo as pesquisas apontando, por enquanto ao menos, a dianteira de Dilma. Aquele presidente soube ganhar e soube perder; Lula não sabe nem uma coisa nem outra. Se vence, tenta destruir o adversário, como tentou; se vislumbra o risco de perder, denuncia uma conspiração e tenta qualificar, de antemão, de ilegítima a eventual vitória dos adversários.
Não vai colar. Nem o PT fará o que bem entende se Dilma ganhar a eleição — e eles já perceberam que a sociedade não aceita arreganhos autoritários — nem Serra terá maculada a sua vitória, se acontecer, por uma clima de intranqüilidade que o PT tenta criar artificialmente.
Essa batalha, ao menos, o lulo-petismo já perdeu. A não-eleição de Dilma no primeiro turno significou um “não” aos arreganhos autoritários do partido e de seu chefe máximo. Lula pode incluir mais essa derrota em sua carreira.
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